domingo, 15 de dezembro de 2024

Cobertura de Show: Iron Maiden – 07/12/2024 – Allianz Parque/SP

No último dia 7 de dezembro de 2024, os fãs de Iron Maiden ao redor do mundo sentiram uma pontada de inveja dos brasileiros. Isso deve-se ao fato de que o show realizado nesse dia, no Allianz Parque em São Paulo, marcou a despedida do baterista Nicko McBrain, que anunciou a sua aposentadoria dos palcos na manhã daquele dia. 

Para muitos, era uma coisa que ia acontecer brevemente, tendo em conta o estado de saúde – que já não está tão robusta – e a idade avançada do mesmo. Apesar dos cuidados, Nicko se viu obrigado a tomar essa triste decisão.

Além da despedida, o dia também marcou o último ato da The Future Past Tour. A expectativa para chegada dessa turnê no Brasil foi grande, os ingressos esgotados tanto para a noite de sábado quanto para a noite anterior foi um bom exemplo disso, pois talvez seria umas das únicas oportunidades de ver alguns clássicos do Somewhere In Time (1986) ao vivo. 

Sob uma intensa garoa, os dinamarqueses do Volbeat encarregaram-se de fazer as honras de abertura. E não fizeram feio! O show foi uma grande realização para quem conhece a banda, que não pisava em solo brasileiro desde 2018, quando se apresentaram no Lollapalooza daquele ano. Apesar de já terem uma longa carreira e oito álbuns lançados, a banda ainda é relativamente desconhecida entre nós.

A formação, que já passou por algumas alterações, conta hoje com o baterista Jon Larsen, o baixista Kaspar Boye Larsen e o novo guitarrista Flemming C. Lund, que vem ocupando o lugar do experiente Rob Caggiano. 

Cada um teve o seu merecido destaque, demostrando segurança e entrosamento em cima do palco, mas foi o vocalista, guitarrista e fundador Michael Poulsen (vestindo uma t-shirt dos Cavalera em homenagem aos irmãos Max e Iggor) quem mais chamou atenção por conta do seu carisma e pela habilidade de cantar e tocar riffs poderosos de forma excepcional, rendendo comparações com James Hetfield, do Metallica.

O set-list trouxe músicas de quase todos os álbuns, com exceção de Rewind, Replay, Rebound (2019). O começo com “The Devil’s Bleeding Crown”, “Lola Montez” e “Sad Man’s Tongue” (com um breve trechinho de “Creeping Death”) deixaram muitos surpresos com a qualidade musical do grupo, que combina Hard Rock, Heavy Metal e Rockabilly. 

Em seguida teve “Black Rose” e “Wait a Minute My Girl”, que botaram alguns que estavam na pista para dançar, enquanto “Dead But Rising” – substituída por “Shotgun Blues”, tocada na noite anterior –, “Fallen” e “Seal the Deal” espantaram qualquer ameaça de chuva com toda a sua intensidade. 

“The Devil Rages On”, com uma pegada que remete ao surf-rock, trouxe de volta o clima festivo das anteriores. Quase no final, “For Evigt” botou as milhares de pessoas para iluminar o Allianz Parque com as luzes dos celulares, acendidas a pedido de Michael. 

O termino veio de forma digna com a clássica “Still Counting” e nos dando a esperança de que está nova passagem de uma das melhores bandas da atualidade conquistou mais fãs brasileiros. 


Faltando poucos minutos para o começo do show do Maiden, a pista premium, onde este repórter se encontrava, tornava-se cada vez mais apinhada. Os poucos espaços disponíveis surgiram apenas por volta das 20h50, quando “Doctor, Doctor”, do UFO, aqueceu a multidão para receber o septeto.

O efetivo início com “Caught Somewhere In Time”, precedida pela trilha “Blade Runner (End Titles)”, colocou a arena abaixo com as suas partes virtuosas de guitarra e o refrão apoteótico, que foram entoados em coro. 

Em seguida, a magnífica “Stranger in Strange Land” – trazendo a primeira aparição do mascote Eddie – manteve a energia nas alturas com um toque nostálgico, pois a sensação de vê-la ao vivo era como se estivéssemos assistindo ao videoclipe oficial dela sempre quando Bruce Dickinson jogava seu pedestal para o ar e o Adrian Smith brandindo sua guitarra. 

Após essa viagem no tempo, a banda passou a focar em temas mais recentes com uma seleção do álbum Senjutsu, começando por “The Writing on the Wall”, que rapidamente conquistou os fãs e encaixou-se perfeitamente ao vivo. 

Antes de executá-la, Bruce expressou toda a sua gratidão por Nicko, que estava visivelmente emocionando e fez questão de se levantar do seu kit de bateria para receber o carinho dos fãs.

Ainda do álbum Senjutsu, “The Day Of Future Past” e “The Time Machine” foram animadamente recepcionadas durante um determinado momento com todos pulando junto com o Steve e o Janick. 

Ambas tiveram performances ainda melhores ao vivo, especialmente “Death Of The Celts”, que trouxe um acréscimo a essa sequência Senjutisiana de forma atmosférica e sendo precedida pela emblemática “The Prisoner”, que não era tocada ao vivo há bastante tempo e foi celebrada por todos assim que a clássica narrativa de McGoohan e o ritmo da bateria – completadas com os riffs de guitarra – se apoderaram.

A nostalgia se fez presente novamente com “Can I Play With Madness” e “Heaven Can I Wait”, sendo que esta última teve novamente a presença do Eddie cyborg para um confronto de tiros com o Bruce. Estes dois clássicos, que não costumam estar tão frequentemente nos shows da Donzela, fizeram a festa dos fãs, que não hesitaram em canta-las. 

“Alexander The Great”, que nunca tinha sido interpretada ao vivo, fez a alegria desses mesmos fãs, que há décadas ansiavam pela sua inclusão numa turnê. Os olhares estavam tão fixos no palco que muitos até esqueceram de tirar o celular no bolso para registrar algum momento desta verdadeira obra-prima. Realmente, a espera, persistência e encheção de saco valeram a pena. 

Antes de concluir o primeiro bloco, as icónicas “Fear Of The Dark” e “Iron Maiden” foram apresentadas, sendo que estas nunca deixam de estar presentes no set-list da banda. Independentemente de serem amadas ou odiadas, ambas proporcionam um momento de ligação intensa entre o público e os músicos, especialmente na parte melódica, quando o famoso ‘oh, oh, oh’ é ecoado. 

Na canção que dá nome à banda, uma cenografia especial foi criada. Eddie, mais uma vez, apareceu com uma representação de Samurai em formato inflável e móvel, marcando a sua última aparição da noite. Não foi possível não recordar do saudoso Paul Di'Anno, que faleceu no passado dia 21 de outubro, enquanto se tocava este que foi um dos primeiros sucessos da Donzela.

Após a saidinha fake, o septeto voltou para as três últimas da noite. “Hell On Earth”, mais uma nova e a favorita deste repórter do Senjutsu, abriu o bis de maneira épica, com destaque para as labaredas de fogo que saiam das laterais ao redor do Nicko. 

A interação entre Bruce e o público durante as melodias iniciais foi eletrizante, com todos acenando as mãos como se estivessem limpando janelas. “The Trooper” e “Wasted Years” encerraram a noite de forma emblemática, sendo excelentes escolhas para as últimas batidas ao vivo de Nicko ao lado do Iron Maiden.

O final reuniu todos os membros à frente do palco para uma foto. Afinal, ali estava se encerrando uma trajetória de 42 anos de um dos melhores baterista da história, que recebeu abraços de cada um antes deixa-lo a vontade com o público para jogar baquetas e peles de bateria. 

Habitualmente, o público exalta a banda com gritos de ‘Maiden, Maiden’, mas nesse dia específico, as ovações foram substituídas por ‘Nicko, Nicko’, uma vez que, como Bruce mencionou durante os momentos finais, aquela noite era inteiramente dele.

Relativamente aos músicos, cada um teve o seu momento especial. Embora haja um brilho especial no Bruce Dickinson e Steve Harris, pela sua impressionante presença de palco e voz inigualável e por manter a banda sempre nos trilhos, respectivamente, todos os demais elementos contribuem com sabedoria para que o espetáculo do Iron Maiden continue a ser uma experiência inovadora e singular. 

Mesmo enfrentando algumas limitações e uma diminuição no ritmo, Nicko mostrou-se um verdadeiro guerreiro e deu o melhor de si. O trio de guitarristas – Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers – que para mim são os responsáves por orquestrar todo o show, continua soberba. 

Em suma, foi mais uma passagem memorável tanto termos de produção quando em seleção do repertório. Para a próxima tour, a novidade será a presença de Simon Dawson na bateria. 

Mas independentemente de quem esteja na banda ou não, os fãs continuarão apoiando massivamente, pois sempre digo que o Iron Maiden possui não apenas admiradores, e sim uma verdadeira torcida organizada capaz de unir pessoas de diferentes gerações. 

Up The Irons!


Texto: Gabriel Arruda 

Fotos: Stephan Solon (Move Concerts)


Realização: Move Concerts

Mídia Press: Midiorama


Volbeat – setlist: 

The Devil's Bleeding Crown

Lola Montez

Sad Man's Tongue

A Warrior's Call

Black Rose

Wait a Minute My Girl

Dead but Rising

Fallen

Seal the Deal

The Devil Rages On

For Evigt

Still Counting


Iron Maiden – setlist: 

Caught Somewhere in Time

Stranger in a Strange Land

The Writing on the Wall

Days of Future Past

The Time Machine

The Prisoner

Death of the Celts

Can I Play With Madness

Heaven Can Wait

Alexander the Great

Fear of the Dark

Iron Maiden

Bis

Hell on Earth

The Trooper

Wasted Years

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