Paulo, entre a mãe, Carmen, e a irmã Patrícia |
Todo esse
reconhecimento acabou resultando em vários convites, dentre os quais, de integrar outras bandas, como o Astafix e o Hammer 67.
Em 2011, Paulo
descobriu que tinha uma doença genética em seu coração, tendo de tomar a
dura decisão de sair do Almah e de suas outras bandas, mas o mais difícil foi não poder mais fazer o que amava, que era tocar sua guitarra. E, infelizmente, em
março desse ano, ele acabou não resistindo a doença e faleceu, deixando fãs, amigos e comunidade musical comovida e sentindo muito a sua ausência (lembrando que neste ano também perdemos Hélcio Aguirra, outro grande guitarrista da cena brasileira).
Para fazermos essa
homenagem, nós do Road To Metal convidados a Patricia Schroeber, irmã do Paulo,
pra falar um pouco mais sobre a trajetória do irmão, seja na vida musical e pessoal, até o seu último desejo, que seria o de manter sua música viva...e a arte é eterna, e Paulo estará sempre entre nós através de sua arte.
RtM: Muito obrigado por
nos atender, Patricia! Pra começar toda essa retrospectiva da vida do Paulo,
você lembra como foram os primeiros passos dele dentro da música? Especialmente
como começou a ouvir Rock e o Heavy Metal?
Patricia: Na verdade, o Paulo sempre teve uma veia musical muito
forte. Desde que ele era bem pequeno, com uns 5 ou 6 anos (até menos), nos
brincávamos nessa mesma casa onde estou morando agora, que inclusive ele voltou
a morar aqui antes dele falecer. Quando era pequeno, ele já montava as guitarras dele, pegava umas
madeiras, botava preguinhos nas pontas com fios de náilon, e já ficava tocando
guitarra, fazendo de conta que era um violão e esses tipos de coisa. A partir
dai ele começou a gostar de música, ele sempre montava as baterias dele com
latinhas de tinta.
Dai ele foi crescendo, sempre ouvindo música e gostando de
batucar. Ele batucava e quebrava a janela de casa da minha mãe. Era um stress
total, mas era sempre isso que ele fazia. E antes dos 15 anos, ele ganhou, de
um amigo, o primeiro disco de vinil, que se eu não me engano era do AC/DC. E
foi ai que ele começou a gostar de Rock e de Heavy Metal. Ai ele começou a
querer fazer aula de música, não muito incentivado pelo meu pai, porque sabe
como é: 'Ah, música não dá futuro! Mas já que é adolescente, deixa seguir em
frente'. A partir dai que ele ganhou o primeiro violão dele, com mais ou menos 15
ou 16 anos, e foi ai que foi dado o inicio dele fazer aulas.
A guitarra ele só
ganhou depois, ele primeiro fez aulas de música clássica pra depois começar
fazer aulas de guitarra. E desde então ele não parou mais e, como sempre digo,
o Paulo sempre teve uma veia artística muito forte. Era uma coisa muito louca o
quanto ele gostava de música, desde pequeno.
Paulo com o Hammer 67 |
Patricia: Foi de fora da família que ele ganhou o primeiro disco
de vinil, através de um amigo.
RtM: Quando uma pessoa
começar a gostar e apreciar ainda mais o Rock e o Metal, já começa a procurar a
buscar informações e material sobre as bandas, o que acaba transformando a
pessoa em um colecionador. Ele tinha esse costume, esse lado fã e de
colecionador além de tocar guitarra?
Patricia: Ele sempre teve muitas camisetas de banda. Todas as
bandas que ele curtia na época, ele tinha a camiseta. E hoje, dentro na sala de
música dele, tem uma infinidade de CDs das bandas que ele curte. E naquela
época ele tinha, sim, os di scos de vinil dele. Ele não foi um colecionador, mas
ele sempre teve, de alguma forma, alguma coisa das bandas que ele curtia.
RtM: Em cima dessas duas
perguntas que eu fiz, o fã de Rock sempre possui vários interesses, além de
colecionar, geralmente também deseja aprender a tocar um tipo de instrumento.
Como começou esse interesse do Paulo em querer tocar guitarra e quem o
incentivou? Desde cedo o sonho dele era ser um músico?
Patricia: O Paulo nunca pensou em outra coisa da vida senão ser
músico. Ele sempre quis ser músico! Foi meio que paralelo quando ele ganhou o
violão e o interesse pela guitarra. Ele ficou muito pouco tempo tocando violão
e, logo em seguida, foi pra guitarra. Ele nunca pensou em ser médico,
dentista... Ele sempre dizia que queria ser músico e ele foi atrás desse sonho.
RtM: A pessoa quando vai
atrás dessa meta de aprender a tocar, a primeira coisa é conseguir o desejado
primeiro instrumento. Você lembra como ele adquiriu a primeira guitarra?
Patricia: Foi o meu pai que deu a primeira guitarra pra ele, mas
eu não me lembro com qual idade. A minha mãe deve saber um pouco melhor e eu
até posso te dar essa informação depois, porque ela não está em casa agora, mas
acredito que foi um pouco depois do violão, que foi entre 16 ou 17 anos, e até hoje ela está aqui em casa, a Ibanez.
RtM: Vontade e
determinação pra mim são os dois principais fatores de querer seguir a vida
tocando guitarra. Quando ele percebia que estava evoluindo, ele tinha costume
de tocar pra família e para os amigos? Você também observava que, com os empenhos
que ele tinha, poderia ir muito longe?
Patricia: O Paulo era uma pessoa extremamente dedicada! Era uma
dedicação tão louca que, se um dia tem 24 horas e nós deixássemos, ele estudava
24 horas por dia. Era uma dedicação muito em cima da música, e inclusive a
gente brigava muito, porque ele estudava de manhã e eu fazia
faculdade. E, como todo bom músico, ele sempre estudava durante a noite e de madrugada,
porque ele dizia que não tinha o barulho da rua e de nenhum som que
interferisse na guitarra. E na época nós morávamos em um apartamento e ele
ficava no corredor com aquela guitarra tocando a noite inteira. E eu tinha que
acordar no dia seguinte cedo e era uma confusão sempre, porque eu mandava ele
abaixar o som da guitarra e ele continuava andando pra cima e pra baixo no
corredor ensaiando.
E o Paulo era muito exigente com a técnica dele. E quanto
mais ele estudava, mais ele queria ir a fundo. E ele nunca estava satisfeito
com aquilo que ele fazia, ele era perfeccionista ao extremo, que chegava ser
uma coisa que passava do normal. E ele nunca foi de tocar pra família, ele
nunca gostou muito disso e tocava pra gente porque a gente ouvia ele tocando no
quarto e nos primeiros shows que nos fomos ver ele tocando, mas em casa era
muito difícil dele vir mostrar algua coisa pra gente.
RtM: Com os anos se
passando, a pessoas já começam a ganhar experiência. Isso acabou resultando
dele dar aulas para iniciantes na guitarra. Você acompanhava como era o Paulo
“professor” e incentivador dos seus alunos? De motivá-los a se dedicar, não
desistir?
Patricia: No inicio eu acompanhei, quando ainda morávamos
juntos. E logo que ele começou a dar aula tinha muitos alunos, e ele sempre
incentivou todos eles. Ele nunca disse: 'Ah não vai...não faz!". E a música é isso,
mesmo. Por mais dificuldade que a música tem, e a gente sabe que todo músico
passa por dificuldades, porque a música não é reconhecida aqui no Brasil, ainda
mais nessa área do Heavy Metal, por exemplo. E de alguma forma, ele sempre
incentivava todos.
Paulo ensinando os primeiros acordes ao sobrinho |
Patricia: Foi uma coisa muito louca quando ele entrou no Almah,
porque foi através do baterista Marcelo Moreira. Ele foi amigo de adolescência
do Paulo, porque o Moreira é daqui de Caxias do Sul, também. Eles se conheciam
e parece que, na época, eles precisavam de um guitarrista, o Moreira já tinha o
contato com o Paulo e ele foi pra São Paulo.
E ele foi pra São Paulo muito
cabreiro, muito sem saber o que poderia acontecer e do que ia rolar. E quando
ele entrou no Almah, ele ficou muito feliz, nos contando que ele era o cara e que ia entrar na banda. E nós ficamos muito mais felizes, também. E logo
veio o convite do Astafix, do Wally, onde ele começou conciliar as duas
bandas. E quando tocava nas duas bandas, a gente não via mais ele em casa,
porque ele ficava muito pouco tempo aqui em Caxias.
RtM: Posso até estar equivocado, mas talvez se não fosse o Almah, muitos não saberiam quem é Paulo Schroeber. E ainda bem que ele teve essa oportunidade de mostrar seu trabalho a um público maior. O Almah deu uma
visibilidade em nível nacional e até internacional para o Paulo, também deve
ter aberto várias portas para o trabalho dele. Ele sempre teve como objetivo
viver da música? Como vocês se sentiram, vendo que ele estava conquistando
esses sonhos?
Patricia: Sabe que o Paulo nunca foi uma pessoa ambiciosa, quem
conhecia ele sabe o jeito que ele era, assim como todos os fãs conheceram também. Ele nunca demonstrou isso e pra nós, e foi uma surpresa muito grande
quando, após ele falecer, de sabermos realmente o quanto ele era querido pelo Brasil. Não tínhamos essa noção, porque ele não falava pra gente também. O Paulo
nunca foi ambicioso de dizer que queria ser reconhecido pelo Brasil, ele foi
fazendo o trabalho dele de maneira tranquila, foi mostrando o que sabia... Só que
ele sabia tanto que ele cativou as pessoas pela sua técnica.
E muito do que ele aprendeu, foi sozinho, ele era autodidata, porque as coisas que ele fazia nenhum professor ensinou pra ele. E, claro, ele gostava de ser reconhecido, e
quando aconteceu dele ficar doente e teve que se afastar da música, doía muito
nele, ver as pessoas pedindo pra ele voltar e ele não podia. Ele conversou comigo
muitas vezes no ano passado, não faz muito tempo, quando somente eu e ele
saímos algumas vezes, ele falava que era muito difícil ouvir as pessoas falarem: "Paulo, volta", e ele não poder voltar. E houve essa possibilidade no
inicio deste ano, quando ele estava super feliz em janeiro, fazendo planos de
voltar pro Almah e não conseguiu. E ele não tinha essa ambição de ser reconhecido,
ele foi reconhecido pelo profissionalismo dele e pela técnica que ele tinha, aconteceu naturalmente.
Paulo com o Almah |
banda foi
devido à saúde? Até porque viagens, shows, pouco descanso, alimentação nem
sempre adequada fazem parte do dia a dia de uma banda na estrada. Você lembra o
momento em que ele tomou a decisão de sair da banda?
Patricia: Lembro que doeu muito nele quando teve que tomar
a decisão de sair da banda, porque foi realmente no período que ele começou a
ficar doente mesmo. O coração dele já não aguentava mais quando eles gravaram,
na época, o último clip do Almah aqui em Caxias. Foi a última vez que ele ainda
conseguia tocar.
E naquele dia ele estava muito ruim, ele não estava nem um pouco bem. Ele estava tonto e muito mal, por causa da doença, ele não podia fazer nenhum esforço físico. E muitos pensam que pra tocar
não se faz tanto esforço físico, muito pelo contrário. Pra ele foi uma decisão muito difícil e
tivemos que dar muito apoio, porque a gente viu o quanto decepcionado ele ficou. E ele
sofreu muito na decisão de ter que deixar as bandas em que tocava.
RtM: E você falou em uma
das perguntas que ele tinha planos de voltar pro Almah. Ele estava empolgado
com possibilidade dele voltar pro Almah? E eu lembro que o vocalista, Edu
Falaschi, afirmou que estava quase garantido que ele ia voltar, mas que depois
de um tempo o seu irmão mencionou pro Edu que ainda não era o momento certo.
Patricia: Ele teve esse plano porque ele começou a se sentir
bem, e no final do ano passado, ele teve uma melhora bem significativa. Ele
estava se sentindo bem, ele colocou o aparelho, vinha se recuperando de uma
fase bem difícil da cirurgia em que colocou o
aparelho, teve um monte de reações... Ai ele conversou com um dos médicos e
o médico disse que ele poderia voltar a tocar, desde que estivesse bem. É claro
que tinha que ter muitos cuidados, porque ele tinha um marca passo e um
desfibrilador junto, que é um aparelho chamado CDI.
Mas ele estava super
tranquilo e super empolgado. Eu me lembro que, quando ele me ligou, fomos
passar uma semana na praia em janeiro, ele me disse:"Bah, eu vou passar um semana
na praia contigo, que depois eu vou voltar e me organizar, e eu já falei com
Edu, porque acho que eu vou voltar pro Almah, voltar a tocar e dar aula de
novo". Ele estava com uma empolgação naquele dia em que ele me ligou que até eu fiquei empolgada. Quando voltamos da praia, ele fez uma consulta com uma
outra médica daqui de Porto Alegre, a esma a qual fez colocação do CDI, e essa
médica falou que ele não tinha condição de tocar de jeito nenhum. E
foi ai que o mundo dele foi por água baixo de novo, ele não acreditou que
não ia mais voltar a tocar. E ai foi desencadeando uma série de coisas até
acontecer o que aconteceu.
Astafix |
Patricia: Eu amo a música que ele fez pra minha mãe. Eu me
desmonto com aquela música (risos). Eu gosto mais da música da mãe, do CD solo
dele. E a música do pai, que eu acho lindo o clip que ele fez pra ela, e que eu
gosto bastante.
RtM: Pra cada profissão,
sempre tem aquele merecido descanso, mesmo se tratando de um músico, que passa boa parte do tempo viajando e compondo. Quais eram os hobbies do seu irmão
quando ele estava fora da música e dando um descanso para a guitarra?
Patricia: Ele nunca dava descanso pra guitarra (risos). Era
muito difícil ver ele sem a guitarra, até mesmo nas férias. Quando ele estava
em casa e chegava de algum show, porque ele ficava bastante tempo fora,
geralmente ele ficava só em casa. E quando ele ficava em casa, o que fazíamos
era sempre se reunir, porque somos uma família muito unida. Fazíamos muito
churrasco e fazíamos muita festa. E sempre fomos de ficar muito em casa, porque
atrás da casa minha mãe tem um quiosque onde nos reuníamos e fazíamos um
churrasco. Sempre ficávamos esperando ele chegar. Eu vinha para a casa da mãe, e sempre fazíamos uma janta ou algum almoço pra que, na hora que
ele chegasse, estivéssemos com tudo pronto, sempre esperando por ele.
RtM: Algo que vêm em minha mente (N. do R.: Gabriel Arruda), é o quanto ele era simples, e eu acho que eu fui uma das primeira
pessoas a conhecer o trabalho do Paulo, logo que ele entrou no Almah, isso bem
na época do Orkut. E quando eu mandava mensagens pra ele, sempre tive retorno
por parte dele, o que me fez enxergar que ele era uma pessoa extremamente
gentil. E quando chegou aquele dia 24 de março, eu fiquei muito surpreso e em
choque ao mesmo tempo com a morte dele, porque eu nunca tive oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, e também tinha planos de entrevistá-lo caso ele
voltasse pro Almah. Como foi aquele dia 24 de março pra você?
Patricia: Olha, foi um dos piores dias da minha vida! Talvez eu me emocione pra
falar isso, mas vou falar. Ele já vinha de 15 dias no hospital, eu e a minha
mãe nós íamos diariamente, porque só tinha três horários de visita e ele estava
na UTI. A minha mãe ia em todos os horários e eu deixava um horário pra algum
amigo dele querer visitá-lo. E nesse período ele tinha uma namorada, que não
era uma namorada na verdade, eles ficaram juntos só dois meses. E naquele dia
24, em que ele começou a ficar ruim, antes disso, havia a previsão
de alta dele pro dia 25. Na terça feira, ele ia sair do hospital. E no
domingo, dia 23, ele deu uma piorada, e ele acordou
extremamente ansioso! Queria arrancar tudo, porque ele estava sendo
monitorado e com uma máscara de oxigênio muito grande.
E ainda
existia uma possibilidade, e foi ai que o médico dele chegou, porque ele estava
viajando naquele final de semana. Existia uma possibilidade, uma esperança,
digamos, lá no fim do túnel, que era uma droga, que seria injetada no coração dele. E se dessem essa dose o
coração dele ia dar uma reagida, porque o coração dele estava com o batimento
muito fraco. Essa dose daria, digamos assim, uma sacudida no coração dele, fazendo com que, talvez, reagisse. Digamos que isso foi a nossa última cartada. Eu subi pro
hospital, umas 14:00 horas, e digo subir porque o hospital ficava numa parte
alta da cidade, pra agilizar a liberação desse remédio.
Eu consegui agilizar a liberação, mas só que, quando eu cheguei na porta da UTI, perguntando pra enfermeira como o Paulo estava, a enfermeira me disse que ele estava entubado. E quando ela disse isso, eu pensei que o pior ia acontecer. Mas eu perguntei por que ele estava entubado, e ela respondeu que o entubou pra ele não sofrer. Mas eu perguntei por que ele estava sofrendo, e ela disse que ele estava sentindo um pouco de dificuldade...e aquele tipo de coisa de enfermeira... que vão te dando curva literalmente.
Eu consegui agilizar a liberação, mas só que, quando eu cheguei na porta da UTI, perguntando pra enfermeira como o Paulo estava, a enfermeira me disse que ele estava entubado. E quando ela disse isso, eu pensei que o pior ia acontecer. Mas eu perguntei por que ele estava entubado, e ela respondeu que o entubou pra ele não sofrer. Mas eu perguntei por que ele estava sofrendo, e ela disse que ele estava sentindo um pouco de dificuldade...e aquele tipo de coisa de enfermeira... que vão te dando curva literalmente.
Eu voltei pra lá perguntando se já haviam dado remédio
pra ele, e afirmaram que sim. Ai ela voltou correndo pra sala e, logo em
seguida, ela me chamou de novo me falando que o Paulo teve uma parada cardíaca,
mas que conseguiram reanimar ele. E quando ela me disse isso, eu senti as pernas amolecerem. Ai eu liguei pra minha mãe pedindo para ela vir para o hospital, porque o Paulo
não estava muito bem. Ai começaram a colocar nós dentro da sala da UTI, na sala
de família e já começaram a trazer chazinho de camomila, docinho, dai não sei o
que, dai o outro médico venho conversar com a gente e, depois disso, o Paulo
teve outra parada cardíaca, mas que conseguiram reanimá-lo novamente.
E eu comecei a sentir as pernas amolecerem de novo, perguntando como é que estavam os rins dele, e ela me disse que os rins dele estavam parando. E na hora eu pensei que, quando os rins estão parando, é porque está parando tudo. Depois disso eu só sentei e o mundo começou a girar ao meu redor, e que não parecia verdade que aquilo estava acontecendo. O médico dele, que tratou a doença toda, que se chama Miocardiopatia Dilatada, entrou na sala correndo. E quando eu vi o médico entrar correndo, eu falei pra minha mãe que o Fábio (nome do médico) tinha chegado.
E eu comecei a sentir as pernas amolecerem de novo, perguntando como é que estavam os rins dele, e ela me disse que os rins dele estavam parando. E na hora eu pensei que, quando os rins estão parando, é porque está parando tudo. Depois disso eu só sentei e o mundo começou a girar ao meu redor, e que não parecia verdade que aquilo estava acontecendo. O médico dele, que tratou a doença toda, que se chama Miocardiopatia Dilatada, entrou na sala correndo. E quando eu vi o médico entrar correndo, eu falei pra minha mãe que o Fábio (nome do médico) tinha chegado.
Manifestação de Edu |
E eu acho que eu nunca passei por uma dor tão grande. Foi mais difícil do que ter perdido o meu pai, porque a ordem natural da vida, seria os filhos enterrarem os pais e não os pais enterrarem os filhos. E por mais que estivéssemos preparados de alguma forma, o médico já tinha esclarecido tudo sobre a doença pra nós, porque é uma doença genética que nós temos na família e este é o terceiro caso. Eu tinha perdido dois primos meus, um de 23 e outro de 26, por mais que a agente sabia que poderia acontecer, nunca imaginamos que ia acontecer realmente, porque ele foi o que mais durou esse tempo todo, apenas até os 40 anos.
E posso te dizer que o dia 24 de março foi um dos piores dias da minha vida, tanto que o médico dele sentiu muito e não conseguiu se despedir de nós. Ele tinha saído da sala numa disparada que eu e meu marido tentamos parar ele no corredor do hospital e ele não parava um segundo, desesperado. E no dia seguinte, ele ligou pro meu marido pedindo desculpas, porque ele não tinha condições de falar com a gente de tanto que ele gostava do Paulo, por esse tempo de convivência que os dois tiveram, que foram de 2 ou mais anos de convivência, todos os meses. E dia 24 de março foi bem difícil, mesmo.
Um vencedor! Erguendo sua guitarra como um troféu. |
Patricia: E mesmo no hospital nós brincávamos e eu atualizava
ele de tudo o que estava acontecendo, porque o pessoal começou a ver no
facebook dele que eu sou a irmã dele. Então o pessoal começou a perguntar pra
mim tudo o que estava acontecendo e ele adorava.
Ele tinha certeza que ia sair
do hospital. E, com certeza, ele aproveitou a vida dele. Ele aproveitou porque
ele foi muito certeiro e muito engraçado, quem conviveu com ele sabe o quanto
ele era engraçado, porque ele sempre falava bobagens e ficava ligando pros
amigos dele no meio da madrugada pra tirar sarro da cara dos guris. O Paulo
fazia cada coisa! Ele era engraçado demais, mesmo.
Com o Astafix, no programa "Combo+Joga" da Play TV |
Patricia: Eu não tenho como descrever isso, porque eu e ele
sempre fomos muitos ligados. Ligado no sentido de irmão parceiro. É claro que a
gente se distanciou, porque eu fui morar fora daqui e ficamos bastante tempo
longe. E não tinha irmão melhor que ele, porque nunca discutimos no sentido de
ficar meses sem se falar, brigávamos porque ele ficava tocando guitarra sem
parar, mas continuávamos nos falando normalmente.
Ele era uma pessoa fantástica
e, por mais mau humorado ele estivesse, eu acabava tirando o sarro do mau humor
dele. E o mau humor dele é engraçado, também. E não tinha como não gostar
dele, ele era muito parceirão porque eu só tenho ele de irmão. E eu sinto
muita falta dele. Eu não tenho nem o que dizer dele como irmão, porque ele era
uma pessoa nota 1000.
Paulo vem recebendo várias homenagens, e várias outras sendo programadas, como o o álbum acima, além de shows, como durante o do Almah, em Porto Alegre. |
RtM: Antes dele morrer ele expressou algum desejo especial?
Patricia: O único desejo dele antes de morrer, e ele pediu isso,
é que a gente não deixasse a música dele ser esquecida, que mantivéssemos o
legado dele e que também não tirasse o site dele do ar. E não vamos deixar que
isso aconteça, jamais! O CD solo dele continua sendo vendido e ele tinha muito
trabalho gravado. Então o ano que vem, inclusive estou dando essa notícia em
primeira mão, vamos lançar um CD com músicas inéditas dele, de tanto trabalho
que ele tinha. Está foi a única coisa que ele pediu antes dele falecer.
RtM: E a maior conquista
dele como músico?
Patricia: Acho que o reconhecimento foi a maior conquista dele,
porque ele era uma pessoa muito simples e não almejava grandes coisas. O Paulo
sempre foi muito na nele. Se ele tinha ou não tinha determinadas coisas, por
exemplo materiais, pra ele não fazia muita diferença. E também aonde ele
chegou, porque não é à toa que ele foi considerado um dos melhores guitarristas
do país. Mas ele era de uma simplicidade tão grande, que ele falava pra nós que
foi eleito um dos melhores guitarristas do país em tal publicação...e pronto.
E ele
falava isso pra nós como se fosse dizer quase nada, e foi uma surpresa muito
grande quando vimos todo esse reconhecimento por parte dos fãs dele aqui no
Brasil, que inclusive recebemos mensagens até de fora do país. E quando ele
faleceu houve uma repercussão da mídia, de ter saído matérias em sites como o
Terra, Uol, G1, nas TVs e nos tele jornais de circulação; também saiu na Folha
de São Paulo, nos jornais daqui do Rio Grande do Sul e também de lugares que eu
nem sei e que me disseram depois. E nem nós tínhamos essa noção de como ele é
reconhecido pelo Brasil todo.
RtM: Fica o espaço para
sua mensagem aos amigos e fãs do Paulo, e também, aproveitando, li em algum
lugar que você está com um projeto/campanha quanto a doação de órgão, gostaria
que você falasse sobre essa iniciativa.
Patricia: Primeiramente eu, e em nome da minha mãe, é agradecer
todo esse espaço que a gente está tendo pra falar dele. Agradecemos de coração
tudo isso que estão fazendo por ele. Estamos sim fazendo essa campanha de
doação de órgãos, sangue, medula e tecidos em função de que: o Paulo estava na
fila do transplante, e a gente sabe que, aqui no Brasil, o transplante não é
uma coisa tão fácil quanto falam e quanto presam que, por exemplo, nessa novela
das nove, eles fizeram um transplante como se fosse uma coisa simples, o cara
ficou doente e do dia pro outro conseguiu o transplante. A gente sabe que não é
assim, o meu primo de 26 anos estava na fila do transplante há muito tempo e
não conseguiu um coração.
O Paulo estava
na fila do transplante e não conseguiu o coração. E nós doamos as córneas dele,
não conseguimos doar mais nada dele porque foi muita medicação e não teve mais
nenhum órgão que fosse aproveitado, porque se não teríamos doado algum outro
órgão. E a importância é que queremos esclarecer a questão da doação de órgãos,
porque tem muita gente que não é esclarecida e tem muita desinformação na
questão do transplante, da doação de córneas e de medula, e principalmente na
medula que pode ser feito em vida. E as pessoas não sabem por desinformação,
porque tem muita barreira que a gente enfrenta nessa área, que são questões até
religiosas, em que a própria religião da família não permita que faça a doação
de órgãos. O objetivo é com que esclarecemos isso e que tenha a imagem dele
como pano de fundo dessa campanha pra que, realmente, as pessoas se sensibilizem
e doem os órgãos das pessoas que falecem ou, então, a doação de sangue e a de
medula.
É uma conscientização e uma mobilização pra que a doação de órgãos
aconteça de uma forma mais efetiva, e não de maneira mentirosa como Ministério
da Saúde pública que cada vez aumenta. Se for pensar quantas pessoas são
transplantadas que você conhece? É nenhuma ou pouquíssimas! Eu,
particularmente, não conheço nenhum transplantado. Estamos com um apoio bem
significativo dentro do Heavy Metal, que não sei se você chegou a ver, de
vários lideres de bandas que estão gravando vídeos, compartilhamos o primeiro
da banda Angel Holocaust, apoiando a campanha e a importância da doação de
órgãos. Já temos vários vídeos gravados e vamos compartilhar um por semana pra
que as pessoas se mobilizem, fora que tem vários shows acontecendo, onde tem um
grupo de meninas em que acabamos nos conhecendo em função da perda dele. É uma
de cada lugar: uma de São Paulo, Juiz de Fora, Feira de Santana... E cada uma
faz alguma coisa em algum lugar. Então estamos bem engajados na divulgação
dessa campanha.
Muito obrigado pela
sua atenção! Eu, e a equipe do Road To Metal, estamos muito orgulhosos em poder
fazer essa homenagem ao Paulo junto com você, contando tudo sobre a trajetória
dele. Eu nunca cheguei a conhecê-lo pessoalmente, mas pelas mensagens que eu
trocava com ele algumas vezes, ele se mostrava uma pessoa simples e gentil. E
ele ainda tinha muito gás e muita lenha pra queimar na carreira dele.
Patricia: Pena que a vida é assim, o mundo acaba levando as
pessoas que a gente não gostaria. E como eu digo, e já conversamos muito sobre
isso, mas o jeito que ele estava seria muito injusto deixar ele aqui, porque
ele já não tocava a guitarra fazia 2 meses. E você acha justo a pessoa ter a
vida dentro da música e de não conseguir mais tocar guitarra e de, também ,não
ter mais resistência, porque, às vezes, era falta de ar e doía o peito? Isso
não é a vida! Eu te agradeço muito, de coração, pela homenagem que vocês estão
fazendo a ele. E ficamos a inteira disposição de vocês.
Agradecemos também a
sua mãe, a dona Carmen.
Patricia: Que é uma guerreira! Não está fácil pra ela, porque
ela ainda não consegue falar muito sobre as coisas dele, mas que está ai firme
e forte tentando segurar as pontas, porque eles ainda moravam juntos. Ela que
cuidou dele, sempre. Ela cuidou de alimentação e de tudo, mas que vamos em
frente tentando ajudar.
Entrevista: Gabriel Arruda/ Colaborou: Carlos Garcia
Revisão/edição: Carlos Garcia
Fotos: divulgação e arquivo da família
Acesse e conheça mais
sobre o Paulo:
PARTICIPE DO TRIBUTO AO GUITARRISTA PAULO SCHROEBER QUE IRÁ OCORRER DIA 17/08/2014 NO TEATRO PEDRO PARENTI EM CAXIAS DO SUL.
GRAVE E ENVIE UM VIDEO DE ATÉ CINCO SEGUNDOS QUE FALE SOBRE O PAULO E ENCAMINHE PARA O E-MAIL: hammer67metal@gmail.com
SUA PARTICIPAÇÃO É MUITO IMPORTANTE !!! NÃO FIQUE FORA DESSA!
Acesse Aqui a Página Oficial no Facebook
"Eu
gostaria muito de agradecer a família Schroeber por ter cuidado com todo o amor
do nosso parceiro até seu ultimo suspiro! Esse cara lutou muito, até o fim,
tocando sua guitarra, que era um dos grandes motivadores de sua batalha!
Parceiro Paulão, "Paulo Véio" como nós o chamávamos, descanse em paz
onde vc estiver! Sentiremos muitas saudades de vc!" (Edu Falaschi)