sexta-feira, 31 de maio de 2024

Cobertura de Show: Summer Breeze Brasil - 28/04/24 - Memorial da América Latina/SP


Por: Renato Sanson/Carlos Garcia


O dia 28/04 prometia mais um dia quente em São Paulo e a noite que teríamos de volta o Rei Dia- mante e o seu Mercyful Fate.

O dia iniciou no ICE STAGE com os suecos do Eclipse e seu Hard mais melodioso e acessível, mas não menos empolgante. O Memorial já contava com um ótimo publico e a pista estava tomada para vê-los, notamos vários músicos da cena Hard ali no meio da galera.

No SUN STAGE o Torture Squad iniciava o dia com seu Thrash/Death Metal de primeira em um show muito profissional e atrativo. Baseado em seu mais recente lançamento “Devilish”, mas sem esquecer dos clássicos. 

Levantando muito a galera e mostrando que essa formação com: Mayara Puertas (vocal), Castor (baixo), Amilcar (bateria) e Renê (guitarra) que está unida a quase uma década não é toa. Forte, resiliente e levando o nome do TS ainda mais longe. 

De bônus, Leather Leone subiu no palco para cantar duas músicas com a banda, incluindo a "The Warrior", que está no último álbum e tem ela como convidada.

As 13h um dos shows mais aguardados do dia, dos finlandeses do Battle Beast e sua primeira apresentação no Brasil. E que show incrível! Seu Heavy Metal com fortes influencias sinfônicas encantaram os fãs e nem sob o sol de 40 graus desmoreceu a galera, muito pelo contrário, seguiam insanamente cantando cada refrão e cada melodia. 

Noora Louhimo é um show a parte e sua voz estremecia o Memorial tamanha a potencia e encantava com passagens melodiosas belíssimas!

Indo para o WAVES STAGE os paulistas do Hellish War já estavam destilando o seu Heavy/Speed Metal e mostrando o porque serem uma das melhores bandas do Metal nacional. É incrível a destreza técnica com o feeling e o quanto sabem cativar o publico. Um show de alto nível que merecia com toda a certeza estar em um palco maior.

Lá no palco ICE o Overkill já dava as cartas e foi possível presenciar a segunda metade do show dos mestres do Thrash americano, que tinham em seus graves o também lendário David Ellefson (ex-Megadeth) já que D.D. Verni não pode participar da turnê Sul-Americana.

Falar do Overkill ao vivo é chover no molhado, uma destruição do mais alto nível e destilando clássicos em cima de clássicos como: “Coma”, Horroscape”, “Elimination”, e “Fuck You”. Só para falar alguns.

Aquele show que você é fã de Thrash quer ver e rever sempre que possível.

Confesso que não sou fã da banda Avatar, mas é inegável que os alemães já construíram uma base de fãs bem forte em nosso país. Seu show no palco HOT estava abarrotado de pessoas pintadas como a banda e muitos utilizando suas roupas características. 

Atraindo para o Heavy Metal muitos fãs novos e da geração atual, o que é ótimo! Ao vivo mandam muito bem e são extremamente enérgicos e teatrais, com muita interação e peso. Também dessa leva mais moderna, tivemos o While She Sleeps, e essa diversidade é um dos pontos fortes do festival, o que atrai um público maior.

De café da tarde (15h50min) a lenda do Death Metal Carcass chegava sob um sol escaldante e sendo uma das bandas mais aguardadas daquele dia também. Jeff Walker e Cia iniciam com os dois pés com o clássico “Buried Dreams” e sem tempo de respirar “Kelly's Meat Emporium” do mais recente lançamento segue o caos sonoro.

Sem muita conversa e enrolação o Carcass foi cirúrgico (redundância não? rsrs) e entregou ao público um petardo atrás do outro. Como o Sol estava de frente ao palco, a banda estava também sendo “torrada” e em “Heartwork” Jeff não estava conseguindo cantar o refrão. Dando um tempo e retornando com um saco de gelo na cabeça para finalizar o show.

Bill Steer e Walker mostram o porque serem tão aclamados pelos fãs de Metal no geral e mostram que o Carcass segue a todo vapor e já estamos na expectativa de revê-los.

As 16h30min no palco SUN o Death Angel iniciava o seu show e que show meus amigos(a)! Eu particularmente (Renato) era o show mais aguardado do dia/noite e valeu cada segundo. O Death Angel tem um poder ao vivo único e os músicos estavam extremamente a vontade e dando o seu melhor. Foi clássico, atrás de clássicos, rodas e mais rodas, moshs... Tudo que um show de Thrash precisa e deve ter.

Mark é um verdadeiro show man e conduz a plateia como poucos. A dupla de guitarras Rob e Ted são incríveis e complementares, um mais técnico o outro mais feeling em uma união perfeita. Assim como a dupla Will Carroll (bateria) e Damien (baixo) verdadeiros rolo compressores.

Um show memorável e que deixa saudades em um pouco mais de uma hora.

Ao final do Sign Sessions do Death Angel (onde o meu colete foi autografado pelos mesmos!) iniciava no WAVES a banda brasileira Kryour e me impressionou de cara com seu Death Metal melódico muito bem tocado. Melodias incríveis, variações vocais e muito peso e agressividade. Um show bem profissional e de alto nível.

Uma boa surpresa foi o Santo Graal, vencedora do concurso New Blood, a banda composta com uma mescla de músicos jovens e outros mais experientes, todos talentosos e competentes. Debaixo do sol escaldante levou um bom público no Waves Stage, que curtiu muito o show.  

O Metal sinfônico do grupo busca apresentar um diferencial, e um deles é o violoncelista fixo, que preenche de forma mais orgânica a sonoridade. A vocalista Natália mostrou muita desenvoltura em palco, assim como a tecladista Carollyn, que com o keytar também ia a frente do palco interagir. 

Destaque também para a presença da bailarina Glenda durante a execução da música "Black Swan". Entregaram um ótimo show, e mostraram que tem um caminho promissor a trilhar.

Nos palcos principais acompanhamos a trinca final, assisti ao Killswitch Engage, e apesar de não ser um grande fã, reconheço que os caras entregaram muita energia e dedicação, e dava para notar a satisfação dos fãs da banda. O vocalista Jesse Leach desceu várias vezes no pit para interagir de perto com o público, e no final fizeram uma versão interessante de "Holy Diver", a qual foi cantada inclusive por quem estava ali só para se colocar já para o show do Mercyful Fate.

Antes do Rei Diamante, no palco Ice, Pompeu anunciava a confirmação da edição 2025, e logo após o Anthrax iniciava um show repleto de clássicos e com muita energia, como é de praxe. Scott Ian corria como um louco pelo palco, e a galera atendia aos chamados, promovendo vários moshs e rodinhas, inclusive com alguns sinalizadores. 

Foi uma verdadeira celebração.  Ainda tivemos a participação de Andreas Kisser tocando "I Am The Law". Uma aula de Thrash, sem mais a acrescentar. Quem presenciou sabe.

E era hora do palco Hot com o Mercyful Fate, e antes mesmo do show do Anthrax terminar, a galera já estava na expectativa, acompanhando a movimentação da montagem do palco, coberto por uma cortina com o logo do Mercyful. Enquanto isso, a gente sabia que já estava rolando o Troops of Doom no palco Waves, uma pena não poder acompanhar.

Quando a cortina caiu, a comoção foi incrível. O palco completo com uma enorme cruz invertida, plataformas superiores com portais, escadarias, e um tipo de altar onde se via a figura do baphomet em alto relevo, e um show de luzes que deixaram a atmosfera perfeita para a banda apresentar seus clássicos. 

King Diamond interagia com o público, que vibrava também com a sua performance teatral, por vezes ajoelhando-se em frente ao baphomet para "rezar", ou quando subia as escadas balançando os braços como as asas de um grande corvo negro.

Backdrops ao fundo também iam sendo trocados, mostrando as capas dos álbuns.  O veteranos Hank Sherman e King Diamond demostraram sua excelente forma, e destaque para a energia jovial e técnica da mais nova integrante, a baixista Becky Baldwin.

O público vibrou e cantou junto com clássicos como "The Oath", que abriu o show, "Curse of Pharaos", "Melissa", "Black Funeral", "Come to The Sabbath", esta cantada por 90% do público que estava lá, e, após uma pausa, o encerramento com a épica "Satan's Fall". Um encerramento épico para um festival que teve um saldo muito positivo. 


Fotos: Paula - Eye of Odin Fotografia

Fotos Santo Graal - Ricardo Zupa

Fotos Torture Squad e Overkill - Carlos Garcia

Foto Hellish War - Susi Bomb (Som do Darma)


 

 

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Cobertura de Show: Hard ‘N Heavy Party – 11/05/2024 – Manifesto Bar/SP

No dia 11/05 (sábado), o Manifesto Rock Bar, famoso reduto do Rock em São Paulo, foi palco de um esperado retorno: a festa Hard ‘N Heavy Party, concebida por Carlos Chiaroni, proprietário da Animal Records, e que fez muito sucesso nos anos iniciais da década de 2000. A edição mais recente do evento contou com performances dos talentosos vocalistas Robin McAuley, John Corabi, Chez Kane e Erik Martensson, acompanhados pelos habilidosos músicos Bruno Luiz (guitarra), Bento Mello (baixo), Gabriel Haddad (bateria) e Bruno Sá (teclado).

Chez Kane, uma das vozes mais promissoras do Hard Rock atual, deu início a noite de uma maneira espetacular. Com um talento e carisma incomparáveis, a cantora britânica apresentou um show incrivelmente contagiante, repleto de músicas de seus dois únicos álbuns, que carregam fortes influências do Hard Rock dos anos 80. Destaque para canções como "All of It" (dona de um refrão poderoso), "Get It On", "Ball n' Chain", a animada "Love Gone Wild" e "Rock You Up", esta última recebida com calorosos aplausos.

Ao longo do espetáculo, Chez exibia sua felicidade por estar se apresentando pela primeira vez no Brasil, mantendo a interação com a banda e os poucos fãs presentes. Esse afeto foi particularmente notado durante a performance de "(The Things We Do) When We're Young in Love", quando, com sua beleza deslumbrante, ela desceu do palco para cantar no meio da plateia, permitindo que todos se aproximassem dela.

Durante a apresentação, houve até uma surpreendente interpretação de "Mary On a Cross", da banda Ghost, antes de encerrar com "Rocket On Radio", seguido pelos tradicionais cantos de "ole, ole".

Em seguida, foi a vez de John Corabi subir ao palco, levando consigo um repertório acústico que revisitou os momentos mais marcantes de sua carreira. O ambiente tornou-se mais intimista, sem a agitação típica de um show eletrizante, o que acalmou os ânimos da plateia até o momento em que ele começou a tocar "Something I Said", do The Dead Daisies, banda que integrou de 2015 até 2019 e que voltou há pouco tempo no lugar do Glenn Hughes. Neste instante, pediu para que todos acompanhassem cantando o refrão. 

A energia vibrante do público também se fez presente nas clássicas "Misunderstood", "Loveshine" e "Hooligan’s Holiday", todas tirada do único disco que gravou com o Mötley Crüe, em 1994. As canções foram recebidas com entusiasmo, resultando em uma cena curiosa: pela primeira vez durante sua apresentação, todos os presentes se renderam aos seus celulares.

John também fez questão de relembrar os tempos de The Scream, da qual fez parte antes de unir-se a Nikki Sixx e companhia. A emocionante "Father, Mother, Son" e "Man In The Moon" deram uma leve ecoada na plateia. O americano também incluiu alguns covers em seu setlist, como "Hard Luck Woman", do Kiss, que foi muito bem recebida pelos espectadores.

De regresso à abordagem convencional, Robin McAuley apresentou a sua classe, elegância e categoria, palavras as quais refletem as iniciais do dono da festa e que descreve, com perfeição, a personalidade do irlandês, que alcançou o devido renome por ter integrado o McAuley Schenker Group ao lado do icônico guitarrista Michael Schenker.

Aos seus 71 anos de vida, Robin mantém uma voz forte e intacta, que encantou tanto os mais velhos como os mais novos ao interpretar as músicas dos álbuns “Perfect Time”, “Save Yourself” e “MSG”, incluindo temas como “Gimme Your Love”, “Rock Till You Crazy”“Love is Not a Game” e "This Is My Heart". Além da sua excelente capacidade vocal, o cantor, que não parava quieto um instante em cima do palco, demonstrou ter bastante energia e entusiasmo, proporcionando uma atuação verdadeiramente magnífica.

As músicas dos seus projetos mais recentes não foram esquecidas. “Genaration Mind” e “Shake the World” foram as duas escolhidas do Black Swan; “Alive” e “Standing on the Edge”, que se mostraram mais intensas ao vivo, fazem parte da sua carreira solo. Inicialmente, todas tiveram uma recepção discreta, mas conquistaram o público à medida que eram executadas. Após elas, surgiu “We Believe In Love” – interpretada no estilo presente no álbum Unplugged Live, ou seja, de forma acústica – e a muito aguardada “Anytime”, deixou todos extasiados. 


Os clássicos "Only You Can Rock" e "Lights Out" do UFO foram as últimas músicas tocadas em um gesto de gratidão ao seu fiel amigo de banda. Foi algo muito adequado vindo de Robin, afinal, se não fosse por Michael Schenker, esse momento especial não teria acontecido.

Ao início do domingo, a exaustão física levou alguns a retornar para suas residências, sem interesse em assistir ao show do talentoso Erik Martensson, já que o haviam visto recentemente com o Eclipse no Summer Breeze Brasil, há menos de quinze dias.

Além das músicas de sua banda principal, Erik surpreendeu os fãs brasileiros ao apresentar canções de seus outros dois projetos, incluindo W.E.T, que tem o talentoso Jeff Scott Soto como vocalista principal. 

Embora tenham sido poucas, foram o suficiente para se destacar na noite e emocionar a plateia com performances brilhantes de "Got to Be About Love", "Big Boys Don't Cry" e "Watch The Fire" pelo sueco, que nunca havia tocado e cantado elas ao vivo, assim como "Hypocrisy", do álbum de estreia do Nordic Union, originalmente cantada por Ronnie Atkins.

As conhecidas "Saturday Night (Hallelujah)", "The Downfall Of Eden" e "Viva La Victoria" também foram incluídas no setlist, porém foram as menos lembradas "Wylde One" e "To Mend Broken Heart", ambas do álbum "Are You Ready To Rock", que se destacaram e foram as mais aclamadas pela audiência. Foi uma oportunidade única de apreciar essas músicas ao vivo, deixando aqueles que não puderam comparecer e que foram embora com um certo arrependimento.

Durante o evento, Erik optou por não tocar guitarra, o que o deixou livre para se dedicar totalmente ao canto, pulando e se movendo por todos os cantos do pequeno palco com seu ilustre pedestal vermelho. Em alguns momentos, senti falta da presença de uma segunda guitarra, o que teria dado um toque mais intenso às músicas. No entanto, Bruninho conseguiu lidar muito bem com a situação. 

A Hard 'N Heavy mais uma vez ofereceu uma oportunidade incrível de presenciar artistas que nunca pensamos que veríamos ao vivo no Brasil. Além da experiência musical, uniu aficionados de diferentes gerações com um apreço em comum. Esperamos que essa festa se repita anualmente de agora em diante.


Texto: Gabriel Arruda

Fotos: André Tedim


Realização: DNA Rock Events

Mídia Press: ASE Press


Chez Kane

I Just Want You

Too Late for Love

All of It

Nationwide

Better Than Love

Love Gone Wild

(The Things We Do) When We're Young in Love

Ball n' Chain

Get It On

Rock You Up

Powerzone

Mary on a Cross (Ghost cover) 

Rocket on the Radio


John Corabi

Love (I Don't Need It Anymore)

If I Never Get to Say Goodbye

Who'll Stop the Rain (Creedence Clearwater Revival cover)

Father, Mother, Son

Something I Said

Misunderstood

Loveshine

Hard Luck Woman (KISS cover)

Robin's Song

Set Me Free

Hooligan's Holiday

Drive (The Cars cover)

Man in the Moon


Robin McAuley

Save Yourself 

Gimme Your Love

Rock ‘til You’re Crazy

Love is Not A Game

This Is My Heart

When I’m Gone

Genaration Mind

Shake The World

Alive

We Believe In Love (acoustic version)

Standing On The Edge 

Anytime

Only You Can Rock Me (UFO cover)

Lights Out (UFO cover)


Erik Martensson

Wylde One

Hypocrisy

Rise Up

Saturday Night (Hallelujah)

To Mend Broken Heart

Got To Be About Love

Big Boys Don’t Cry

Downfall Of Eden

Mary Leigh

Runaways

Watch The Fire

Viva La Victoria 




segunda-feira, 27 de maio de 2024

Tellus Terror: “Hoje o underground procura se transformar e existem mais opções em termos de profissionalismo”

Por: Renato Sanson

Músico entrevistado - Marcelo Val (baixo)

Em termos comparativos, quais as diferenças entre “EZ Life DV8” e “DEATHinitive...”?

Marcelo Val - Musicalmente o DEATHinitive... é um álbum mais focado em torno de um conceito musical, que é o Black/Death Metal Sinfônico, enquanto o EZ Life DV8 agregava mais elementos musicais de diversos estilos misturados, que resultou à época na criação do termo “MMS”, ou “Mixed Metal Styles”, para bem definir o estilo que a banda propunha então. 

São dois álbuns que em termos líricos têm conceito temático definido, no caso do primeiro álbum mostra um contexto analisando os dilemas da humanidade em relação aos conflitos gerados pela disputa por poder e nossa colocação no universo, enquanto o DEATHinitive tem uma atmosfera mais voltada ao Dark Romance, e como o amor e as paixões podem influenciar tanto positiva como negativamente a nossa trajetória.

A proposta sonora é bem em volta do Metal Sinfônico, mas calcado no extremo. Trazendo uma áurea obscura e rica em detalhes. Como funciona a parte criacional?

Quando entrei na banda o álbum já tinha sido composto, mas como trouxe minhas próprias idéias em termos de arranjos para as linhas de baixo, essas acabaram entrando definitivamente na gravação. 

Minha abordagem na criação dos arranjos de baixo foi desenvolver um trabalho de sinergia entre baixo e bateria, e agregar texturas harmônicas e camadas melódicas, onde havia o espaço para tal. Um exemplo é Amborella´s Child, onde o baixo faz uma melodia discreta em cima da parte em que antes ficava apenas piano e vozes orquestrais. 

 

Retornando após esse longo hiato, o que mudou de lá para cá na indústria musical e underground que puderam notar?

Acho que hoje o underground procura se transformar e existem mais opções em termos de profissionalismo para entregar um show bem feito que possa cativar os bangers. A indústria hoje se apoia fortemente no lado digital, e há a necessidade cada vez maior de se trazer uma apresentação bem feita não apenas sonoramente, mas na parte visual também. 

O lado digital beneficia as bandas de Metal sob o aspecto de ser um estilo cultivado por fãs do mundo todo, não fica preso apenas a determinadas regiões. Temos tido contato com os fãs de Metal dos mais diversos países e continentes, é impressionante e muito satisfatório.

Em 2014 quando lançaram “EZ Life DV8” vocês de certa forma chacoalharam o underground com sua proposta sonora ousada, mas ainda assim extrema. Quais lembranças vocês tem daquela época?

Eu não fazia parte da banda na época, mas lembro que a banda chegou com um álbum impressionante (EZ Life DV8) em termos de produção e sonoridade, e o nome Tellus Terror já se tornou conhecido por mim desde então.

“DEATHinitive...” soa como uma evolução natural de “EZ Life DV8”. Parecendo que o tempo não passou para nenhum dos trabalhos. “DEATHinitive” já tinha composições prontas desde aquela época ou surgiu nos últimos anos?

Sim, concordo. Há uma evolução natural no estilo de composição, e a intenção é amadurecer cada vez mais as composições e trazer álbuns que se comuniquem entre si, mas trazendo suas próprias particularidades.

Finalizando, gostaria que comentassem quais os próximos passos daqui em diante e se veremos o Tellus Terror de volta aos palcos em breve. Muito obrigado pela disponibilidade.

Estamos trabalhando com afinco para desenvolver nossas apresentações ao vivo ao nosso máximo, e em breve teremos novidades muito legais em relação aos shows de divulgação de nosso novo álbum. Recentemente tivemos uma grande oportunidade abrindo o show do Ripper Owens no Rio de Janeiro, produzido pela THC Produções, e o resultado foi muito legal. 

Temos inclusive vídeos dessa apresentação em nosso canal do Youtube, incluindo o Making Of. Agradeço ao Road To Metal pelo espaço e trabalho incansável em prol do Metal. 



sexta-feira, 24 de maio de 2024

Cobertura de Show: Rhapsody of Fire – 09/05/2024 – Carioca Club/SP

A banda de Power Metal italiana Rhapsody of Fire, trouxe sua magia para a estrada com a turnê "Glory for The Enchanted Lands Tour", oferecendo uma experiência épica e inesquecível para os fãs de São Paulo, que celebraram grandes clássicos e musicas da nova fase da banda. Os fãs que compareceram ao Carioca Club, na capital de São Paulo, no último dia 09/05 (quinta-feira), puderam acompanhar de perto esse novo momento.

A abertura da noite ficou por conta da banda Skalyface, que preparou o publico presente com seu Heavy Metal, fazendo uma apresentação autentica, apresentando canções autorais e um cover de “The Evil That Men Do” (Iron Maiden), que contou com a participação especial do vocalista e produtor Raphael Dantas (Ego Abscence), momento em que a maioria já ia ocupando os espaços da casa de show. A Skalyface deixou o palco após uma boa apresentação, que aqueceu plateia para a atração principal.

Às 21h a casa já se encontrava cheia, os fãs chegaram prontamente e ocuparam praticamente toda a pista e mezanino do Carioca Club, para receber o Rhapsody of Fire, que pontualmente iniciou o show com a música “The Dark Secret II” como introdução e, logo em seguida, abriu para valer sua apresentação com a clássica “Unholy Warcry”, trazendo uma energia arrebatadora, estabelecendo imediatamente o que estava por vir para o restante da noite.  Os poderosos vocais de Giacomo Voli deram o ar da graça, enquanto os marcantes e épicos teclados de Alex Staropoli orquestravam o público, que entoava a plenos pulmões os coros e refrãos por todo o universo mágico, característico da banda.

“I´ll be your hero” é a prova de que há musicas que se engrandecem com a performance ao vivo, mostrando a grandiosidade da mesma, que se revela muito mais empolgante e cativante do que sua versão de estúdio. “March of the Swordmaster”, clássico que tirou o publico do chão, fez com que todos pulassem e cantassem como se estivessem numa taberna com muita cerveja e hidro mel. A interação e energia da banda no palco acompanhava a mesma vibração. “Challenge the Wind” é o novo Rhapsody of Fire, porém com a essência de sempre, trazendo o tom épico característico da banda que cativou tantos fãs ao redor do mundo e principalmente os que ali estavam, seguido do momento perfeito para apresentar a banda.

Em “The Magic of the Wizard´s Dream”, Giacomo dedica a canção ao saudoso e icônico Christopher Lee, deixando que o público desse a voz às suas partes na bela canção, o momento mais emocionante do show. “Dawn of Victory” um verdadeiro hino da banda, inflamou todo o publico presente que soltou a voz juntamente com o vocalista Giacomo. Era notável a emoção e empolgação de todos os presentes neste momento do show, com certeza o ponto altíssimo da noite. Ouvir “Gloria, Gloria Perpetua” em uníssono foi de arrepiar!

Após a pausa, a banda retornou ao palco para o encore com “Reign of Terror”, onde Giacomo pôde mostrar toda sua versatilidade e dinamismo vocal, alternando entre um vocal mais agressivo, cheio de drives e sua já característica voz limpa e melodiosa. “Wisdom of the Kings”, ahh, o que se esperar de um clássico como este? Simplesmente sensacional, mantendo a energia lá em cima. Dragões voariam alto aqui, todo fã ficou em êxtase, principalmente este que vos escreve.

“Land of Immortals” transportou o público para o mundo de fantasia e encanto. Podemos definir como o momento mágico do show. Os teclados marcantes de Alex Staropoli criaram uma atmosfera digna dos maiores clássicos de fantasia (que fã nunca imaginou uma aventura de Senhor dos Anéis, tendo Rhapsody como trilha? Eu já haha), enquanto Giacomo Voli, com maestria vocal, passava toda emoção e poder em cada nota.

Momento de despedida, a banda se preparava para entoar sua ultima canção, quando prestou uma homenagem às vitimas da tragédia do Rio Grande do Sul, dedicando a maravilhosa “Emerald Sword” para todos que, infelizmente, se foram por conta da tragédia, trazendo o sentimento de superar as dificuldades, travar batalhas e nunca desistir diante das adversidades, encerrando assim a sua apresentação numa noite repleta de clássicos atemporais, aliados às novas e ótimas canções da atual fase da banda que, por sua vez, mostrou virtuosismo e muita entrega em cada momento do show, proporcionando uma experiência digna das terras encantadas, tanto presente em sua grandiosa e extensa obra, aos fãs que compareceram e encheram a casa, numa mistura diversificada de fãs fiéis de todas as idades apaixonados pelo estilo, unidos pelas histórias épicas da banda.

Mesmo numa quinta-feira, o que talvez tenha sido um empecilho para o Sold Out, o Rhapsody of Fire mostrou por que é um dos grandes nomes do gênero Power Metal com tantos fãs fiéis ao redor de todo o mundo.   

Rhapsody of Fire, nesta noite:

Alex Staropoli (Teclado), o único membro remanescente da formação original, sempre marcante com suas linhas de teclado épicas, responsável por toda a atmosfera das músicas; Roberto De Micheli (Guitarra), mestre das seis cordas, esbanjando técnica e muito feeling em cada solo e riffs apresentados com grandeza durante o show; Danilo Arisi (substituindo o baixista Alessandro Sala) e Paolo Marchesich (Bateria), formaram a “cozinha” da banda, conduzindo o ritmo perfeito de cada canção e por fim, Giacomo Voli (Voz) impressionou e surpreendeu aos que não o conheciam, com seu alcance e versatilidade vocal, ótima presença de palco e uma figura extremamente carismática, cativando o publico com seu talento ímpar.

 

Texto: Kaká Campolongo

Fotos: Paula Cavalcante


Realização: Dark Dimensions

Mídia Press: JZ Press

 

Rhapsody of Fire

The Dark Secret

Unholy Warcry

I’ll Be Your Hero

Chains of Destiny

The March of the Swordmaster

The Legend Goes On

March Against the Tyrant

A New Saga Begins

Challenge the Wind

Rain of Fury

The Magic of the Wizard’s Dream

Dawn of Victory

***Encore***

Reign of Terror

Wisdom of the Kings

Land of Immortals

Emerald Sword

segunda-feira, 20 de maio de 2024

The Mist: "A mentira é plenamente aceitável hoje em dia. Isto é aterrador"

Por: Renato Sanson

Foto: Iana Domingos - Músico entrevistado: Vladimir Korg (vocal)

RtM: Em 2018 vocês voltaram aos palcos para celebrar os 30 anos do álbum “Phantasmagoria”. Um momento muito importante para a banda. Como foi este instante?

VK: Não foi propriamente pelo álbum, mas pela criação da banda. Tanto que tocamos temas do álbum “The Hangman tree”. Foi bacana dar este start, retomar as coisas e hoje apesar de eu ser o único membro original à frente da banda, a força de continuar levando a poesia do The Mist em uma outra época é um grande desafio.


RtM: O The Mist está agora com uma nova formação. Seguindo firme sua proposta musical. Qual a maior dificuldade em se reformular sem perder a identidade?

VK: O The Mist sempre foi considerada uma banda de vanguarda e pra isso temos que estar diante dos desafios do nosso tempo. Estamos juntos com bandas novas, com sangue novo, passando por revoluções tecnológicas diariamente. Temos que estar apenas focado no que queremos e honrar o que construímos até aqui. Temos uma base de fãs incrível que sem eles não conseguiríamos estar aqui.

RtM: Falando em parte musical, a sonoridade do The Mist é bem peculiar. Ainda que seja mais enveredado ao Thrash Metal é possível notar influencias de Industrial, Groove e muito Heavy tradicional. Como foi moldar a musicalidade tão ímpar?

VK: Nossa espinha dorsal é o Thrash Metal, mesmo que em algum tempo a banda tenha buscado novas sonoridades, penso que retomamos nosso rumo no Thrash. Porém, temos em mente que não estamos mais no século XX e queremos estar vivendo o agora. 

Temos um set bastante rico de músicas incríveis do passado que respeitamos na íntegra, mas nossos passos estão no agora. Estamos vivos agora, compondo agora e tocando agora.

RtM: Jairo acabou saindo da banda em 2020. Mas deixando sua marca com o The Mist. A relação entre vocês pós sua saída é tranquila? Existe a possibilidade de algum dia Jairo subir ao palco com a banda novamente?

VK: Jairo saiu para fundar uma das melhores bandas brasileiras da atualidade. Nossa relação é de respeito mútuo e acredito de um desejo de que cada um tenha o sucesso merecido. Cada um na sua luta. Acredito que Jairo está focado em seus trabalhos e estamos realmente em caminhos diferentes.


RtM: O último lançamento de estúdio do The Mist (“Gottversallen”) foi a quase vinte anos atrás. Existe a perspectiva de um novo lançamento?

VK: Nosso álbum está pronto. Já gravado. Estamos buscando caminhos para o lançamento. Apresentaremos para a Alma Mater, gravadora do nosso amigo Fernando Ribeiro do Moonspell e pesquisando caminhos para que tenhamos boas condições  para este trabalho.


RtM: Falando em discografia, vocês apresentam uma solidez desde o Debut. Como foi compor e criar linhas tão homogêneas entre os lançamentos?

VK: Acho que respeitamos nossas origens. Cada trabalho acho que a gente foca e vive um pouco a vibe do álbum. Quando isto transcende o núcleo da banda e atinge os fãs e os ouvintes é sensacional.

RtM: A era digital vem dominando o cenário musical. Tirando o espaço do material físico. Por mais que seja ótimo poder levar à música aos quatro cantos do mundo, as vendas de merchan diminuíram consideravelmente. Isso preocupa vocês caso pensem em relançamentos dos discos clássicos?

VK: Como somos uma banda de quase quarenta anos, passamos por várias revoluções: de formato, de estilos, tecnologia e política. É claro que nos preocupamos com esta nova era. Acredito que será uma peneira. Infelizmente muitos ficarão pelo caminho ou não terão forças para continuar nele. A futilidade ganhou força como estilo de vida e modus operandi para um sucesso ilusório. 

A mentira é plenamente aceitável hoje em dia. Isto é aterrador. Ela constrói personas pra alimentar o imaginário coletivo que criam heróis sem virtude alguma e o pior, você sabe que está sendo enganado. Isto acontece na música e hoje bater no peito e ter certeza que seu trabalho é de verdade, sua música é honesta e você é um artista é para poucos.

RtM: Korg, muito obrigado pelo tempo cedido. Deixo o espaço final a você e mais uma vez muito obrigado!

VK: Agradeço poder participar e o espaço dado a mim e ao The Mist. Nosso álbum está pronto e estamos muito orgulhosos do que fizemos. Breve vocês terão notícias nossas. Comprem merchandising das bandas que você acredita. Fiquem bem!

 The Mist Instagram


 

 

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Cobertura de Show: Alesana - 27/04/2024 - Carioca Club/SP

 Alesana faz público pulsar incessantemente no Carioca Club, em São Paulo

Os estadunidenses do Alesana tiveram mais um demonstrativo de como a legião de fãs brasileiros é fiel ao grupo, assim como eles têm total amor e admiração por esses fãs mesmo após 14 anos de sua última apresentação, no Carioca Club, Zona Oeste de São Paulo, no dia 27 de abril, naquela que foi a última apresentação da turnê latino-americana de celebração dos 20 anos da banda – houve shows, anteriormente, nas cidades mexicanas de Monterrey, Guadalajara e Cidade do México; em Bogotá, na Colômbia, Santiago, no Chile e Buenos Aires, Argentina. As aberturas foram das bandas There’s No Face e Seasmile e a organização foi realizada pela Liberation Music.

As bandas de abertura, apesar das pequenas falhas de som – principalmente do microfone dos vocalistas principais – deram tudo de si em suas apresentações e na divulgação de seus mais recentes trabalhos, além de demonstrarem uma parceria interessante a partir da participação do vocalista de uma banda em uma faixa da outra em cada show. Da mesma forma, conseguiram aquecer uma parte dos fãs que pularam e interagiram aos pedidos da banda, em determinados momentos – incluindo um bate-cabeça intenso.

Já o Alesana foi o pavio, a bomba e o efeito explosivo da noite. Se o público não cantava, ou pulava ou entrava em um dos dois moshes abertos - e vice-versa. Era difícil ver alguém parado na pista ou mezanino e isso só motivou mais a banda estadunidense a performar e aproveitar o espaço do palco ao máximo, não deixando de se movimentar, dançar ou agachar durante o show, desde as dancinhas de quadril e giros com a guitarra de Shawn Milke aos gritos estridentes, agachamentos e sorrisos de Dennis Lee e, também, passando pela circulação imparável dos demais instrumentistas de cordas e o tocar de extrema resistência do baterista Jeremy Bryan. E assim eles tocaram um setlist de 16 faixas que abrangeram os cinco álbuns e o primeiro EP da banda, todos lançados desde 2005, ou seja, a partir de um ano após a formação do grupo. 


Pré-show

O evento caiu no final de semana de Summer Breeze, o que não foi um empecilho para que houvesse lotação no show final, já que se tratava de shows para um público não tão explorado no festival, que aconteceu na Barra Funda, naquele dia. No entanto, da entrada e durante os shows de abertura, o Carioca Club ainda estava vazio, com um a dois terços da pista ocupados ao longo deste período de tempo. Já o mezanino encheu aos poucos, com ocupação maior no período mais próximo.

Em todos os cantos da casa, havia pessoas com vestimentas e outras características que englobam a cultura emo e vertentes. A espera para o primeiro show da noite não foi tanta.


There’s No Face

O grupo brasileiro, formado em 2009 e originário da região do Vale do Paraíba (S, abriu a noite e trouxe um show enérgico, apesar de a casa de eventos ainda não estar lotada no momento. O quarteto, formado por Rafael Morales (vocal), Thiago Silva (baixo), Rod Kusayama (bateria) e Matt Silverio (guitarra), fez sua estreia no Carioca Club e montou um setlist de sete faixas, baseadas em singles da carreira da banda e faixas do mais recente trabalho da banda, o álbum de estúdio “Contra/Senso”, lançado no início de abril.

Alguns momentos das primeiras faixas do show – ao menos o que consegui perceber por estar próximo ao palco – tiveram uma diferença de volume em que a voz do vocalista e do backing vocal não era tão perceptível em comparação com os instrumentos de corda e a bateria. Ainda assim, no decorrer do show, tudo ficou nos conformes e só houve um pequeno desnivelamento do microfone de Morales na sexta faixa.

Em termos de entrega e performance, toda a banda se mostrou bem e enérgica. Rafael Morales encabeçou os pedidos para que o público – ainda que tímido ou não aquecido, por ser a primeira apresentação – não ficasse parado. Foram pedidos de palmas no ritmo, conversas nos períodos entre algumas das faixas – divulgando, inclusive, o novo álbum, mídias sociais e shows futuros -. Na quarta faixa do show, o vocalista do Seasmile, Dinho Simitan, fez uma participação especial e cantou junto com o TNF.

No meio da última música da apresentação, a banda pediu os flashes dos celulares dos presentes, interação que foi bem recepcionada e que culminou num ambiente muito iluminado da pista e do mezanino. Na reta final da mesma faixa, a abertura mais coesa da roda ao fundo da pista, a pedido de Morales, causou o primeiro grande bate-cabeça do evento e finalizou com chave de ouro o debute do There’s No Face no Carioca Club.

 

Seasmile

O quarteto formado em São Paulo, em 2010, se apresentou em meio a divulgação do álbum “Vortex”, lançado em novembro de 2022 e junto a singles dos 14 anos de carreira.

Dinho Simitan (vocal), Raul Guerreiro (baixo), Guilherme Souza (bateria) e Henrique Baptista (guitarra e backing vocal) entraram cinco minutos antes do imprevisto e também fizeram um show com sete faixas no setlist. Apresentação essa que contou com um Carioca Club mais cheio, no entanto, com público ainda contido no começo, mas com uma frequência de respostas maior que no show anterior e com bate-cabeças mais intensos no fundo da pista.

Assim como na primeira apresentação, o show do Seasmile também teve pequenos problemas no volume do microfone principal no início, o que dificultou, ao menos na frente do palco, a ouvir os cantos e guturais de Dinho. No entanto, a normalização veio rápida e a situação melhorou no decorrer do show.

No repertório em geral, a musicalidade da banda foi muito boa, com bons gritos guturais e de Screamo de Dinho, além do acompanhamento ferrenho dos demais instrumentistas. O frontman chegou a pedir que a galera pulasse em algumas faixas, tendo um retorno parcial. Ainda assim, os balançares de cabeças eram evidentes. No entanto, os aquecimentos de bate-cabeça foram mais evidentes, como no exemplo da quarta faixa do show.

A reta final da apresentação foi a parte mais animada, principalmente devido a sequência de faixas tocadas. Na quinta, por exemplo, Dinho dedicou a todo aqueles que têm amigos tóxicos. Fora os pulos mais animados e a roda mais agitada ao fundo, o vocalista do There’s No Face, Rafael Morales, apareceu para participar da música.

Já em “Capoeira”, música denominada como uma “homenagem ao Brasil”, os trechos com berimbau e a letra que fala sobre as lutas da vida que o homem tem diariamente foram um gás para que o público viesse mais intenso nos bangues e na roda de bate-cabeça, principalmente no momento de breakdown da faixa.

E por fim, na sétima e última faixa, “Aurea”, foi a vez de Henrique Baptista chamar o público para pular. Houve resposta parcial, porém maior que nas últimas interações. Além de uma troca de posições do guitarrista e do baixista, a reverência do público ao final da apresentação deu o tom de um ótimo show em sua composição a partir dos aplausos, que foram mais altos e com mais ovações.

 

Os últimos minutos de espera

Com o fim do show do Sea Smile, a expectativa para o fim de uma espera de 14 anos para o show de retorno do Alesana ao Brasil cresceu. A lotação da pista já era muito maior do que horas antes e, com isso, os espaços para transitar eram muito menores.

Os membros e roadies do There’s No Face desceram seus equipamentos do palco para o espaço de fotógrafos, deixando a descarga mais fácil e prática e cedendo para as montagens finais do Alesana.

Houve também uma sequência de alternâncias do volume das caixas de som, que tocavam músicas dos anos 2000. Muito provavelmente, foi algo proposital da equipe local, mas que pode ter causado incômodo em algumas pessoas.

Às 19h05, foi a vez dos testes de instrumentos tomarem a cena. Estes foram percebidos pelo som, claro, pois as cortinas estavam fechadas. Vinte minutos depois, as luzes se apagaram e o fim da espera era oficial.


Alesana e a energia perfeita para um show de retorno

A introdução ao show veio logo com o que pareceu um erro ou, então, um “restart” por algum motivo não identificado: um trecho de “Space Jam”, do grupo Quad City DJ’s, música-tema do filme “Space Jam” (1996), tocou e parou abruptamente. Nesse momento, parte do público começou a cantar “Alesana, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver”. Poucos minutos depois, a mesma faixa começou do zero e, junto a ela, luzes azuis se moveram nas cortinas, como se fosse uma espécie de apresentação.

Com o abrir das mesmas cortinas, começou a introdução “Icarus”, enquanto os membros da banda apareceram aos poucos: Jeremy Brian (bateria), Shane Crump (baixo e backing vocal), os guitarristas Patrick Thompson e Jake Campbell (este também sendo um dos backing vocals) e, por fim, os ovacionados Shawn Milke (vocais limpos e guitarra) e Dennis Lee (vocais sujos). A partir daqui a intensidade do Carioca Club pulsou a níveis super altos.

Na sequência, o Alesana iniciou o show de fato com “Ambrosia”, faixa que, junto à introdução anterior, formam a abertura do álbum de estreia da banda, “On Frail Wings Of Vanity And Wax” (2006), e que introduziu o setlist de 16 faixas da noite. O público finalmente mostrou a sua primeira grande dose de energia caótica ao cantar, quase que de forma coletiva, o refrão da música, o que inibiu até mesmo o baixo microfone de Dennis Lee. Da mesma forma, os instrumentistas já se apresentavam a todo vapor, dando pulos e até giros enquanto tocavam.

Na sequência, em meio aos fortes gritos em nome da banda, o sexteto tocou “Beautiful In Blue”, do primeiro EP da banda, “Try This With Your Eyes Closed”. Dennis Lee mostrou mais daquilo que seria sua marca registrada na noite: gritos fortes e estridentes em quase todas as poses possíveis. Shawn Milke também esbanjou o balançar de seus quadris enquanto tocava e dançava em seu posto, algo que se repetiu em vários momentos do show.


As luzes do Carioca se apagaram ao final da faixa e, após a pergunta de Milke aos fãs sobre estarem ou não bem, o interlúdio “A Lunatic's Lament” pairou sobre as caixas de som, dando assim o preparativo para a próxima música, “The Murderer”. As palmas foram convertidas em dois moshes em questão de segundos, sendo um menor na parte da frente e outro mais intenso ao fundo da pista; além de momentos em que os pulos foram coletivos. Era a elevação de um caos instaurado que também se converteu no palco, com mais da entrega dos membros. Dennis Lee era o exemplo mais claro pois, nessa terceira faixa, já estava completamente suado – Te entendo, Dennis, porque eu também sou de suar muito em pouco tempo de exercício físico ou caminhada. Para completar o combo, ele ainda tomou um pouco de água e jogou um pouco dela e a garrafa para os fãs. Um pouco acertou em mim.

Em “Hand in Hand With the Damned”, o ritmo constante deu destaque para outros membros. Patrick Thompson era um exemplo, com suas danças estranhas e interações com outros membros. Já Dennis Lee se aproximou um pouco mais do público, além de deixar seu microfone de longo fio amarelo pendurado com uma mão e dando socos e tapas com a outra, no ritmo da faixa.

Na sequência da apresentação, a música “Red and Dying Evening” - que aparece tanto no álbum “Where Myth Fades to Legend” (2008), quanto no EP “Red And Dying Evening” (2005) - trouxe mais uma carga de bons gritos de Dennis Lee, além de situações mais performáticas de Shawn Milke – incluindo o lamber do braço de sua guitarra, na finalização da faixa. Ao fim da faixa, a banda fez uma pequena pausa pra água, enquanto Lee perguntou se o público queria um smash hit. Nesse meio tempo, um pequeno erro da equipe de som fez com que a música-tema de “Space Jam” fosse tocada por alguns segundos. Nada que atrapalhou o decorrer do show ou o discurso.

Assim, veio a clássica “Seduction”, também do segundo álbum de estúdio do Alesana. Os fãs presentes voltaram a cantar fortemente e em coro e a banda fez questão de acenar para o público do mezanino. Em seguida, a música “This Conversation Is Over” manteve o tom do público, deu uma nova intensidade aos moshes e trouxe a primeira vez de muitas situações em que Dennis Lee virou as costas para os trechos gritados.

A banda, impressionada com os gritos de “Alesana” após a música anterior, trouxe a palco a também muito bem cantada “The Thespian”, que compõe o álbum “The Emptiness” (2010). Foi nela que a banda fez questão de passar um trecho da faixa a pular e tocar, o que trouxe a galera presente junto neste embalo. Já em “A Lunatic's Lament”, do mesmo álbum, o coro foi incentivado e aumentado com a atitude de Dennis Lee de apontar seu microfone em direção à pista.

A música “Oh, How the Mighty Have Fallen” foi a única que representou o álbum “Confessions” (2015), último lançado pela banda até o momento. Nela, não somente o cantorio dos fãs se manteve constantemente alto, como o breakdown da faixa e sua finalização ficaram em grande evidência de performance do conjunto. Depois, com “Circle VII: Sins of the Lion”, os ânimos dos membros aumentaram, evidentes nas danças de Shawn Milke, no ânimo absurdo dos guitarristas Patrick Thompson e Jake Campbell e no ato de Shane Crump em subir nos bumbos da bateria de Jeremy Bryan na reta final da faixa.

Já “Lullaby of the Crucified” foi uma faxia um pouco mais dançante e menos pesada, comparada com as anteriores, até o bloco final dela, quando Dennis Lee trouxe mais de seus poderosos gritos e uma finalização em que chegou a derrubar o tripé do microfone de Shawn Milke.

Logo na sequência, “Interlude 4” abriu as portas para a faixa “Annabel”, que finalizou o primeiro grande bloco do show com um grande pico de disposição da banda e demonstração clara de euforia, exalar de energias e fidelidade do público que, de ponta a ponta, não deixou de cantar, bater palmas no ritmo de alguns trechos da faixa e abrir os dois grandes moshes da pista – estes, dessa vez, até mais intensos que antes, principalmente no poderoso breakdown da música. Alguns arriscavam subir para serem levados pela onda do público (um deles, inclusive, conseguiu ir longe assim), assim como Dennis Lee esbanjava sua felicidade a ponto de ter tirado sua camisa e jogado para a plateia. No entanto, a vestimenta suada se prendeu na viga de refletores do topo – uma pessoa próxima de onde estive, inclusive, brincou que o público poderia fazer uma espécie de escadinha para chegar à camiseta.

O momento até poderia ser de pausa para descanso da banda, mas não foi para o público. A maior parte dos fãs gritaram o nome da banda e pediram mais um som, em inglês: “One more song”. Um dos roadies da banda fez questão de desligar os instrumentos de corda que ficaram no palco e que soltavam ruídos constantes, por estarem ligados aos pedais e encostando em algo. O resultado foi uma salva de palmas calorosas que foram reforçadas no retorno da banda, minutos depois, quando o chamaram para a frente.

Dennis Lee fez questão de mostrar uma jaqueta personalizada que ganhou e que a denominou como “a mais que já ganhou”, além de ter elogiado o público brasileiro como “o melhor público”. Enquanto a banda se preparava e afinava os instrumentos, Lee também fez questão de gravar toda a pista em seu celular, assim como Shane Crump tirou fotos com uma câmera polaroid antiga. Ao mesmo tempo, outro roadie da banda fez questão de entregar água para um fã que estava na grade e, provavelmente, passou mal ou estava com muita sede.

Com tudo preparado e sob gritos de “mais três sons” por parte da galera presente, o Alesana retomou o show com um pequeno trecho de “When I Come Around”, tocado por Shawn Milke, logo convertido para a faixa “Curse of the Virgin Canvas”, também do álbum “The Emptiness”. Esta música tem uma narração no início e um fã da pista recitou o trecho por completo, sem errar e sem deixar as emoções o embolarem. O coro voltou com tudo, com uma bela evidência já no primeiro verso – “This Is a Nightmare,Is my Annabel really gone?” – e seguindo em grande intensidade vocal da banda e dos fãs até o fim da música.

A aprovação de Dennis Lee levou o público à loucura, assim como o pedido de mais um som por parte do vocalista ter uma recepção mais que positiva. Mas antes do começo da faixa seguinte, Lee fez questão de mostrar dois packs de cartas de Magic que ganhou de um fã, reforçando a paixão da banda por tal jogo de cartas e afirmando que os fãs de Alesana são tão nerds como a banda.

Apesar dos pedidos por “Apology”, a faixa que tocou nesse momento foi “Congratulations, I Hate You”, penúltima da noite e dando o retorno ao repertório de início de carreira da banda. Os ânimos da banda e dos fãs voltaram à toda e com tudo, com mais bate-cabeças e com Shawn Milke girando sua guitarra em volta do corpo por várias vezes, aumentando ainda mais a qualidade de sua performance. As palmas e os pulos do público foram um ótimo complemento à sonoridade, que seguiu impecável, além de uma tentativa de Wall of Death que teve o retorno positivo de Dennis Lee com um sinal de joia.

Naquela que foi a primeira parte da despedida da noite, o Alesana apresentou uma bandeira do brasil que continha o logo da banda. Os agradecimentos, quase emocionados, foram seguidos de uma brincadeira de Shawn Milke, que simulou uma apresentação com o papel do setlist e apresentou os membros a partir de características principais. Foi nesse momento que um fã, aparentemente alterado desde o início, gritou inúmeras vezes para que tocassem uma faixa que não estava na lista de músicas. Dennis Lee fez questão de, em meio a um tom de brincadeira, pedir para que ele “calasse a boca”.

Logo, veio a tão pedida e clássica “Apology”, que trouxe o último gás de um coro forte e alto de um público que não parou em momento algum do show. Foi o momento em que Dennis Lee fez questão de pegar um celular – aparentemente, de uma fã – para gravar todos os membros da banda tocando, assim como, depois, pegou seu microfone e usou um dos tripés para aproximar dos fãs da grade, que responderam seguindo o canto da faixa. E claro, a sonoridade tão constantemente boa seguiu até mesmo em sua finalização. O toque final veio da atitude de Shane Crump, que fez questão de ir ao meio da roda do fundo da pista para terminar a faixa de lá, sendo muito bem recepcionado pelos fãs e até mesmo protegido em alguns momentos pelos próprios, que aproveitaram até mesmo para gravá-lo de perto e o reverenciar no fim da música.

E a despedida final, claro, se tornou tão caótica quanto a outros momentos do show: Lee, extasiado, pegou outra garrafa de água para beber e jogar o restante no palco e, por fim, se jogou na poça como se estivesse em um tobogã; Jake Campbell, com aparência mais jovem, pegou um dos papéis de setlist, fez um aviãozinho e jogou para a galera, sem sucesso de alcance; e Shawn Milke, por fim, jogou quase tudo o que tinha de acessórios para seus fãs: palhetas, munhequeira, prendedor de cabelo e até uma garrafa de água.

Para os fãs presentes, o retorno do Alesana trouxe um show inesquecível e demonstrou a fidelidade ao grupo, apesar de tantos anos sem uma apresentação na capital paulista. Para a banda, com certeza foi mais uma demonstração da força que eles têm, apesar de não virem frequentemente e estarem em um retorno aos palcos. Quem sabe, em um futuro próximo, o retorno ao Brasil seja uma realidade e com maior amplitude – para datas e locais -, para apresentações tão marcantes quanto essa.

 

Texto: Tiago Pereira

Fotos: Gustavo Palma

Revisão/Edição: Gabriel Arruda

 

Realização: Liberation MC

Mídia Press: Tedesco Comunicação & Mídia

 

Alesana

Ambrosia

Beautiful in Blue

The Murderer

Hand in Hand With the Damned

Red and Dying Evening

Seduction

This Conversation Is Over

The Thespian

A Lunatic's Lament

Oh, How the Mighty Have Fallen

Circle VII: Sins of the Lion

Lullaby of the Crucified

Annabel

***Encore***

Curse of the Virgin Canvas

Congratulations, I Hate You

Apology