O intuito era o Nu Metal, mas os
catarinenses da Dark New Farm foram além e se deram conta disso já nos
primeiros ensaios, apresentando uma musicalidade Metal com diversas
influencias, mas não pense naquele emaranhado de notas ou estilos sobrepostos nas
composições. Você escuta “Farm News” (19) e a única coisa que vem à cabeça é:
METAL. Simples assim, influencias de Thrash, Death e até New Metal são perceptíveis,
mas não deixa de ser um excelente disco de Heavy Metal!
O peso e agressividade são
latentes, e o que casa muito bem com a banda é o quanto são homogêneos, não há
demonstração de técnica individual ou mirabolismos sonoros, a simplicidade é o
carro chefe, mas de uma forma que podemos dizer única, pois você os escuta e
percebe a identidade própria da Dark New Farm.
Entenda o que estou falando ao ouvir
“Madre” um começo mais old school com um riff bem marcante e vocais urrados
sinistros, para ter uma quebra de tempo com vocais mais rasgados (a lá Mille
Petrozza do Kreator), com um interlúdio de teclado belíssimo em sua parte final
antes do peso e violência retornar aos nossos ouvidos. Mas tudo isso de uma forma
simples e funcional, não deixando o ouvinte confuso, pequenas nuances
alternativas que seguem a mesma linha, mostrando muita criatividade.
A produção do EP é excelente,
pesada, limpa e com os instrumentos bem na cara, sem falhas. Se entrelaçando
com uma arte bem-humorada que te deixa curioso para apertar o play.
As letras de “Farm News” também
se destacam e trazem fortes críticas a nossa sociedade hipócrita, como em “L.O.V.E.”
e sua crítica a homofobia.
Além do inglês e das variações
vocais que transitam entre linhas distintas, a banda também agrega a língua pátria
e o espanhol, dando maiores possibilidades para sua sonoridade.
Como são três línguas a proposta
da banda, quem sabe um pequeno cuidado com a dicção (não vamos ser hipócritas, não
é? Pois quantas bandas alemãs, suecas e italianas você escuta com dicção
duvidosa?), mas nada que interfira no resultado final deste belo material.
As “imperfeições” fazem parte
justamente para não serem perfeitas, mas apenas lapidadas. E isso me anima em
muito na Dark New Farm, porque os caras já chegaram com o pé na porta e
mostrando ao que vieram, imagina agora quando irem se lapidando com o tempo!
O Epica acaba de lançar “ÔMEGA”
(2021), oitavo álbum de estúdio. Um disco carregado de poesia, letras
impactantes sobre a essência dos sentimentos e muita, mas muita, musicalidade. A
melodia nunca abandonou as composições da banda, mas o “Ômega” parece aquela
respirada profunda que renova as energias, antes de apanhar o sol da manhã. Na
campanha de divulgar as novidades e curiosidades sobre o novo trabalho, Mark
Jansen (guitarra e vocal gutural) e Simone Simons (vocal) receberam
profissionais da imprensa brasileira, na tarde do dia 12 de março de 2021.
A coletiva aconteceu por
videoconferência e foi mediada por Fernando, que recebeu todos os reportes
minutos antes dos artistas entrarem na sala virtual. Momento quando passou uma
rápida instrução de como aconteceria a mecânica da entrevista. Comentou que as
perguntas ocorreriam através de chamada e de forma ordenada, avisou que os
microfones somente seriam abertos no momento oportuno. Profissionalismo de
encher os olhos que deixa a brigada da comunicação com sensação de
tranquilidade e conforto.
Mark e Simone chegaram
pontualmente as 16h e num instante o Fernando explicou como aconteceriam as
perguntas, divididas em duas rodadas. Uma rodada de uma pergunta para cada
entrevistador, e na sequência se iniciaria a segunda rodada. Road To Metal
teve, também, a oportunidade de lançar dois questionamentos. Um primeiro
momento sobre um som específico do novo disco e no segundo momento, algo mais
abrangente sobre a banda e seu tempo de carreira.
Primeira pergunta foi direcionada
ao Mark Jansen:
Mark, em “Freedom – Wolves
Within”, a letra do som descreve em forma de analogia, uma briga interna de
dois lobos, um representando nosso lado malvado e melancólico e o outro lobo
representando alegria e perseverança. Coincidentemente li algo parecido no
livro “A coragem de não agradar” há pouco tempo, que me fez lembrar muito desse
som. A pergunta é: quão importante a literatura e filosofia é para o Epica?
Mark: Olha, boa pergunta!
São muito importantes. Ambos, Simone e eu, escrevemos a letra dessa música
juntos. Ambos estamos muito interessados também na mitologia antiga e nos ensinamentos
da filosofia. Está é uma daquelas histórias em que tropecei quando escavei numa
velha história sobre um Cherokee ensinando esta lição a seu neto. Fiquei tão
emocionado com o que li e me lembrei desse sentimento, sobre esses lobos, eles estão dentro de nós. E alguns de nós estamos um pouco envergonhados com o “Lobo escuro”, mas
é parte de nós e não há como termos vergonha do que somos, é quem somos,
humanidade, todos nós temos esse “lado negro” e, ao empurrá-lo para longe, ele
vem à tona mais rápido. Mas quando você alimenta mais o lobo positivo que o negativo,
pelo menos esse se torna o dominante e então você se torna um ser humano com
quem as pessoas gostam de estar cercadas em vez de uma pessoa negativa que
alimenta mais o lobo escuro e, portanto, é tudo parte de uma escolha para cada
um de nós, que queremos ser, que lobo queremos alimentar mais do que o outro.
Na fala sobre a letra da música,
Mark trouxe uma reflexão muito presente nos dias atuais. Principalmente com
toda essa situação de isolamento, muitos de nós tivemos que aprender a conviver
com nossos lobos. Nós do Road To Metal, que também somos adeptos de leituras
filosóficas, ficamos extremamente contentes com a resposta e nela nós
enxergamos muito sentido e equilíbrio total com a música em questão.
Já na segunda rodada de
perguntas, fomos chamados novamente (e tínhamos preparado 15 perguntas, já
pensando que havia possibilidade de algum dos colegas da imprensa abordar alguma
de nossas questões, então não faz nenhum mal ter material extra na manga),
acabamos optando por uma pergunta para além do álbum “Ômega”, amplamente
explorado pelos colegas. Mas agora era a hora de falarmos com a Ladie Simone
Simons, e para ela foi perguntado:
Daqui dois anos O Epica
completará 20 anos de atividade! Para a comemoração dos 10 anos, vocês lançaram
um material incrível, particularmente considero “Retrospect” (2013) um dos
maiores momentos da carreira da banda. Para a comemoração da esperada segunda
década de atividade, o que podemos esperar?
Simone: Sim, já são 20
anos e parece realmente muito, muito, tempo. Isso me faz me sentir velha
(risos). Como se começasse aos 17, agora eu me sentisse com 70. Dizer que o Epica
tem rodado “por aí” há 20 anos, mas a verdade é que eu comecei muito jovem. E
sim, a “Retrospect” (2013) é definitivamente um marco em nossa carreira, 10
anos de Epica, agora em breve serão 20 anos.Mas a pandemia meio que arruinou muitas coisas, para muitas bandas e
para nós, e quando fazermos 20 anos, é justo voltarmos em turnê para promover “Ômega”
(2021), esperamos. E tudo está parecendo que foi colocado em pausa, mas
adoraríamos comemorar assim que pudermos. Sabe, agradecer a nossa incrível
família Epica, dizer obrigado! Quero dizer, como quando “Design Your Universe”
(2009) teve o aniversário de 10 anos (foi lançado um álbum com algumas versões
acústicas do disco, chamado “The Acoustic Universe” – 2019). Certamente
gostaríamos de fazer algo muito especial.Mas não temos nada de concreto por agora, mas isso pode mudar, no
momento está muito complicado para planejar algo por causa da pandemia, por
isso temos que ser flexíveis, temos que ser um pouco espontâneos, é muito
difícil planejar com muita antecedência no futuro e isso é algo com o qual não
tivemos nenhum problema no passado, é uma situação muito estranha e única
agora, mas não vamos deixar esse momento passar em silencio, de qualquer
maneira.
De forma muito coerente Simone
Simons conduziu uma resposta sem muitas certezas, em função da pandemia, que
tomou todos profissionais do ”show business”, de assalto. É uma crise que se
estende para além do palco! Impressionante mesmo foi a paciência, delicadeza e
educação que a dupla apresentou para responder todas as perguntas. Deu para
sentir muita entrega nas respostas. Atitude que deixou claro que a expressão
usada pela Simone “Epica Family”, não é só uma expressão. Vida longa ao Epica,
que logo passe esse período difícil e que o Road To Metal possa estar presente
em tantas forem as comemorações da banda.
Obrigado especial a Shinigami
Records que intermediou essa oportunidade e ao Costábile Salzano que, como
assessor de imprensa, operacionalizou esse encontro.
"All or Nothing" sai sob o nome do grupo Mr. Sleazy, alcunha
dobaterista e multi instrumentista
italiano Roberto Gambuti. Ele finalmente arregimenta uma line-up fixa com o
frontman Christian Demichelis cantando de cabo a rabo as 9 faixas. Antes disso,
diversos vocalistas interpretaram suas canções.
Não há mistério no conteúdo aqui. Temos uma sonoridade
fundindo conceitos dos principais grupos AOR dos anos 80, nisso saem fusões
inusitadas desses gigantes do rock farofa. Ainda que respeitando o formato
aparado desse segmento, os artistas parecem muito à vontade na hora de atuarem.
As guitarras e bateria por exemplo dentro do formato previsível evitam ao
máximo a monotonia, sempre atacam aqui e ali trechos das composições.
As letras permanecem nos chavões desse tipo de música:
Relacionamentos fleumáticos, versos cheios de insinuações sexuais, sem deixar
de mencionar os discursos sobre a predestinação de trilhar o sinuoso caminho do
rock.
Aqui vão algumas faixas importantes do disco:
Let's Go: Começa num clima calmo aos sussurros, logo explode
nas guitarras e um agudo rascante inicia a música para valer. Christian
Demichelis puxa elementos de Tom Keifer e Blackie Lawless acompanhado por vozes
de apoio nos refrões. A bateria mantém o contratempo habitual, num momento
posterior deixa apenas o bumbo destacado entre os sinos de vaca.
Kind of Love: O fraseado malemolente é logo martelado pela
bateria e acordes chocantes de sétima. Bends lentos costuram-se aos riffs
cavalgados. Essa faixa chega a usar um teclado similar ao do som
"Rattlesnake Shake" do Mötley Crüe.
Thrill Me: De levada rápida, já se aproxima do W.A.S.P.,
especificamente a canção "Wild Child". O solo enérgico casa com a
bateria empolgada de Sleazy.
All or Nothing: Solos exibicionistas iniciam esta track,
depois dá uma acalmada para a voz predominar. Ela é enfeitada com uns ataques
no piano estilo Little Richard entre sinos de vaca.
Lonely Days for a Lonely Heart: Abriga um lado new wave
tanto em harmonia quanto ideia melódica. Num dado momento é parelha ao clássico
"You Give Love a Bad Name" do Bon Jovi.
Love me or Kill Me: Power ballad iniciada por solo choroso,
carrega trejeitos do Skid Row. Escancaram no reverb dos pratos e o solo tenta
ser mais virtuoso.
Notei uma atenção geral no papel de cada músico. Talvez pelo
fato do líder ser o batera, esta parte em especial não ficou negligenciada como
ocorre quando o encabeçado do projeto é um vocalista ou guitarrista.
Todos não
tentam fugir dos dogmas desse rock radiofônico, porém notei atitude quando
executam as nove faixas. Do que já revisei acerca deste revival do synthrock,
com certeza, Mr. Sleazy e seu "All or Nothing" merece elogios.