segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Concordea: Em Busca de Novos Horizontes


Fundado pela guitarrista Daria Piankova e pelo tecladista Aleksei Turetckov em 2012,  em Ekaterinburg, região das montanhas Urais na Rússia, o Concordea lançou um EP de estreia em 2014 (“Before the Sunrise”), pelo selo italiano Defox Records, recebendo boas críticas. Em 2017 chega ao seu full-lenght, “Over Wide Spaces”, lançado de forma independente, e com muito trabalho, pois, além da falta de apoio, algo que vemos que não é um problema só no Brasil, houve saída de integrantes. 

Com a adição de músicos convidados (o baixista Ilya Reingard, da também banda Russa Incarnator, e o jovem vocalista italiano Felippo Tezza) a dupla Daria e Aleksei concluiu o álbum. Passado mais de um ano do lançamento, conversamos com a banda, para saber mais a respeito dos próximos passos, os feedbacks recebidos, destacando que o debut recebeu boas críticas. Agora contam com um novo vocalista, para a continuidade do trabalho, mais um italiano, Marco "Moz" Moranzoni, e com o primeiro show fora da Rússia marcado para dezembro, na própria Itália. 

Confira e conheça um pouco mais desta promissora banda, e claro, você poderá fazer um paralelo com a nossa cena aqui no Brasil. É o "Global Metal"!
Aleksei, Daria e Ilya
Road to Metal: Mais de um ano após o lançamento da sua estreia com “Over Wide Spaces”, como vocês avaliam os resultados e o feedbacks recebidos?
Daria Domovik: Durante esse ano recebemos críticas muito boas de todo o mundo, algumas delas foram realmente incríveis, porque deixou claro que as pessoas gostaram de todos os minutos do álbum! Ao mesmo tempo, alguns deles não estavam tão entusiasmados, acho que alguns ouvintes estavam entediados, ha ha ha. Ou simplesmente não curtem Power Metal e esse tipo de melodia.

RtM: Vi boas notas em vários sites, inclusive aqui no Brasil. Percebi é que muitos ficaram surpresos quando descobrem que a banda é da Rússia, acredito que, por causa da questão das bandas mais famosas lá, como Aria, Kipelov e Arkona (que esteve no Brasil ano passado) só cantam na língua nativa.
Daria: Sério? Normalmente, as pessoas de outros países têm uma ideia muito vaga da Rússia, talvez seja por isso que alguns deles ficaram surpresos em ouvir essa música russa? (risos) Nós recebemos reações muito diferentes: positivas, indiferentes e negativas também. Eu acho que é normal. Às vezes, recebemos algo inacreditável.  Um crítico disse que a nossa banda criou um estilo único! Ha ha ha, é um prazer receber tal elogio, embora tal estimativa dificilmente possa ser verdade.

Ao vivo, com Moz nos vocais
RtM: Eu me lembro de vocês comentando sobre algumas incertezas sobre a continuidade da banda, mas felizmente eu vejo que vocês estão com um novo vocalista e preparando um novo material. Conte-nos sobre o momento atual da banda e sobre o novo vocalista, Moz. 
Daria: Filippo deixou o nosso projeto há um ano e se concentrou em suas próprias bandas e projetos solo. É bastante compreensível, porque tocar em uma banda internacional não é para todos. Nós vivemos tão longe um do outro; nós não fazemos shows todo final de semana. E infelizmente não podemos tocar juntos quando quisermos. 

Mas eu não queria desistir, porque eu tinha e ainda tenho muita confiança no material de "Over Wide Spaces" e acho que pode atrair muitos fãs. Em novembro passado eu entrei em contato com Moz (Marco Moranzoni), ouvi seus vocais no My Refuge e fiquei muito impressionada: tão fresco e belo timbre, tão emotivo. Ele elogiou muito nosso álbum e, para nosso espanto, veio até aqui para fazer alguns shows em março. Foi uma experiência muito legal. Nós realmente queremos repetir isso em algum lugar, mas primeiro vamos publicar um novo single com seu vocal.

RtM: E sobre esse novo material, o que você pode nos adiantar?
Daria: Eu não posso lhes contar tudo sobre novas gravações, ainda estamos trabalhando nisso. Mas esperamos introduzir o vocal de Marco ao público em geral em um futuro muito próximo! Vocês ficarão sabendo com certeza!

RtM: Voltando um pouco no tempo, vocês poderiam contar um pouco sobre como vocês começaram na música e no Metal, e quando surgiu a vontade de formar uma banda?
Aleksei: comecei aos 8 anos e, desde então, tentei vários instrumentos, incluindo acordeão, saxofone e guitarra. Especificamente, eu me interessei em Metal quando comprei um violão para tocar músicas do Scorpions, porque comecei a gostar da banda. Mas foi quando um amigo da universidade me convidou para a sua banda, que precisava de um tecladista, que desde então, toco teclados.
Daria: eu tinha 12 anos quando meu irmão me deu um disco, com uma capa azul escura e cheia de fantasia. Era a banda italiana Rhapsody, o álbum de 1998. Minha família me perdeu completamente aquela noite;  O Rhapsody mudou muito minha vida e também me aproximou mais da música. Um pouco depois, percebi que queria criar minha própria banda, e que também queria cativar o ouvinte com melodias brilhantes.


"Normalmente, as pessoas de outros países têm uma ideia muito vaga da Rússia, talvez seja por isso que alguns deles ficam surpresos em ouvir nossa música" (Daria)
RtM: Para fazer um paralelo com a cena aqui no Brasil, quais são as principais dificuldades que vocês enfrentam para manter uma banda de Metal aí na Rússia e na sua cidade natal?
Aleksei: uma das dificuldades é combinar trabalho de escritório e trabalho de música. A abordagem séria da música exige muito tempo. A segunda dificuldade é que não se usa pagar por música na Rússia, tudo é baixado da Internet, não ganhamos com vendas de música em nosso país. Além disso, não há grandes meios de comunicação que promovam nosso estilo de música na TV e no rádio, por isso é difícil levar nossa música para uma maior quantidade de ouvintes, pois a mídia é ocupada por música pop antiga de baixa qualidade russa.

RtM: Foi a primeira opção  gravar em inglês? Pergunto porque a maioria das bandas russas que conhecemos canta na língua nativa.
Daria: Nós não éramos exceção, e nossas letras em primeiro lugar foram escritas em russo. Em primeiro lugar, tudo era para o público russo. Considerávamos que fazer letras em inglês seriam um lugar comum, e não queríamos entrar nesse círculo. No entanto, as letras em inglês resultaram-se necessárias quando começamos a colaborar com o primeiro vocalista convidado,  Andrea Bicego (da banda italiana 4th Dimension). Acabamos entrando na tradição internacional do rock. Então, traduzimos nossas letras para o inglês ou, pelo menos, as tornamos tão próximas quanto possível do original.

Daria "Domovik"
RtM: Houve também a coincidência de vocês terem vocalistas Italianos nos seu dois trabalhos.
Daria: Uma vez que a colaboração com Andrea Bicego acabou, entendemos que um vocalista italiano em um projeto Russo poderia ser um ponto interessante. Tenho alguns rockers italianos e metalheads entre meus amigos. Então, uma vez que notamos que definitivamente não havia vocalista para o Concordea em nossa cidade natal, convidamos Filippo Tezza, um amigo de Andrea, e, felizmente, ele aceitou nossa proposta.

RtM: Sobre seu debut Full-Lengh, "Over Wide Spaces", como vocês descreveriam a sonoridade dele para as pessoas que conhecerão a banda, e de que forma a banda evoluiu desde o seu EP de estréia em 2014?
Aleksei: Eu diria que é o equilíbrio entre o Power e o Progressive Metal, não muito complexo, mas não muito trivial. Além de evoluir na composição de músicas e gravações, também nos envolvemos mais na parte de mixagem, e para masterização buscamos a T.A. Production, da Ucrânia, fatores que melhoraram a sonoridade final.
Daria: Eu descreveria nosso álbum desta maneira: riffs de guitarra pesados, belas melodias cantadas por uma expressiva voz masculina alta, muitos teclados, ritmo Power Metal, letras românticas e um leve toque de Metal Progressivo. Trabalhamos para arranjos mais bem equilibrados e uma composição mais definida. Em minha opinião, essa diferença é notável.

Ensaiando.
RtM: Falando sobre algumas das músicas, destacaria “Between Two Worlds", "Wing's Motion" e a balada que encerra o álbum, "The Unknown", que e não me engano Daria, você disse que teve inspiração do poeta russo A. Pushkin.
Daria: Na verdade, estava relendo suas poesias geniais na busca da forma correta da letra da balada final. Seu esplêndido talento me inspirou, embora o argumento principal de "TheUnknown" já existisse. É o resultado final do álbum. Para mim, não conseguiríamos concluí-lo melhor! É como um "fim aberto". Ninguém sabe o que vem depois. “Wing’s Motion” era uma composição mais antiga, deixamos mais rápida, adicionamos várias partes solo de guitarra e teclado. Fala sobre os companheiros de banda, sobre como é difícil, às vezes, encontrar alguém que ame as mesmas coisas e pense da mesma forma que você pensa.
Aleksei: “Between Two worlds” foi inspirado pelo Prog Metal. Descobriu-se uma música Prog para nós. Mas conseguimos manter o equilíbrio entre a melodia e a complexidade do Prog. Também gosto muito do solo de teclado.

RtM: Há também um cuidado especial nas letras, e lembro que o Aria tinha uma parceria com os poetas russos e senti que você tem esse lado poético, com o seu jeito de descrever as histórias em suas letras. Gostaria que você falasse sobre o que te inspira a escrever, principalmente as letras deste álbum.
Daria: A melhor musa para as músicas é a minha vida e todas as experiências que tive. Até mesmo o conto de fadas sobre a Princesa Sapo que resulta da base para as letras de "Confession of My Pride" ("Confissão do meu orgulho") me atraiu porque há algo que encontrei correlacionando com meus sentimentos e minha vida.

RtM: Seus textos são originalmente em russo? E como é o processo para transcrever para o inglês? É muito difícil expressar as mesmas emoções?
Daria: Leva tempo… Eu lembro que queria incluir “Portrait” no primeiro EP e tentei traduzir minhas letras russas, mas você sabe… algo estava indo muito errado, minha tradução não encaixava, ficou presa e não tomava uma forma. Voltei à essas letras três anos depois e traduzi tudo em um ou dois dias. Às vezes acontece que acabo gostando mais das letras em inglês do que a versão original. Talvez porque os versos ingleses me fazem ter novas idéias e diferentes aspectos do mesmo tema.


"Uma das dificuldade é que não se usa pagar por música na Rússia, tudo é baixado da Internet"
RtM: Você falou sobre o tema de "Confession of My Pride", e ela tem um lado mais progressivo, o teclado me lembra algo do Gothic e Folk Metal, além de arranjos muito bons de baixo e bateria, e as letras, conforme você comentou, são inspiradas na lenda russa da princesa sapo. Conte-nos mais sobre essa música e suas letras.
Daria: Gothic Metal? Ha ha ha. Achei que escrevi algo mais voltado para o folk. Na verdade, você pode ouvir um eco de uma música folk russa ou alusão a ela pelo menos. Especialmente aqueles interlúdios melódicos no começo e nas partes finais. É uma música sobre sofrimento. Ou melhor, sobre superar a dor e o sofrimento. É sobre o que você quer obter a qualquer preço no momento, mas você perde por causa de sua impaciência e por causa de seu orgulho. O conto folclórico original fala sobre o príncipe que se casou com um sapo, que na verdade é uma princesa bonita, inteligente, amigável e habilidosa que foi forçada a passar muito tempo na pele de um sapo. 
Aleksei: Eu gostaria de acrescentar que o uso da harpa, que se assemelha ao instrumento folclórico russo "gusli", também nos remete ao folk nessa música.


Aleksei, o "mago" das teclas do Concordea
RtM: Muito bom saber um pouco mais sobre o seu trabalho, os conceitos e as influências de elementos de sua cultura na sua música. Finalizando, e a Copa do Mundo? A Rússia fez um papel bonito. E vocês, o que acharam do evento? viram como algo positivo para as pessoas e para o País?
Aleksei: Bem, nos sentimos vivendo em um canteiro de obras, houve muito trabalho de construção em nossa cidade, como um novo estádio, estradas, etc. É ótimo por um lado, mas grandes mudanças não acontecem por elas mesmas, sempre precisa algo grande acontecer, como uma Copa do Mundo, então você terá novas estradas, estádios e tudo mais. Para a nossa banda, espero que tenha sido uma oportunidade para tornar a nossa música mais popular.

RtM: E o que vocês esperam do futuro da banda?
Daria (cantando): “Eternal glory, ride fast to me!” Ha ha ha. Champanhe e flores claro! Bem, esperamos fazer shows, é claro. Queremos conhecer nossos ouvintes pessoalmente!
Aleksei: Esperamos espalhar mais nossa música entre as pessoas. Esperamos  marcar mais shows ao vivo, talvez um tour internacional, e talvez no futuro possamos ir para o Brasil.

Entrevista: Carlos Garcia

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