quarta-feira, 29 de abril de 2020

Kamala: “O mundo já tem muita coisa “pesada/negativa”, mas acho extremamente importante, passar algo positivo nas letras”


Entrevista por: Renato Sanson


Músico entrevistado: Raphael Olmos (guitarra/vocal) – Banda: Kamala de Campinas/SP.

“Eyes of Creation” (18) é o mais recente lançamento do Kamala onde apresenta sua nova formação, mostrando uma sonoridade ainda mais agressiva e instigante. Como está sendo este novo momento?

Está sendo espetacular, a Isabela Moraes (bateria) trouxe muito groove para a banda, e ao vivo, a energia dos 3 nos palcos está sendo super elogiada pelos fãs e pelos jornalistas.


Além de “Eyes of Creation” vocês lançaram em 2019 o seu primeiro disco ao vivo o “Live in France” que é exclusivamente para as plataformas streamings. Porque a França? Como foi esta turnê?

 Esse álbum foi gravado na nossa 6º tour europeia, e desde a 2º, a França foi um país que nos “abraçou” e começamos uma linda relação. Sem dúvida é o país europeu que mais tocamos, sendo que uma das turnês, foi feita inteiramente na França.

Esse álbum não estava nos nossos planos, e assim como para os fãs, foi uma ótima surpresa para a banda também. Foi gravado no último show dessa turnê, e única coisa que sabíamos, era que a casa de show transmitia a Live através da sua página no Facebook. Por ser o último show da tour, estávamos uma máquina, e assim que acabou, antes de ir embora, o técnico de som falou “o show inteiro foi gravado multi pista, vocês gostariam de levar as tracks?”. E quando escutamos, ficamos impressionados com a qualidade. Mostramos para o Ricardo Biancarelli (produtor do nosso próximo álbum) e ele pirou também, e fez a mixagem e masterização. Voltamos no final de outubro e em dezembro decidimos lançar exclusivamente em todas as plataformas de streaming, para não perder o “time”, já que na minha opinião foi a melhor turnê que fizemos.

O álbum foi escolhido por muitos jornalistas como melhor álbum ao vivo nacional, então, não poderíamos estar mais felizes com esse lançamento! E sem dúvida, um álbum ao vivo, com muita energia e orgânico (pois nem planejávamos e sabíamos que estava sendo gravado dessa forma), simboliza muito o bom momento que estamos vivendo.


Essa jogada de ter certos materiais lançados apenas nas plataformas digitais é uma grande sacada e vejo no marketing do Kamala essa desenvoltura com o mundo digital, transformando essa nova era em um aliado e não em um inimigo. Esse pensamento mais universal de divulgação trouxe quais benefícios?

Eu sou colecionador de CD’s, mas mesmo eu, mudei minha forma de consumo. Temos que enxergar o mercado e sempre buscar adaptar e evoluir.

Além do LIVE IN FRANCE, temos outro álbum lançado exclusivo digital, que é o EP “Consequences of Our Past - VOL 1”, que é dedicado a regravações de músicas antigas com essa nova cara da banda. Os três primeiros álbuns do Kamala tinham 2 guitarristas e afinações mais baixas, e quando viramos um trio à partir do MANTRA (2015), novos arranjos nas músicas antigas foram feitas e muito bem aceitas ao vivo.

O streaming é mais do que realidade e a principal forma de consumo de música hoje, quem for contra esse formato, está dando um “tiro no pé”.

Referente as ideias de divulgação no meio digital, quem cuida desta parte criativa?

Nós mesmos... ainda somos uma banda 100% independente, então tudo do KAMALA é feito e desenvolvido pela banda.


Mesmo tendo o mundo digital ao seu lado vocês também prezam pelo lançamento físico de seus álbuns. Qual a importância do material lançado fisicamente para a banda?

Nossos álbuns de inéditas continuam e sempre vão continuar tendo em formato físico, pois o álbum além das músicas, tem todo o trabalho gráfico junto, que simboliza cada nova obra, conceito das letras... cada novo álbum é um novo capítulo da banda, e merece ter todo esse cuidado áudio/visual.

E também temos boas vendas de CD’s nos shows e encomendas, pois querem autografados, e galera sabe o quanto isso ajuda a manter viva uma banda independente!

Algo que me chama muito a atenção no som do Kamala é a parte lírica, onde os temas se conectam desde o primeiro álbum, baseado em Chakras e energia. Como surgiu esta ideia?

O mundo já tem muita coisa “pesada/negativa”, somos uma banda de metal, mas acho extremamente importante, passar algo positivo nas letras, pois música é uma das principais formas de arte para se conectar e se purificar.

Já tivemos fãs que falam o quanto nossas letras ajudaram em momentos difíceis, então antes de escrever cada letra, sabemos que a música não será só nossa, e que temos responsabilidade com cada palavra colocada. Bandas como o Gojira, seguem por essa linha... e também não nos sentimos confortáveis escrevendo sobre algo que não vivemos e acreditamos.

Qual a sua relação com este mundo das energias?

Acredito que tudo que fazemos reflete aqui mesmo, desde os pequenos atos. Se você fizer o bem, ele volta, o mesmo se você fizer o mal... cedo ou tarde, tudo retorna.


Musicalmente fica quase impossível encontrar um estilo para o Kamala, já que a diversificação sonora é latente, mas sem perder um pingo de agressividade, muito pelo contrário, crescendo ainda mais a cada lançamento.

Eu falo que somos uma banda de Metal (hehe), claro que o thrash é uma das nossas principais influências, mas não podemos nos limitar. A cada novo álbum a banda está crescendo mais mesmo, fruto de muito trabalho e foco... acredito também que isso reflete o amadurecimento nas composições e também como músicos ao vivo, que é a real prova de uma banda.

Estamos passando por uma transformação mundial com está pandemia. Como vocês estão lidando com este novo momento?

Um momento muito estranho... acredito que muito disso está acontecendo por alguma coisa que só vamos entender lá na frente. A humanidade historicamente tem pandemias, mas acho que especificamente essa, está fazendo a gente refletir mais ainda. Refletir o quanto estamos egoístas, o quanto deixamos de lado coisas simples e importantes. E é um período de auto avaliação e também de reinvenção. Pessoalmente, estou buscando me manter positivo e produtivo, e trazendo novidades na parte de vídeo e interação nas mídias sociais.


Para 2020, quais são os planos?

 Eram muitos hehehe mas por conta da pandemia, estamos com uma grande “nuvem” e não sabemos o que será desse ano.

O novo álbum está pronto, tínhamos iniciado o processo de procura de gravadoras internacionais e temos uma próxima tour europeia para o segundo semestre, mas infelizmente não sabemos o que vai acontecer, todo dia o mundo muda, está até difícil ver o que será duas semanas para frente, imagina então meses. Mas tudo isso uma hora vai passar, então temos que nos cuidar e cuidar de quem está em volta de nós, para sair o melhor possível dessa.

Uma das formas que estamos fazendo para suprir a falta de shows, é o lançamento de vários vídeos semanais no nosso canal do YouTube, algo que ajuda o pessoal nesse período de isolamento também. E claro, quem puder escutar nossas músicas nas plataformas de streaming, ajuda muito a banda na parte de gerar receita.

Se te perguntassem hoje, “me indique um disco da sua banda para ouvir e porque” qual você escolheria?

O próximo (risos), pois é um álbum que estamos muito confiantes. Mas dos lançados, eu acho que o LIVE IN FRANCE reflete muito o que a banda é... a energia ao vivo, e tem músicas de quase todos os álbuns, então acho que é uma boa indicação!


Links:


Formação:
Raphael Olmos - guitar/vocals
Allan Malavasi - bass/vocals
Isabela Moraes - drums


sábado, 25 de abril de 2020

Blaze Bayley: "Live Czech" Enaltecendo Sua Fase Independente



Um ano após “Live in France” o icônico vocalista Blaze Bayley (ex-Iron Maiden) lança mais um álbum ao vivo, o 4º de sua carreira solo, “Live in Czech”, que em comparação ao antecessor não traz grandes mudanças, mas brinda esta nova fase do músico, a qual enaltece em grande escala os seus três últimos lançamentos, a trilogia “Infinite Entanglement”.   (English Version)

Mesmo sendo uma história futurista, Blaze sempre deixou claro a intenção deste projeto, mostrando a força, redenção e superação em suas composições, sendo praticamente a trilha sonora de sua vida.

Voltando ao disco em si, a produção é crua, mas te transporta para a plateia e sentimos todo o carisma e felicidade de Blaze ao estar ali, gravando mais um álbum ao vivo e podendo levar aos seus fãs todo o poder emocional que a trilogia criada pelo mesmo apresenta, e seu desempenho vocal é fantástico!


Você pode questionar a sua passagem pela Donzela nos anos 90, porém a qualidade de seu trabalho solo é acima da média e casa muito bem com a sua potência vocal, que apresenta muita dramaticidade e energia.

Como mencionado anteriormente o live é voltado aos três últimos lançamentos de sua carreira, e ao vivo as músicas ganharam um pouco mais de força do que no estúdio em si, já que em termos de composições a segunda parte da trilogia é a mais homogênea, lembrando os grandes momentos de seu começo de carreira.

Mas aqui elas funcionam como um todo e empolgam, com Blaze sempre ressaltando a importância e fazendo diversos agradecimentos em um intervalo e outro, contando histórias e interagindo bastante com os presentes, sempre contextualizando cada música para fazer o fã entrar na história e entender toda aquela gama sentimental.


A segunda parte da bolacha é mais voltada ao seu tempo de Iron Maiden e seus clássicos do início de sua trajetória solo, e aí temos um grande impasse, nos últimos anos a banda de Blaze adotou apenas uma guitarra, o que deixa as músicas mais gordurosas e melodiosas um tanto vazias, dando aquele sentimento de que se tivessem uma segunda guitarra, a banda teria um desempenho mais poderoso ao vivo.

Mais um álbum ao vivo para a conta, marcando sua trajetória e este novo momento em sua vida musical, que segue totalmente independente de gravadoras e patrocínios. 

Resenha: Renato Sanson
Revisão e Edição: Carlos Garcia

Formação:
Blaze Bayley - Lead Vocals
Karl Schramm - Bass Guitar, Backing Vocals
Martin McNee - Drums
Chris Appleton - Lead Guitar, Backing Vocals

Tracklist:
Disc One:
1 The Dark Side Of Black
2 A Thousand Years
3 Dark Energy 256
4 The World Is Turning The Wrong Way
5 Human
6 Together We Can Move The Sun
7 Solar Wind
8 Virus
9 Life Goes On
10 Fight Back
11 Silicon Messiah
12 The Day I Fell To Earth

Disc Two:
1 Eagle Spirit
2 Calling You Home
3 Man On The Edge
4 Stare At The Sun
5 Futureal
6 The Clansman

Links:


       


       



Blaze Bayley: "Live Czech" Praising His Solo Career



One year after “Live in France” the iconic vocalist Blaze Bayley (ex-Iron Maiden) releases another live album, the 4th of his solo career, “Live in Czech”, which in comparison to the predecessor does not bring big changes, but offers this new phase of the musician, which praises on a large scale his last three releases, the trilogy “Infinite Entanglement”.   (Versão em Português)

Despite being a futuristic story, Blaze always made clear the intention of this project, showing the strength, redemption and resilience in his compositions, being practically the soundtrack of his life.

Returning to the album itself, the production is crude, but it transports you to the audience and we feel all of Blaze's charisma and happiness when being there, recording another live album and being able to bring to your fans all the emotional power that the trilogy bring to us, and his vocal performance is fantastic!


May be you can question his time on Iron Maiden in the 90s, but the quality of his solo work is above average and matches very well with his vocals, which presents a lot of drama and energy.

As previously mentioned, "Live In Czech" is geared to the last three releases of his career, and live, the songs have gained a little more strength than the studio versions. In terms of compositions, the second part of the trilogy is the most homogeneous, remembering the great moments of his early career.

But here the songs work as a whole and are exciting, with Blaze always talking about the songs and doing several thanks at one interval and another, telling stories and interacting a lot with the audience, always contextualizing each song to make the fan enter the story and understand all that sentimental range.


The second part of the album is more focused on his Iron Maiden time and some classics from the beginning of his solo trajectory. And then we have a great impasse, in recent years the Blaze band has adopted only one guitar, which makes the songs more greasy and rather empty melodious ones, giving that feeling that if they had a second guitar, the band would have a more powerful performance live.

Another live album for the account, marking his trajectory and this new moment in his musical life, which remains totally independent of record labels and sponsorships.

Review: Renato Sanson
English Version and Editing: Carlos Garcia

Line-Up
Blaze Bayley - Lead Vocals
Karl Schramm - Bass Guitar, Backing Vocals
Martin McNee - Drums
Chris Appleton - Lead Guitar, Backing Vocals

Tracklist:
Disc One:
1 The Dark Side Of Black
2 A Thousand Years
3 Dark Energy 256
4 The World Is Turning The Wrong Way
5 Human
6 Together We Can Move The Sun
7 Solar Wind
8 Virus
9 Life Goes On
10 Fight Back
11 Silicon Messiah
12 The Day I Fell To Earth

Disc Two:
1 Eagle Spirit
2 Calling You Home
3 Man On The Edge
4 Stare At The Sun
5 Futureal
6 The Clansman

Links:

       

       


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Dust Commando: “A banda está mais pesada do que jamais esteve, disto eu tenho certeza”


Entrevista por: Renato Sanson


Músico entrevistado: Thiago Rabuske (vocalista/guitarrista) – Banda: Dust Commando de Taquari/RS.

Em 2015 a Dust Commando lançou o seu Debut – “Chaos Lives In Fur” – onde colocaram a banda em ótima relevância no cenário underground. Três anos depois tivemos o tão aguardado EP “Between Chaos And Grace”, que musicalmente era mais que um passo além, mas a consolidação de sua musicalidade e qualidade. Porém, as coisas não andaram tão bem assim, poderia nos falar a respeito desta pausa onde a DC estava em crescimento constante?

Bom, a Dust Commando teve diferentes problemas com a formação, basicamente. Diferenças entre estilos, objetivos, projetos, tudo pesou para pausa que fizemos acontecesse. Além disto, um forte desânimo com produtores que nem os custos de viagem da banda queriam pagar, muitos parceiros que muitas vezes não retribuíram o que fizemos por eles, acabaram por desgastar nossa capacidade de permanecer na luta. Apesar disto, lançamos em 2017/18 um álbum demo, chamado "Grace through disrupt", que está anos-luz à frente dos dois primeiros trabalhos em matéria de composição, e que também teve lançado junto um minidocumentário sobre o processo de composição do mesmo. Mas o maior fator para a pausa foi o financeiro: após eu me tornar pai, já não podia mais arcar com os enormes prejuízos que de regra tínhamos.

As mudanças de formação também afetaram o grupo neste meio tempo. Como foi lidar com essas inconstâncias?

Foi uma M*** (risos). Mas a formação atual eu acredito ser muito consistente, coesa, o que me faz feliz por não depender de integrantes que não têm o mesmo tesão pela música que nós temos.


Um novo material está para chegar. O que podemos esperar?

Peso como nunca fizemos, mais melodia do que já fizemos, letras cada vez mais críticas e posicionadas, camadas e camadas de riffs, vocais mais agressivos e por vezes mais melódicos do que antes, além de um aprofundamento no que diz respeito a temas escolhidos.

Uma nova formação chega, e seria impossível não mencionar a saída de Felipe da bateria (considerado por muitos um dos melhores bateristas do RS) que agora é guitarrista, e a entrada do experiente e não menos talentoso Fabio Longaray  – ex - Balde de Sangue – nas baquetas. Como está sendo este novo momento?

A banda está mais pesada do que jamais esteve, disto eu tenho certeza. O Felipe é também um exímio guitarrista, tendo acrescentado uma complexidade nas composições e na execução que ajudou a elevar nossa música a outro patamar.


A Dust Commando vinha em uma crescente e tanto, ganhando seu espaço dentro e fora do Rio Grande do Sul. Como foi parar as atividades em um momento tão especial para a banda em si?

Muito difícil, muito pesado. É o sonho da minha vida, esta banda. Mas chegou um momento em que precisávamos parar - e foi algo positivo, pois estamos voltando muito mais fortes em todos os sentidos.

Musicalmente falando, o que teremos daqui para frente?

Mais abertura a estilos diferentes, mas também mais foco no peso. Além disso, como falei antes, mais posicionamento, ou seja, letras com teor crítico mais aguçado e sem medo de tocar o dedo na ferida.


Ter um estilo definido nunca foi a praia de vocês, sempre em busca de uma sonoridade própria e livre de rótulos. As novas composições caminham em qual direção?

Estamos cada vez mais pesados, em direção ao que o metal mais atual anda nos trazendo. Posso dizer que, além das influências de sempre (Sepultura, Pantera, Black Sabbath), agora pode-se ouvir coisas diferentes nas referências, como Gojira, Jinjer, Meshuggah, mas com uma pegada diferente em cada composição, como gostamos de fazer.

OUÇA O DEBUT CLICANDO AQUI
OUÇA AQUI

Links:
https://www.youtube.com/channel/UCZgqs_oIWdHRJvJFvaeg-0A/videos


Formação:
Thiago (vocal/guitarra)
Felipe (guitarra)
Gabriel (baixo)
Fábio (bateria) 

domingo, 19 de abril de 2020

Vakan: "Achamos que não faria sentido utilizar o folclore de outras regiões por não corresponder à nossa realidade"


Entrevista por: Renato Sanson

Entrevistados: Matheus Oliveira (vocal) e Natanael Couto (baixo)  banda Vakan de Santa Maria/RS.


Em 2018 foi lançado o tão aguardado Debut do Vakan – “Vagabond” – conte-nos um pouco sobre a história por trás desse álbum.

Matheus Oliveira – Pouco tempo depois de a gente lançar o Freeze!, nosso EP e primeiro registro, em 2012, nós já começamos a compor músicas para aquele que seria o nosso álbum de estreia. Só que muita coisa aconteceu e vários fatores acabaram atrasando esse projeto, desde problemas com a produção até mudanças na formação, faculdade, etc. Até que a gente compilou as músicas, fez os ensaios e foi pro estúdio. O álbum ainda foi lançado um ano depois de tudo gravado, fomos estudando um pouco de marketing musical por conta disso. Álbum longo hoje é matador de carreira de banda underground, mas foi divertido, hahaha.

Além da musicalidade que transita entre o Power Metal e o Tradicional, também temos a inclusão da música regionalista gaúcha. Como surgiu esta ideia?

Natanael Couto – A música regional está ligada ao nosso dia-a-dia. Nossos pais, familiares, amigos e até mesmo nós mesmos ouvimos em certo nível, então foi natural. Achamos que não faria sentido utilizar o folclore de outras regiões do Brasil ou de outro país por não corresponder à nossa realidade.


Recentemente vocês abriram o show de retorno aos palcos da banda Hibria no histórico Bar Opinião em Porto Alegre. Como foi ter tido essa grande oportunidade?

Natanael – Foi uma grande oportunidade que tivemos, pois era o retorno de uma das maiores bandas de heavy metal do país e de renome internacional. Poder fazer parte desta história é algo muito especial, e também muito desafiador.

Matheus – Sou suspeito pra falar, como fã do Hibria desde os tempos do Defying the Rules. Ser escolhido pra abrir o show da volta de uma banda que você admira é uma tremenda honra. Fora o fato de o público ter correspondido bem demais à nossa apresentação, às nossas músicas. É um momento que vai ficar guardado na memória.

Em termos de shows a Vakan vem uma sequência bem interessante, pois além do Hibria vocês tocaram ao lado de Tim Owens. Qual a importância para uma banda underground abrir shows de grandes nomes?

Matheus – Olha, acho que essas oportunidades de abertura sempre foram importantes, mas, considerando o número cada vez menor de eventos e de público, abrir para uma banda grande e tocar em um festival são hoje a única chance que uma banda underground tem de se apresentar pra um bom público. O comportamento do público, o consumo de música, tudo isso mudou, de modo geral. A demanda pelo físico foi reduzindo e a gente foi se adaptando, hoje basicamente tudo se dá na internet, no digital. Quando surgem oportunidades como essas, a gente abraça e aproveita ao máximo.


Dentre todas essas oportunidades, tem aquela que foi mais especial?

Natanael – Acho que a uma das oportunidades mais especiais foi nosso show no Theatro Treze de Maio aqui de Santa Maria, por ser uma das mais importantes casas de espetáculo da cidade. Ter sido selecionado dentro do projeto “Palco da Cultura” mostra o reconhecimento da banda dentro da cidade. Também podemos citar a abertura do show do Hibria, já que essa apresentou a nossa música a um público novo. Seria até injusto elencar as oportunidades, já que no ano de 2019 tivemos ótimas delas, que fizeram a banda amadurecer e crescer.

“Vagabond” ganhou excelentes críticas Brasil afora. Como vocês enxergam esta receptividade?

Matheus – O lançamento do Vagabond foi um momento importante, não só por finalmente jogar no mundo o nosso primeiro álbum, depois de um longo processo, mas também pela oportunidade de alcançar mais pessoas, novos públicos. Me pareceu que a primeira impressão dessa grande parte que ainda não conhecia o Vakan foi positiva, a gente recebeu muita mensagem elogiosa do público brasileiro e latino-americano. As resenhas críticas, em geral, também nos apontaram como uma banda promissora, então acredito que o Vagabond tenha passado um bom recado como álbum de estreia. A gente pretende ainda lançar mais dois videoclipes, relançar como singles com bônus ao vivo nas plataformas, e aí já vamos partir para o próximo trabalho.


Existe algum tipo de pressão para o segundo trabalho ser tão bom quanto o debut?

Matheus – Existe mais na forma de cobrança interna. A gente fez tantas cagadas ao longo da produção do Vagabond, que pelo menos já temos certeza do que NÃO se deve fazer, hahaha. Aparecem várias ciladas no meio desse caminho, e uma delas tem sido o ciclo de álbum para uma banda independente em plena era do streaming. Hoje eu acredito que um meio-termo entre o EP e o álbum longo é o melhor caminho para uma produção mais dinâmica, e isso afeta diretamente na qualidade das músicas. Junto com essa readaptação, o Vakan ainda tem dois membros que não fizeram parte do processo de criação do Vagabond (Natanael e Isabel), e que certamente vão contribuir, então a tendência é que venha algo mais criativo e com maior riqueza de detalhes e referências no próximo trabalho.


Acesse e conheça mais sobre o Vakan:

domingo, 12 de abril de 2020

Enzo & The Glory Ensemble: Metal Progressivo, Sonoridades Étnicas e a União das Culturas



Entre as duzentas subdivisões do metal, uma das mais pitorescas é a do White Metal. A ideia de pegar conceitos do Heavy Metal para pregar o cristianismo ou no mínimo usá-lo de tema, rendeu ojeriza tanto dos headbangers quanto da própria audiência religiosa no fim dos anos 80.

Passado os tempos, essa sub-vertente veio conquistando público geralmente contendo artistas muito competentes. O compositor italiano Enzo Donnarumma talvez seja o retrato de uma nova geração mais aceita pelo trabalho que faz dentro da música pesada.

Seu mais novo álbum fecha a trilogia "In the Name of  Father" e "In the Name of Son". No caso o esperado "Holy Spirit" foi preterido pelo "World", pois Enzo queria fugir do legalismo religioso e passar uma mensagem de integração com a população mundial.


O projeto é bastante ambicioso ao juntar metal, orquestra entre sons étnicos e religiosos. Ele convida novamente diversas bandas de Metal Progressivo por exemplo o Gary Wehrkamp do Shadow Gallery ao lado do coro gospel congolês Weza Moza.

A levada deste álbum tem certas similaridades a ópera rock "Jesus Christ Superstar", pelo menos na levada de musical. Inclusive, parece que Enzo chegou a dirigir esta peça. A temática do grupo explora aquela rota medieval do Bizâncio e também temas bíblicos. Ainda que formem um quadro maior, as canções são “auto suficientes” em sua estrutura, fugindo daquela dependência maior entre faixas, algo comum em álbuns conceituais.

Tem aquela teatralidade entre vozes, cantorias em coral lembrando animações da Disney. O diferencial aqui é de tudo cair num turbilhão de riffs e fritações nas guitarras, ao lado de sintetizadores acolchoando os vãos e instrumentos regionais tentando formar paisagens sonoras.


"Nothingness (It's Everyone's Fate)" a música inicial, define as pretensões de "In The Name Of The World Spirit". Inclusive seu tema reaparece numa das últimas faixas. "Try To Put In Pit The Fear" puxa algo mais medieval, em tom de fanfarra. O cantor usa vocaloid enquanto ocorre uma batida latina. "Last Weep" cria uma atmosfera arabesca, contém toques de piano e um conjunto de guitarras se revezando no solo.

"I'll add More" O início suave é muito bem construído. Ela vai apresentando um viés dramático e em seu fim as guitarras seguem uma espécie de procissão. "My Pillory" é outra desértica e a mais agitada, possuindo uns riffs malvadões. " Psalm 13 (Tell Me)" revisa as anteriores, apresentando de modo concentrado os jogos de vozes, arranjos de guitarras e sintetizadores galgando magnitude.

"World Spirit" não poupa recursos para gerar boa impressão no que faz. De fato uma ópera metal.


Quanto a pontos negativos, apenas acho que grupos de metal progressivo tem uma certa mania de entulhar de ideias as músicas tentando provar virtuosismo.
Em diversos momentos isso deixa a música poluída e menos memorável, já que todas as faixas ficam parecidas pelo excesso de informação.

Pra quem busca novas direções, misturas pouco usuais de Metal ou deseja apenas um som épico atualizado pra atualidade é possível se interessar pela obra.

Texto: Alex Matos (Equipe Rock Idol - Visite o Canal)
Edição: Carlos Garcia

Selo: Rock Shots Records
Enzo Facebook


Track listing
1. Precariousness 1:16
2. Nothingness (It's Everyone's Fate) 5:37
3. The Bronze Age 4:50
4. Try To Put In Pit The Fear 4:33
5. To Every Chest 5:00
6. Just In My Heart The Blame 5:10
7. I'll Add More 5:59
8. My Pillory 5:00
9. Last Weep 4:44
10. Psalm 13 (Tell Me) 7:57
11. Echo 3:44
12. One Reason 4:55
13. The Silence Speaks For Us 4:44
Total running time: 63:00

Line-up/Convidados
Enzo Donnarumma
+
Marty Friedman
Kobi Farhi
Ralf Scheepers
Mark Zonder
Gary Wehrkamp
Brian Ashland
Nicholas Leptos
Derek Corzine
Amulyn Braught Corzine
David Brown
Alessandro Battini
Mario Londino
Francesco Romeggini
Mr. Jack
Claudia Coticelli
Clara People
Philip Bynoe



       


       

Ani Lo Projekt: Novos Ares Para o Metal Sinfônico


Ani Lo Projekt é uma banda búlgara que apresenta os incríveis talentos vocais de Ani Lozanova e de seu parceiro musical  Konstantin Dinev (Kossy D). “A Time Called Forever” é o segundo álbum da banda e está sendo lançado via Pride & Joy Music.

O álbum inicia com a excelente “Brake My Chains” com uma bateria poderosa, guitarras pesadas e, claro, a voz poderosa de Ani Lo. “A Time Called Forever” além de ser a faixa título também foi escolhida para a divulgação do álbum. A introdução de “Bleed” (um dueto entre Ani e seu marido Lachezar Stefanov) tem um ar cinematográfico que casa perfeitamente com a história contada na letra da música. 


A todo momento é possível perceber a paixão com que Ani canta todas as músicas, mas também gostaria de destacar a qualidade das composições de Jens Faber (Dawn Of Destiny), que também tocou guitarra, baixo e teclado, além de alguns guturais e vocais limpos. “End Up in Sorrow” é um pouco monótona mas é compensada em seguida com uma das minhas favoritas, “The Letter”.

Mesmo em músicas mais lentas como “Back to You” a interpretação de Ani Lo é marcante e cheia de personalidade. “Cold Death” possui riffs firmes e o meu solo de guitarra favorito desse álbum. Apaixonei-me por “Feel Inside” desde a primeira vez que a ouvi. “Fly With Me” é um dueto bem entrosado com Michael Thionville (Voodoma).


Temos mais 2 duetos com Eric Dow (Hellsott) em “Don’t Leave This World“ e “My Misery“, ambas soam bem cativantes. Por último e não menos importante “Walk Alone” uma balada mais emocional.


Apesar de ter influências de outras bandas mais conhecidas de Metal Sinfônico, Ani Lo Project tem uma sonoridade própria com arranjos mais voltados para o Power Metal e Metal Progressivo. Comparado com o álbum de estréia “Miracle”, as canções apresentam muito mais diversidade e profundidade, portanto, se você ouviu o primeiro álbum e não gostou, dê uma segunda chance para a banda ouvindo “A Time Called Forever”.

Texto: Raquel de Avelar
Edição: Carlos Garcia

Selo: Pride & Joy Music

Line-Up:
Ani Lozanova: Vocais
Doc Heyne: Guitarra
Georgi Markov: Teclados
Lars Bilke: Baixo
Ralf Greshake: Bateria

Tracklist
1. Break My Chains 4:53
2. A Time Called Forever 5:47
3. Bleed 4:28
4. End Up In Sorrow 5:16
5. The Letter 3:53
6. Back To You 3:23
7. Cold Death 4:07
8. Feel Inside 3:14
9. Fly With Me 5:13
10. Don't Leave 3:20
11. My Misery 3:53
12. Walk Alone 4:16

Ani Lo Facebook

       

domingo, 5 de abril de 2020

Ron Coolen: "Rise" Projeto Reúne Nomes Como George Lynch, Göran Edman, Keith St John e Muitos outros


Ron Coolen é um músico multi-instrumentista holandês, que, segunde ele, por volta de 1978, ao ouvir "Whole Lotta Rosie" do AC/DC sua paixão pela música começou, e nunca mais mudou. O jovem Ron viu o nascimento da NWOBHM, a explosão do Iron Maiden e do outro lado do oceano, na America, surgiam nomes como Riot e Metallica. A partir daí, se iniciou também como músico, primeiramente na guitarra, mas depois partindo para a bateria, passando por diversos projetos e bandas covers.

Ron também faz um trabalho humanitário louvável, pois abraçou a causa do guitarrista Jason Becker, que em 1993 foi diagnosticado com um raro tipo de ALS, que foi lhe tirando os movimentos, então em 2008, quando correu a maratona de Nova Iorque, e a exemplo de outros atletas participantes, resolveu correr por caridade, e escolheu a causa de Jason.

Ron Coolen
Desde então, sempre vem ajudando a fundação Jason Becker, inclusive co-organizando um festival na Holanda. Ron também teve um programa de rádio em uma estação holandesa, e através dele fez muitos amigos e contatos, o que lhe ajudou a conseguir brindes para ajudar a arrecadar fundos para ajudar Jason.

E agora em 2020 Ron Coolen realiza um sonho, lança o álbum "Rise", fruto da sua vontade em criar suas próprias músicas, desde que voltou a se dedicar a guitarra, e com a ajuda de diversos dos amigos que fez no mundo da música, conseguiu reunir um time respeitável de convidados neste trabalho, desde nomes consagrados como George Lynch, Göran Edman (Malmsteen, Brazen Abbot, Kharma e muitos outros), o vocalista Keith St. John (Burning Rain, Montrose) e Chris Amott (Arch Enemy) a nomes ascendentes como o jovem prodígio da  guitarra Joey Conception (atualmente no Sanctuary).

Ron iniciou a composição de "Rise" alguns anos atrás, se encarregou de diversos instrumentos, bateria, baixo, teclados, guitarra base e até arriscando alguns solos, fazendo um trabalho de respeito! Com a parte lírica, teve ajuda principalmente de Keith St John e de Francoise Vaal, parceria de projetos anteriores.

George Lynch
O álbum foi gravado em dois estúdios na Holanda, e os vocais e guitarras solos em diversos outros estúdios, nas cidades e países dos vários convidados que aparecem no disco. A produção e masterização final foi feita por Hans Pieters, músico, engenheiro de som e produtor que trabalhou com bandas como After Forever, Sinister, Epica e outros.

"Rise" é um álbum calcado principalmente no Hard Rock e Heavy Metal clássicos, mas em alguns momentos apresenta elementos mais modernos, algo de Metal Extremo e até Prog.

Os elementos principais, o Hard e Classic Rock, já pode ser percebido na abertura, e primeiro single, "Big Devil Data", de levada cadenciada e pesada, com nuances Classic Rock e Hard Rock, excelentes solos, a cargo de Thorsten Koehne (Eden's Curse) e com Keith mostrando seus dotes vocais, os quais lembram muito dos vocalistas do Hard e Classic Rock 70's.


E realmente, algo a se destacar no álbum são os excelentes vocais de Keith e o belo trabalho nas guitarras solo, com caras de muito talento e técnica, como Thorsten, Joey Conception, Stéphan Forté (Adagio), Christopher Amott e a lenda George Lynch.

Temos também momentos com Hard Rock com aquele groove e malícia 80's, como em "Too Late to Surrender" ou "Sin City", que tem como destaque as guitarras de George Lynch, esbanjando classe e técnica.

Mas não é só Hard Rock e Classic Rock,  também podemos encontrar elementos mais modernos, como em "Kill, Kill, Kill", uma faixa com bastante peso e agressividade, tendo passagens bem velozes alternando vocais altos e limpos e alguns guturais. Os vocais principais aqui ficaram por conta de Sam Walters, do Driven Mad, dos EUA.. "From Your Mouth", também segue uma linha mais moderna, com mais agressividade e alguns vocais guturais.

Keith St John
"Selfishness", que fecha o álbum, merece destaque, com sua levada cadenciada, jeitão épico, bons solos de guitarra e teclado e os vocais do grande vocalista sueco Göran Edman.

Em resumo, um bom álbum de Hard Rock e Metal, onde as ideias e produção estão bem resolvidas e coesas, trazendo momentos bem interessantes e boas músicas, não se limitando a somente ter nomes conhecidos como atrativo, ou seja, os participantes contribuíram em muito para complementar as ideias de Ron Coolen, e o conjunto todo funcionou muito bem. 

Além de um bom álbum, é muito interessante acompanhar as letras e as partes que cada um dos músicos participa, e tem muitos mais que não citei acima, é um exercício bem legal você ouvir e ir descobrindo outros nomes interessantes que participaram do projeto, quase que como catar easter eggs! 

Ron Coolen
Ah, vale lembrar que parte da renda com as vendas do álbum físico e streamings vai para a fundação Jason Becker. Bela atitude!

Texto: Carlos Garcia


Confira o site oficial para mais informações e adquirir o álbum:

Saiba mais sobre a Jason Becker Charity

Tracklist:

1. Big devil data
2. White Summer
3. Too late to surrender
4. Sin City
5. Gotta shoot your devils down
6. Ashes to Ashes
7. Paradise
8. Kill Kill Kill
9. Rise
10. Stories
11. From your mouth
12. Selfishness