segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Cobertura de Show: Eric Clapton – 29/09/2024 – Allianz Parque/SP



As contribuições de Eric Clapton para o mundo do rock são imensuráveis, e isso não deve ser surpresa para ninguém. Tendo tocado com o Cream, Derek and the Dominoes, The Yardbirds e muitos, muitos outros, dizer que o inglês sabe o que faz é chover no molhado. O Brasil é um país bastante visitado pelo “seo Érico”, que já fez 19 shows por terras tupiniquins, vindo praticamente de 10 em 10 anos, 1990, 2001, 2011 e agora em 2024.

A noite começou relativamente cedo, às 18:20, com uma performance brilhante de Gary Clark Jr., guitarrista nativo de Austin, Texas. Em atividade desde 1996, Clark tem desenvolvido um estilo próprio, misturando um pouco do bom e do melhor do blues e do rock, se tornado um dos grandes nomes do estilo nos últimos tempos. Mesmo já tendo recebido comparações com grandes guitarristas como Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan, o texano apresenta uma sonoridade diferenciada, como pode ser vista claramente com “Maktub”, faixa que abriu seu show. 

No palco, o guitarrista esbanjava tranquilidade, tocando de maneira extremamente focada, mas ao mesmo tempo incrivelmente solto, leve, injetando uma boa dose de “feeling” em cada dedilhada, cada palhetada, executando seus solos perfeitamente, como em “When My Train Pulls In”, que impressionou a Allianz Parque, esgotado desde maio.

Sua banda de apoio também não ficou para trás, sendo composta por diversos músicos experientes. Os “grooves” impressionantemente complexos de J.J. Johnson, as linhas de baixo de Elijah Ford criando a base, a espinha dorsal das músicas, o suporte de King Zapata na guitarra, as vozes das irmãs de Clark adicionando camadas e camadas de profundidade; era a receita perfeita para um som suave, coeso, perfeito. 

O lado mais tradicionalmente blues foi mostrado com a enérgica “Don’t Owe You a Thang”, “When My Train Pulls In” e a emocionante “This is Who We Are”. O clima voltou novamente lá pro alto com “What About the Children”, gravada com Stevie Wonder para seu LP mais recente, que contou até com o público batendo palmas no ritmo da música, junto de Gary.

Depois de cada faixa, Clark agradecia o público com um singelo, porém simpático “thank you, São Paulo! Feeling good?”. Sua performance foi finalizada com “Bright Lights”, destaque de seu álbum “Blak and Blu” e “Habits”, já de “JPEG RAW”, disco lançado esse ano, sendo o trabalho que recebeu mais destaque no repertório, com 3 das 7 músicas vindo dele. A supracitada “Bright Lights” termina dizendo “you’re gonna know my name” (você conhecerá meu nome) e após a aula que ele deu em cima daquele palco, quem não o conhecia, conhece agora. 

Em uma hora, conseguiu mostrar a profundidade de seu repertório, indo de músicas mais animadas como “Don't Owe You a Thing” e “When My Train Pulls In” a faixas mais carregadas de emoção, como a linda “This is Who You Are” e “Habits”, que fechou o show. Não só foi um ótimo aquecimento para a performance de Clapton, como também deixou um grande “gostinho de quero mais”.

Um pouco atrasado, o nativo de Ripley e sua icônica Stratocaster preta subiram no palco do Allianz (que agora já estava bem mais cheio) por volta das 20:05, começando com dois pés na porta, logo com a clássica “Sunshine of Your Love”, do Cream. Apesar do frio de menos de 20 graus que fazia, a recepção de Clapton não poderia ter sido mais calorosa, com o guitarrista (que também estava com frio, usando dois casacos) tendo a letra de suas músicas cantadas a plenos pulmões. Fora os refrões sendo ecoados quase no mesmo volume da banda, um mar de celulares foi ao ar no segundo em que o icônico riff começou.

“Key to the Highway” de Charles Segar e a incrivelmente clássica “I’m Your Hoochie Coochie Man” de Willie Dixon seguiram, tão bem recebidas quanto. Fechando o primeiro “bloco” do show, “Badge” do Cream foi a última a ser tocada por Clapton antes dele sentar e pegar seu violão. Já mais confortável, começou uma sequência de músicas mais leves, devagar rs, aquelas para acender a lanterna do celular e “limpar a janela”: “Kind Hearted Woman Blues”, “Running on Faith”, “Change the World” e “Nobody Knows When You’re Down and Out”, uma das mais pedidas do Cifra Club. Na teoria, era um descanso para todos, inclusive os fãs, mas esse não foi o caso, pois todos seguiam cantando, ovacionando Clapton após cada nota que saía de seu violão.

Para as últimas três de seu bloco acústico, chamou ao palco Daniel Santiago, guitarrista e compositor brasiliense que também havia participado do show de ontem, no Vibra. Com Santiago, Clapton executou 3 faixas de sua carreira solo, “Lonely Stranger”, “Believe in Life” e “Tears in Heaven”, que certamente fizeram algumas lágrimas do público caírem. “Tears” também foi um dos pontos altos do show, com a energia de quem estava lá sendo realmente indescritível. O estádio estava iluminado por milhares e milhares de lanternas de celular.

Novamente portando sua arma letal, a icônica Stratocaster preta, voltou com “Got to Get Better in a Little While”, de seus dias no Derek and the Dominos. “Old Love” manteve a energia lá em cima, enquanto o icônico Robert Johnson foi destacado com “Cross Road Blues” e “Little Queen of Spades”, ambas com dois pés fincados no blues. Apesar das semelhanças entre ambas as músicas, o público mostrou poucos sinais de cansaço, ainda se engajando bastante com o inglês, mesmo com o carisma inexistente dele. O finalzinho da performance foi um dos pontos mais altos, a também icônica “Cocaine”, mais uma que foi cantada a plenos pulmões pelo povo.

Após afirmar veementemente que ela não conta mentira alguma, o inglês e sua banda saíram do palco, criando uma sensação de “nossa, será que voltam?” em absolutamente ninguém. Ter bis em todos os shows é algo que já está tão saturado que tira completamente toda e qualquer surpresa de um bis, mas isso já foge um pouco do escopo deste texto. Voltando ao palco menos de 2 minutos depois, fechou o show de uma vez por todas com “Before You Accuse Me” de Bo Diddley, tocada com uma guitarra com a bandeira da Palestina.

Como já era de se esperar, meio mundo gritou “Layla, Layla, Layla”, porém, foi em vão, o britânico virou suas costas e foi embora, sem dar satisfação alguma. Certos fãs persistiram, até que as luzes do estádio se acenderam - Layla deixou os fãs implorando de joelhos, mas suas mentes preocupadas não foram acalmadas.

Bom, convenhamos, o Eric Clapton já tem 79 anos, então não veremos ele correndo pelo palco feito o Axl Rose no auge ou subindo nas torres de som e se jogando a lá Sid Wilson; quem me dera chegar quase aos 80 com as habilidades e a coordenação do Clapton. Mesmo assim, trocar menos de 10 palavras com o público é complicado, não? Apesar disso, tecnicamente, o show foi absurdamente bom. Grande parte das músicas que foram excetuadas foram de forma quase perfeita, a banda de apoio do inglês estava ótima e a escolha do Gary Clark Jr. como ato de abertura não poderia ter sido mais acertada (Best of Blues, já pode trazer ele de novo no ano que vem, hein). 

Certos aspectos foram muito bons e outros nem tanto, como a falta imperdoável de “Layla”, mas, não podemos ter tudo. Contando com o fato de que o Clapton vem mais ou menos de 10 em 10 anos, esse muito provavelmente foi seu último show por aqui, visto que ele já está com 79 anos. Quem viu, viu, quem não viu, talvez não veja mais.


Texto: Daniel Agapito

Fotos: Move Concerts


Realização: Move Concerts

Mídia Press: Midiorama


Gary Clark Jr. - setlist:

Maktub

Don’t Owe You a Thang

When My Train Pulls In

This is Who We Are

What About the Children (cover Stevie Wonder)

Bright Lights

Habits


Eric Clapton - setlist:

Sunshine of Your Love

Key to the Highway

I’m Your Hoochie Coochie Man 

Badge

Kind Hearted Woman Blues*

Running on Faith*

Change the World*

Nobody Knows When You’re Down and Out*

Lonely Stranger (com Daniel Santiago)*

Believe in Life (com Daniel Santiago)*

Tears in Heaven (com Daniel Santiago)*

Got to Get Better in a Little While

Old Love

Cross Road Blues

Little Queen of Spades

Cocaine

Bis

Before You Accuse Me (com Daniel Santiago)

*acústico

domingo, 29 de setembro de 2024

Cobertura de Show: TesseracT – 14/09/2024 – Carioca Club/SP

 TesseracT imerge fãs em show de repertório vasto e “escalada” de energia do público em São Paulo

Apresentação no Carioca Club foi a primeira de duas marcadas para a capital paulista e focou tanto na divulgação do mais recente disco, “War of Being”, quanto em passagens por outros discos do repertório do quinteto

O retorno da banda britânica de Metal Progressivo e djent TesseracT ao Brasil não somente encerrou uma expectativa mútua para fãs que viram a banda na última passagem e para quem viu pela primeira vez, como marcou uma verdadeira escalada de ânimos e energia da plateia em pleno Carioca Club, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, no último dia 14 de setembro. Esta foi a primeira de duas apresentações previstas na capital paulista - sendo a segunda no Fabrique Club, na região da Barra Funda - que encerrou a turnê latinoamericana. O evento em questão foi organizado pela Liberation Music e também contou com a banda de Metalcore There’s No Face na abertura.

O TesseracT, formado em 2003 na cidade de Milton Keynes, no sudeste inglês, fez de sua primeira apresentação um show baseado na divulgação de seu mais recente álbum, “War of Being” (2023), lançado pouco mais de seis meses após a primeira passagem da banda em solo brasileiro - com apresentação no mesmo Carioca Club -, e com o incremento de músicas de boa parte do repertório de EPs e álbuns lançados desde 2010. Tal situação se diferenciou do show do dia seguinte, que teve foco no EP “Concealing Fate”, o primeiro lançamento da banda.

Com um Carioca Club praticamente lotado e com uma boa quantidade de pessoas presentes desde a abertura dos portões, o público, muito por conta de uma pequena diferença de estilos musicais e focado na apresentação principal, não se mostrou muito agitado com a abertura e, durante o show principal, teve uma verdadeira escalada de ânimos, iniciada nos coros vocais, passada por momentos de pulos e cantos e que atingiu seu ápice durante o bis, com as faixas do primeiro EP da banda que levaram o público ao delírio, garantindo até mesmo rodas intensas na pista.


There’s No Face

O quarteto paulista de Metalcore, composto por Rafael Morales (vocal), Matheus Silvério (guitarra), Thiago Silva (baixo e backing vocal) e Rodrigo Kusayama (bateria), iniciou a apresentação pontualmente no Carioca Club às 19h. O setlist, composto por seis faixas, trouxe o melhor do repertório dos 15 anos de banda, baseado no EP “Escolhas” (2012), o álbum de estreia, “Contra/Senso” (2024) e em demais singles. 

O vocalista foi o último a entrar, após a introdução da banda, feita com os membros à espera. O quarteto começou com tudo, com a faixa “Hamurabi”, em meio a ótimas notas distorcidas da guitarra, os cantos de Rafael Morales e o refrão melódico muito bem executado por Thiago. No entanto, a ótima energia da banda entrou em contraste com o resguardo do público que, aparentemente mais pautado ao Metal Progressivo e o djent (carros-chefe do TesseracT), não entrou no mesmo ânimo durante a faixa - situação que acabou por prosseguir na maior parte da apresentação de abertura.

Uma das tentativas de animar o público, por parte do There’s No Face, ocorreu na faixa seguinte, o single “Quebre o Silêncio”, quando o frontman da banda chamou o público para pular e sugeriu: “Não precisa guardar energia para o TesseracT”. Os pulos dos membros não foram cativados, o que não mudou a energia dos mesmos e o peso da faixa, que contou com um ótimo riff inicial e boa transição entre guturais e trechos mais líricos de voz.

A banda puxou o setlis para o EP “Escolhas”, representado pela faixa de abertura do lançamento de 2012, “Enquanto Você Espera o Bem” que, além de mais uma iniciação animada, contou com um poderoso breakdown ainda no primeiro minuto da faixa. Já em “Imensidão”, single lançado em 2019 e com um ótimo refrão com teor sentimental e reflexivo, Rafael Morales fez outra tentativa de animar a pista com um pedido sem sucesso de abertura de uma roda na pista. Apesar disso, houve agradecimentos por parte dele e da banda pela presença do público, que ocupou pouco mais da metade da pista, durante o show de abertura.

A reta final da apresentação veio com as faixas “Contra/Senso” e “Motivo”. Na primeira, mais um ótimo misto de vozes de Rafael e Thiago, somados a um forte peso de todos os instrumentos; já na segunda faixa (a última do setlist da banda na noite), vieram as melhores interações com um público mais solto em meio a ótima condução da banda e um refrão resiliente: o acender dos flashes, em um belo mar de luzes ao meio da faixa, e um ótimo breakdown no final da faixa, antecedido de um único grito de uma fã do mezanino da letra em questão: “Contei as Horas pra voltar aqui”. Uma apresentação que mostrou que o There’s No Face segue em ótima qualidade - e digo isso por já tê-los visto em um show recente, da banda Alesana, no mesmo local - e que só não se tornou mais animado por conta de um “conflito” de gostos, envolvendo um público mais centrado ao estilo do TesseracT e, claro, em uma espera contida, mas ansiosa, pela banda principal.


Momentos antes de TesseracT

Durante a montagem do palco para a próxima apresentação, a expectativa ficou voltada aos leds instalados em volta do kit de bateria e nas extremidades frontais e traseiras do palco. Um dos roadies do TesseracT, inclusive, roubou a cena por conta da multifuncionalidade no palco, desde os testes de luzes até os de instrumentos de cordas - a guitarra, principalmente. Tudo isso enquanto, em momentos esporádicos, o público gritava em nome da banda.

Nos minutos finais antecedentes ao show principal, o ambiente se converteu nas luzes azuis e em muita fumaça de gelo seco no palco. Nas caixas de som, músicas de grupos e artistas renomados da Europa, como The Prodigy e Björk fizeram uma ambientação agradável para todos. Tudo isso até dar 19h59 e, pontualmente, o show começar no minuto seguinte.


TesseracT: uma viagem equilibrada ao repertório da banda 

Às 20h, uma pequena introdução foi tocada enquanto os primeiros grandes gritos em nome da banda ecoavam pela pista e mezanino do Carioca Club. Aos poucos, os membros do quinteto entraram: Acle Kahney (guitarra), James Monteith (guitarra), Jay Postones (bateria), Amos Williams (baixo e backing vocal) e, por fim, Daniel Tompkins (vocal). Deles, Amos foi o único a entrar com capuz, enquanto Tompkins pintou sua face de vermelho, na altura dos olhos, fator que demorou a ser identificado devido a um sistema de iluminação que, aparentemente, foi feito para favorecer os leds e, assim, dificultou a visão dos membros da banda para quem estava mais ao meio ou fundo da pista e mezanino da casa, durante praticamente todo o show.

Após a introdução, o TesseracT abriu o setlist de 13 faixas com as ovações do público e a faixa “Natural Disaster”, que também inicia o mais recente trabalho da banda, o álbum “War of Being” (2023). Mesmo que nem todos pulassem, os gritos eram uníssonos e acompanharam Daniel Tompkins no início da faixa, prosseguidos das partes cantadas liricamente e em meio a belas linhas de Metal Progressivo poucos e movimentações “plasmáticas” dos LEDs instalados. 

“Echoes” deu sequência à apresentação, formando a mesma dobradinha que ocorre no álbum anteriormente mencionado. O público fez seu papel de fã ao acompanhar a faixa com palmas e coros quando eram propícios, além de momentos de pulo coletivo no meio da faixa. Tompkins usou de muitas gesticulações com o braço que não segurou o microfone, o que incrementou sua performance à bela voz e junto a um instrumental impecável do restante da banda. Em seguida, a comemorada “Of Mind - Nocturne”, única faixa da noite a representar o álbum “Altered State” (2013), trouxe mais da versatilidade dos LEDs, com alternâncias entre o verde, azul e rosa, que acompanharam o show vocal e do instrumental ainda mais prog da banda. A finalização da terceira faixa veio com o frontman do TesseracT subindo na plataforma central montada para gritar os versos finais, gritados: “Wake me up!”, seguida de linhas seguidas (e poderosas) do baixo de Amos Williams, seguidas do acompanhamento das guitarras e bateria.

Daniel Tompkins fez seu primeiro discurso após as ovações pertinentes do público, reafirmando que a banda voltou como foi prometido em 2023, ano em que debutaram em solo brasileiro com shows em Curitiba e em São Paulo, no próprio Carioca Club. A faixa “Tourniquet”, com um ritmo mais calmo, veio na sequência, em um ode à força do amor que não somente foi representado na carga sentimental da letra, como no ambiente em luzes vermelhas que predominou o início da faixa - com direito á ótimas e destacadas linhas de baixo no final da faixa, novamente acompanhadas pelas guitarras de Acle Kahney e James Monteith e as fortes batidas nos pratos da bateria de Jay Postones.

O retorno ao repertório do álbum de estúdio mais recente, “War of Being”, veio com “Sacrifice”, música que encerra a tracklist da produção em questão. O início lento e em teor eletrônico acompanhou a carga questionadora da letra e a iluminação mesclada entre o rosa dos LEDs e o amarelo dos refletores. Logo, a faixa levou uma condução mais animada e pautada na progressividade proposta pela banda, inclusive com mais um momento de destaque para Amos Williams e um ótimo (e ovacionado) falsete por parte de Daniel Tompkins.

A sexta faixa do TesseracT na noite, “King”, abriu as portas para o disco “Sonder” (2018). Seu início às escuras, acompanhado da primeira voz com efeito grave por parte de Daniel Tompkins - como se anunciasse algo -, logo deu caminho para o riff poderoso da faixa, com distorções mais evidentes na guitarra, porém ainda presas a uma linha lírica. Fãs de todos os lados acompanharam o refrão e foram assim ao longo da música. Foi nesta faixa, também, que uma das primeiras interações mais diretas aconteceu, quando o frontman da banda acendeu uma mini-lanterna e pediu os flashes da galera, algo que foi amplamente respondido (assim como no show de abertura) e retomou um ambiente bonito e iluminado no Carioca Club.


Dando sequência ao “momento Sonder”, a banda selecionou a dupla de faixas “Smile” e “Arrow”, que contou com muito balanço de cabelos dos membros da banda, no riff, um refrão que misturou a linha inicial com a bela voz de Daniel Tompkins e, principalmente, um breakdown poderoso, com linhas de guitarra mais propícias às características do djent e batidas fortes do baterista do TesseracT, que também ditou um ritmo interessante ao final da primeira faixa, uma vez que a segunda trouxe uma pegada mais lírica por parte da voz.


Tompkins fez questão de comparar a passagem anterior com a atual, justificando estar doente e, por isso, não ter performado da mesma forma que naquele momento. Esse foi o prenúncio para uma mudança mais evidente no peso musical, estilo e até na animação (para mais do que já estavam, claro), uma vez que a banda tocou “War of Being”, faixa mais longa do disco de mesmo nome. As linhas de guitarra, agora predominadas ao djent, conduziam junto ao baixo de Amos Williams, que “rouba a cena” ao subir na plataforma da área do vocalista para mostrar suas linhas mais pesadas. Todos os membros, exceto o baterista, chegaram a se posicionar em linha em um momento de repetição de linhas musicais, algo que fugiu do escopo de posicionamento tão comum em diversos shows. Uma faixa longa (11 minutos), porém interessante pelas diversas nuances apresentadas no palco.

A faixa seguinte, “Legion”, firmou outra dobradinha do disco mais recente da banda. As nuances de Metal Progressivo e djent, praticamente alternadas ao longo da faixa, mostraram uma certa originalidade da banda e se tornaram melhores com o acompanhamento vocal por parte dos fieis fãs presentes. Depois, a pesada “Juno”, muito comemorada em seu início, fechou o primeiro grande bloco do show com tudo de melhor que os dois lados poderiam apresentar: linhas combinadas e poderosas dos músicos, grooves de baixo combinados com a voz de Tompkins, interações entre o frontman e o baixista, refrão mutuamente cantado, distorções de guitarra cativantes e muitas gesticulações ao final da faixa.

Chega o Encore e, para o público, ainda faltava uma peça de extrema importância para o repertório da noite e que, muito provavelmente, ninguém sairia dali sem tê-la em sua essência. Os gritos em nome da banda fizeram o padrão de shows de rock e Metal, com velocidade e a demonstração clara de admiração ao grupo. 

E quando o quinteto voltou (rapidamente), não só uma, como duas peças essenciais vieram junto.

Trata-se, claro, de faixas do primeiro EP do TesseracT, intitulado “Concealing Fate” (2010) e que também aparecem no álbum de estreia da banda, “One” (2011). Ambas apresentaram o melhor - e finalmente, em total predomínio nas faixas - do djent, para a alegria massiva daqueles que pularam e cantaram na parte frontal da pista e mezanino, e daqueles que, entre o meio e o fundo do local, fizeram moshes mais que inéditos para a noite.

Das seis partes do EP, a 2 e a 1, respectivamente, foram tocadas: “Concealing Fate, pt. 2 - Deception” foi amplamente comemorada a partir da percepção do início gravado da introdução e atenuada com o riff e distorções, seguida de um verdadeiro coro no verso “So my demons, your time has come”. Durante e após isso, o que se via na pista eram fãs extasiados, sendo o auge disso a formação de uma grande roda do meio para o final da pista, com diversos fãs entrando nela e batendo cabeça ferozmente durante as linhas distorcidas dos guitarristas - verdadeiros “maestros” daquele momento, junto ao baixista da banda. Tais detalhes, claro, levaram aos olhares de admiração pura por parte da banda, principalmente de Daniel Tompkins, que se viu em corpo estático por segundos e com os únicos movimentos vindos de uma cabeça que observava todos os cantos do Carioca Club.

Já “Concealing Fate, pt. 1 - Acceptance” foi o gran finale e o melhor momento para os fãs. Isso começou pautado na escuridão do palco e o último levantar de Daniel Tompkins para o também último uso do efeito grave da voz, repetindo (e pedindo, claro) para que todos levantassem as suas mãos, uma referência direta ao primeiro verso da música, “Now show your hands”. Novamente, a roda de bate-cabeças explodiu com o riff e após ele, na entrada mais pesada que abriu a letra da música com o verso anteriormente dito. Nisso, o decorrer da faixa veio com linhas de djent poderosas, momentos mais pautados na essência do Metal Progressivo e misturados com a liricidade absurda da voz de Daniel Tompkins, algo que ajudou na parte do canto da plateia e que logo de “resetou” para que a situação se repetisse com a repetição da primeira estrofe da música. Claramente, foram os oito minutos mais intensos da noite e que mostraram o melhor da banda e de um público que, como um vulcão, erupcionou aos poucos, soltando a “fumaça” primeiro - ou seja, cantando e muito ao longo do show - e, depois, a “lava” - pulos, moshes e cantos ao mesmo tempo - na reta final. 

A saída da banda, apesar de seguir o rito de agradecer e reverenciar o público, jogar palhetas e baquetas e até cumprimentar alguns fãs, não foi o suficiente para a maior parte do público presente que, baseado na continuidade do som ambiente e com o palco ainda aceso, pediu por mais um som e esperou um bom tempo por isso. Infelizmente, não ocorreu e, aos poucos, todos saíram do local. Era um sinal de que queriam mais e que aguentariam mais tempo de show e, claro, que mesmo com pouco de mais de um ano de diferença entre as passagens do TesseracT no Brasil e com o show do dia seguinte - pautado no primeiro EP do grupo -, a ansiedade e expectativa por mais uma vinda do quinteto para a capital paulista começou logo após o encerramento daquele show.




Texto: Tiago Pereira 

Fotos: Tamires Lopes (Headbangers News)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Liberation MC



There’s No Face

Hamurabi

Quebre o Silêncio

Enquanto Você Espera o Bem

Imensidão

Contra/Senso

Motivo


TesseracT

Natural Disaster

Echoes

Of Mind - Nocturne

Tourniquet

Sacrifice

King

Smile

The Arrow

War of Being

Legion

Juno

***Encore***

Concealing Fate, Part 2: Deception

Concealing Fate, Part 1: Acceptance

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Frank Frazetta o Pai da Arte Fantástica nas Capas de Heavy Metal/Hard Rock

 


Nascido no Brooklin em 10 de fevereiro 1928 e falecido em 10 de maio de 2010, Frank Frazetta foi um dos grandes ilustradores da arte fantástica, trabalhando com ilustrações para livros, cartazes de filmes, capas de discos, comic books e outros. É tido como mestre e inspiração para ilustradores em geral, principalmente aos de fantasia. 

Assim como outros grandes ilustradores, mestres como Roger Dean, Ken Kelly e mais contemporâneos como Andreas Marschall, Derek Rigs e Michael Welan, Frank Frazetta teve trabalhos seus ligados a álbuns de Hard Rock e Metal, abrilhantando-os com suas obras fantásticas, que emanam fantasia e enchem os olhos. 

Ao contrário da maioria dos ilustradores conhecidos por colocarem sua assinatura em algumas capas icônicas na história do Rock e Metal, Frank Frazetta nunca criou uma arte especificamente para algum álbum, somente licenciou algumas de suas ilustrações, e claro, posteriormente a sua morte, seus representantes licenciaram algumas obras, o legado continua.  

Em homenagem a esse mestre, enumeramos alguns trabalhos que trazem a sua arte, confira a seguir. 


A primeira arte de Frazetta a figurar em um álbum de Hard ou Metal foi na arte da capa de "Hard Attack" (1972) do Dust, onde foi utilizada a ilustração "Snow Giants". Segundo álbum da curta discografia do Power trio que trazia Marc Bell, o Marky Ramone, na bateria. 


Em 1979 a arte icônica de Frazetta ilustrou o também icônico "Expect no Mercy", do Nazareth, com a ilustração intitulada "The Brain", a qual figurou na edição número 8, de 1967, da popular revista Eerie, e depois se transformou na mais fantástica capa do Nazareth.


A série utilizada pelos Southern Rockers do Molly Hatchet é outra épica, ficando conhecida como "Molly Hatchet Trilogy". A banda utilizou três ilustrações de Frazetta em seus aclamados primeiros álbuns.  

No primeiro e auto intitulado lançado em 78,  foi utilizada a ilustração "Death Dealer",uma das mais conhecidas do artista.

Já o segundo, e que é o mais vendido deles até hoje,  e traz também a faixa de maior sucesso do grupo, "Flirtin' With Desaster" (1979), foi usada a ilustração "Dark Kingdom).  Em "Beating The Odds" (1980), a arte da capa é com um personagem o qual Frazetta desenhou algumas capas para revistas em quadrinhos, Conan. O título da ilustração é "Conan, The Conqueror".


Os australianos do Wolfmother utilizaram partes de algumas pinturas de Frazetta em capas singles e em seu debut.

No álbum de estreia, lançado em 2005, a capa traz a pintura "The Sea Witch", e no encarte a banda também colocou outras ilustrações do artista. 


O American Dog, do baixista e vocalista Michael Hannon  (ex-Salty Dog e Dangerous Toys), utilizou a ilustração "Neanderthals" de Frazetta em seu álbum "Neanderthal" (2014). Escolha que podemos dizer, foi óbvia. 


Tem até bootleg com arte de Frazetta, como é o caso do "Savatage - The Avatar Demos", os criadores dessa lançamento não oficial usaram uma ilustração de Frazetta, deixando ainda mais atrativo para o colecionador que gosta de ter algumas dessas peças em sua coleção. 


Seguindo o campo dos lançamentos oficiais, Yngwie Malmsteen colocou no seu "War to End All Wars" (2000) uma pintura da série Death Dealer de Frazetta. 



Artes como a de Frazetta abrilhantam muitas obras, nos fazendo emergir ainda mais em cada uma delas, apreciando a música e "embalagem" como um todo. Numa próxima, vamos falar um pouco do também incrível Roger Dean, responsável por capas de álbuns do Yes e Uriah Heep, entre outros.


Texto: Carlos Garcia


quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Cobertura de Show: Therion – 11/09/2024 – Carioca Club/SP

A banda sueca de metal sinfônico Therion retornou ao Brasil no dia 11 de setembro para apresentação única. O show em São Paulo marcou o início da turnê latino-americana, que inclui outros sete países além do Brasil.

Conhecidos por mudar de estilo musical ao longo de sua carreira e agregar ao seu som letras que abordam de mitologia e ocultismo à magia e antigas tradições, os suecos chegaram para promover o lançamento do seu 19º álbum de estúdio, “Leviathan III”, lançado em dezembro de 2023 e que fechou a trilogia de álbuns Leviathan.

Sem show de abertura, a banda subiu ao palco do Carioca Club pontualmente às 20:30, conforme previsto pela produção. Liderados pelo guitarrista Christofer Johnsson, o line-up contou com Thomas Vikströn (vocal), Chris David (baixo e que também toca nas bandas Majestica e Wizdoom), Lori Lewis (vocal, que retornou para essa tour, devido aos problemas de saúde de Chiara Malvestiti, que também se tornou mãe recentemente), Rosalia Sairem (vocal), Christian Vidal (guitarra, também membro das bandas Full Nothing, Soul Kick e Patricia Sosa) e Sammi Karppinen (bateria). 

É importante dizer que o line-up da banda tem alterações constantes e que nem sempre os músicos responsáveis pela gravação dos álbuns são os mesmos que participam das apresentações ao vivo, algo comum em bandas da magnitude do Therion.

O set foi aberto por “Seven Secrets of the Sphynx”, do álbum Deggial. Seguido por “The Crowning of Atlantis”, a dobradinha foi suficiente para levar o público presente ao êxtase. “Ruler of Tamag” foi a primeira música do álbum da tour em questão a ser executada. Apesar de ser relativamente “novo”, os presentes pareciam estar familiarizados e receberam bem as músicas mais novas.

“Ginnungagap” do álbum Secret of the Runes manteve a empolgação do público. O set deu sequência passando por várias fases da banda, com destaque para “Nigikal” e “Typhon” que contam com vocais guturais e refrões marcante e, “Clavicula Nox” e “Black Sun” do magnifíco álbum Vovin.

Com aproximadamente uma hora de show, “El Primer Sol” deu uma esfriada na audiência, mas isso não durou muito, pois a belíssima “Litany of the Fallen” energizou novamente o Carioca Club.

As vocalistas Rosalia e Lori são um destaque à parte. Extremamente talentosas e afinadas, ambas apresentaram performance impecável. Isso foi notado principalmente em “Eye of Algol”, onde Rosalia impressionou com sua interpretação e potência vocal.

“Mark of Cain” foi anunciada por Lori, que mencionou que a canção poderia ter entrado no álbum "Vovin", mas segundo Christofer Johnsson, sua sonoridade talvez não se encaixaria naquele álbum, então acabou entrando para o Crowning of Atlantis. Com riffs que beiram o hard rock, foi uma das músicas em que o público mais agitou.

Seguindo com “Tuonela”, “Ayahuasca”, “Wine of Aluqah”, “Nightside of Eden” (ovacionada pelo público e introduzida com um mini solo de bateria) o show ia se encaminhando ao fim, mas não sem antes a banda apresentar a música obrigatória em suas tours na América Latina desde 2005, “Quetzalcoatl” do álbum Lemuria.

“Lemuria”, “Sitra Ahra” e o super hit “To Mega Therion”, que foi cantado em uníssono pelos fãs, encerraram o show. Ou ao menos era isso que a banda queria que os fãs pensassem… Voltando para o encore, com direito a coro do público, “The Rise of Sodom and Gomorrah” e “Son of the Staves of Time” finalizaram a apresentação, que durou mais de duas horas.

Assim foi o show do Therion, em sua décima passagem pelo Brasil. Essa foi uma oportunidade ainda mais especial, pois no mesmo dia em que o show ocorreu, Christofer Johnsson anunciou na página oficial do Therion no Instagram, que a banda não voltará a fazer tours até 2029, visto exceções com uma apresentação ou outra em festivais.

Sem dúvidas, foi uma noite muito especial e que não sairá da memória e do coração dos fãs presentes tão cedo.



Fotos: Belmilson Santos (Roadie Crew)


Realização: Overload 


Therion

Seven Secrets of the Sphinx

The Crowning of Atlantis

Ruler of Tamag

Ginnungagap

Ninkigal

Uthark Runa

Clavicula Nox

Typhon

Black Sun

El primer sol

Litany of the Fallen

Eye of Algol

Mark of Cain

Tuonela

Ayahuasca

Wine of Aluqah

Nightside of Eden

Quetzalcoatl

Lemuria

Sitra Ahra

To Mega Therion

***Encore***

The Rise of Sodom and Gomorrah

Son of the Staves of Time