sábado, 31 de dezembro de 2022

Cobertura de Show – Judas Priest & Pantera – 15/12/2022 – Vibra SP/SP




Dezembro de 2022 ficou marcado pela enxurrada de shows em SP. Logo após a pandemia ter dado trégua, o mês, talvez, foi um dos mais movimentados de shows no ano. Isso é ruim? De forma alguma! Mas, devido a realidade de muita gente, fica difícil ter dinheiro suficiente pra ir em todos os shows pra, no final, optar somente por um.

É claro que as produtoras tentam não colocar shows no mesmo dia ou na mesma semana em que vai acontecer outro, porém não dependem só deles pra que esse conflito não aconteça. 

Encerrando o ano com chave de ouro, Judas Priest e Pantera aproveitaram a participação do Knotfest pra fazer um ‘sideshow’ no nostálgico e antigo Credicard Hall, Vibra SP. A casa, que já teve vários shows históricos no final dos anos 90 e começo dos 2000, e que voltou esse ano após ter anunciado o fim das atividades durante a pandemia, recebeu dois gigantes do Heavy Metal que marcaram época em uma noite pra ficar eternizada na memória dos headbangers paulistanos. 

Que os dois shows foram avassaladores e o público saiu revigorado isso é inegável, mas não podemos deixar de escapar alguns pontos negativos que desagradaram muita gente. A primeira delas é a questão dos horários previstos para o início dos shows (Pantera – 20h30 e Judas Priest – 22h15), que além de serem ruins para uma quinta-feira à noite, tiveram um atraso descomunal.

E devido muita gente estar voltando dos seus trabalhos, alguns, infelizmente, perderam o início do show do Pantera por conta do trânsito caótico de SP (pra quem estava indo de carro) e do horário de pico pra quem dependia do transporte público. 

Outro ponto que muita gente criticou bastante foi a logística implementada pra estar adquirindo bebidas no local. Quem queria beber alguma coisa tinha que sair do local onde estava, pegar uma fila pra comprar fichas e outra fila desnecessária pra retirada, gerando desconforto e descontentamento pra quem pagou caro pra estar na Pista Premium, que estava tão amontoada de gente que nem dava pra se mover conforme o público ia chegando. Mas vamos ao que mais interessa, que são os shows... 


O Legado do Pantera Vive

A primeira atração da noite, Pantera, foi a mais aguardada pelo público brasileiro no cast do Knotfest e do ‘sideshow’ que estamos comentando, especificamente, neste texto. A última vinda deles aqui no Brasil durava 28 anos (a última foi em 1995), mas a espera acabou depois que a banda anunciou o retorno as atividades no segundo semestre. A turnê, inicialmente, passou por México e países da América Latina, mas que também vai passar por Estados Unidos e Europa no próximo ano. 


Polêmicas, opiniões e, principalmente, rejeição, não faltaram após o anuncio do retorno. Para os fãs assíduos dos irmãos Abbot (Dimebag Darrell e Vinnie Paul) não fazia sentido algum da banda retornar com um tributo ou reunião (como melhor definirem) deles não estando mais vivos. Mas muitos, ainda bem, não se renderam ao extremo a esse saudosismo que até eu, em partes, também tenho. Afinal a maioria, pra quem nunca viu um show deles ao vivo, foi com a intenção de ver e ouvir as músicas que marcaram a época de ouro dos texanos. 


Sobre as escolhas de quem ia suprir a ausência de Dimebag e Vinnie não poderia ser melhor. O icônico guitarrista Zakk Wylde (Ozzy Osbourne, Black Label Society) se incumbiu de interpretar os marcantes riffs e solos do seu fiel amigo. Ele tocou e imprimiu o som exatamente igual ao que Dimebag fez no passado? Não, mas chegou o mais próximo possível por ter um timbre semelhante.



A maioria (inclusive este que vos escreve) é suspeito pra falar desta lenda da guitarra, e no meu ponto de vista, as músicas ficaram animais com o som de guitarra dele. A mesma analogia vale para o baterista Charlie Benante, do Anthrax, que prestou toda ferocidade com sua própria característica que o fez ser conhecido mundialmente como um dos melhores bateristas de Thrash Metal da história.

Ambos não deixaram de prestar o respeito e homenagem pelos Abbot: a imagem deles na pele dos dois bumbos do kit de bateria do Benante e do famoso colete de Wylde evidenciaram isso visualmente. 

Faltando poucos dias pra aterrisarem aqui no Brasil, o baixista Rex Brown, infelizmente, contraiu a Covid-19, não podendo estar presente não só nos dois shows em solo brasileiro, mas também nos dois que aconteceram no Chile, tendo que se contentar somente com a presença do vocalista Phil Anselmo como único remanescente da formação original. Para o seu lugar foi recrutado, temporariamente, Derek Engemann (Cattle Decapitation, Phil Anselmo solo) que, por sinal, mandou muito bem.


Com um pequeno atraso de 5 minutos, às 20h35, um vídeo mostrando o convívio e o dia a dia que os membros tinham nas turnês que fizeram no passado era exibido nos telões do Vibra SP ao som de “Regular People (Conceit)”, que logo deu lugar a duas silhuetas de Dimebag e Vinnie com “In Heaven (Lady in the Radiator Song)”, de David Lynch & Alan R. Splet, rolando ao fundo para que o quarteto, após a queda do gigante backdrop com o logo da banda e com o palco todo produzido (tendo nas laterais o CFH em cima de serpentes, telão interativo e um turbilhão de fumaça sendo ejetado pra cima), entrar em cena com as duas primeiras músicas que abrem o clássico “Vulgar Display Of Power” (1992), só que na ordem invertida.

“A New Level” começou o show de forma ensurdecedora e com o público cantando o refrão a altura; “Mouth Of War” também não foi diferente, porém a afinação que o Zakk Wylde deixou nela e as condições vocais de Anselmo causou uma certa estranheza, mas que não baixou a onda e a energia de forma alguma.


Falando no Anselmo, entendo que aquela voz que originou sua personalidade não é mais a mesma faz muito tempo. O alcance e a potencialidade podem ter perdido a força por conta dos abusos que teve no passado e da idade, mas em músicas como “Strength Beyond Strength”, “Becoming”, “I’m Broken” e “5 Minutes Alone”, ambas do injustiçado “Far Beyond Driven” (1994), mostrou que ele se preparou bem pra essa turnê.

Com a chegada de mais gente, o público correspondeu novamente cantando, flutuando (a pedido do Anselmo em “Becoming”) e quebrando, moderadamente, os ossos de quem estava ali perto da roda. E era difícil ficar resguardado a cada nota que era executada nas músicas presentes do set, pois a altivez que elas possuem é algo inimitável. 



Nessa parte do set, Anselmo não deixou de homenagear Dimebag, dizendo que todos os shows da tour estão sendo dedicados a ele (estranho dele não ter feito referência ao Vinnie). Ele também aproveitou pra falar que o Rex já se encontra melhor e prometeu que a banda pretende voltar no futuro com ele tocando, não deixando também de agradecer o suporte de Derek nos dois últimos giros latinos. 

Dando continuidade, “This Love” ganhou uma roupagem mais medonha com as guitarras de Zakk Wylde, mas a voz de Anselmo, especialmente nela, estava muito abaixo do esperado que até o próprio pedia apoio de todos pra cantar o refrão; “Yesterday Don’t Mean Shit”, do pouco comentado “Reinventing the Steel” (2000), foi a surpresa do set, a minha preferida do álbum e que ao vivo ficou incrível.

Antes de mandarem “Fucking Hostile”, Anselmo falou da importância e a felicidade de estarem ao lado do Judas Priest que até arriscou uma palinha de “Exciter” pra, logo em seguida, todos fossem empurrados pra frente do palco (parecendo filme 300) com mais uma música do “Vulgar Display Of Power”. 


O momento mais emocionante, e que deve ter tirado as lágrimas de muita gente, foi o vídeo mostrando todos os momentos que Dimebag e Vinnie passaram juntos na banda com as melodias iniciais de “Cemetery Gates” sendo executada durante a exibição. Logo após o termino, a banda voltou a palco para mandar um cover de “Planet Caravan”, do Black Sabbath, com destaque do Charlie tocando as percussões mais à frente do palco e o Zakk encerrando ela com um solo espetacular. 

A clássica “Walk” regressou novamente ao clima agressivo com a casa indo abaixo com os seus riffs iniciais. O clima estava tão absurdo que Anselmo, rapidamente, pediu pra que o inicio fosse interrompido pedindo ainda mais a animação do público. O que já estava melhor, ficou melhor ainda após esse pedido. O medley de “Domination/Hollow” e a simbólica “Cowboys From Hell” puseram fim na apresentação, difícil de resumir em palavras, mas se for pra escolher uma, eu definiria como ANIMAL.


E com certeza, a maioria de quem presenciou todo esse momento da noite, relembrou de momentos nostálgicos ouvindo essas músicas nas rádios, assistindo aos clips no extinto Fúria Metal da MTV e celebrando a importância que essa banda tem na história do Heavy Metal. Para as viúvas dos irmãos Abbot que não foram ao show, só tenho uma coisa a dizer: O CHORO É LIVRE!



Os Sacerdotes Celebrando Meio Século no Palco!


Era hora de relaxar os músculos enquanto a equipe técnica do Pantera retirava toda a parafernália para que todos os aparatos do Judas Priest fossem apostos no palco. Este foi meu terceiro show que vi do Priest, e em matéria de produção (tema mais industrial com destaque para a enorme tríade que ficou elevada no centro do palco) foi o melhor que vi deles. E também foi o primeiro show que vi deles em local fechado e com uma visão e proximidade melhor das que eu tive dos 2 shows que vi no passado.


Ansiedade a mil? Lógico! E ela imediatamente evaporou, às 22h45, quando o quinteto de Birmingham mandou logo uma trinca fenomenal com “The Hellion/Electric Eye” (música que melhor define os 50 anos de carreira da banda), “Riding on the Wind” com a apoteótica virada de bateria do Scott Travis e a pesada “You’ve Got Another Thing Comin’”, ambas do álbum “Screaming for Vengeance” (1982), que esse ano completou 40 anos de lançamento. 

Já que comentei sobre os 50 anos de carreira, a atual turnê abrangeu as 5 décadas de atividade dos ingleses. E em se tratando de comemoração, o setlist resgatou músicas que há muitos anos não eram executadas ao vivo, casos de “Jawbreaker”, do “Defenders of the Faith” (1984), e suas arrepiantes palhetadas pra baixo e a ‘chicletosa’ “Devil’s Child”.


Essas duas, em especial, mostraram que o Metal God, Rob Halford, no auge dos seus 71 anos, ainda continua com a voz jovial: as barbas brancas e algumas ruguinhas é apenas um detalhe. A empatia e atenção que ele presta ao público é outro detalhe que faz todos terem respeito por ele, que quem estava exprimido perto do palco não deixou de receber seus cumprimentos. Não esquecendo, no meio dessas duas faixas, teve a agressiva “Firepower” – única do mais recente disco presente no set. 


A cada música terminada, o público ovacionava a banda aos gritos de “Priest, Priest, Priest”, e o repertório reservava ainda mais clássicos para que o dia virasse com chave de ouro. Mas antes de comentar dos próximos destaques, não posso deixar o meu elogio e respeito ao Ritchie Faulkner e Andy Sneap.

É claro que muitos sonham com a volta do K.K. Downing e GlennTipton, dupla de guitarristas mais cultuada da história do Heavy Metal. Mas por conta de um não querer mais fazer turnês e o outro impedido de tocar devido a problemas com parkinson, esse sonho está longe de acontecer – apesar dos dois terem voltado a tocar ao vivo exclusivamente durante a premiação no Rock and Roll Hall of Fame, ocorrido em novembro desse ano.


Mas a dupla atual vem dando continuidade no legado que os dois deixaram com total segurança e fidelidade, e ambos sempre presenteavam o público jogando palhetas (uma pena não ter conseguido uma, mas faltou pouco). 

A cozinha, formada por Ian Hill e Scott Travis, também merece relevância e destaque. A cada virada e batida que o Scott dava era como se fosse um choque emitido em nosso corpo. Já Ian Hill – único membro original da banda – passava toda da sua força na palheta nas 4 cordas de seu baixo, e sempre no seu estilo discreto, resguardado no mesmo canto do palco ao lado do Scott. 


O show deu continuidade com a emblemática “Turbo Lover”, que pra este autor, é a melhor música da história do Judas Priest e presente no disco mais injustiçado deles que é o “Turbo” (1986).

Se a banda já havia resgatado músicas que não eram executadas há tempos, “Steeler”, do afamado “British Steel” (1980), conduziu todos ao delírio. A tríade, que em todo show ficou no topo do palco, ficou em pé durante a sua execução. A intensidade e o temperamento acondicionou mais e mais nas célebres “Between the Hammer and the Anvil” e “Metal Gods” – essa última com Halford andando igual aos robôs que eram exibidos no telão durante os riffs principais. 


O cover de “The Green Manalish (With the Two Prong Crown)”, do Fleetwood Mac, teve um aquecimento vocal do Halford junto com o público ao ritmo de uma das músicas mais clássicas do lendário compositor germânico, Beethoven, com “Für Elise”. 

Já que Halford se comunicava pouco com o público, Scott Travis deu algumas palavras e reforçou que a banda estava comemorando 40 anos do álbum “Screaming for Vengeance”, dito anteriormente.


E como a próxima música seria a faixa título deste disco, Scott pediu pra que todos gritasse ‘Vengeance’ depois dele falar ‘Screaming Of’. Antes de partir para o bis, Scott introduziu a virada mais importante da sua vida e a mais popular da história. Não tinha sombra de dúvidas que era a vez de “Painkiller”, onde nela, especialmente, foi exibido um vídeo do Glenn Tipton tocando solo dela em forma de homenagem. 


O encerramento veio com uma trinca saliente. Halford, junto com a banda, retornou ao palco pilotando a sua famosa e tradicional Harley-Davidson para mandar ver com a veloz “Hell Bent for Leather”. A parte mais cômica deste momento foi o Halford judiando do Andy Sneap batendo nele, levemente claro, com seu cassetete.

As radiofônicas (e indispensáveis) “Breaking The Law” (sempre com direito a coreografia do Halford, Faulkner e Sneap no centro do palco) e “Living After Midnight” puseram fim na apresentação, voltando a dizer que, pra mim, foi a mais inesquecível que eu vi da banda. 


Não há como negar que o Black Sabbath, Deep Purple e o Led Zeppelin constituíram a santa trindade do Rock pesado, mas o Judas Priest é a verdadeira personificação do Heavy Metal não só musicalmente, mas também na parte estética e na atitude que moldaram os 50 anos de trajetória. Não sou eu, mais a maioria, costuma afirmar que o Judas não é uma banda de Heavy Metal, ela é o próprio Heavy Metal. 


Texto: Gabriel Arruda 

Fotos: Leandro Almeida 

Edição/Revisão: Carlos Garcia 


Produção: 30Entertainment

Assessoria de Imprensa: Midiorama 


Pantera

A New Level 

Mouth for War

Strength Beyond Strength 

Becoming 

I’m Broken

5 Minutes Alone 

This Love

Yesterday Don’t Mean Shit 

Fucking Hostile 

Planet Caravan (Black Sabbath cover)

Walk

Domination / Hollow

Cowboys From Hell


Judas Priest 

The Hellion/Electric Eye

Riding on the Wind

You’ve Got Another Thing Comin’ 

Jawbreaker 

Firepower

Devil’s Child

Turbo Lover 

Steeler 

Between the Hammer and the Anvil 

Metal Gods

The Green Manalishi (With the Two Prong Crown) (Fleetwood Mac Cover)

Screaming for Vengeance

Painkiller 

***Encore***

Hell Bent for Leather 

Breaking the Law

Living After Midnight 


sábado, 10 de dezembro de 2022

Ibaraki: Projeto Solo do Guitarrista do Trivium Traz Novos Ares ao Metal Extremo



O guitarrista e vocalista do Trivium, Matt Heafy, é filho de mãe nipônica e nasceu no Japão, e colocou para fora as suas influências e origens em seu trabalho solo, o Ibaraki, o qual vinha trabalhando há algum tempo.  O disco traz influências Black Metal e temática inspirada na religião xintoista, abordando monstros, deuses e deusas da mitologia japonesa.

Sobre a temática Matt comentou em entrevistas a algumas publicações no exterior que durante a produção do disco contou a Ihsahn (Emperor, que foi um dos grandes inspiradores do trabalho) que não tinha letras ainda, e falou para ele: “Eu gostaria de ser norueguês para poder escrever sobre Ragnarok e Thor lutando contra Jörmungandr”, e o mentor do Emperor lhe respondeu algo assim: “Matt, esse tipo de coisa já foi feita muito, toque em seu lado japonês”. E aí surgiu a ideia da temática das letras do disco.


O álbum intitulado "Rashomon" é Black Metal influenciado por músicos como Ihsahn (Emperor), que também colaborou com a produção, então o que temos aqui é liberdade criativa, com camadas sonoras densas, agressivas e velozes, mas com muita técnica e instrumental soando muito bem definido. Além do citado, ainda participam mais convidados especiais, como Nergal (Behemoth) e Gerard Way (My Chemical Romance).

Em meio à agressividade, velocidade e peso, temos incursões no progressivo, trechos mais melodiosos, limpos (inclusive os vocais), partes acústicas e instrumentos inusitados para o estilo, tornando a audição bem interessante, pois a cada música você fica esperando que novos elementos surgirão.


Matt faz um trabalho consistente e diversificado nas guitarras, com riffs quebrados, com peso e previsão. Nos vocais também nota-se um trabalho cuidadoso, variando agressividade e vocais limpos com muita competência.

Destaques? Dá para enumerar alguns, como "Kagutsushi", que entra logo após a intro de abertura traz uma boa tônica do álbum, alternando trechos agressivos e caóticos com partes progressivas e limpas. Matt mostra aqui muita competência em nuances vocais diversas; "Ronin", com Gerard Way aparecendo como convidado nos vocais, uma viagem progressiva, melodica e com certa melancolia em seus mais de 9 minutos; "Ibaraki-Doji", também longa, com mais de 7 minutos, traz nuances épicas e vai passando por diversos climas, com trechos progressivos e limpos, chegando a um ápice de velocidade e agressividade repentinamente, com um trabalho descomunal na bateria e riffs, sempre mantendo uma grandiosidade sonora.


Um trabalho de muito apuro musical, que apresenta novos ares ao Black Metal e Metal Extremo, mostrando que com talento, feeling e criatividade, sempre é possível trazer novidades ao Metal e seus principais sub-estilos.

Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação

Banda: Ibaraki
Álbum: "Rashomon" (2022)
País: USA
Estilo: Black Metal, Progressive Metal
Selo: Nuclear Blast/Shinigami Records 

Adquira o álbum no site da Shinigami

Tracklist
1. Hakanaki Hitsuzen
2. Kagutsuchi
3. Ibaraki-Doji
4. Jigoku Day?
5. Tamashii No Houkai
6. Akumu (Feat. Nergal)
7. Komorebi
8. Ronin (feat. Gerard Way)
9. Susanoo No Mikoto (feat. Ihsahn)
10. Kaizoku




quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Cobertura de Show – Michale Graves + Furia Ic. – 03/12/2022 – Carioca Club/SP


Depois de 3 anos da sua última vinda, Michale Graves, ex-vocalista da banda de horror/punk Misfits, retornou (no último sábado, 03/12), ao Carioca Club, em SP, para mais uma perna da sua bem-sucedida turnê American Monster II, que faz referência aos discos “American Psycho” (1997) e “Famous Monsters” (1999) – discos que, até hoje, são verdadeiras obras-primas do Punk Rock e da história dos americanos de Nova Jersei. 

Não é de se surpreender que São Paulo é a principal rota de shows internacionais aqui no Brasil por ter as melhores casas e a maior gama de público do Brasil, porém, justo nesse dia, fomos surpreendidos com 3 shows de grandes bandas: The Exploited (Hangar 110), Lucifer (Fabrique Club) e, claro, Michale Graves. E com contatos com colegas de imprensa, todos eles tiveram ótima média de público, mas foi difícil ter que escolher somente um pra ir. 

Sem muita espera, os paulistanos do Furia Inc. se encarregaram de esquentar os motores com o seu Heavy Metal moderno conforme horário combinado, 17h40. Com bastante rodagem e realizações nos 12 anos de atividade, a banda – liderada pelos irmãos Neto (bateria) e Gustavo Romão (guitarra) – ganhou sangue novo com o novo vocalista, Ber Aghazarm, que tinha na titularidade Victor Cutrale – completa a formação o baixista Fish Nothing. 
Não abalados com, até então, baixa presença de público (que merecia muito mais pelo ótimo trabalho que fazem), o quarteto surpreendeu todos com músicas dos dois últimos álbuns, que começou o show com a intrínseca “The Endless Void” e da Thrash/Death Metal, “Crash”, do ‘debut’ álbum “Murder Nature”.

Felizes por estar abrindo para o Michale Graves, logo mandaram o novo single Reborn (até então única faixa que tem Aghazarm nos vocais) para evidenciar o novo momento da banda. Já que a noite seria de muito Punk Rock, a banda mandou um medley matador de clássicos do gênero que levantou o astral de todos com “American Jesus” (Bad Religion), “God Save The Queen” (Sex Pistols) e “Poison Heart” (Ramones), que teve a participação do guitarrista do Laboratori, Rogerio Wecko. 

O restante do set abrangeu mais momentos da curta discografia da banda, trazendo ainda mais ardência com as pesadas “Pitchblack Downfall” e “The Cage”, donas de riffs grudentos de pura impetuosidade. A última citada teve um apagão sonoro no seu decorrer, mas que não demorou para restabelecer tudo e retomar de onde parou. “Light The Fire” (outra que possui riffs fortes) e a derradeira “Slaves to the Blood” carregou a vitalidade de todos para o que viria a seguir.

Este foi meu terceiro show do Furia Inc. e, mais uma vez, tenho que tirar o chapéu para esses caras, pois ao vivo eles sempre entregam uma apresentação animalesca.

A banda acertou na escolha de Aghazarm, que a todo momento mostrou energia e forte interação com o público, além de possuir (olhando de longe) uma certa semelhança com Björn Strid (vocalista do Soilwork, The Night Flight Orchestra). Sem querer puxar saco, não posso deixar de elogiar a linda camiseta do time que o Neto Romão estava usando. Quem me conhece vai saber do que estou falando... 

Previsto para as 19hrs, a entrada do Michale Graves ocasionou um atraso de quase uma hora. O acontecimento de 2019, que não vale a pena ficar relembrando, pairou na cabeça de muita gente nessa hora... Pra amenizar a espera e a ansiedade, o grande DJ das noites paulistanas, Edu Rox (Lokaos Rock Show, Skulls Talk Show), embalou a festa com grandes hits do Punk, Heavy Metal e até do Hard Rock, indo de Turbonegro, The Stooges e Dead Kennedys à Pantera, Hatebreed e Guns N’ Roses (que novidade da parte dele, não é mesmo?). 

A Hora da Festa do Horror Punk

Cortinas abertas, Justin Parks (guitarra), Ricardo “Ritchie” Vazquez (baixo) e Tito Rojas (bateria) logo executaram as primeiras notas da medonha intro, Abominable Dr. Phibes, para que o dono da festa – trajado de uma camisa de força e estilizado com sua amedrontante maquiagem – entrasse em cena para que a roda descomunal e o caos sonoro estabelecessem a noite com uma trinca pra lá de infernal com “American Psycho”, “Speak Of The Devil” e “Walk Among Us”. 


Nesse primeiro ato, com “American Psycho” tocado na integra, mostrou o quão brutal as músicas desta pérola se portam ao vivo. O vigor e o alento emanado das músicas (substantivos que se alastraram ainda mais em “The Hunger”) também culminaram na fauce do público, que não parava de cantar um segundo a cada música que vinha, principalmente aquelas que tem o tradicional ‘oh, oh, oh’. “Dig Up Her Bones”, maior sucesso da carreira da banda, é a melhor definição e clareza desse argumento.


Outro ponto forte da apresentação são os notáveis ‘stage diving’ e a ida dos fãs ao palco para poder tentar cumprimentar, dar um abraço e até mesmo tirar uma rápida foto com o Graves tendo os seguranças sempre por perto para que nenhum imprevisto acontecesse com o vocalista. Afinal, toda segurança é importante nessa hora – momentos esses que foram bem representados em “Resurrection” e “This Island Earth”. 


Que o carisma do Graves é de uma tremenda castiça todo mundo sabe, mas ele também gosta de contar histórias, relembrar de momentos difíceis que passou na vida, vigiar as maldades que andam acontecendo no mundo e de sempre estar caindo e se levantando (que nem acontece nos ‘moshs’) para não desistir e seguir em frente. O mais engraçado foi ele permitindo os seguranças a encher o tanque dos que estavam comprimidos no palco com diversos tipos de bebida.


Muitas garotas também estavam espremidas na frente do palco. Preocupado ele quis saber se todas estavam bem, oferecendo água e entre outras coisas; e quem estava acompanhada de um cara, namorado ou marido, pediu para cuidar bem delas igual ele cuida da Lindsey, que deve ser namorada ou esposa dele. Esse carinho pelas meninas foi mostrado em “Day Of The Dead”, onde ele fez questão de estar abraçado com uma garota na parte final e mais climática da música. 


O arrepiante ‘oh, oh, oh’ tomou conta novamente quando chegou a vez de “The Hauting”, que daí em diante, até encerrar o ciclo de “American Psycho” com “Don’t Open ‘Till Doomsday”, a galera (com presença significativa na pista) não se reprimia em vocalizar cada verso e de estar envolta na temida roda, que cada vez mais se alargava conforme ia passando o show.
Acho que se estivesse na pista, até arriscaria em adentrar nela, porém acabei assistindo ao show no camarote e o meu físico não está em dia para eu cometer esse risco. Quem sabem numa próxima... 


Era chegada a hora de despojar as pérolas contidas em “Famous Monster”. O calor, que já foi estrondoso no set anterior, fervilhou quando começou a sequência com as emblemáticas “Kong at the Gates”, “Forbidden Zero”, “Lost in Space” e “Dust To Dust”. O agito e a recepção dela foi tão surpreendente que parecia que o show estava só começando.

Assim como foi no primeiro ato, Graves não deixava de interagir e conversar com todo mundo. Não muito contente de assumir todo seu poder sozinho, ele fez questão de compartilhar sua força com todos antes de tanger a vibrante “Scream”, que proporcionou o momento mais lindo (como ele mesmo disse) e emocionante da noite ao ver todos antecipando o começo dela com o costumeiro ‘oh, oh, oh’. 


O amor pairou no ar quando chegou a vez de “Saturday Night”, e segundo fontes, vários casais começaram a namorar ao som dessa música. Não restam dúvidas que alguns deles estavam no show para testemunhar isso. A pancadaria logo voltou à tona com “Pumpkin Head” até “Helena” – essa última encerrando a noite de forma apoteótica. O show, que bateu 2h30, e teve que ser encerrado meio que as predsas para não atrasar a programação normal do Carioca Club, tanto que o Graves saiu sem se despedir de todo mundo.

Indescritível em poder apreciar todos esses clássicos, que com certeza não só eu (como outras pessoas) fizeram a escolha certa em estar presentes neste verdadeiro caos enquanto outros shows estavam acontecendo ao mesmo tempo. Mesmo quem não é muito familiarizado com as músicas do Misfits, vale a pena a experiência de sentir a energia matadora que Michael Graves coloca nos seus shows. 

Texto: Gabriel Arruda | Instagram @gabrielarruda07

Edição/Revisão: Carlos Garcia | Instagram @cacogarciaroadtometal 

Fotos: André Tedim | Instagram @andretedimphotography

Produção: Dark Dimensions

Assessoria de Imprensa: JZ Press 

Agradecimentos: Johnny Z (Metal na Lata, por ceder as fotos) e Luana Beco (Lu Beco Artes, pelas traduções) 

Furia Inc. 


Raw / The Endless Void

Crash

Reborn

American Jesus (Bad Relegion) / God Save The Queen (Sex Pistols) / Poison Heart (Ramones)

Pitchblack Fall

The Cage 

Light The Fire

Slaves To The Blood



Michale Graves


American Psycho

Abominable Dr. Phibes (instrumental)
American Psycho
Speak of the Devil
Walk Among Us
The Hunger
From Hell They Came
Dig Up Her Bones
Blacklight
Resurrection
This Island Earth
Crimson Ghost
Day of the Dead
The Haunting
Mars Attacks
Hate The Living, Love The Dead
Shining
Don’t Open ‘Til Doomsday
Hell Night


Famous Monster

Kong at the Gates (instrumental)
The Forbidden Zone
Lost in Space
Dust to Dust
Crawling Eye
Witch Hunt
Scream!
Saturday Night
Pumpkin Head
Scarecrow Man
Die Monster Die
Living Hell
Descending Angel
Them!
Fiend Club
Hunting Humans
Helena
Kong Unleashed (instrumental)