Depois de 15 anos da sua última vinda ao Brasil, a voz do Tyketto, Danny Vaughn, irá retornar ao pais em breve para três apresentações, uma delas, em SP (19/08), com ingressos esgotados. Mas para quem não conseguiu ingresso para essa primeira data na capital paulista poderá adquirir ingresso para o show do dia seguinte (20/08) com um setlist totalmente diferente.
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Danny Vaughn começou a ganhar fama mundialmente após o lançamento do primeiro álbum do Tyketto, “Don’t Come Easy”, que será executado na integrada em todos shows aqui no Brasil.
Antes de integrar o Tyketto, Danny foi vocal do Waysted, banda que foi liderada pelo saudoso e lendário baixista do UFO, Pete Way. Destaque também para os álbuns com o From The Inside e o solo "Myths, Legends & Lies". Quando não há compromissos com o Tyketto, Danny investe na sua carreira solo e em shows acústicos pela Europa e na Espanha, pais em que reside desde 2009.
Antes de desembarcar para o Brasil, o vocalista disponibilizou um pouco do seu tempo para nós do Road To Metal para falar como foi o período da pandemia, os primórdios do Tyketto a expectativa para os shows aqui no Brasil e algumas outras curiosidades.
RtM: Obrigado Danny por disponibilizar um pouco do seu tempo para conversar conosco e responder algumas perguntas. Para começar, gostaria de saber como foi a sua vida durante a pandemia da Covid-19?
Danny: Oi Gabriel! Que bom falar com você. A pandemia foi uma longa história para todos nós... Primeiro foi um pouco assustador, mas também houve algo libertador sobre isso. Na Espanha ficamos trancados em nossas casas por 47 dias. Tudo ficou difícil rapidamente. Então teve a hora da crise real, ambos nacional e pessoal, mas também teve um renascimento.
RtM: Faz um tempo que você está morando na Espanha, o que te motivou a deixar Cleveland para conviver com a atmosfera espanhola?
Danny: Eu nasci em Cleveland, mas meus pais mudaram de lá quando eu tinha menos de um ano. A gente teve que morar em muitos lugares, mas eu sempre penso em mim mesmo como um nova iorquino, porque nos mudamos para lá quando eu tinha sete anos e vivi lá até os meus vinte.
Eu já morei em vários lugares nos Estados Unidos, mas me mudei para Irlanda em 2004 e depois, em 2009, para a Espanha. Eu adoro aqui.
RtM: Lembramos também que você gravou um álbum com a banda espanhola Burning Kingdom, do guitarrista Manoel Seoane (Delalma, e que também tocou com o Mago de Oz). Conte para a gente como foi essa experiência, e fale um pouco sobre esse trabalho.
Danny: Adorei trabalhar com Manoel. Ele é uma das almas mais gentis que já conheci. É um musico brilhante e talentosíssimo. Me chamaram para este projeto porque o cantor deles havia pegado muito dinheiro e sumiu com a grana. Um amigo em comum me perguntou se eu estava disponível para ir a Madrid e ajudar o Manoel.
A pior parte foi que todo o trabalho já estava gravado, então muito pouco poderia ser mudado. Tive que escrever as letras e melodias para encaixar em um trabalho pré-existente. Foi bem difícil, mas fiquei feliz com o resultado das canções. Não muito feliz com a produção e gravadora.
RtM: Um grande vocalista brasileiro, que lançou disco pela Frontiers Records há dois anos atrás, Alirio Netto, está morando na Espanha também. Por conta do Hard Rock estar mais presente na Europa do que nos Estados Unidos também foi um dos motivos da mudança para Europa?
Danny: Sim, muito. Soube que poderia continuar minha carreira na Europa, mas não nos Estados Unidos. Sempre achei que na Europa e na América do Sul os fãs têm uma grande memória, e não te esquecem quando a moda musical muda.
RtM: Estava pesquisando sobre ti e vi que temos semelhança em algumas coisas... E tanto eu, Gabriel Arruda, quanto você, nascemos no mês de julho. Eu costumo dizer que as pessoas boas nascem nesse mês (risos). E a outra coincidência é que você tem a mesma idade do meu pai.
Danny: Então eu tenho a mesma idade que seu pai? Não sei o que sinto sobre isso (risos).
Sério, obrigado pelas palavras gentis.
RtM: Mês passado você completou sessenta e dois anos de idade. Fãs seus aqui no Brasil falam que você está cantando muito mais e parece em melhor forma do que quando era mais jovem. Ter se tornado vegano ajudou a manter a aparência jovem, além, claro, de manter sua saúde vocal em forma?
Danny: Não sei se pareço mais saudável do que antes no começo do Tyketto, mas eu sei que me sinto bem para minha idade. Me tornei vegano sete anos atrás e teve muitos efeitos positivos na minha vida. Definitivamente sinto que sou um cantor mais forte por causa da minha dieta.
Ano passado comecei a comer peixe de novo, então não me intitulo vegano mais. Mas ainda não como carne vermelha ou lacticínios. Não digo as pessoas o que comer, mas essa mudança funcionou para mim. Também estou em um maravilhoso casamento que dura 14 anos e quando você tem apoio total do seu (a) parceiro (a), isso tira um grande peso dos seus ombros.
E por nascer em julho (nos Estados Unidos), nossas mães nunca nos perdoarão por nascermos no mês mais quente do ano.(Risos!)
RtM: “Don’t Come Easy”, disco de estreia do Tyketto, está já com mais de 30 anos. Só que o álbum saiu em uma época onde o grunge estava dominando o mercado da música. Você acredita que se o álbum tivesse sido lançado nos anos oitenta a repercussão teria sido melhor?
Danny: Acredito que sim. O lançamento do álbum foi atrasado pela gravadora Geffen Records porque eles estavam em um processo de venda para a Universal, então tudo que estava na lista de lançamento foi sendo adiado. Isso nos custou muito.
RtM:O tempo fez bem para "Don't Come Easy", pois o disco continua soando atual nos dias de hoje e é considerado um dos melhores trabalhos da história do Hard Rock. Quais foram as melhores lembranças nessa época em que lançaram o álbum?
Danny: Bem, isso foi há muito tempo. Tenho vaga lembrança sobre isso. Mas me lembro que, no dia que o álbum foi lançado, algumas garotas que já eram fãs da banda e sabiam onde morávamos – e todos morávamos na mesma casa na Ilha Staten naquela época – seguiram Brooke, tocaram a campainha e pediram para que assinássemos seus álbuns. Adoramos aquilo.
RtM: “Forever Young” e “Wings” são as músicas que abrem o trabalho e as que fizeram – e fazem até hoje – mais sucesso entre os fãs. O disco como um todo é espetacular, mas a maioria o associa por conta dessas duas músicas. Após o lançamento você imaginava que elas iriam fazer tanto sucesso? E aproveitando, conte para a gente como foi o processo de composição das duas?
Danny: Quando você é um músico jovem, quase se tornando um rock star, seu ego te diz que tudo que você fizer será um tremendo sucesso e que todo mundo vai adorar. Mas também tem a voz interna que te diz quanto do seu sucesso vem da pura sorte.
Eu discutiria que “Standing Alone” seria mais impactante para as pessoas ao passar dos anos do que “Wings” ou “Forever Young”. Enfim, tudo que sabíamos é que tínhamos feito um álbum forte. Um que teríamos comprado se alguém tivesse feito.
Escrevemos todas as músicas com muita concentração e tempo, ensaiamos quase todos os dias e compomos e compomos, até que tivéssemos o que achávamos ser as melhores ideias que pudéssemos alcançar. Algumas foram rápidas, como “Wings”. “Forever Young” levou uma eternidade. Todos tinham ideias e opiniões para usar.
RtM: A forma de se consumir música mudou nas últimas décadas, tendo as plataformas de streaming seus lados positivos e negativos. Como você avalia essa questão? Muitos artistas dizem que os valores repassados são injustos, tendo isso como um dos principais pontos negativos. Por outro lado, essas plataformas fizeram com que o Tyketto e, claro, você, ganhassem uma nova base de fãs ao redor do mundo?
Danny: Você nunca tem certeza. O streaming em todo o cenário musical é uma faca de dois gumes. Artistas podem atingir um alcance maior, mas não fazer dinheiro algum com isso. Ocasionalmente, isto prejudicará nossa qualidade musical.
RtM: Dentro de alguns dias os fãs de Curitiba e São Paulo irão assistir e ouvir “Don’t Come Easy” na íntegra. As músicas que estou, e creio que a maioria também, mais aguardando para assistir e ouvir ao vivo é “Lay Your Body Down”, “Nothing But Love” e “Strip Me Down”. Há alguma música em especial desse álbum que você goste de cantar ao vivo?
Danny: Nenhuma em particular, embora eu me divirta muito com “Sail Away”. Depende do público. Gosto quando as pessoas vêm e cantam, batem palmas, dançam e deixam rolar. Um grande show é uma parceria entre a banda e o público.
RtM: “Seasons”, “Standing Alone” – música que tem uma de suas mais elogiadas performances vocais – e “Walk On Fire” são outras que estou ansioso para ouvir ao vivo. E elas remetem muito a influência do Led Zeppelin e do The Eagles, bandas que fizeram parte da sua formação musical. Comente para a gente um pouco a respeito delas.
Danny: Eles realmente foram uma influência. Acho que foi parte da mágica do primeiro álbum. Nós todos temos gostos diferentes. Michael e eu somos mais setentistas, gostamos de Led Zeppelin, Rolling Stones, Montrose e Grand Funk Railroad.
Brooke era o especialista em grandes guitarristas como EVH e George Lynch. E ainda nós escutávamos bandas recém-formadas como Night Ranger. De alguma maneira nós misturávamos tudo aquilo.
RtM: Não será a primeira vez que o “Don’t Come Easy” será tocado na íntegra. Um desses acontecimentos está registrado no CD/DVD ao vivo “Live from Milan”, só que sendo tocado de forma invertida. Esse feito será repetido aqui no Brasil – para que ninguém vá embora depois de “Forever Young “ e “Wings” – ou dessa vez será de forma cronológica?
Danny: Bom, há um tempo atrás, o Eagles aprendeu da maneira mais difícil que eles não deveriam abrir o show com Hotel Califórnia. O interesse de muita gente foi sumindo depois da música favorita deles já ter sido tocada. Não sei a ordem que iremos tocar, mas você pode ter certeza que “Forever Young” não será a primeira.
RtM: A última vez que você e o Tyketto estiveram aqui no Brasil foi em 2008 no Hard In Rio, no Rio de Janeiro. Uma vez você falou que tinha o desejo de se apresentar em São Paulo, e esse desejo se concretizará em breve graças ao Carlos Chiaroni, da Animal Records, junto com o pessoal da On Stage Agência. Como foram as negociações para esse show?
Danny: Foram fáceis. Sim, o Carlos sempre está em contato e sempre falamos sobre fazer isso acontecer. Mas o Rodrigo [Scelza] é o cara que nos trouxe da última vez e ele é um ótimo promotor. Então, quando ele entrou em contato a conversa foi simples.
"Rodrigo: Eu quero que você faça 3 shows no Brazil esse verão. Eu: absolutamente!"
RtM: O último disco do Tyketto é o “Reach”. Em entrevistas você diz que tem um apreço maior por ele do que com o “Don’t Come Easy”. O álbum seria uma evolução perfeita (e natural) se caso tivesse vindo após o “Don’t Come Easy”. Comente a respeito.
Danny: Na verdade, eu acho que este é o melhor álbum do Tyketto. Nós éramos mais velhos, mais espertos e também muito animados, porque tínhamos Chris Green, Chris Childs e Ged Rylands em um estúdio pela primeira vez.
Já havíamos estado em turnê juntos e, naquele momento, já estávamos prontos para gravar. Foi muito emocionante fazer um álbum a moda antiga, viver em um estúdio em Gales e sem distrações. O estúdio Rockfield nos ajudou a fazer um álbum tão bom.
RtM: Agora um pouco sobre seu início na música, nos conte quem foram suas principais inspirações e quando foi e como você se sentiu na sua primeira experiência no palco.
Danny: Me inspiro em qualquer coisa a todo tipo de música. Adoro a criação do som. Isso me hipnotiza. Meus pais tinham uma enorme e estranha variedade de discos, então eu fui exposto à música bem cedo. Minha primeira vez em um palco foi com 11 anos no coral da escola.
Eu era uma criança barulhenta e ocupada e eles tentavam me focar em algo. Depois de 2 meses estando no coral eu fiz um solo. Nos apresentamos na igreja na frente da minha família e amigos, foi apresentação de Natal. E quando meu solo chegou, de repente todos olhavam ao redor para saber de onde vinha aquela voz, Tive a atenção de toda a igreja e eu me emocionei!!
RtM: Que história legal Danny, obrigado por compartilhar. Bom, para finalizar, podemos esperar por um novo álbum do Tyketto para um futuro próximo? E que projetos mais você tem em andamento?
Danny: Agora que o Tyketto está voltando mais forte do que nunca, nós começaremos a trabalhar em músicas novas e logo em um novo álbum. Fico ocupado enquanto faço shows solo acústicos e estes shows privados ao redor do mundo. É uma experiência completamente diferente do que tocar com uma banda, mas estou curtindo. Estou com vários shows marcados no outono na América.
RtM: Muito obrigado por nos disponibilizar o seu tempo conosco. Te vejo em breve aqui em São Paulo...
Danny: Obrigado Gabriel! Não vejo a hora de tocar no Brasil.
Entrevista: Gabriel Arruda (com colaboração de Carlos Garcia)
Edição / Revisão: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação e arquivo do artista
Agradecimentos: Ricardo Batalha (editor-chefe da revista Roadie Crew / ASE Music Press), Rodrigo Scelza e Filipe Barcelos (On Stage Agency)