Quando o baixista, e também produtor, Giovanni Sena afirmou ano passado que o novo trabalho iria surpreender, até poderia soar como auto-promoção, ou aquela velha conversa de todo músico quando lança um álbum novo, mas "Monomyth" chega agora para provar que Giovanni não exagerou, estava sim ciente do excelente trabalho que estavam produzindo.
Nota-se que a produção, que ficou "em casa", a cargo de Giovanni (que já havia produzido a versão para "Power", para o tributo ao Helloween), foi uma decisão acertada, e que ele e seus companheiros sabiam o que queriam para a banda, a qual firma de vez sua identidade. A masterização e mixagem ficaram a cargo do francês radicado em Los Angeles Damien Rainaud, responsável por trabalhos de grupos como Fear Factory, Dragon Force, Almah e Baby Metal, ou seja, um profissional altamente capacitado, que contribuiu para uma excelente sonoridade, valorizando os detalhes e apuro musical do álbum.
"Monomyth" tem uma musicalidade muito bem interligada com o conteúdo lírico, onde os músicos conseguiram traduzir em cada música o clima contido em cada tema. A sonoridade tem a sua base no Prog Metal e Melodic Power Metal, mas nota-se que a banda não se preocupou em buscar soar dentro deste ou aquele rótulo, e sim trabalhou as canções conforme a música e o sentimento pediam. O conceito trata da jornada de um personagem, suas experiências, crescimento pessoal, temas que o ouvinte facilmente poderá se identificar.
A jornada, que inicia com o prelúdio "Status Quo", leva o ouvinte por diversos caminhos e climas, em músicas muito bem lapidadas. Temos "The Calling", onde a veia Prog Metal aparece bem forte, com trechos intrincados, mas sempre com melodias marcantes e variedade de climas. Pedro Campos se mostra bem a vontade, utilizando seus conhecidos drives, mas também com timbres mais limpos e altos quando a música pede; em "Helping Hand" temos um andamento mais acelerado, e a banda caminha tranquilamente entre o Prog e Melodic Metal.
Em "The Call of Fear" temos momentos mais emocionais, com um belo trabalho da cozinha, em levadas e linhas melodiosas, intrincadas e marcantes. O andamento mais moderado valoriza as melodias de guitarra e climas proporcionados pelos teclados, e Pedro canta com a carga emocional de causar arrepios. Há de se destacar o trabalho do vocalista, que não somente cantou, interpretou as canções. Acredito que o trabalho com a Metal Opera Soulspell deve também ter contribuído para esse know-how do vocalista.
"Unknown Strenght" tem um jeitão de trilha sonora em seu início, com grande trabalho dos teclados. O instrumental intrincado e mais cadenciado traz grandes melodias, principalmente no pré-refrão e refrão. E é notável como eles conseguiram preencher cada canção e também mudar de direção várias vezes durante as músicas; "Lightning Strikes" tem uma pegada mais pesada, destacando o riff principal, aliás, a guitarra é que comanda esta faixa bem à frente, mas as melodias marcantes estão sempre presentes.
A busca em traduzir em cada canção o sentimento contido em cada parte do conteúdo lírico, temos "Reborn", que soa bastante tensa e agressiva, com Pedro alternando vocais rasgados e altos, e em seguida a beleza de "Endless Fight", com ótimas melodias e uma grande performance de Pedro, em uma canção tocante e emocionante. É um belo, por vezes intrincado e refinado instrumental, mas caramba! são melodias marcantes, que você pode assoviar!
A banda trabalhou para a música, colocando muita alma nas composições. A belíssima "What Really Matters", que além das melodias emocionais, o trampo excepcional da cozinha, as variações instrumentais e belo trabalho de vocais e melodias dos backing, tem um refrão extremamente memorável, ouvi a primeira vez e não saiu mais da cabeça.
"Where Love Grows" inicia com percussões, passando por um andamento cadenciado e riffs marcantes e mais graves, ganhando velocidade no refrão. As percussões aparecem novamente acompanhadas por vocais femininos e orquestrações , trazendo um belo trabalho nessas mudanças de andamento, algo bem presente no trabalho; "A Great Day to Live" é uma balada, com piano e guitarra acústica e ritmos brasileiros. Tem um misto de melancolia e esperança, e nuances bem num estilo teatral. Logo em seguida temos o final com o poslúdio "Prelude to a New World".
Pouco mais tenho a dizer, a não ser elogiar o belo trabalho da banda, tentando ainda traduzir o que senti ouvindo o álbum, posso dizer que, pessoalmente, ele preencheu uma certa lacuna deixada por bandas que tinham essa capacidade de trazer um trabalho conceitual, onde as músicas possuem uma ligação muito bem feita com as letras, trazendo emoção e bom gosto nas melodias (Savatage, por exemplo, e também alguns momentos do Angra). E é isso que, acredito, o ouvinte busca, uma música que lhe traga emoção, que lhe toque a alma, que dê vontade de ouvir de novo e assoviar a melodia. Se consegui falar a mesma língua com você, leitor, caia de cabeça em "Monomyth".
Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação
Ficha Técnica:
Banda: Age of Artemis
Álbum: "Monomyth" 2019
País: Brasil
Estilo: Prog Metal, Power Metal, Melodic Metal
Produção: Giovanni Sena
Assessoria de Imprensa: TRM Press
Selo: Independente
Line-Up
Pedro Campos: Vocais
Jeff Castro: Guitarra
Giovanni Sena: Baixo
Riccardo Linassi: Bateria
Gabriel Soto: Guitarras
Tracklist:
Tracklist
01 – Status Quo
02 – The Calling
03 – Helping Hand
04 – Unknown Strength
05 – Lightning Strikes
06 – The Call of The Fear
07 – Reborn
08 – Endless Fight
09 – What Really Matters
10 – Where Love Grows
11 – A Great Day to Live
12 – Prelude to a New World