sexta-feira, 28 de junho de 2024

Entrevista - Overdose: 40 Anos de Histórias! Vem Mais Pela Frente?

 



Por: Renato Sanson/Carlos Garcia

Nas primeiras centelhas do Heavy Metal brasileiro o Overdose estava lá, acendendo as chamas e espalhando-se além do seu país de origem.  Um dos pioneiros, que buscou evolução e criou nuances bem próprias, servindo inclusive de base e inspiração para outras bandas, e isso é o que coloca alguns nomes em um patamar diferente. 

A palavra sucesso é algo bem subjetivo, e acreditamos que o músico inspirar ou influenciar pessoas, fazer arte a qual signifique algo para quem a consome, alcançou sim o sucesso e seu objetivo enquanto artista.

O Overdose sem dúvidas trilhou um caminho bem sucedido, e como uma singela homenagem aos 40 anos de história deste importante nome do Metal brasileiro, conversamos com seu fundador, Cláudio David, para falar um pouco dessa história e algumas novidades preparadas em comemoração a essa marca de quatro décadas dedicadas ao Metal. 

Confira a seguir:


RtM: O Overdose está completando 40 anos! Algo muito emblemático se tratando de Heavy Metal nacional. O que a banda está preparando para este momento além do lançamento do single “Século XXI”?

Cláudio David: O mais importante mesmo é o single de 40 anos, que foi lançado ano passado. Era para ter saído até antes, mas aí o pessoal da banda tinha outras prioridades, outros afazeres e acabou não dando certo. 

Até por isso, eu estou remontando a banda agora com a expectativa de fazer shows e tocar essas músicas novas, mas o mais importante é esse single, “Século XXI”, e EP com cinco músicas inéditas, que deve sair até o final do ano. A partir do momento que sair o EP, vamos fazer alguns shows de comemoração.


RtM: E falando sobre o single, trace para gente um paralelo com relação a “Século XX” e nos fale um pouco sobre a ideia dessa nova composição.

CD: A ideia do “Século XXI” foi remeter mesmo o “Século XX”, que foi o primeiro disco nosso, o Split com o Sepultura. A ideia foi tentar descrever a nossa situação atualmente, mudando um pouco a questão da tecnologia e as artimanhas do poder, que hoje são diferentes, mas os problemas continuam sendo os mesmos.

A ideia foi uma releitura do “Século XX”, mas com uma diferença. O pessoal costuma falar que o Overdose é niilista demais. Inclusive, as minhas letras são geralmente críticas, mas é o que eu sei fazer. No “Século XXI” tem uma esperança e uma proposta, que é das pessoas se juntarem e conseguirem o que elas querem, que é um mundo melhor.

Então, diferente do “Século XX”, o “Século XXI” tem esse lado otimista, de que a mudança é possível. Só não sei daqui quanto tempo, se vai ser daqui cinquenta, cem ou duzentos anos, mas as coisas mudam. Mas a ideia do pré refrão é essa, que é deixar uma mensagem para que as pessoas, através da união, possam mudar a realidade delas de vida.

RtM: Há dez anos atrás a Cogumelo Records relançou todo o catalogo do Overdose em versões belíssimas e com material bônus em DVD, possibilitando que muitos fãs enfim tivessem os materiais e com alguns bônus. Como surgiu essa ideia de recolocar os clássicos no mercado novamente?

CD: Sobre o relançamento do catálogo ainda está faltando um, “You’re Really Big!” (1989), que deve sair esse ano. Já finalizamos a remasterização dele, e estamos dependendo do João, dono da Cogumelo, para mandar ele para a fábrica. 

Na verdade, a gente fez uma reunião, há pouco menos de dez anos, e conversamos sobre esse material do Overdose, que estava parado. E nessa reunião, com o dono da Cogumelo, fizemos o acordo de relançar. A ideia surgiu meio que simultaneamente quando eles estavam com vontade de relançar também.

Eu gosto de todos os álbuns, só que eles estavam meio que esquecidos. Então, através dessa reunião, que a gente tentou acordar o relançamento desses discos, que foi um sucesso e teve uma vendagem muito boa. Com esse lance do Spotify, plataformas digitais e da internet, duas mil cópias para cada disco acabaram sendo surpreendentes para gente e para Cogumelo. Agora está faltando “You’re Really Big!”, que em breve deve sair.


RtM: Cláudio, em 2012 você foi convidado pela banda gaúcha Carniça a fazer uma participação no disco “Nations of Few”, gravando a ótima “Prayers Before the Death”. Neste período você já estava há algum tempo sem tocar, certo? Essa participação foi o que acendeu a chama para a volta do Overdose?

CD: A participação do “Nations of Few” do Carniça foi uma coisa muito prazerosa para mim, porque é um pessoal muito gente boa e uma banda muito legal. Esse disco, especificamente é muito legal, assim como todos os trabalhos do Carniça. Depois disso, eu fiz participação no show de lançamento em Novo Hamburgo, que foi muito legal. E eu fui muito bem tratado pelo pessoal, fiquei muito amigo deles.

De certa forma acabou me incentivando, sim, de voltar com o Overdose, apesar de envolver outras pessoas. Após eu ter tocado com o Carniça, deu uma chama sim de querer voltar a tocar com certeza.

RtM: Agora revisitando um pouco da história, conte-nos sobre o período de composição e gravação do clássico Split com o Sepultura, em que vocês ainda tinham as letras em português, enquanto muitas já seguiam a tendência de compor em inglês.

CD: A gente começou em português, nunca deixamos o português totalmente de lado: no “...Conscience...” tem “Última Estrela”, no “Scars” tem “Nu Dus Otro é Refresco” e “Postcard from Hell”, no “Progress of Decadense” tem “Rio, Samba e Porrada no Morro”. Sempre teve alguma coisa em português. No segundo single vai ter uma música em português também, que se chama “João Sem Terra”.

A gente acabou indo para o inglês, traduzimos algumas letras infelizmente, porque em português era muito legal. Eu acho até mais difícil de compor em português para te falar a verdade, porque a sonoridade do português é mais difícil do que a do inglês. Mas compor em inglês foi mais pela questão da falta de reconhecimento e pela falta de oportunidade de seguir uma carreira aqui no Brasil. 

Em outros países, bandas de Heavy Metal se tornaram famosas. Aqui no Brasil temos o Sepultura, mas eles foram reconhecidos por uma gravadora internacional. O Sepultura é mais reconhecido lá fora do que aqui no Brasil, assim como o Overdose. Por isso passamos para o inglês por essa questão e de ser outro mercado. No começo, a nossa proposta era mais voltada para o público brasileiro, para entender a letra mesmo.


RtM: E como era o processo de composição e a produção das músicas na banda?

CD: As músicas do Overdose são praticamente minhas. Tem um solo de baixo do Fernando, uma macumba do Bozó no “Scars” e tal, mas são minhas músicas. Eu compunha as músicas, ensaiava muito elas e apresentava para o resto da banda nos ensaios. 

Eu treinava muito em casa até a chegada do Bica, treinava umas 10 a 12 horas por dia, mas antes da entrada dele já praticava umas 5 horas. Desde que eu ganhei a guitarra, queria tocar bem. E para essa gravação, que foi num estúdio de 8 canais, usamos equipamentos bem limitado: guitarra Finch, captador Distortion, pedal Heavy Metal e amplificador Baginho da Gianinni, que cheguei a emprestar para o pessoal do Sepultura na época.

Antes do Split, havíamos lançado a demo “Última Estrela”, que rodou o Brasil inteiro. A gente tinha uma certa notoriedade antes do Split por conta de ter saído matéria sobre ela na revista Metal, por ter feito um show para seiscentas pessoas no Circo Deliris e da música ter sido tocada na rádio Fluminense, que era uma rádio muito importante no Rio Janeiro na época. Eu acho o “Século XX” um divisor de águas em termos de técnica, sonoridade e musicalidade do Metal brasileiro.

RtM: Aquela cena mineira da época revelou nomes que tiveram uma repercussão inclusive fora do Brasil. Como era a relação das bandas naquele período? Haviam alguns grupos? 

CD: No começo não tinha ramificações dentro do Metal. Eu, pessoalmente, curto Heavy Metal desde o Black Sabbath e o começo do Judas Priest, época que nem existia o nome Heavy Metal, Headbanger e Metaleiro. Quando o Overdose fazia show, ia todo mundo que gostava de Heavy Metal. Um pouco antes nem tinha público, depois do show Kiss que começou a ter mais, pois antes era só uma meia dúzia de amigos, que se encontravam nas lojas de discos. 

Depois do primeiro Rock In Rio, em 1985, que a coisa explodiu. No começo ia todo mundo, não tinha essa coisa ‘ah, eu gosto de um estilo, eu gosto de outro’, só depois do lançamento do Split que começou essas ramificações. 


RtM: Você sentia que havia algum tipo de “competição” entre algumas bandas?

CD: Principalmente, com o Slipt, começou também uma competição por parte do pessoal do Sepultura, que eu prefiro não comentar.

A gente sempre teve uma relação muito boa com as bandas daqui de BH, a grande maioria: Sarcófago, Multilator, Witchhammer, Chakal. Eu, inclusive, levava equipamento meu para gravação dessas bandas e fazia coprodução. É lógico que tinha os radicais, mais do lado do Sepultura. 

E a questão não era só as ramificações, alguns chegavam a ser agressivos também. 

Às vezes rolava agressividade até em shows dessa meia dúzia de radicais, que chegava a incomodar a gente por ser uma coisa desleal e sem sentido, porque são pessoas que a gente nunca fez nada de mal e ficaram com raiva da gente por causa da música que a gente fazia, que não era um Death Metal extremo. 

Em geral, a relação do Overdose com as bandas daqui sempre foi muito boa.

RtM: Depois do "Século XX" vocês começaram a compor em inglês. Que planos e ambições vocês tinham nessa fase já com letras em inglês, com o “...Conscience…” e “You’re Really Big!”?

CD: Nossa maior ambição, desde o começo, foi sempre aprimorar tecnicamente e musicalmente. Eu, especificamente, puxava o barco, dedicando-me intensamente durante a preparação do "You’re Really Big!", praticando guitarra 12 horas por dia. Era uma coisa inédita, pois não havia trabalho com tanto virtuosismo que nem o “You’re Really Big!” aqui no Brasil. Depois veio o Angra, uns quatro anos depois, e outras coisas. A nossa maior ambição era essa, ser uma banda muito técnica e original.

O “...Conscience…” é bem peculiar, pois o lado A e o lado B dele não tem refrão. Até hoje acho ele diferente, com músicas grandes e sem refrão. E no “You’re Really Big!” experimentamos elementos da música erudita, coisa que o Dream Theater veio fazer depois do Overdose. 

Mas era mais especificamente o erudito com o Heavy Metal, bem na ordem do progressivo, que era a influência que a gente tinha. Também tínhamos influência do Mercyful Fate e do Metallica, mas a ambição era muito musical e técnica. Desde o início queríamos nos aprimorar musicalmente e tecnicamente, sempre batalhamos por isso.


RtM: Nessa época a mentalidade já era de que, cantando em português, seria mais difícil alcançar um mercado fora do Brasil?

CD: Começamos a cantar em inglês devido à falta de apoio aqui no Brasil, então tivemos que procurar o mercado externo, que ainda continua sendo preconceituoso. Naquela época ninguém aceitava língua de outro país. Hoje até aceitam um Rammstein, uma outra banda daqui e dali, mas o inglês continua se destacando. 

A gente foi forçado a passar para o inglês para tentar esse mercado externo, já que no Brasil nunca teve apoio. É até estranho falar isso, porque hoje em dia a situação não mudou muito. Existe até um pouco mais de apoio hoje comparado os anos 80 e 90, só que bem pior (risos). 


RtM: Do “Conscience” (87) à “Addicted to Reality” (90) temos um Overdose mais progressivo, com influências do Power e até mesmo do Hard. Mas em “Circus of Death” (92) tivemos uma das maiores viradas de chave do Heavy Metal. Aquele lado melodioso ficou um pouco de lado e o Thrash old school entrou em cena, para depois, consolidar um estilo mais groovado e com influências tribais em “Progress of Decadence” (94) e “Scars” (95). O que levou a essa mudança de sonoridade?

CD: As razões de mudança de estilo foram diversas. Eu acho que a principal é que a gente sempre fez o que estava curtindo na época, e não que a gente não curtisse Thrash na época do “...Conscience...”, “You’re Really Big!” e o próprio “Addicted to Reality”.

Apesar de mais agressivo, o “Circus Of Death” tem melodia, mas não clássica e erudita puxada para o barroco e para o romântico como no "You're Really Big". O “Progress of Decadence” é um tanto menos melodioso em comparação aos outros discos. É um pouco mais rebuscado, mas ainda assim é todo com melodia, sem nada gritado.

No “Progress of Decadence”, época que eu morava em Los Angeles, estava preocupado em fazer uma coisa diferente de tudo, colocando elementos de escola de samba, que o Bozó fazia no surdo da bateria e o André acompanhava na guitarra meio que na brincadeira. Então a gente começou a explorar e pesquisar mais isso, colocando elementos meio nordestinos, brasileiros e percussivos.

E no “Scars”, a gente ousou mais ainda. O álbum tem tudo o que você pode imaginar, incluindo Candomblé e batidas mais africanas. A gente acabou indo muito além com essas misturas, que sempre foram marcantes na história do Overdose.


RtM: Com essa virada para o lado do Groove com influências vindas da percussão, que após se tornou tão famosa e muitas bandas aderiram. Seria o Overdose o precursor desse estilo?

CD: Eu acredito, sim, que o Overdose é um dos precursores do Groove Metal. A gente já estava começando a fazer isso em 92 e 93 quando já tinha o “Circus Of Death”. A gente já fazia essa levada mais groovada, com estilo brasileiro, meio que na brincadeira desde os anos 90 nos ensaios. Considero também que o Overdose é um dos precursores do prog metal, no “...Conscience…”, quando o Dream Theater ainda não existia. 

Tem gente que acha que a gente foi influenciado pelo Sepultura, mas nós começamos antes. Eles têm uma pegada mais tribal, não é essa coisa da bateria de escola de samba. O Sepultura usava alguns efeitos, já nós, usamos bateria de escola de samba no disco inteiro.


RtM: Com “Progress of Decadence”, que foi lançado por um selo do exterior, o Overdose teve a oportunidade d tocar nos EUA,  Canadá e Europa. Conte-nos como foi essa experiência e como foi trabalhar com esse selo.

CD: Nós fizemos umas cinco turnês americanas, chegando até ser headliner. Fizemos turnês com o Crowbrar, Screw e Mercyful Fate, principalmente, que é uma das minhas bandas preferidas. Eu vi uns trinta shows todas as noites, praticamente. Acabava o nosso show, eu ia correndo para ver o Mercyful. 

Tocamos com muita banda legal na Europa, como o L7, Biohazard, Type O Negative, Grip Inc., Machine Head e Nevermore. Foi maravilho para falar a verdade, um sonho realizado. Chegamos a ter uma estrutura boa, com ônibus específicos para turnê mesmo. Tocamos no CMJ, chegamos em segundo lugar e ficamos seis meses no Top Ten das rádios college americanas, competindo com o Korn na época.

Tivemos muito apoio de empresário também, o problema foi quando mudou a diretoria da gravadora, que era o Steve Sinclair, ele saiu e entrou o Paul Bibel. O Steve é o AIR que descobriu e contratou o Overdose, o mesmo AIR do Dream Theater e de outras bandas. E o novo que entrou contratou o My Dying Bridge, que é uma banda até que razoavelmente conhecida. 

Ele tirou todo investimento do Overdose e colocou no My Dying Bridge. Era para gente ter feito uma turnê na Scandinavia com o Mercyful Fate, só que foi cancelada porque não mandaram o dinheiro da passagem. O Scars é um disco muito injustiçado por causa disso, porque não teve apoio da gravadora, não teve divulgação e não teve turnê praticamente. 

Então no final, com a mudança da diretória, foi muito ruim para gente. Agora o pessoal da gravadora é muito amigo nosso, como Paul Mitchel, por exemplo. Era muito bacana até a mudança da diretoria.


RtM: Conte-nos mais do período com o “Scars”, também tendo shows no exterior e ao lado de grandes bandas, sendo suporte do Grip Inc, tocando em festivais tradicionais como o Dynamo Open Air.  

CD: Na verdade, o Dynamo e a turnê do Grip Inc. foi em 95, nessa época que eu falei que era muito boa, que a gravadora estava investindo, empresariamento cresceu e tivemos um ônibus bacana para fazer a turnê com o Grinp Inc. e outros festivais. Tocamos também na França (festival Mega Force), Áustria e Bruxelas.

O Dynamo foi monstruoso, foi um festival bacana demais, só com banda grande e com duzentas mil pessoas acampadas. Foi o auge da carreira do Overdose. Esse show, que tem até no Spotify, começou com uma galera com a bandeira do Brasil que estava na frente curtindo, mas depois da metade do show, não dava nem para ver aonde esse pessoal estava agitando. Fizemos um show e outro na Holanda também, conquistamos um público legal lá, mas o Dynamo foi sensacional. 

No "Scars" tínhamos uma turnê com o Mercyful Fate, que na verdade foi uma goela, porque pessoal da gravadora deu uma van para gente, a van quebrou com dois dias e depois fizemos a turnê toda dentro de um carro e um quarto de hotel para a banda, crew e tour manager, ou seja, todo mundo num quarto só. 

E eu acho que isso foi até um dos motivos do fim do Overdose, porque é muito estressante ficar espremido dentro de um carro e dentro de um quarto de hotel, além da gravadora ter começado a tirar o nosso apoio.

RtM: Conte-nos um pouco mais de como foi excursionar com a banda de Dave Lombardo.

CD: A turnê com o Grip Inc. foi legal demais, nós ficamos super amigos do pessoal. Eles ficavam mais no nosso ônibus do que no ônibus deles, porque o Dave Lombardo tinha levado a família dele (mulher e filho). 

O próprio Dave Lombardo é muito gente boa, foi muito agradável a convivência com ele. No primeiro momento a gente ficou meio assustado falando ‘olha, é o baterista do Slayer ’, mas depois da primeira conversa ele foi super humilde, tranquilo e ficamos super amigo dele e da banda toda.

RtM: E o que aconteceu que a banda depois disso? Que acabou caindo em um hiato, quando, acredito, muitos esperavam que o Overdose alcançasse patamares mais altos?

CD: Como eu já havia falado antes, um dos principais motivos da banda ter acabado foi a retirada de suporte da gravadora, porque ninguém estava ganhando dinheiro, especificamente o Bozó, que estava muito preocupado. Nessa época até o Jairo, que era do Sepultura, e o Gustavo Monsanto tocava com a gente. Era uma formação muito bacana, mas com essa furada da gravadora, o Bozó resolveu sair da banda, porque ele estava preocupado em ganhar dinheiro, estava com quase trinta anos e não ganhava nada.

Após a saída do Bozó, eu tentei achar um novo vocalista. É muito difícil substituir o Bozó, porque acho ele um excelente cantor, mais o carisma, presença de palco e tudo. Eu fiz alguns testes, achei que ninguém tinha nada a ver, mas eu achei um vocalista que cantava muito, apesar de ser totalmente diferente do Bozó. Aí resolvi montar uma banda nova, a Eletrika, que chegou até ter música em uma novela da Rede Globo, tocou no festival de música brasileira e chegou a ter um certo reconhecimento também. 

O Eletrika chegou a fazer turnê fora com o Slipknot, Testament e com muita banda legal na França. Em 2004 o vocalista saiu, continuei mais um pouco até 2007, o Eletrika acabou e parei de tocar até o Overdose voltar, em 2008, quando a gente fez um show em São Paulo.


RtM: E de planos a médio e longo prazo? O que podemos esperar do Overdose?

CD: A longo prazo, não tem planos, vamos ver o que vai acontecer com as coisas que estão acontecendo.  A prioridade é o lançamento do EP com cinco músicas inéditas, que é o que a gente está fazendo. Estamos indo para a segunda música, “João Sem Terra”, que é um Metal baião com paródia da música nordestina. Está praticamente pronta, mês que vem ela deve estar saindo em todas as plataformas digitais.

Depois do lançamento do EP, vamos ver se a gente volta a tocar. A sorte dessa vez é que eu achei um vocalista muito bom, que não é o Bozó, mas que é muito fera, o Vitor, que leva a onda do Bozó muito bem. A pretensão é remontar a banda, estou tentando arranjar um guitarrista para fazer os shows de comemoração dos quarenta anos e do lançamento do EP.

Não sei se vamos continuar fazendo músicas inéditas e continuar tocando, porque o retorno financeiro é muito pequeno. Para te falar a verdade é mais prejuízo, porque a maioria das bandas gasta para fazer Metal. Não dá para falar que é investimento, porque não tem retorno. Então vai depender do que estiver acontecendo.



Overdose Instagram

Spotify






quinta-feira, 27 de junho de 2024

Cobertura de Show: Kool Metal Fest – 09/06/2024 – Vip Station/SP

Foi o grande encontro nacional do Death Metal! Todo mundo estava lá: bandas, público de vários lugares do Brasil se encontraram no Vip Station numa tarde de domingo para celebrar esse dia histórico do Kool Metal Fest, no qual o Possessed foi a atração da noite e abarrotou o lugar.

Do lado de fora, para desespero dos evangélicos, uma multidão já estava calibrando na cerveja para poder curtir e encontrar uma cena poucas vezes vistas em Santo Amaro com a rua tomada de camiseta com cruzes invertidas, dava para sentir que lá dentro seria uma noite memorável. Ao entrar, o momento de conseguir andar e pegar uma gelada foram nas primeiras bandas. Ver amigos e cumprimentá-los era tudo no começo do evento e depois era desencontrar para não se ver mais. Estava insano o lugar!

O Facada (Fortaleza-CE), desceu o mapa até São Paulo e fez uma boa apresentação trazendo as influências do grind desde 2003. O vocal de James e bateria tocada por Vicente estavam soando muito bem, porém o som das cordas que chegava na pista estava muito embolado, faltou dar uma calibrada para ouvir uma melhor definição dos riffs do guitarrista Danyel. Deram início aos circle pits, rodas e foi uma apresentação curta, mas muito honesta e agressiva representando nosso underground do Nordeste.

Na sequência, Cemitério entrou com casa quase cheia comemorando 10 anos do primeiro disco. Hugo Golon assume o baixo e vocal com uma postura bem coesa, direta e sem perder tempo no repertório, tem um entrosamento sem igual e está bem consolidada na cena, entretanto, com Hugo assumindo duas funções, deixa o show ausente de mais vibração como Cemitério fazia antes quando era quarteto. Aquela referência do vocalista frente de palco se perdeu e precisava voltar porque era o diferencial da banda, já que as letras estão na boca do público e tudo isso deixa o show mais movimentado. A bateria e vocais estavam excelentes, mas assim como o Facada, o som das cordas só começou a melhorar nas últimas músicas - já se percebia que o problema vinha da regulagem da mesa. Cemitério tem muito crédito no underground e possivelmente terá novo álbum chegando até o fim do ano. Destaque para versão muito boa em português de “Infernal Death” (“Morte Infernal), do Death.

A terceira da noite foi o Velho representando o Rio de Janeiro balançou as extremidades. Visual marcante, bateria trigada, duas guitarras, tudo soando muito bem. O público dominava todas as letras e os cariocas fizeram um Black Metal nos moldes mais tradicionais, cru e direto, sem saturar ou perder a consistência do show. Foi uma apresentação curta, mas até o momento, na entrega do show e perfeita audição de todos os instrumentos se destacaram muito bem.

A partir daqui, não se encontrava mais ninguém que havia cumprimentado onde entra o Vulcano, que fez o show com a casa carregada, som bem alto, mas a banda executando muito bem (tirando um “over com microfonia” que não conseguiram tirar da mesa que ficou quase apresentação inteira). No entanto, entregaram uma apresentação irrefutável e clássicos que para citar aqui é chover no molhado, Total Destruição e Guerreiros de Satã fecharam a noite. O vocalista Angel estava lá, participou só no começo e Luiz Carlos Louzada segue grandemente com Vulcano, se consagrando mais uma vez com nosso clássico do underground dos primórdios da cena santista e paulista!

Necrodemon, do Chile, havia cancelado o show, enfim chega a vez do Venom Inc. deixar seu registro na noite. Infelizmente o Mantas não estava lá por conta de um infarto sofrido este ano, foi substituído por Curran Murphy (ex-Annihilator e Nevermore) e mandou muito bem. O vocal/baixista Tony “Demolition Man” Dolan colocou a casa inteira abaixo com aquele público aclamado no Vip Sation, subiu o pedestal a lá Cronos e mandou ver nas 15 músicas do repertório sem deixar faltar os clássicos. Mesmo não sendo o vocalista original, fez o melhor show da noite, tudo equilibrado, som e iluminação encaixando perfeitamente.

Por fim, o criador do estilo Death Metal esmagou o pouco espaço que havia até então. O Possessed e seu lendário vocalista Jeff Becerra na cadeira de rodas (paraplégico após um assalto em 1989) vibrava junto ao público a cada som tocado de forma impecável pela banda toda, uma excelência na execução de todas as músicas e não deixou os hinos da criação do estilo para trás, com direito a sinalizadores no circle pit em The Exorcist e os clássicos de Seven Churches, que completa-rá 40 anos em 2025. Tocaram também seis músicas do disco de 2019, “Revelations of Oblivion”, que trouxe a banda novamente para cena, um regaço descomunal despejado no palco extremamente fiel a gravação do disco. Muitos ao saírem do show, reclamaram do som muito baixo, que parecia vir somente do palco e não tinha retorno para o público. Nas redes sociais um dia após o show, Jeff publicou um vídeo agradecendo aos fãs, mas tossia muito e aparentava não estar muito bem de saúde, o que comprometeu a voz durante algumas músicas. O Possessed estava em turnê na América do Sul e provavelmente encararam uma mudança de tempo que afetou a voz ao chegar no Brasil, mesmo assim, conseguiram cumprir o papel e o show foi espetacular.

Pontos Negativos? Temos! Alguns já foram citados, mas vale lembrar que a logística dos banheiros não favorece nenhum evento desse porte. Outro ponto negativo foram as músicas nos intervalos das bandas... no flyer mostrava que haveria uma discotecagem de Metal, porém, acho que convidaram o DJ Alok, porque colocaram música eletrônica até o Venom Inc.. Só foram rolar um Pestilence antes do Possessed.

No final, deu tudo certo! Bandas de abertura trouxeram outras bandas da região e de outros Estados, arrastaram público que viajou para assisti-los, promoveu encontro de amigos, fotos, merchandising e material em massa para atender o dia histórico de 2024 para o Death Metal brasileiro e internacional.

 

Texto: Roberto “Bertz” (Fanzine Pandemia)

Fotos: Leandro Cherutti (Metal no Papel)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda

 

Realização: Agencia Sob Controle

Mídia Press: Tedesco Comunicação & Mídia

 

Facada

Tu Vai Cair

Socorro

O Joio

Playing With Souls

Descendo Sangue

9mm de Redenção

Tudo me Faltará

Feliz Ano Novo

Nadir

Emptier

Apocalipse Agora

Cidade Morta

Falta Excesso

Podem Vir

Truculence

Instagrinder

Sarcófago

O Cobrador

Amanhã Vai Ser Pior

Chovendo Baratas

Guarda Esse Mantra pra Ti

 

Cemitério

A Volta dos Mortos Vivos

A Vingança de Cropsy

Quadrilha de Sádicos

Massacre no Texas

Tara Diabólica

Oãxiac Odèz

O Dia de Satã

A Sentinela dos Malditos

Sexta-Feira 13

Holocausto Canibal

Natal Sangrento

Morte Infernal (Death cover)

 

Velho

Mais um Ano Esfria

Senhor de Tudo

Cadáveres e Arte

Coma Induzido

A Mesma Velha História

Perto dos Portais da Loucura

Satã, Apareça!

O Único Caminho

 

Vulcano

Holocaust

Dominios of Death

Spirits of Evil

Witches'Sabbath

Ready to Explode

Death Metal

Incubus

Total Destruição

Guerreiros de Satã

Legiões Satânicas

 

Venom Inc.

Witching Hour

Bloodlust

Come to Me

War

Welcome to Hell

Inferno

Live Like an Angel (Die Like a Devil)

Blackened Are the Priests

Carnivorous

In Nomine Satanas

There's Only Black

Black Metal

In League With Satan

Countess Bathory

Sons of Satan

 

Possessed

No More Room in Hell

Damned

Pentagram

Seance

The Word

Storm in My Mind

Dominion

The Eyes of Horror

Tribulation

Graven

The Exorcist

Demon

Fallen Angel

Death Metal

Burning in Hell

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Resenha: Sebastian Bach - Child With the Man (2024)

Por Carol Pen 

Reigning Phoenix Music (Imp.)

Sebastian Bach é conhecido principalmente pela sua passagem como vocalista na banda de Hard ‘N Heavy Skid Row, sendo essa a formação que trouxe maior sucesso e reconhecimento para banda. Sebastian Bach gravou três álbuns de estúdio com o Skid Row: “Skid Row” (1989)”Slave to the Grind” (1991) e ”Subhuman Race” (1995). Após divergências entre os membros da banda, Sebastian deixa o Skid Row em 1996 e começa a focar em sua carreira solo.

A discografia solo dele inclui 5 álbuns de estúdio principais: "Bring 'Em Bach Alive!" (1999)"Angel Down" (2007)"Kicking & Screaming”(2011)"Give 'Em Hell" (2014), o recente “Child Within The Man” (2024) e o ao vivo no Hellfest na França "Abachalypse Now" (2013).

A volta de Bach com seus trabalhos solo tiveram como previa os singles “What Do I Got To Lose?”“Everybody Bleeds” e “(Hold On) To The Dream” – performadas na sua recente vinda ao Brasil no festival Summer Breeze em abril de 2024 –, dando aos fãs um gostinho do que poderiam esperar para seu novo álbum.

O primeiro dentro de dez anos, “Child Within The Man” foi lançado no dia 10 de maio pela Reigning Phoenix Music e flutua nas essências do Hard Rock e Heavy metal. As 11 faixas do álbum foram produzidas e mixadas por Michael Elvis Baskette, produtor musical norte-americano que trabalhou também com as bandas Alter Bridge, Limp Bizkit, Falling in Reverse, Slash, e mais. Ele possui seu próprio estúdio em Orlando na Florida, chamado “Barbarosa Studios South”, e foi lá que o álbum de Bach foi gravado.

Os músicos recrutados para esse álbum foram Devin Bronson (guitarra), Todd Kerns (baixo) e Jeremy Colso (bateria), os mesmos que estão em turnê com Bach. Além dos guitarristas convidados John 5, Orianthi e Steve Stevens.

A capa do álbum estava enrolada em um tubo desde 1978, segundo Sebastian. Ela foi pintada pelo seu falecido pai, David Bierk, que era um pintor realista americano-canadense conhecido por trabalhar no gênero pós-moderno. David foi também o autor da gravura na capa de "Slave To The Grind" (1991), uma das eleitas “melhores capas de álbum de 1991” pela revista Rolling Stones. E por ter sido criada na década de 70, a capa de “Child Within The Man” carrega elementos que remetem a era setentista, mesmo o álbum não sendo setentista na sonoridade. Mas que com certeza traz um grande significado para Sebastian.

O album inclui também as faixas “Freedom”“Hard Darkness”“Future Of Youth”“Vendetta”“F.U”“Crucify Me”“About To Break” e “To Live Again”. Tendo duração de 47 minutos e 35 segundos.

Os temas das letras envolvem valores e princípios de Bach, que em sua habilidade vocal criam uma atmosfera emocional e impactante junto da experiência sonora mais pesada que os riffs de guitarra cativantes geram com a linha de baixo e a bateria bruta e veloz. A única balada que se destaca neste álbum, já que o mesmo está repleto por um som enérgico, é a faixa final “To Live Again”.

Tivemos como resultado um álbum que retorna às raízes do Rock pesado que Bach, ou “Tião”, como os fãs brasileiros o chamam, carrega em sua bagagem como um artista talentoso e dedicado para manter seu sucesso na cena do Hard ‘N Heavy. Além dele nos transmitir mensagens inspiradoras sobre coragem e perseverança ao corremos atrás dos nossos sonhos!

“Child Within The Man” está disponível tanto em mídia física (CDs, cassete e vinis) quanto nas plataformas de streaming. Para promover a divulgação do novo álbum, Sebastian Bach, está em turnê pela América do Norte.







quinta-feira, 20 de junho de 2024

Entrevista - Vesperaseth: Mix de Influências no Death Progressivo

 



Oriunda de Campinas (SP), o Vesperaseth faz um Death Metal progressivo moderno, com influências do Djent e afinações baixas, enfim, indicado a fãs dessa vertente. Outra característica do grupo são as letras em português.

Conversamos com a banda para falar sobre seu trabalho e o recente álbum "Nebro", que foi produzido por eles.


RtM: Olá Naamã. Obrigado pela sua gentileza em nos atender. Parabéns pelo lançamento do álbum “Nebro”, pois o material ficou de primeira…
Naamã: Eu que agradeço a oportunidade dessa entrevista, sempre uma honra ter o trabalho reconhecido.


RtM: Como você pode descrever o trabalho na composição deste tipo de sonoridade?
Naamã: É um trabalho muito detalhista, feito com calma, tentamos misturar diversas influências dentro de uma atmosfera que consiga transmitir a mensagem de cada música proposta.


RtM: Eu ouvi o álbum diversas vezes e, só após várias tentativas, conseguir captar parte das suas ideias. Os fãs têm sentido este tipo de dificuldade também?
Naamã: sim, sem dúvida. Somos sempre questionados sobre nossas influências e qual o estilo da banda, com honestidade nem nós mesmos conseguimos responder com exatidão. 

"Nebro" é um trabalho que foi feito para ser apreciado com calma, às vezes é preciso ouvir várias vezes para entender as nuances propostas.



RtM: Existem planos para o relançamento de “Nebro” através da MS Metal Records, atual gravadora de vocês?
Leandro: Conversamos algumas vezes. Estamos avaliando as possibilidades. Mas, com certeza, temos isso em mente para um futuro próximo.


RtM: Adorei o fato de trabalharem com o português, mas isso não pode vir a atrapalhar vocês no mercado internacional?
Eric: Escolher o português nas letras foi algo natural quando criamos o projeto e que veio a se tornar um diferencial nos shows. 

Em relação ao mercado internacional, podemos sim, ter alguma dificuldade inicial, porém acreditamos que quem se identificar com a proposta da banda pode acabar fazendo uma pesquisa sobre as letras e temas e assim se identificar mais com nossas ideias.


RtM: Como estão rolando os shows em suporte ao disco? A aceitação está sendo positiva?
Leandro: Tem sido ótimo. E diria até surpreendente para alguns primeiros ouvintes. Já temos um público cativo que já elegeram suas músicas prediletas  e temos trabalhado para chegar cada vez mais longe com o disco.


RtM: Carlos Fides é o melhor designer do país e foi justamente ele que assinou a capa do CD. Qual a intenção dela e como ela se conecta com o título?
Naamã: Carlos Fides fez um trabalho incrível com a capa, parece ter pulado das páginas de H.P Lovecraft, os temas líricos são em torno do caos, loucura e horror cósmico, o que conecta perfeitamente a arte com o tema do álbum.


RtM: “Nebro” foi todo produzido pela banda, confere? Foi satisfatório seguirem por este caminho?
Thiago - Sim, "Nebro" foi todo produzido pela banda, e foi super satisfatório! Eu, especialmente, adorei, já que sou um entusiasta da produção. 

Adoramos experimentar, dar ideias e empurrar nossos limites. Produzindo por conta própria, tivemos todo o tempo do mundo para pensar e lapidar as músicas até o resultado de hoje. Com todos da banda contribuindo e sem a pressão do tempo, o processo criativo fluiu muito melhor!


RtM: Imagino que já estejam trabalhando em um terceiro full lenght. Se sim, como está se dando o processo e como ele está soando?
Leandro: Já estamos trabalhando em um novo disco. Estamos ainda em uma fase inicial do processo, trabalhando algumas ideias.  

É difícil dizer como está soando, justamente por isso. Gostamos de trabalhar as músicas com calma, fazer várias experimentações. Mas, o que podemos adiantar, é que o peso do Nebro estará presente.


RtM: Novamente parabéns pelo trabalho e vida longa ao VESPERASETH...
Naamã: mais uma vez, agradecemos a oportunidade dessa entrevista, siga nossas redes sociais e fique por dentro das novidades.