A quantidade de álbuns excelentes lançados por bandas brasileiras neste 2016, trazem um sentimento de grande alegria, mas também uma certa revolta, pois se as condições políticas, culturais e consequentemente econômicas fossem mais favoráveis, provavelmente bandas como o Ancesttral não precisariam demorar tanto tempo para lançar um novo trabalho, pois teriam suporte necessário para dedicar mais tempo à sua arte. Mas como uma realidade diferente ainda parece distante, e não é nada fácil investir em algo que demanda tempo, amor, dedicação e custo financeiro, para um retorno a longo prazo, e às vezes, a parte econômica nem importa muito, o que mais, acredito eu, é empecilho e fator que acaba desestimulando é a falta de oportunidades de levar o seu trabalho à mais pessoas, de fazer shows, de ter o seu produto final valorizado, e então, consumido dando o retorno merecido.
Dito isto, e enquanto seguimos driblando as dificuldades e trabalhando, temos que aclamar álbuns tão bons e caprichados quanto este "Web of Lies", que demorou cerca de 9 anos para vir à tona, e é um daqueles disco que empolgam já desde os primeiros minutos, te trazendo a certeza que vai ouvir Metal de qualidade, e ainda com a assinatura do grande Paulo Anhaia na produção, ganhador de quatro Grammys latinos.
"What Will You Do?" abre magistralmente, e o Thrash Metal com elementos do Heavy Tradicional (ou vice-versa) do grupo, é poderoso, nervoso e empolgante. Com um excelente trabalho das guitarras nos riffs e solos, e um refrão extremamente marcante, a faixa já é uma das melhores que ouvi nos últimos tempos, trazendo uma saudade dos grandes álbuns do Anthrax, Testament e Metallica. Peso, pegada e melodia.
Temos o peso, tanto na música como no tema da letra, de "Massacre", que fala sobre os acontecimentos no Carandiru, em um Thrash nervoso e bem trabalhado, com a cozinha descendo a lenha sem dó, e ressaltando novamente o trabalho das guitarras; as influências do Metallica estão incrustadas também, e "You Should Be Dead" evidencia bastante a inspiração no gigante Norte Americano, nas linhas vocais e riffs pesados e arrastados.
Em um álbum tão bom, cito ainda como destaques "Fight", com suas bases pesadíssimas, em um andamento cadenciado, mas com altas doses de melodias, principalmente no pré-refrão e refrão, é dessas que grudam imediatamente na cabeça, e certamente será uma das mais aclamadas do álbum; e a faixa título, "Web of Lies", que traz aqueles típicos andamentos propícios para abrir rodas de slam dancing.
O Ancesttral traz elementos clássicos do Thrash e Metal Tradicional, mas
soa atual, imprimindo muito peso, colocando doses de melodia, em
andamentos bem trabalhados e variados, e ainda um conteúdo lírico inteligente. E embora a faixa de abertura seja
um destaque absoluto, as demais seguem um nível alto, e tem aquele
poder de prender o ouvinte até o final, coisa que muitas bandas
desaprenderam, ou simplesmente não possuem essa capacidade.
Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação
Ficha Técnica:
Banda: Ancesttral
Álbum: "Web of Lies" 2016
Estilo: Thrash Metal/Heavy Metal
País: Brasil
Produção: Paulo Anhaia
Selo: Shinigami Records
Assessoria: Metal Media
Fundado em 2004, o grupo Norte Americano logo ganhou notoriedade em sua estreia, "One Day Remains", destacando o vocalista Myles Kennedy, que também ganhou visibilidade na banda solo do guitarrista Slash, e os riffs de Mark Tremonti, sempre com pegada e melodia.
Desde então vem numa crescente, sempre obtendo resultados expressivos, e agora estreia nova gravadora, o selo independente Napalm Records, o que com certeza trouxe mais liberdade ao quarteto, e isso se reflete nesse novo trabalho, "The Last Hero", o quinto da banda, que tem seu lançamento marcado para 7 de outubro.
Em "The Last Hero", onde o grupo explica que há um tema recorrente, onde prestam tributo, e também falam sobre a necessidade de heróis e líderes em um mundo complexo. Como disse antes, essa mudança para uma gravadora independente parece ter feito muito bem ao grupo, pois normalmente há mais liberdade para o artista, e se a banda nunca me chamou uma atenção maior, neste novo álbum revi meu conceito, pois os caras estão com um som vigoroso e pesado, em um Hard Rock moderno e cativante.
O peso, melodias cativantes e a pegada podem ser
sentidos já com a abertura “Show me a Leader”, em uma introdução pesada
e liderada pela guitarra, que descamba em um andamento com groove e peso, com
muita melodia e refrão pegajoso, um hit com certeza; sinta o peso das guitarras
e da cozinha, que “soca” os alto falantes sem dó, na massa sonora de faixas
como “The Writing on the Wall” e “The Other Side”, além de “Losing Patience”,
onde alterna muito bem a massa sonora das guitarras com peso e melodias
cativantes, e o que falar da porradaria de "Crows on a Wire" e seus riffs pesadíssimos? Exemplo positivo de como soar "pesado e moderno".
O Alter Bridge mostrou grande capacidade de criar
boas e cativantes melodias, esbanjando energia por todo o álbum, e além de
canções com muito peso e vigor, há espaço para Rocks mais comerciais e
agradáveis, como “My Champion”, por exemplo; “Cradle to the Grave”, e seu
andamento mais meio-tempo, mais melodiosa, numa linha “Power Ballad”, daquelas
que a base segue bem melódica e cresce no refrão; A faixa título, “The Last Hero”, fecha com excelência,
trazendo ótimos vocais, alternando peso e melodia, nervosa e vibrante. Dê uma sacada no peso lá pelos 4 minutos e meio dela, e no final.
A banda não teve medo de sentar a mão, em um álbum
vibrante, variado, com peso, groove e melodias cativantes. Com certeza um álbum
que agradará aos fãs e conquistará novos adeptos.
Se existe um nome no underground Extremo gaúcho de grande relevância e
expectativa é o quarteto de Carazinho AMADUSCIAS. Uma das melhores bandas de
Metal Extremo do RS, que vêm já há algum tempo mostrando sua força e
conquistando ainda mais admiradores pelo Brasil afora.
Evolução constante e dedicação ao que se faz, alguma das características
dessa máquina de triturar pescoços. Falando de seu momento atual, dificuldades,
novo lançamento e demais assuntos, conversamos com Evandro (guitarra), Rodrigo
(bateria) e o mais novo membro Marcello (vocal), onde ambos deixam claro suas
paixões pelo Rio Grande do Sul, assim como pela música pesada e que estão mais
vivos do que nunca!
Aproveite e ótima leitura:
Road to Metal: O AMADUSCIAS está na ativa desde 2001, onde trazem em
sua sonoridade influências do Death e do Black Metal. E nessa mescla podemos
notar a grande evolução em cada lançamento, tendo grande peculiaridade na
sonoridade. A ideia é tentar criar uma sonoridade cada vez mais peculiar ou
isso é consequência natural do trabalho?
EVANDRO: O AMADUSCIAS foi formado e idealizado pelo baterista
Rodrigo Sardi, mesmo tendo passado e formado outras bandas conhecidas, naquele momento
estava retomando do zero com suas atividades. Meu nome chegou até ele por um
amigo muito próximo. Como nós ainda não nos conhecíamos, foi a partir de uma
breve conversa que começamos de forma lenta a projetar os passos da banda.
Nesta época eu estava aprendendo a tocar, pois nunca tive bandas, cai já direto
na fogueira, como na época não tinha muito conhecimento para tocar covers já
optei por compor e gravar meus próprios riffs e isto foi muito importante porque
a cada registro, época ou fase da banda há uma sonoridade, uma característica
daquele momento. Estes registros iniciais (como as Demos) até hoje recebe
ótimos comentários. Hoje estamos em outro nível, usufruímos de bons
equipamentos, eu trabalho com produção musical, por isso, é natural ver a clara
evolução nas composições, em geral, em todos os aspectos. Acredito que tudo foi
de forma natural, sem pensar muito. Foi mesmo consequência de muito trabalho.
RtM: Certamente um dos pontos altos na carreira da banda foi o
lançamento do EP “Only One Nation” (08), que massificou o nome do AMADUSCIAS
pelo underground. Quais lembranças vocês têm dessa época?
EVANDRO: Este material foi muito bom de fazer, pois foi em um
período que estávamos tocando direto no RS e quando isto nos acontece sempre
ensaiamos muito e, naturalmente, eu começo a pegar mais a guitarra e os riffs vêm
“do nada”. Assim já faço as guias de guitarras e passo para o Rodrigo. Este foi
um material no qual tivemos pela primeira vez um vocalista, já que na Demo o
Rodrigo gravou todos os vocais. Antes do EP ser gravado passaram alguns vocalistas
pela banda, mas nenhum mereceu ou fez por merecer gravar este trabalho. Assim
recrutamos um amigo de longa data Carlos Trelles, que fez parte da banda Infernal
Hate. O mesmo integrou a banda por um período e gravou o “Only One Nation” e
também a música “Black Thorn”, do Amen Corner, que pode ser conferida no Tributo
dos caras. Com este material recebemos ótimos comentários e destaque na seção Garage
Demos, da conceituada revista Roadie Crew.
RtM: Uma das grandes influências sonoras de vocês é o Krisiun, que no
qual já dividiram o palco algumas vezes. Como é a relação do AMADUSCIAS com o
trio mais extremo do mundo?
EVANDRO: Krisiun é referência desde anos 90, quem nos conhece sabem
que não somos paga pau dos caras e sim fãs de longa data. Sou muito
influenciado pelos caras, não só pela música, mas também atitude e seriedade que
os mesmos têm em relação a música e público. Temos hoje um relacionamento muito
bom com a banda, pois além de dividir o palco com o Krisiun, sempre que dá
vamos aos shows dos caras, sempre apoiando de uma forma ou outra.
RtM: Em 2013 vocês lançaram “War and Conflicts”, material este que
reúne os dois últimos EP’s, o cover de “Black Thorn” do Amen Corner e a
regravação de “Fields of Blood”. Como surgiu a ideia de lançar esse material? E
sobre a participação da banda no tributo ao Amen Corner, o que isto trouxe de
positivo ao grupo?
EVANDRO: A ideia de lançar este trabalho foi do Gil da Cianeto
Discos. Neste período a banda estava apenas ensaiando e com a formação
incompleta. Mesmo assim, tínhamos material que não tinha sido divulgado de
maneira eficaz, como era o caso do single “Surrounded By Darkness” e do cover “Black
Thorn” que estava apenas no Tributo, cover que nos orgulhamos muito de ter
gravado. Levamos um tempo na escolha da faixa e quando escolhemos demos sorte
de ninguém ainda ter registrado, assim, fechou como queríamos. Foi uma grande
honra ter participado deste tributo ao Amen Corner, é uma banda que sempre
admiramos e também dividimos o palco. Assim, em contato direto com o Gil,
decidimos os detalhes e fizemos toda uma arte gráfica. Ficou bem completo e
vendeu bem, teve uma ótima distribuição.
RtM: Uma das coisas que sempre perseguiu o AMADUSCIAS foi a constante
troca de vocalistas. Agora com a entrada de Marcello Camargo (ex-Decreptor e Entherror)
parecem ter encontrado o frontman certo para o posto. Como está sendo a
adaptação do Marcello a banda? Pois ele entrou praticamente já participando de
shows importantes, certo?
EVANDRO: Como costumo brincar e comentar, aqui no Sul, digo que “ovelha
não é pra mato”. A questão de ser um frontman para banda não é uma questão
muito fácil já que a banda tem características muito próprias, tanto na parte
musical como no que se refere à postura e compromissos. Nós nos cobramos, temos
metas e objetivos. Quanto ao Marcello, parece que ele sempre esteve conosco,
com comportamento e objetivos iguais ao que buscávamos. Sobre os shows ele
mesmo pode comentar.
MARCELLO: Conheço a banda desde sua primeira Demo, “Moral, Honour,
Truth”. Eu e o Rodrigo trampavamos juntos do extinto site Metal Attack, porém
ficamos muito tempo sem contato. Mas em abril deste ano (2016), nos encontramos
no Obscure Faith, em Santa Maria, onde a banda tocou, e devido a algumas
situações que não estava funcionando, me predispôs a ajudar de alguma forma. O
Rodrigo e o Evandro toparam e quando cheguei a São Borja, os enviei as
gravações que tinha com minha banda o Decreptor. Eles curtiram e então marcamos
um ensaio pra daqui uns dias em Carazinho, tendo como objetivo abrir para o
Rebaelliun em São Leopoldo/RS, em pouco mais de um mês. Eles me passaram o
repertório e fizemos três ensaios antes do show, tendo eu viajado duas vezes
pra lá (16 horas de ida e volta). Na semana seguinte ao show com o Rebaelliun
abrimos para o Krisiun em Santa Maria. Ou seja, entrei numa baita fogueira
(risos). Mas é uma grande satisfação tocar com estes caras, além claro do
Maurício Taube (baixo), outro grande músico e amigo. Somos como uma irmandade,
que trabalha em prol de objetivos, como o Evandro falou, de espalhar nosso som
ao maior número de pessoas possível, sempre com muita seriedade e respeito ao
público.
RODRIGO: O Marcello só somou ao AMADUSCIAS, além de um amigo de
longa data, têm as qualidades que um músico deve ter, principalmente um vocalista,
ser responsável, quando sobe ao palco, tem de falar como se fosse qualquer um
dos outros integrantes se pronunciando e isso é algo que “vem de berço”, ou o
cara tem essa cultura de saber se posicionar, respeitar as ideias próprias, sem
afrontar as dos outros integrantes, ou então não merece o posto tão importante
que tem. O Marcello caiu direto na fogueira em fogo alto, e provou que merece
estar conosco, mas na verdade, nós que temos de agradecer a ele por estar com a
gente!
RtM: E o material novo, qual a previsão de lançamento? Teremos alguma
regravação, composição antiga no repertório ou tudo está sendo criado a partir
desta nova formação?
EVANDRO: Quanto ao CD oficial, já está sendo gravado e também será lançado
pela Cianeto Discos, que tem nos dado um suporte incrível. O que posso adiantar
é que vai conter 11 faixas sendo uma instrumental. Buscamos algumas
participações legais não apenas do meio Metal, também regional. Todo o álbum
está sendo gravado no meu estúdio “WaveMaster“. A finalização e masterização será
feita no estúdio El Diablo, pelo Fabiano Penna que é um amigo nosso de longa
data e um ótimo profissional, conceituado tanto como produtor, como por fazer
parte do grande Rebaelliun. Estamos discutindo a previsão de lançamento com o
selo, se sai ainda este ano ou em março do ano que vem. O que nos atrasou um pouco
foi o número de shows que acabamos por fazer, mas eram shows muito bons e renderam
um entrosamento muito importante para nós!
RtM: Sabemos que fazer Metal Extremo no Brasil é muito complicado. Quais
dificuldades já tiveram nesse meio tempo e o que os levou a seguir em frente?
MARCELLO: Manter uma banda no Brasil, ainda mais de Metal Extremo é
uma tarefa árdua. É preciso muita dedicação, esforço e amor pelo que se faz. Há
mais dificuldades que se possa imaginar. Como mencionei antes, viajo 16 horas
pra ensaiar e isso não é nenhum problema pra mim, o faço com muita satisfação,
pois a resposta que temos quando fazemos um show ou lançamos um trabalho para
todos os esforços. Não estamos nesta por dinheiro e sim por paixão pela música,
pelo Metal. Certamente, no caso do AMADUSCIAS a maior dificuldade foi
estabilizar a formação, algo que agora acho que conseguimos e esperamos manter.
RtM: Sobre o descontrole tecnológico em que vivemos, muitas bandas já
se renderam a tecnologia e estão lançando seus discos em pendrives ou apenas
disponibilizando para download. O que vocês pensam a respeito? A internet em
si, até que ponto ajuda o artista?
MARCELLO: A internet é uma boa ferramenta no auxílio à divulgação
das bandas e pessoas que trampam no meio underground. Mas deve ser usada com
cuidado. A questão dos downloads já é batida e é algo inevitável. Particularmente
uso o YouTube ou outro site quando quero conhecer uma banda. Da mesma forma, os
uso pra divulgar nossa música. Mas quanto ao fato de lançar discos em pendrive
acho meio forçado. Mesmo com as dificuldades que conhecemos, a melhor mídia
ainda é o CD/LP. Sempre que posso adquiro materiais nestes formatos, com o
intuito de ajudar as bandas e claro, porque curto manejá-los e tê-los em minha
coleção. Somente assim, as bandas e o underground prosperarão.
RtM: Finalizando, gostaria que comentassem um pouco mais das
influências líricas do AMADUSCIAS em suas letras, já que retratam as revoluções
e os contos folclóricos do nosso amado Rio Grande do Sul.
EVANDRO: Desde o início decidimos em falar algo que refletisse
aquilo que somos ou de onde viemos, por isto este contexto forte em falar de
nossa cultura e origens. Não saberia criar letras ou relatos de algo que não
faz parte de meu convívio ou passado. Hoje com o Marcello esta temática está
mais forte ainda, já que o mesmo vem de uma região muito rica em termos
culturais e têm ótimas referências vindas da fronteira.
MARCELLO: Sim, venho de uma família materna que cultua bastante as
raízes, meu avô e meus tios são homens do campo e vivi muito disso na infância
e adolescência embora não frequente CTGs, sou um grande admirador de nossa
cultura. A região da fronteira é bastante forte neste sentido, e aqui em São
Borja temos um grande artista, o Mano Lima, que é uma forte inspiração em
termos de cultura e música gaúcha. Na minha ex-banda (Entherror), fiz uma letra
dedicada ao nosso estado (“Hail Rio Grande”), então me sinto à vontade para
falar do assunto. E é algo diferenciado em termos de Metal Extremo.
E, para encerrar, gostaríamos de
agradecer a oportunidade Renato, de divulgarmos o AMADUSCIAS no Road To Metal,
um site de grande abrangência na cena. Tu és um amigo que sempre procura apoiar
as bandas do underground de maneira honesta e por isso nos sentimos honrados
com esta entrevista. Peço que, quem quiser entrar em contato conosco, fique à
vontade, responderemos a todos. E, muito em breve, teremos nosso novo trabalho
à disposição. Um abraço a todos.
Muitas vezes nem sempre o talento e trabalho bastam, às vezes parece ser preciso estar no lugar certo na hora certo, cruzar com as pessoas certas, pois quantos ótimos músicos e bandas você conhece que estão na cena, e que você se pergunta: "Como que essa banda, ou esse cara não conseguiram um sucesso maior?". Alguns acabam até desistindo. (English Version)
A brasileira Marina La Torraca passou por uma situação em que chegou a desistir de seguir carreira no Metal, mas a vontade de seguir na música e no Metal, falou mais alto, e isso parece te-la colocado no caminho das pessoas certas, pois muita coisa aconteceu depois que Marina acabou tendo Amanda Somerville como sua vocal coach, depois desse contato, surgiu a oportunidade de trabalhar com a banda de Sander Gommans (HDK, After Forever), e em seguida de formarem uma nova banda, o Phantom Elite. As coisas começaram a acontecer da melhor forma, e em seguida veio a indicação de Amanda Somerville para Marina substituí-la em alguns shows da "Ghostlights World Tour" do Avantasia, ou seja, tudo caminhou junto, pois sem talento, as coisas também não aconteceriam.
Bom, vamos saber da própria Marina um pouco mais da sua carreira, do seu trabalho, do Phantom Elite, Avantasia e desse momento especial que vem vivendo. Confira a seguir o papo que tivemos com a talentosa e sempre simpática Marina La Torraca:
RtM: Oi Marina, pra começar você poderia
nos contar um pouco como surgiu a oportunidade de trabalhar com o Sander
Gommans e depois formar o Phantom Elite?
Marina La Torraca: Oi Carlos! Bom, eu
conheci tanto o Sander quanto a Amanda Somerville nas gravações do álbum
“Shield of Faith”, que eu gravei há alguns com a (agora inexistente) banda de
origem romena Highlight Kenosis. A Amanda foi minha vocal coach nas gravações e
o Sander produziu o álbum.
A formação do Phantom
Elite veio muito depois, e surgiu de uma situação bem espontânea. Eu estava sem
banda há algum tempo (por conta dos meus estudos) e perguntei pro Sander: “E
aí...será que você não tem nenhuma
banda pra mim, não?” (risos). Mais ou menos assim! A partir daí surgiu a ideia
de trazer o projeto de estúdio do Sander, o HDK, para os palcos. Gostamos da ideia
e saímos em busca de músicos para fazer isso acontecer. Com a banda formada e
muitos meses de ensaio, acabamos nos envolvendo tão positivamente com o
projeto, que nosso material próprio acabou virando prioridade... e foi assim
que o Phantom Elite, nome tirado da letra “Eternal Journey” do álbum “Serenades
of the Netherworld” (HDK), veio a surgir.
RtM: Lembro de que você teve algumas
bandas covers, inclusive do Evanescense, mas depois você acabou sumindo de
cena. Você acabou ficando afastada da cena por falta de oportunidades, decepção
com o cenário musical?Li uma entrevista
em que você falou que estava se dedicando aos seus estudos de arquitetura. Você
meio que havia decidido a abandonar o cenário musical de vez? Geralmente quem é
ligado à música, geralmente não consegue se desligar, heheh, você pode tentar
largar a música, mas ela não te larga! Hehe
Marina: (risos) É bem por aí
mesmo! Tentei “abandonar” a música muitas vezes, he he he. Algumas vezes por ter que
focar nos estudos, outras vezes por frustração com a indústria... rs.
Mas as bandas cover
que tive no Brasil nunca foram realmente transformadas em um projeto de
material próprio e, apesar de sempre termos dado o nosso melhor em termos
musicais e de performance, nunca foram tratadas como um “business”, com
investimento, planejamento, etc.
RtM: E agora com esse trabalho com o
Sandere com o Phantom Elite, além dessa
oportunidade de excursionar com o Avantasia (que vamos falar também), você se
sente motivada novamente a seguir uma carreira dentro do Metal? Quais suas
expectativas?
Marina: Bom, estamos
planejando e investindo “profissionalmente” no Phantom Elite desde o início.
Ter retorno financeiro com uma banda de Metal é, com muito otimismo, um plano a
looooongo termo. (risos) Estamos aí pra crescer, mas fazemos essencialmente porque
há muita realização pessoal envolvida.
Eu, no momento, canto
profissionalmente em diversas produções e eventos, dou algumas aulas de canto,
e (muito às vezes, rs.) trabalho com design gráfico e arquitetura. É assim que
ganho meu pão-de-cada-dia. Mas claro que trabalhar com o Avantasia é bem mágico
e abre espaço pra “wild ideas” até então mais distantes! Haha.
"Formamos a banda, e muitos meses de ensaio, acabamos nos envolvendo tão positivamente com o projeto, que nosso material próprio acabou virando prioridade."
RtM: E como você está se sentindo com
relação às composições, como estão fluindo?
Marina: Nós moramos muito
longe uns dos outros, então as composições são feitas basicamente via Skype,
Dropbox, Whatsapp, e outros aplicativos, rs. Não é o método mais “fluido” que
conheço, rs., mas é o nosso método (que acaba até adicionando um certo
“tempero” às composições). As músicas prontas e nas quais estamos trabalhando
no momento, estão nos dando bastante orgulho!
RtM: Manda aí pra mim ouvir! he he he!, Bom, vocês acabaram de apresentar a
música “Siren’s Call”, mas e o álbum de estreia, vocês tem uma previsão de
lançamento?
Marina: Não temos previsão
concreta para esse lançamento, mas esperamos que seja na primeira metade de
2017. Digamos que 50% do material está pronto e já estamos em fase avançada dos
outros 50%, rs.
RtM: Falando em composições, é difícil
logicamente fugir de bandas que serviram influências ou inspirações, mas o que
uma banda deve buscar para imprimir sua
personalidade, e também se destacar, num cenário que é bem concorrido com uma
gama enorme de bandas?
Marina: Eu pessoalmente
acredito que tem tanta banda de qualidade mundo afora (e hoje em dia temos acesso
a essas bandas que antes precisariam de um meio de veiculação para atingir as
massas), que fica difícil “tentar ser original”, ou “tentar ser comercial”, ou
“tentar” qualquer coisa. Você tem que fazer o que sai de você e pronto (risos). Uma
amiga minha diz que dar a luz a qualquer projeto criativo é realmente “um
parto”, e eu não poderia concordar mais. Você carrega aquilo com você, nutre, vê
tomar forma, sente, sofre... e finalmente coloca pro mundo. Imperfeito e
humano, tá aí.
"Dar a luz a um projeto criativo é como um 'parto' realmente, você carrega aquilo com você, nutre, vê tomar forma, sente, sofre... e finalmente coloca pro mundo. Imperfeito e humano."
RtM: Lembro de trabalho seu com a banda
Melodic/Progressive Highlight Kenosis, que saiu pelo selo Ravenheart, como foi
essa experiência? A banda acabou encerrando as atividades?
Marina: Foi uma ótima
experiência de aprendizado, inclusive do que não se fazer na indústria, rs.
Tivemos também muitos problemas pessoais e a banda acabou encerrando as
atividades pouco tempo depois do lançamento do primeiro álbum comigo.
RtM: Lembrei que a Ravenheart lançou o
terceiro álbum da banda brasileira Amazon (Rise!), e inclusive o Sander e a
Amanda trabalhou na produção, com a Sabrina
Todt (vocal), tendo a Amanda como vocal coach. Conhece o trabalho do Amazon?
Marina: Claro que conheço, o
Renato e a Sabrina são gente finíssima. Eles trabalharam com o Sander e a
Amanda na mesma época que o Highlight Kenosis estava por lá. O pessoal da
Amazon fez um ótimo trabalho conjunto com a dupla (estou com uma música deles
na cabeça agora! (he he he).
RtM: E o convite para fazer esses shows
com o Avantasia? Conte pra gente como foi que surgiu a oportunidade, e também
como ficou seu coração quando aconteceu e quando você subiu no palco com eles
para o primeiro show?
Marina: Bom, a Amanda meu
ligou dizendo que não poderia fazer alguns shows do Avantasia e acabou por
perguntar se eu não teria interesse em “quebrar o galho” pra ela. Minha
primeira reação foi de choque e pânico, mas mantive a calma e disse: “Claro,
tenho bastante interesse.” (risos)! O primeiro show seria 2 semanas após tal
ligação, he he he. Eu: “Sim, claro, ainda tenho interesse...” Mas pensando: “DUAS
SEMANAS?! SEM ENSAIO?!?! Eu devo ser muito corajosa ou muito insana pra aceitar
isso.”
Pra piorar a
situação, peguei uma gripe horrível alguns dias antes do primeiro show em
Munique e a ÚNICA coisa que eu pensava ao subir no palco era em não desmaiar
nem perder a voz durante o show! he he he. Cantar “Farewell” afônica seria um
pesadelo.
Amanda dando a notícia que Marina a substituiria na parte final da Tour
RtM: E sobre as preparações para esses
shows, que além de muitos músicos envolvidos, tem um set-list geralmente longo. E como você disse, não teve nenhum ensaio, já que a tour estava andando, então,
conte pra gente como foi essa sua preparação, e o que você fez para vencer o
nervosismo e ansiedade, que acredito, deve ter sentido!
Marina: Como disse na
resposta anterior, ZERO ensaio com a banda, he he he. Treinei e me preparei em casa o
máximo que pude, praticamente non-stop (mesmo estando gripada he he). O set-list
do Avantasia é gigantesco e a Amanda canta em todas as músicas, não podia me
dar ao luxo de parar de ensaiar.
Nervosismo e
ansiedade sempre dá antes de qualquer show. Por incrível que pareça, o fato da
produção ser tão grande e tão bem organizada me deixou até mais tranquila (em
shows menores onde alguns membros da banda têm que cuidar de tudo, e o
stress-level acaba sendo maior). E a galera toda do Avantasia (inclusive e
principalmente o Tobi no primeiro show!) foi tããão receptiva e compreensiva, ótima
atmosfera. O que mais senti no palco ao ver TANTA gente na platéia foi
adrenalina. E um constante medo irracional de desafinar brutalmente em “Farewell” (risos)!
Ensaio, ensaio e ensaio: "Treinei e me preparei em casa o máximo que pude, praticamente non-stop..O set-List do Avantasia é gigantesco...não podia me dar ao luxo de parar de ensaiar."
RtM: Tem alguma história dos ensaios ou
bastidores pra nos contar também? Devem ter muitas não é? Muita gente deve
ficar imaginando como é viver o dia a dia com um projeto tão grande como o
Avantasia.
Marina: Eu precisaria de uns
2 dias pra responder somente a essa pergunta (risos). Tem muita história. Depois do
show na Polônia, os rockstars celebraram o último show da tour no ônibus em
grande estilo: dormindo. Alguns até mesmo de mãozinhas dadas (para não ser
injusta, algum consumo alcoólico foi envolvido nesse episódio).
RtM: E o balanço que você faz dessa
experiência? Certamente algo que lhe agregou e agregará muito, sem falar que
dará uma boa visibilidade para o Phantom Elite, ajudando a abrir algumas
portas.
Marina: Foi uma experiência
totalmente positiva e aprendi MUITO em pouco tempo. Realmente há muito know-how
nessa produção, é um nível altíssimo de organização e experiência. Sem contar
os aspectos da carreira que se aprende diretamente do convívio com essas feras.
E sim, ajuda sim a
abrir muitas portas! (Risos)
RtM: E o cenário aí na Europa, pelo que
você tem acompanhado, como estão as oportunidades para os novos grupos, as
oportunidades para shows, festivais, sendo que aí existem muitos festivais de
pequeno, médio e grande porte?
Marina: Como eu disse numa
entrevista que dei recentemente, as vantagens de oportunidades para as bandas
europeias em comparação com América Latina acabam sendo geográficas mesmo.
Pequenas bandas não vão tocar direto no Wacken, mas tem bastante festival de
médio porte que são relativamente acessíveis a bandas de qualidade que se
“levam a sério” e investem no projeto. Há bastante degraus entre o chão e lá em
cima (risos).
"Peguei uma gripe horrível alguns dias antes do primeiro show em Munique, e a ÚNICA coisa que eu pensava ao subir no palco era em não desmaiar nem perder a voz durante o show!"
RtM: E quando você começou a se
interessar em canto e no Metal em geral? Quem foram seus principais incentivadores?
Marina: Comecei a ouvir metal
na adolescência, assim como muitos headbangers, eu não era muito
“encaixada” na turma do colégio e odiava música eletrônica, balada, axé,
bebedeira, e carnaval. O Heavy Metal mudou minha vida, expandiu meus horizontes
e permitiu com que eu liberasse agressividade de maneira positiva.
Queria não só ouvir, mas
também fazer. Na tentativa de formar uma banda com uma amiga minha, comecei a
aprender guitarra, bateria, etc. Nada parecia “funcionar” muito bem, mas
percebi que cantando eu não era tão mal. A partir daí não parei mais! RtM: Vejo que o Mário Pastore sempre comenta sobre você, e vibrou bastante com essa oportunidade sua com o Avantasia e também com a nova banda.
Marina: Quando estava super
envolvida nas bandas cover em São Paulo, resolvi procurar um professor de canto
para superar desafios específicos e não danificar minha voz. Foi assim que
encontrei o Mário Pastore e tive aulas com ele durante bons 3 anos. Ele é um
ótimo professor, além de cantor. Sabe do que está falando, tem paciência e
métodos práticos e efetivos.
Mantenho contato com
o Marião até hoje. Ele é uma pessoa mais que decente e torço sempre por sua
carreira e realização na música.
Ao vivo com o Avantasia
RtM: Marina, obrigado pelo seu tempo,
ficamos no aguardo das novidades e desejamos sucesso com o Phantom Elite, fica
o espaço para sua mensagem final!
Marina: Eu que agradeço pela
oportunidade! Galera do Brasil, tenho recebido incontáveis mensagens de apoio e
carinho de vocês. Sou imensamente grata por isso, e espero retribuir a todos
com boa música por muito tempo! Entrevista: Carlos Garcia Fotos: Divulgação e Arquivo Pessoal Marina Phantom Elite Facebook HDK Facebook Marina La Torraca Official Page