quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Tuatha de Danann: "Queremos nos manter relevantes e capazes de nos desafiar"



O Tuatha de Danann surgiu em Varginha, Minas Gerais, em 1994, ainda sob o nome Pendragon, mudando para o nome atual pouco tempo depois, pois procuravam algo que melhor se encaixava às inspirações do grupo na música e culturas celta. Tuatha de Danann era o povo da deusa Danu, raça de seres encantados da Irlanda mítica. A banda foi forjando uma identidade musical muito forte e original, mesclando o Heavy Metal às nuances celtas, folk e medievais, além de outros ingredientes. O certo é que no Tuatha de Danann a liberdade criativa é a palavra de ordem.  (Read the english version)

Com seis trabalhos de estúdio lançados, sem contar a regravação de 2016 do primeiro EP, o Tuatha de Danann sempre se colocou entre as principais e mais originais bandas do cenário brasileiro, inclusive conquistando muitos fãs e bons resultados em diversos países da Europa, tendo se apresentado no Wacken em 2005, durante a divulgação de "Trova di Danu" (2004), álbum lançado por um grande selo, e que alçou a banda a um patamar maior, inclusive proporcionando a gravação do DVD acústico "Acoustic Live" (2009), porém alguns desgastes, atrasos e descumprimentos de prazos pela gravadora, além de outros fatores, levaram a dissolução da banda em 2010.

Mas em 2013 a banda retorna disposta a recuperar o tempo perdido, e lançam em 2015 o elogiado "Dawn of a New Sun". Agora em 2019 o Tuatha de Danann apresenta seu álbum mais diversificado, "The Tribes of Witching Souls", trazendo as características marcantes de sua sonoridade, como as melodias celtas e medievais, canções com climas festivos e empolgantes, mas também com temáticas mais sérias e atuais, e até fatos históricos de Minas Gerais.


Conversamos com o fundador, vocalista e multi-instrumentista Bruno Maia para saber um pouco mais sobre o novo álbum, a parceria com Martin Walkyer (Ex-Skyclad), o posicionamento firme da banda contra injustiças, ganância, racismo, e fascismo, ou seja, elementos tóxicos que têm crescido preocupantemente. Confira!


Road to Metal: Para começar, gostaria que você falasse a respeito da atual fase da banda, desde o retorno com “Dawn of a New Sun” após um hiato, e agora com este novo trabalho, “The Tribes of Witching Souls”. Gostaria que você falasse sobre o que aquele hiato e as mudanças na formação representaram para a banda. 
Bruno Maia: Houve um hiato de 3 anos sem banda. Isso foi de dezembro de 2010 até meados de 2013. Voltamos em 2013 para alguns shows esporádicos e daí lançamos o “Dawn” em 2015. O “Dawn” foi um disco que gostei demais de fazer e lançar, pois pessoalmente meus últimos 2 lançamentos até o “Dawn” tinham sido bem complexos, bem progressivos, que foram o disco do Braia e do Kernunna, e o “Dawn” veio mais direto, sem tanta viagem, do jeito que precisava. Adoro esse disco e o som dele. Depois disso, lançamos em 2016 uma nova versão de nosso primeiro disco, daí o guitarrista saiu em 2017, e em 2018, bem no início do ano, foi a vez do Rodrigo baterista; ambos saíram por conta própria e nós, nunca pensamos em parar.  


RtM: Vocês seguiram então somente com 3 membros oficiais.
Bruno: Hoje, de membros fundadores estou eu e o Giovani na formação, já o Edgard está conosco oficialmente há apenas 15 anos e nosso relacionamento é muito legal, positivo e sem fissuras. Temos todo o clima e amizade necessários para continuar com o Tuatha por muito tempo ainda e pra mim, sinceramente, a banda vive um ótimo momento repleto de leveza, vontade e positividade. As coisas não acontecem por acaso, foi necessário isso tudo acontecer pra banda estar aqui ainda e o fato de termos lançado um trabalho novo com tanta relevância agora é a prova disso que falo.


RtM; Você  já vinha falando que este novo álbum seria o mais diversificado da banda. Algo que percebi foi uma atmosfera mais “séria”, digamos, com menos temas fantástico e “festivos”. Quais elementos você acredita que são os mais diferentes e surpreendentes que o ouvinte vai encontrar?
Bruno: O disco é bem diversificado mesmo, pode sacar que as músicas não tem nada a ver uma com a outra, mas todas carregam um elemento Tuatha. Temos uma carga identitária muito forte que foi moldada ao longo dos anos, uma marca composicional que possuímos que só o Tuatha tem, ou no máximo alguma coisa do Braia ou Kernunna. Os elementos mais festivos e alto astral você encontrará apenas na faixa título (talvez até demais, uma vez que essa música é uma das mais positivas e pra cima que já ouvi), já as outras tem elementos diversos que vêm de fontes variadas de inspiração.

"O motivo de continuarmos a criar é ser relevantes pra nós mesmos e nossa música ser capaz de nos desafiar e encantar."
RtM: O Tuatha é uma daquelas bandas que possuem uma sonoridade própria, algo difícil, principalmente em tempos atuais, e também, acredito, proporciona uma liberdade musical ampla, permitindo ousar, e neste álbum ficou demonstrada ainda mais essa liberdade, e a sensação de que a banda pode ir ainda muito mais além. Gostaria que você comentasse a respeito.
Bruno: Que legal você captar isso! É gratificante que alguém fora do núcleo criador perceba isso e aponte. Mas eu acredito que este é o motivo e o porquê de continuarmos a fazer música: ser relevantes pra nós mesmos e nossa música ser capaz de nos desafiar e encantar ainda. Não faria sentido fazer o mesmo som sempre. E o mais legal é que conseguimos isso sem abandonar nossos elementos próprios e tão característicos. Creio que estamos vestidos de nós mesmos e sem medo de seguir adiante.


RtM: Sim, justamente, se o músico não buscar se desafiar, ousar, acredito que, tanto ele como o público perderão o interesse! Bom, você já citou antes a faixa título, que também foi o primeiro single, e ela trouxe os elementos já familiares aos fãs da banda, uma típica música do Tuatha. Vocês escolheram já a canção principal justamente por isso? Gostaria também que você falasse um pouco mais sobre ela.
Bruno: Exatamente, a “Tribes…” foi lançada primeiro até pra galera que nos acompanha sacar que a banda continuava firme e forte. Esse som é um trem 100% Tuatha de Danann . . . ela tem a levada típica de nossas aberturas de disco, o clima pra cima, com abafadas legais de guitarra, uma melodia bem Beatles e os temas celtas perpassando toda a canção. Sem contar com a participação dos duendes e tudo mais. 


RtM: Já o segundo single, “Your Wall Shall Fall”, traz elementos diferentes, tratando um tema bem atual e forte, saindo das temáticas mais fantasiosas. E tem um convidado bem especial, Martin Walkyier, ex-Skyclad, e grande influência do Tuatha. Gostaria que você falasse um pouco mais a respeito dessa canção e claro, da participação do Martin.
Bruno: Cara, essa música a gente tinha feito em 2017, da última vez que ele esteve aqui no Brasil, mas ele nunca ficava satisfeito com a letra, sempre a mudava, o que foi, inclusive, um dos motivos desse lançamento atrasar . . . MAS, é uma canção muito forte, muito pesada e direta, se comparada a outras do Tuatha de Danann, e a letra do Martin é fabulosa, como sempre. A gente ficou muito amigo ao longo dos anos e ficou muito natural as participações. Hoje em dia soa natural, mas há 15 anos isso  (ser parceiro do Martin) seria um sonho. Um sonho alcançado!


"Creio que estamos vestidos de nós mesmos e sem medo de seguir adiante."
RtM: O vídeo para essa música também ficou muito legal, inclusive houve uma campanha da banda para que os fãs, admiradores e amigos enviassem vídeos, os quais alguns seriam usados na edição do clipe. Fale-nos mais a respeito dessa ideia e sua avaliação sobre o resultado final, e se as reações, ao vídeo e canção, foram os esperados.
Bruno: Foi muito legal essa coisa! Foi ideia do próprio Martin, pois pessoas de qualquer lugar do mundo poderiam comprar essa ideia. A letra, embora faça alusões ao “famigerado” muro do Trump, questiona a ganância, a tirania do mercado, os governos autoritários, beligerantes e critica  tudo que divide e oprime o ser humano. É um tema anti tirania e fascismo. Gente dos EUA, Irlanda, Rússia, França, México e vários outros locais enviaram vídeo.


RtM: Aproveitando o tema, parabéns a você e a banda por tocar em assuntos mais delicados, e por posicionamento importante em momento complicado, tanto da humanidade em geral, quanto no nosso país. E gostaria de saber sua opinião quanto ao papel dos músicos, mesmo sofrendo críticas de algumas pessoas, em mostrar um posicionamento claro e firme contra injustiças e desigualdades sociais.
Bruno: O mundo inteiro está experimentando um tipo de guinada à direita e à violência (seja esta no nível discursivo ou físico). Não é só aqui no Brasil, infelizmente. Vivemos numa época que, em teoria, é a que mais temos acesso a informação, a conteúdos, a obras inteiras, trabalhos científicos de universidades do mundo todo e que, mesmo assim, sinistramente, existe muita gente que se informa pelo telefone através de vídeos ou memes quaisquer produzidos por sabe-se lá quem, sabe-se lá por quais motivos e sabe-se lá financiado por quem. 

Aqui no Brasil a coisa ficou tão noia que há muitos  seguidores de astrólogos, de músicos crentes frustrados, tem gente que acha que tortura é algo besta, que é coisa pouca. Muita gente relativizando a desumanidade, a crueldade e a ternura. Quanto ao papel do músico, não acho que ninguém é obrigado a fazer música ativista ou política, mas acho de uma contraditoriedade  doente o tal do headbanger conservador.


RtM: Prosseguindo com os temas do álbum, “Conjura” é uma de minhas preferidas, e traz uma tema histórico, sobre a Inconfidência Mineira. Gostaria que você comentasse mais a respeito dessa canção e a ideia de falar sobre esse tema.
Bruno: Pois é, pode soar como uma grande e fabulosa quimera, uma banda brasileira que canta em inglês, tem um nome celta, influências da música tradicional irlandesa tratar de um assunto tão brasileiro em uma canção. Mas é isso! Eu sou um estudioso da história de Minas Gerais, seu período colonial, seu povoamento e formação sobre vários aspectos. Somos de Minas Gerais e temos uma história muito peculiar aqui no estado graças aos achados do ouro e de diamantes. A chamada Febre do Ouro fez com que Minas efetuasse a maior migração de gente da Europa pra cá, todo mundo atrás do enriquecimento rápido pelo ouro e pedras preciosas. 

Os europeus e sertanistas  enfrentaram serras altíssimas, feras desconhecidas, índios ferozes e muitas outras adversidades pra encontrar seus tesouros nas bandas de cá; eram aventureiros destemidos e gananciosos, muitas vezes fugidos ou exilados de Portugal. Somou-se a este ideário da riqueza rápida um número absurdo de escravos trazidos da África e todos os horrores da escravidão, a alta religiosidade dos jesuítas e das irmandades e ainda o despotismos de régulos donos do sertão. Pronto! Temos todos os ingredientes pra mais sangrenta e estranha história possível. Minas viveu um período que faria os faroestes americanos parecerem Ursinhos Puff. (Muito boa! hahaha)




RtM: Um tema muito Rico!
Bruno: Quero ainda, um dia, fazer um disco conceitual sobre este épico mineiro, vamos ver! Sobre a “Conjura”, queríamos de alguma  forma tratar desse movimento rebelde que vivemos no final do século XVIII, que ficou conhecido como a Inconfidência Mineira e que teve como mártir o alferes Silva Xavier, Tiradentes, que foi o único executado e teve seus membros espalhados pelo Caminho Novo da Estrada Real. Essa conjuração mineira é ainda muito estudada e vem sido desvendada ano a ano pela Historiografia. Não se tratou apenas de, como muito se falou, de uma  “Revolução dos Poetas”;  foi, sim,  um movimento heterogêneo e importante que reuniu intelectuais ilustrados (alguns poetas de renome e talento), fazendeiros, militares, homens poderosos e alguns desgraçados que vieram a trair o movimento como a hoje tão celebrada “Delação Premiada”, que pretendiam uma revolução anti colonialista e republicana, livrar a colônia da metrópole. Infelizmente essa tema nos soa atual, pois vemos o país se sublevando a interesses do IMPÉRIO e entregando suas riquezas, energia e muito do setor estratégico ao capital internacional e mesmo a governos imperiais.



RtM: “Turn” foi uma das que achei mais novidades com relação à suas composições anteriores, e é uma ótima canção, trazendo uma atmosfera mais suave, melodiosa, elementos Folk/Pop, que também percebi no projeto Auri, do Tuomas Holopainen e Troy Donockley. A letra também é muito bonita “Esta vida é uma tela em preto e branco, e cabe a você preenche-la com cores que você gosta...”, e o refrão fala em “Construir novas pontes fora das muralhas”. Nos fale um pouco mais a respeito dessa canção e sobre a letra dela.
Bruno: Eu não conheço esse som que você citou, embora conheça os caras. A “Turn” é uma peça diferenciada dentro do nosso cancioneiro, ela tem um groove bem empolgante, uns elementos talvez “pop” como você disse, mas tem seu peso também. A letra trata mais da omissão de que muitas vezes nos deixamos dominar, sabe? Quando não tomamos partido ou quando deixamos o lado mau vencer e preferimos não nos envolver. Muitas vezes o mal acontece porque o bom não se manifestou, e outras vezes, por achar que não precisamos nos envolver um fato isolado pode crescer em escala e se tornar situação. Acho que a letra  trata disso, ter de  pensar mais, não ser pensado por outros e não sermos omissos, conformados e permissivos.


RtM: “Warrior Queen” soa épica e dramática, com as melodias de flauta e bandolim em destaque, me transportou para uma cena da série Vikings! Ha ha! Conte-nos um pouco mais sobre essa faixa e as inspirações para compô-la.
Bruno: Essa aí foi a última música a entrar no disco. Um amigo queria uma trilha pra uma lutadora de MMA e queria algo bem bélico, medieval, celta, viking, essas coisas. Eu brinquei com ele mostrando um amontoado de clichês e ele adorou….daí eu me convenci que podia ficar legal sim se trabalhasse melhor essa inspiração que me veio meio que de brincadeira….deu no que deu. A letra é inspirada em grandes guerreiras e rainhas guerreiras celtas, como a Boudicca. É uma letra que enaltece a bravura de muitas mulheres, sua dignidade e protagonismo.



RtM: “Outcry”, originalmente gravada no "Dawn of a New Sun", ganhou uma versão mais folk/medieval, e pelo que pude ouvir, acredito que seja, se não 100%, quase totalmente acústica. E que pegada e força nas melodias marcantes e refrão!
Bruno: Adoramos fazer essa versão da Outcry, ficou bem folk mesmo! A letra, infelizmente, é um retrato do Brasil desde a época das descobertas até hoje em dia com essa situação colonial e de entrega ao capital estrangeiro que começou com Pau Brasil, Cana de Açucar, Ouro/Diamante, Café até chegar hoje em dia com o capital estrangeiro por trás das movimentações financeiras e nossos tesouros privatizados, vimos Mariana, Brumadinho e deve vir mais por aí, pois a mentalidade do capital é essa, a rapina: leva-se o lucro e deixa a miséria.


RtM: Outra que aparece em nova versão é “Tan Pinga Ra Tan” (gravada no álbum "Tingaralatingadun" de 2001), com arranjos orquestrais ficou com uma atmosfera incrível. Você teve a intenção de dar uma nova vida a esta importante canção?
Bruno: "Tan Pinga Ra Tan" (N. do R.: a terra da alegria e dos prazeres, criação do Tuatha, baseada nas mitologias que os inpiram) é uma de nossas músicas mais cantadas e queridas. Ela tem uma linda melodia que é forte e parece ser a trilha de um sonho. Queríamos abordá-la de uma outra forma e ficou muito legal assim.


RtM: E como você tem sentido as primeiras reações do público à novas canções nesses primeiros shows da tour?
Bruno: Cara, as pessoas que compraram o disco e falaram conosco tem gostado muito. Até agora as criticas tem sido bem positivas e melhor, eles apontam esses novidades que colocamos nas músicas como potências….Tá demais!!!

"Enquanto tiver gente respondendo a nossa música teremos estímulo pra continuar."
RtM: Finalizando, diga-nos quais as expectativas para este ano e o que vocês almejam para a banda, que possui as qualidades suficientes para alcançar um público maior mundialmente. Você acredita que tenham perdido um pouco de tempo também com o hiato até o lançamento de “Dawn of a New Sun”?
Bruno: Com certeza, ficamos muito tempo sem lançar nada novo. Em 2004, lançamos o “Trova di Danú”. Porém, se bobear, dados os problemas que tivemos com a gravadora naquele ano, o disco foi lançado mesmo  em 2005. Depois disso, lançamos o DVD acústico em 2009, o que foi muito massa até por sermos, acredito, a primeira banda brasileira de Metal a lançar um DVD acústico oficial.

Sofremos muito com atrasos de selos àquela época, o que acabou nos desmotivando, a mim principalmente, tanto que me fez lançar um disco solo ainda em 2007. Somou-se a a isso problemas internos e pessoais, e a banda parou em 2010 quando eu saí no fim do ano. Voltamos pouco tempo depois, mas foi sim muito tempo perdido. Sobre conquistar público maior mundo afora, esperamos que sim. Ávidos e cheios de vontade nós estamos, nunca foi tão legal o clima na banda e isso nos motiva a seguir em frente . . . enquanto tiver gente respondendo a nossa música teremos estímulo pra continuar.

Entrevista: Carlos Garcia
Fotos: Arquivo da banda

Line-Up:
Bruno Maia - vocais, flauta, guitarra, bandolim
Giovani Gomes - baixo, vocais
Edgard Britto - teclados 


Discografia:

2001 - Tingaralatingadun
2002 - The Delirium has Just Began
2004 - Trova di Danú
2015 - Dawn of a New Sun
2019 - The Tribes of Witching Souls
EPs
1999 - Tuatha de Danann
2016 - Tuatha de Danann (Relançamento do EP com 6 faixas bônus regravadas)
DVDs
2009 – Acoustic Live
Demos
1995 - The Last Pendragon (Primeira demo, lançada quando a banda se chamava Pendragon)
1998 - Faeryage (Segunda demo, agora com o nome 'Tuatha de Danann')

O álbum "The Tribe of Witching Souls" pode ser adquirido nos links abaixo:
Heavy Metal Rock Label/Store
Site Oficial da Banda
CD Baby
Die Hard Store


       


         


       


     




(Interview) Tuatha de Danann: Brazilian Celtic Dwarves Are Coming Back!



The brazilian band Tuatha de Danann appeared in Varginha, Minas Gerais, in 1994, still under the name Pendragon, changing to the present name, because they looked for something that better fit to the inspirations of the group in Celtic music and cultures. Tuatha de Danann was the people of the goddess Danu, race of enchanted beings of mythical Ireland. The band was forging a very strong and original musical identity, mixing Heavy Metal with Celtic, folk and medieval nuances, as well as other ingredients. The truth is that in the Tuatha of Danann creative freedom is the watchword. (Leia a versão em português)

With six studio works released, not counting the re-recording of the first EP in 2016, Tuatha de Danann has always been among the most original and original bands in the Brazilian scene, including winning many fans and good results in several European countries. Presented at Wacken in 2005, during the release of "Trova di Danu" (2004), album released by a great label, and that raised the band to a higher level, including providing the recording of the acoustic DVD "Acoustic Live" (2009) But delays and lack of deadlines for the label, internal issues and other factors, led to the dissolution of the band in 2010.

But in 2013 the band returns willing to make up for lost time, and they launch in 2015 the praised "Dawn of a New Sun". Now in 2019 Tuatha of Danann presents their most diverse album, "The Tribes of Witching Souls", bringing the remarkable characteristics of its sonority, such as Celtic and medieval melodies, songs with festive, triping and exciting climates, but also with more serious and current themes, and even historical facts of the state of Minas Gerais.

We have talked with founder, vocalist and multi-instrumentalist Bruno Maia to know more about the new album, the partnership with Martin Walkyer (Ex-Skyclad), the band's firm stance against injustice, greed, racism, and fascism, toxic elements that has grown worryingly. Check out!


Road to Metal: To begin with, I'd like you to talk about the current phase of the band, since returning with "Dawn of a New Sun" after a hiatus, and now with this new work, "The Tribes of Witching Souls." I would like you to talk about what that hiatus and the changes in the line-up represented for the band.
Bruno Maia: There was a 3 year hiatus without a band. That was from December 2010 until mid 2013. We came back in 2013 for some sporadic shows and then we released "Dawn of a New Sun" in 2015. "Dawn" was a record that I enjoyed doing and releasing, because personally my last 2 releases until the "Dawn" had been very complex, very progressive, which were the disc of Braia (Bruno's solo album) and Kernunna (project with Tuatha's former members), and "Dawn" came more direct, without so much "triping sounds", as it needed. I love this record and the sound of it. After that, in 2016 we released a new version of our first album, from which the guitarist left in 2017, and in 2018, well at the beginning of the year, it was the turn of Rodrigo, the drummer; both left on their own and we never thought about stopping.


RtM: You followed then only with 3 official members.
Bruno: Today, of founding members, Giovani and I are in the line-up, Edgard has been with us officially for only 15 years and our relationship is very cool, positive and without cracks. We have all the atmosphere and friendship necessary to continue with the Tuatha for a long time still and for me, sincerely, the band lives a great moment full of lightness, will and positivity. Things do not happen by chance, it had to happen so the band was still here, and the fact that we launched a new album with so much relevance is now proof of that.


RtM; You've been saying that this new album would be the most diversified of the band. Something I noticed was a more "serious" atmosphere, let's say, with less fantastic and "festive" themes. What elements do you believe are the most different and amazing that the listener will find?
Bruno: The album is very diversified, you can say that the songs have nothing to do with each other, but they all carry Tuatha's elements. We have a very strong identity load that has been shaped over the years, a compositional brand that we possess that only the Tuatha has, or at most something of Braia or Kernunna. The most festive and high-spirited elements you will find only in the title track (maybe even too much, since this song is one of the most positive and up-to-date I've heard), while the others have diverse elements that come from varied sources of inspiration.


"We want to be relevant to ourselves and our music."
RtM: Tuatha is one of those bands that have their own sonority, something difficult, especially in current times, and also, I believe, provides a broad musical freedom, allowing for daring, and in this album this freedom was demonstrated even more, and the sensation of that the band can go even further. I'd like you to comment on that.
Bruno: How cool of you to catch that! It is gratifying that someone outside the creative core realizes this and points. But I believe that this is the reason and why we continue to make music: to be relevant to ourselves and our music to be able to challenge and still enchant us. It would not make sense to make the same sound forever. And the cool thing is that we have achieved this without abandoning our own characteristic elements. I believe we are clothed of ourselves and not afraid to move on.


RtM: Yes, exactly, if the musician does not seek to challenge himself, dare, I believe that both he and the public will lose interest! Well, you've already quoted the title track, which was also the first single, and it brought the elements already familiar to the band's fans, a typical Tuatha song. Have you already chosen the main song just for this? I would also like you to talk a little more about it.
Bruno: Exactly, the "Tribes ..." was first released until the guys who accompanied us realized that the band was still strong. This sound is a 100% Tuatha Danann train. . . it has the typical lead of our disco openings, the mood up, cool guitar muffles, a Beatles melody and Celtic themes running through the song. Not to mention the participation of the elves and everything.


RtM: Already the second single, "Your Wall Shall Fall", brings different elements, treating a very current and strong theme, leaving the most fanciful themes. And there is a very special guest, Martin Walkyier, former Skyclad, and great influence for Tuatha. I would like you to say a little more about this song and, of course, about Martin's participation.
Bruno: Man, this song we had done in 2017, the last time he was here in Brazil, but he was never satisfied with the lyrics, always changing it, which was also one of the reasons for this release delay. . . BUT, it's a very strong song, very heavy and direct compared to other Tuatha de Danann songs, and Martin's lyrics are as fabulous as ever. We became very close friends over the years and the participation was very natural. Nowadays it sounds natural, but for 15 years this (being Martin's partner) would be a dream. A dream come true!


RtM: The video for this song was also very cool, including a campaign of the band for fans, admirers and friends to send videos, some of which would be used in the editing of the clip. Tell us more about this idea and your assessment of the end result, and whether the reactions, the video and the song, were as expected.
Bruno: That thing was really cool! It was Martin's own idea, because people from anywhere in the world could buy this idea. The lyrics, while alluding to the "notorious" Trump Wall, question greed, market tyranny, authoritarian, belligerent governments and criticizes everything that divides and oppresses the human being. It is a theme of anti tyranny and fascism. People from the USA, Ireland, Russia, France, Mexico and several other places sent videos to the clip.


RtM: Taking advantage of the theme, congratulations to you and the band for touching on more delicate issues, and for important positioning in a complicated moment, both of humanity in general and in our country. And I would like to know your opinion about the role of musicians, even if they are criticized by some people, in showing a clear and firm position against injustices and social inequalities.
Bruno: The whole world is experiencing a kind of right turn and violence (whether at the discursive or physical level). It's not just here in Brazil, unfortunately. We live in a time that, in theory, is the one that most has access to information, content, entire works, scientific works of universities around the world and yet, sinisterly, there are many people who report on the phone through videos or any memes produced by who knows who, who knows for what reasons and who knows who financed by whom.

Here in Brazil the thing got so old that there are many followers of astrologers, of frustrated believing musicians, there are people who think that torture is something stupid, which is a little thing. Lots of people relativizing inhumanity, cruelty and tenderness. As for the role of the musician, I do not think anyone is obliged to make activist or political music, but I think from a sick contradiction such a conservative headbanger.


RtM: Continuing with the album's themes, "Conjura" is one of my favorites, and it brings a historical theme, about "Inconfidência Mineira" (conspiracy of a separatist nature that occurred in the then captaincy of Minas Gerais, in 1789). I would like you to comment more about this song and the idea of ​​talking about it.
Bruno: Well, it may sound like a great and fabulous chimera, a Brazilian band that sings in English, has a Celtic name, influences of traditional Irish music dealing with such a Brazilian subject in a song (laughs!). But that's it! I am a scholar of the history of Minas Gerais, its colonial period, its settlement and formation on various aspects. We are from Minas Gerais and we have a very peculiar history here in the state thanks to the findings of gold and diamonds. The so-called Gold Fever made Minas carry out the greatest migration of people from Europe here, everyone behind the rapid enrichment of gold and precious stones.

The Europeans and the locals faced sierra highlands, unknown beasts, ferocious Indians and many other adversities to find their treasures in the bands of here; were fearless and greedy adventurers, often escaped or exiled from Portugal. An absurd number of slaves brought from Africa and all the horrors of slavery, the high religiosity of the Jesuits and the brotherhoods, and the despotismos of self proclaimed owners of the hinterland were added to this idea of ​​rapid wealth. Ready! We have all the ingredients for the bloodiest and oddest story possible. Minas Gerais lived a period that would make American westerners look like Pooh Bear stories. (Laughs! Very good! hahaha)


RtM: A Very Rich Theme of our history!
Bruno: I still want one day to make a concept album about this epic, let's see! About the "Conjura", we wanted to deal with this rebel movement that we lived in the late eighteenth century, which became known as the Inconfidencia Mineira and which had as martyr the lieutenant Silva Xavier, Tiradentes, who was the only one executed and had its members spread along the New Road of the Royal Road. This mining conspiracy is still much studied and has been unveiled year by year by Historiography. 

It was not just a question of a "Revolution of the Poets"; was a rather heterogeneous and important movement that brought together learned intellectuals (some poets of renown and talent), farmers, military men, powerful men and some wretches who came to betray the movement, as today's celebrated "Award Winning", which wanted a anti-colonialist and republican revolution, ridding the colony of the metropolis. Unfortunately this theme sounds to us today, as we see the country revolting to the interests of the EMPIRE and delivering its wealth, energy and much of the strategic sector to international capital and even to imperial governments.


RtM: "Turn" was one of those that I found more news about their previous compositions, and it's a great song, bringing a softer, melodic atmosphere, Folk/Pop elements, which I also noticed in the Auri project by Tuomas Holopainen and Troy Donockley. The lyrics are also very beautiful. "This life is a black and white canvas, and it's up to you to fill it with colors you like ...", and the chorus talks about "Building new bridges - off the walls". Tell us a little more about this song and about the lyrics.
Bruno: I do not know the sound you mentioned, even though you know the guys. "Turn" is a distinct piece within our songbook, it has a very exciting groove, some elements maybe "pop" like you said, but it has its weight as well. The lyrics are more about the omission that we often let ourselves be mastered, you know? When we do not take sides or when we let the bad side win and we prefer not to get involved. Often evil happens because the good has not manifested itself, and other times, because we feel we do not need to be involved in an isolated fact, it can grow in scale and become a situation. I think the lyrics are about it, having to think more, not being thought of by others and not being omission, conformed and permissive.


RtM: "Warrior Queen" sounds epic and dramatic, with the flute and mandolin melodies featured, transported me to a scene from the Vikings series! Ha ha! Tell us a little more about this track and the inspirations to compose it.
Bruno: That was the last song to come on the album. A friend wanted a trail for an MMA fighter and wanted something very warlike, medieval, Celtic, Viking, those things. I played with him showing a clutter of cliches and he adored ... .there I convinced myself that it could be nice if it worked better this inspiration that came to me kind of joking ... .deed what he gave. The lyrics are inspired by great warriors and warrior Celtic queens, such as the Boudicca. It is a lyric that praises the bravery of many women, their dignity and protagonism.


RtM: "Outcry", originally recorded in "Dawn of a New Sun", won a more folk/medieval version, and from what I could hear, I believe it is, if not 100%, almost totally acoustic. And had remarkable melodies and chorus!
Bruno: We love doing this version of  "Outcry", it was really folk! The lyrics, unfortunately, are a portrait of Brazil from the time of discovery until today with this colonial situation and delivery to the foreign capital that began with Pau Brazil, Sugar Cane, Gold/Diamond, Coffee until arriving today with the foreign capital behind the financial movements and our privatized treasures, we have seen Mariana, Brumadinho and must come more, because the mentality of capitalism is this, the prey: it takes the profit and leaves the misery.


RtM: Another that appears in new version is "Tan Pinga Ra Tan" (recorded on the 2001 album "Tingaralatingadun"), with orchestral arrangements got an incredible atmosphere. Did you intend to give this important song a new life?
Bruno: "Tan Pinga Ra Tan" is one of our most chanted and beloved songs. It has a beautiful melody that is strong and seems to be the trail of a dream. We wanted to approach it in a different way and it was really cool.


RtM: And how have you felt the first public reactions to the new songs in those first gigs of the tour?
Bruno: Dude, the people who bought the record and talked to us have really liked it. So far the critics have been very positive! And better, they point out these new elements that we have put on the new songs as highlights... It's great!!!

 "As long as there are people responding to our music we will have the incentive to continue."
RtM: Finally, tell us what are the expectations for this year and what you want for the band, which has the qualities to reach a wider audience worldwide. Do you believe that you lost a little time with the hiatus until the release of "Dawn of a New Sun"?
Bruno: Sure enough, we stayed for a long time without pitching anything new. In 2004, we launched the "Trova di Danú". However, silly, given the problems we had with the label that year, the album was released even in 2005. After that, we released the acoustic DVD in 2009, which was very massive even for we are, I believe, the first Brazilian Metal band to release an official acoustic DVD.

We suffered a lot with delays of labels at that time, which ended up discouraging me, especially me, so much that it made me release a solo album in 2007. There was also some internal and personal problems, and the band stopped in 2010 when I left at the end of the year. We came back a short time later, but it was a lot of time lost. About winning more audiences around the world, we hope so. Greedy and full of will we are, never been so cool the mood in the band and this motivates us to move on. . . As long as there are people responding to our music we will have the incentive to continue.

Interview by: Carlos Garcia

Tuatha de Danann are:
Bruno Maia - vocals, flute, guitar, mandolin, Bouzouki
Giovani Gomes - bass, vocals
Edgard Britto - keyboards


Discography
2001 - Tingaralatingadun
2002 - The Delirium has Just Began
2004 - Trova di Danú
2015 - Dawn of a New Sun
2019 - The Tribes of Witching Souls
EPs
1999 - Tuatha de Danann
2016 - Tuatha de Danann (Re-release of the first EP with 6 bonus tracks re-recorded)
DVDs
2009 – Acoustic Live
Demos
1995 - The Last Pendragon (under the name Pendragon)
1998 - Faeryage

Order at:
Heavy Metal Rock Label/Store
Official Tuatha's Web site
CD Baby
Die Hard Store




       


       


       


     

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Tuatha de Danann: Ousando e Surpreendendo no Novo Trabalho



Os mineiros do Tuatha De Danann estão na estrada desde 1998, e são aquele tipo de banda do seleto grupo o qual moldou uma identidade sonora própria marcante. Neste esperado novo trabalho, sucessor de "Dawn of a New Sun" (2015) - o qual marcou o retorno da banda após terem encerrado as atividade em 2010 - tendo um hiato até 2013, Bruno Maia já vinha anunciando que seria o álbum mais diversificado do Tuatha de Danann. 

A faixa título, "The Tribes of Witching Souls", foi lançada como single ano passado, apresentando todos aqueles elementos já familiares aos fãs da banda, como as melodias celtas e medievais, o clima empolgante e festivo, mitologia e criaturas fantásticas. O refrão e melodias são irresistíveis, impossível não grudar na mente. Duendes, fadas, Finganforn e outras criaturinhas cantam junto à você e a banda no refrão!

A partir do segundo single, "Your Wall Shall Fall" (composta em parceria com Martin Walkyer, Ex-Skyclad), os novos elementos já deram as caras, em uma canção direta, pesada e deixando de lado as temáticas mitológicas para abordar temas atuais como a ganância, tirania e fascismo pelo mundo. Talvez seja a presença e co-autoria de Martin, mas a canção me lembrou bastante a fase clássica do Skyclad.


Os elementos folk, celta e medievais, mixados ao Heavy Metal e nuances progressivas e viajantes, continuam sendo marcas fortes da personalidade musical da banda, mas eles fazem em "The Tribes..." o que todo artista deveria, ou seja, ousar e se desafiar, trazendo algo novo aos seus trabalhos, sem perder identidade, mantendo o interesse do ouvinte em sua música, e claro, a motivação própria do artista em se superar e criar. Esta é outra marca forte da banda, a liberdade criativa.

Bom, já comentei sobre a faixa título, e que abre o álbum, e "Your Wall Shall Fall", a quarta faixa,  prossigo então com as demais faixas, e temos "Turn", uma faixa também bem diferente, segunda canção do álbum, e os novos elementos soam excelentes, temos aqui uma sonoridade bem interessante, destacando o whistle e riffs de guitarra com groove. Uma peça de Folk/Pop, melodiosa e com uma letra muito marcante, mandando o recado de que você não deve se omitir, "Turn this damned world upside down... build new bridges, off the walls".

"Warrior Queen" é uma tema com clima épico, remetendo a trilhas estilo "Brave Heart", os vocais femininos e os arranjos de bouzouki se destacam; "Conjura" inicia com as guitarras e flautas duelando, nuances progressivas e arranjos de banjo e violino contribuem para os climas da canção, que tem como tema a inconfidência mineira.


A seguir, duas canções já conhecidas, mas com novas roupagens. "Outcry", originalmente gravada em "Dawn of a New Sun", aparece aqui em uma versão folk e acústica, com vários arranjos de cordas, como banjo e viola. Ficou excelente e contagiante. "Tan Pinga Ra Tan", canção título do álbum "Tingaralatingadun" de 2001, e que possui uma das mais marcantes e bonitas melodias da banda, também recebeu uma cara nova, com uma atmosfera suave, arranjos orquestrais e belos vocais femininos, ficando ainda mais "mágica". Há ainda duas bônus, "Rhymes Against Humanity (versão demo 2004)" e "The Tribes of Witching Souls Versão demo instrumental".

Ficou aquele sabor de "quero mais", torcemos então que seja possível eles nos trazerem novos trabalhos em espaços mais curtos.

Os elementos tradicionais, as marcas fortes do Tuatha de Danann estão presentes, e junto aos arranjos folk e celta, temos essas nuances inesperadas, temáticas históricas, atuais e "reais" ao lado dos tradicionais temas fantasiosos e climas festivos. 

Mas CUIDADO! Alto risco de viciar no álbum, e ainda os vizinhos acharem que você está louco ao verem você saltitando e cantarolando os refrãos e melodias! Uma das melhores bandas do Brasil quer recuperar o terreno perdido e levar sua música à todos os confins deste planeta.

Texto: Carlos Garcia

Ficha Técnica:
Banda: Tuatha de Danann
Álbum: "The Tribes of Witching Souls" (2019)
Estilo: Folk/Celtic Metal
País: Brasil

Line-Up
Bruno Maia: Vocais, guitarra, viola, banjo, flauta, Bouzouki
Giovani Gomes: Baixo e vozes
Edgard Britto: Teclados



     


     

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Ministério da Discórdia: Inspirações no Sabbath e Letras em Português


Formado em São Paulo em 2007 por Maurício Sabbag e Inacio Nehme, e atualmente completa o trio Carlos Botelho, o Ministério da Discórdia é uma banda que traz como característica as letras em português, e nelas temáticas realistas, ideológicas, sombrias e espirituais. O grupo explora muito bem as letras na língua pátria, facilitando passar o recado nas temáticas dirigidas à nossa realidade social. E é mais uma que mostra que não é regra obrigatória cantar em inglês para fazer Heavy Metal.

A sonoridade tem base na mistura de influências dos integrantes, com riffs pesados, refrãos marcantes e letras bem elaboradas. A sonoridade tem muito da inspiração do Black Sabbath (inclusive já recebeu elogios sendo chamado de Sabbath brasileiro), e junto à sonoridade por vezes grave e sombria, há muita melodia e arranjos bem elaborados, adicionando flautas e violões acústicos.


Após alguns anos dividindo o repertório próprio com covers “lado B” do Black Sabbath, o Ministério da Discórdia gravou e lançou em 2013 seu primeiro e autointitulado álbum. A partir daí a banda começa a fazer os seus shows apenas com músicas autorais.

Em 2015, gravou seu segundo trabalho de estúdio, “Abismo”, influenciado pelas repercussões da crise nacional, adicionando mais potência e peso na mensagem. “Abismo” foi lançando por distribuição digital em 2016 e também foi disponibilizado um clipe para a faixa título.

No ano passado o grupo, durante as conturbadas eleições no Brasil, lançou “AbismoPortal”, que reúne o EP “Abismo”, que só havia sido disponibilizado em formato digital, e o EP “Portal”, com novas músicas, formando assim um álbum completo e agora em formato físico, lançado em parceria com a gravadora paulista Shinigami Records.


Em 11 faixas bem elaboradas e com letras inteligentes, destacam-se canções como "Portal",  com seus riffs marcantes e andamento cativante; o andamento mais acelerado da já obrigatória "Mensageiros da Desgraça" empolga de cara. A parte mais cadenciada lá pela metade é sensacional e arrepiante, e logo a seguir novamente ganha contornos mais acelerados, terminando de forma apoteótica.

Recomendo ainda a versão de "Fuga nº II", dos Mutantes, que traz arranjos orquestrais (feitos por Renato, do Armahda), flautas e violões acústicos. Transformou-se numa música da banda, "balada" pesada e sombria; e ainda a épica e sinistra "Supremo Concílio", que inicia com uma intro perturbadora, e logo a aura do Sabbath pode ser sentida, em andamentos mais lentos e com toneladas de peso, e a cadencia e peso da assustadora e realística "Perdidos", onde se destacam também os arranjos quase lisérgicos de teclados, e o sempre incrível som do Hammond.

A banda explica a inspiração para os títulos: “Nesses últimos anos que se passaram, muitas pessoas perderam seu emprego, sua saúde, suas expectativas. Caímos em um ABISMO. Alguns chegaram até o fundo desse abismo. Como músicos que querem realmente passar uma mensagem para reflexão, usamos essa alegoria do ‘abismo’ como algo que precisa ser superado. Queremos espalhar a semente, uma mensagem positiva, mesmo que tenhamos que ser, inicialmente, os mensageiros da desgraça. ”

“Nunca antes houve tanta mentira, incitação ao ódio e intolerância… O que nos contamina não é o que ouvimos, mas sim o que sai de nossa boca. Imagine então o que hipócritas ousam registrar, nessa era da superinformação! Entramos agora em um PORTAL, para uma nova dimensão, que será herdada pelos nossos descendentes. ”


São 11 faixas de som pesado, com arranjos e refrãos cativantes, e claro, letras inteligentes, que em diversos momentos conecta a ficção com a dura realidade atual. O Ministério da Discórdia (nome mais atual do que nunca) nos brindou com um dos melhores lançamentos do Metal nacional em 2018, e com certeza um dos melhores cantados em português nos últimos anos.

Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação
Assessoria: Metal Media
Selo: Shinigami Records

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Tracklist:
1. Portal
2. Mensageiros da Desgraça
3. Espelho
4. Motim Elétrico
5. Fuga nº II (Original por Os Mutantes)
6. O que teria acontecido à Baby Jane?  (Original po Troll Porrada Sonora)
7. Abrace a Discórdia
8. Abismo
9. Supremo concílio
10. Orquídea Negra

11. Perdidos