segunda-feira, 20 de maio de 2024

The Mist: "A mentira é plenamente aceitável hoje em dia. Isto é aterrador"

Por: Renato Sanson

Foto: Iana Domingos - Músico entrevistado: Vladimir Korg (vocal)

RtM: Em 2018 vocês voltaram aos palcos para celebrar os 30 anos do álbum “Phantasmagoria”. Um momento muito importante para a banda. Como foi este instante?

VK: Não foi propriamente pelo álbum, mas pela criação da banda. Tanto que tocamos temas do álbum “The Hangman tree”. Foi bacana dar este start, retomar as coisas e hoje apesar de eu ser o único membro original à frente da banda, a força de continuar levando a poesia do The Mist em uma outra época é um grande desafio.


RtM: O The Mist está agora com uma nova formação. Seguindo firme sua proposta musical. Qual a maior dificuldade em se reformular sem perder a identidade?

VK: O The Mist sempre foi considerada uma banda de vanguarda e pra isso temos que estar diante dos desafios do nosso tempo. Estamos juntos com bandas novas, com sangue novo, passando por revoluções tecnológicas diariamente. Temos que estar apenas focado no que queremos e honrar o que construímos até aqui. Temos uma base de fãs incrível que sem eles não conseguiríamos estar aqui.

RtM: Falando em parte musical, a sonoridade do The Mist é bem peculiar. Ainda que seja mais enveredado ao Thrash Metal é possível notar influencias de Industrial, Groove e muito Heavy tradicional. Como foi moldar a musicalidade tão ímpar?

VK: Nossa espinha dorsal é o Thrash Metal, mesmo que em algum tempo a banda tenha buscado novas sonoridades, penso que retomamos nosso rumo no Thrash. Porém, temos em mente que não estamos mais no século XX e queremos estar vivendo o agora. 

Temos um set bastante rico de músicas incríveis do passado que respeitamos na íntegra, mas nossos passos estão no agora. Estamos vivos agora, compondo agora e tocando agora.

RtM: Jairo acabou saindo da banda em 2020. Mas deixando sua marca com o The Mist. A relação entre vocês pós sua saída é tranquila? Existe a possibilidade de algum dia Jairo subir ao palco com a banda novamente?

VK: Jairo saiu para fundar uma das melhores bandas brasileiras da atualidade. Nossa relação é de respeito mútuo e acredito de um desejo de que cada um tenha o sucesso merecido. Cada um na sua luta. Acredito que Jairo está focado em seus trabalhos e estamos realmente em caminhos diferentes.


RtM: O último lançamento de estúdio do The Mist (“Gottversallen”) foi a quase vinte anos atrás. Existe a perspectiva de um novo lançamento?

VK: Nosso álbum está pronto. Já gravado. Estamos buscando caminhos para o lançamento. Apresentaremos para a Alma Mater, gravadora do nosso amigo Fernando Ribeiro do Moonspell e pesquisando caminhos para que tenhamos boas condições  para este trabalho.


RtM: Falando em discografia, vocês apresentam uma solidez desde o Debut. Como foi compor e criar linhas tão homogêneas entre os lançamentos?

VK: Acho que respeitamos nossas origens. Cada trabalho acho que a gente foca e vive um pouco a vibe do álbum. Quando isto transcende o núcleo da banda e atinge os fãs e os ouvintes é sensacional.

RtM: A era digital vem dominando o cenário musical. Tirando o espaço do material físico. Por mais que seja ótimo poder levar à música aos quatro cantos do mundo, as vendas de merchan diminuíram consideravelmente. Isso preocupa vocês caso pensem em relançamentos dos discos clássicos?

VK: Como somos uma banda de quase quarenta anos, passamos por várias revoluções: de formato, de estilos, tecnologia e política. É claro que nos preocupamos com esta nova era. Acredito que será uma peneira. Infelizmente muitos ficarão pelo caminho ou não terão forças para continuar nele. A futilidade ganhou força como estilo de vida e modus operandi para um sucesso ilusório. 

A mentira é plenamente aceitável hoje em dia. Isto é aterrador. Ela constrói personas pra alimentar o imaginário coletivo que criam heróis sem virtude alguma e o pior, você sabe que está sendo enganado. Isto acontece na música e hoje bater no peito e ter certeza que seu trabalho é de verdade, sua música é honesta e você é um artista é para poucos.

RtM: Korg, muito obrigado pelo tempo cedido. Deixo o espaço final a você e mais uma vez muito obrigado!

VK: Agradeço poder participar e o espaço dado a mim e ao The Mist. Nosso álbum está pronto e estamos muito orgulhosos do que fizemos. Breve vocês terão notícias nossas. Comprem merchandising das bandas que você acredita. Fiquem bem!

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