sábado, 30 de novembro de 2024

Cobertura de Show: Katatonia – 15/11/2024 – Carioca Club/SP

 As trevas astrais anunciaram a aparição do Katatonia em solo nacional

Concebido ao mundo no começo dos anos noventa, o Katatonia ainda se mantém na ativa desde 1991 com modificações sonoras substanciais ocorridas durante a sua trajetória. Tendo as suas origens com um Doom Metal mesclado com fragmentos da cena do Death Metal da famosa cena de Estocolmo, ele possui dois membros que a fundaram: o vocalista Jonas Renkse e o guitarrista Anders “Blakkheim” Nyström, que embora fosse apenas uma “banda de estúdio em seu gênese, os próprios não tinham ideia do escopo que ela eventualmente acabou criando.

Avançando para o ano de 2024, os suecos construíram um histórico relativamente constante com o público brasileiro, tendo comparecido ao nosso país ainda no ano passado. Motivo de surpresa foi o fato de que não teve banda de abertura, fato este que deu um senso mais genuíno de “apresentação única”, não apenas por ter sido o único show no Brasil, mas por não terem sido acompanhados por outro conjunto. Reprisando o tradicional local do conhecido Carioca Club, os escandinavos carregaram a característica da pontualidade, já que exatamente às 21 em ponto, a sonoplastia da casa recebeu uma mudança drástica de tonalidade: era hora de se dar início para a razão da vinda da multidão reunida.

MESMO O CÉU FOI BANIDO

Ainda que tivesse sido em um dia com várias outras atrações disponíveis na capital paulista (feriado, diga-se de passagem), é impressionante que mesmo num horário com uma folga notável do começo, a casa já se encontrara bem tumultuada, sendo a sua culminação natural o enchimento da própria. Quando estamos lidando com veteranos de mais de 3 décadas de experiência, uma audiência fiel é algo que vem com o território.

A pressão sob os ombros dos veteranos era alta para superar a aparição do ano passado. De cara, uma reprise de 2023: uma vez mais, um elemento central do Katatonia, Anders “Blakkheim” Nyström não compareceu, sendo a composição de um quarteto novamente.


A PRESENÇA DO SENHOR DE BAIXO FOI SENTIDA POR TODOS

A música é o filho primogênito das Sete Formas da Arte, e não é por acaso que esse esforço veio a ser. Sendo a primeira manifestação artística registrada pelo homem, toda e qualquer carência de um elemento-chave que criou o fundamento básico de uma banda, ou de músicas queridas por uma fatia do seu público pode ser compensada se uma alteração atmosférica vier a ser invocada. Este aspecto é uma técnica que a entidade conhecida como Katatonia domina de maneira a ensinar como se faz. Características como o teor melancólico que envolvia os perímetros do Carioca Club, a voz de agonia perfurante do vocalista Jonas Renkse e as frases sentimentais da guitarra de Nico Elgstrand viraram uma assinatura registrada durante a apresentação. Quando o musicista realiza uma entrega tão dedicada, para além de uma performance ordinária, você percebe que está diante de um autêntico artista.

Deve se mencionar também que o atual guitarrista Sebastian Svalland não pôde comparecer a atual turnê porque está resolvendo questões referentes ao seu casamento. No entanto, Jonas garantiu que na próxima vez, ele aparecerá de maneira mais “selvagem” para compensar esta falta.

LUA ACIMA, SOL ABAIXO

Alguns dos pontos mais conhecidos ou de maior crítica da banda foram reforçados nesta passagem pelo Brasil durante a turnê do mais novo álbum, “Sky Void of Stars”.

“For My Demons” do aclamado “Tonight’s Decision” é culpada por colocar a capacidade de decibéis de quem estava presente ao teste, ao fazer a plateia cantar em união. “Evidence”, de “Viva Emptiness”, arrancou uma demonstração de euforia por parte do público que se agitou com mais frequência do que o normal.

O tamanho do peso sentimental carregado por “My Twin” foi tão imenso que obrigou ao público a vivenciar mais de perto o que estavam testemunhando, em desfavor do uso ocasional de celulares no meio da apresentação.

“Onward Into Battle” foi facilmente um dos destaques, sendo uma resposta de que a expectativa desta aparição foi cumprida com sucesso, apagando o gosto amargo da vinda do grupo sueco do ano passado, ainda que continue a incerteza no ar sobre o futuro de Blakkheim.


Destaque para Jonas que apresentou uma interação com a audiência (bem) maior do que normalmente faz, mostrando que estava sentindo falta do clima caloroso que o colosso da América Latina é capaz de ofertar, ao ponto de agradecer sistematicamente a presença de quem veio vê-los em plena sexta-feira, com todas as atrações que São Paulo tem a sua disposição. Além de desejar tocar novamente no mesmo final de semana, e se movimentar mais com o restante dos membros enquanto performavam, desafiando um tabu de que não é porque o som deles demanda um clima introspectivo que as pessoas não podem se movimentar mais enquanto o curtem.


Niklas Sandin instigava todos a banguearem quando a oportunidade demandava, e se colocava no limite entre o palco e a pista central em praticamente todos os momentos, traduzindo em atos de que o mesmo se encontrava entusiasmado em ver a casa de show lotada e de que gosta daquilo que faz.


Daniel Moilanen estava observando a tudo e a todos por trás do seu kit de bateria, enquanto também arrancava ações da plateia durante a sua sólida performance das linhas de bateria.


“July”, do memorável “The Great Cold Distance”, foi outro ponto alto da noite, fazendo com que Nico Elgstrand mostrasse a que veio (tendo já se apresentado no Entombed A.D.), ajudando a conjurar a atmosfera estabelecida no local e solidificando a evidência de que guitarras também são capazes de ter sentimentos.

PARA ALGUNS, SOLITUDE E ISOLAMENTO SÃO TAMBÉM BOAS COMPANHIAS

O repertório como um todo realizou um passeio por quase toda a sua discografia. Quase. Foi explícita a ausência de qualquer faixa do ponto inicial da carreira, cravada em sua história pelo conjunto de “Dance of December Souls”, “Brave Murder Day”, e os dois EP “For Funerals To Come” e “Sounds of Decay”, tendo até mesmo a participação do ilustre Mikael Åkerfeldt (conhecido pelo Opeth) durante este período.

Este é um ponto que merece ser revisado, não só em consideração por aqueles ouvintes que os conheceram durante a fase supramencionada, mas também porque o legado que estes lançamentos causaram ao universo do Doom/Death é impossível de ser subestimado.

Ainda que (injustamente) passemos uma borracha por esta fase e consideremos apenas o trabalho oferecido de “Discouraged Ones” em diante, não se pode negar que o Katatonia se mantém como um pilar referencial do som melancólico com cunho gótico, onde até mesmo o seguidor do som mais brutal pode se sentir enfeitiçado pelo clima depressivo e mais lento oferecido pelos “katatônicos”.

Enquanto eles estiverem na ativa, outra vinda sem tanta espera do grupo já é algo garantido em nosso país.

Os parabéns são obrigatórios para toda a equipe da Overload, por terem organizado e gerenciado este registro para marcar o final do ano corrente com uma presença de peso em terras tupiniquins.


Texto: Bruno França 

Fotos: Belmilson Santos (Roadie Crew)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Overload


Katatonia – setlist:

Austherity

Colossal Shade

Lethean

Deliberation

Forsaker

Opaline

For My Demons

Leaders

Onward Into Battle

Soil’s Song

Birds

Old Heart Falls

Criminals

My Twin

Atrium

Bis

July

Evidence

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