quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Lucifer – 06/10/2024 – Fabrique Club/SP


Lucifer faz apresentação impecável e prende a atenção do público na Fabrique Club, em São Paulo
 

Apresentação, que fez parte da “Satanic Panic Tour”, contou com as aberturas das bandas brasileiras Night Prowler, Weedevil, Tantum, Pesta e Space Grease, em um verdadeiro desfile de Hard Rock, Stoner Rock, Heavy Metal e Doom Metal

Os europeus da banda de Hard Rock, Doom Metal e Heavy Metal Lucifer retornaram ao Brasil após um ano e dez meses da passagem de estreia, em 2022. Desta vez, a banda liderada por Johanna Sadonis e pelo multi instrumentista Nicke Andersson retornou para São Paulo no último dia 6, para a divulgação do disco “Lucifer V”, lançado em janeiro deste ano, sob a turnê “The Satanic Panic Tour 2024”. O palco de sua emblemática apresentação, no Fabrique Club, Zona Oeste da Capital Paulista, também contou com as aberturas de bandas brasileiras que englobam os mesmos gêneros musicais do Lucifer, sendo elas Night Prowler, Weedevil, Tantum, Pesta e Space Grease. O evento foi organizado tanto pela Xaninho Discos, quanto pela Caveira Velha Produções.

A apresentação em São Paulo foi a quarta de toda a passagem pela América Latina. Antes, o quinteto passou por Buenos Aires, na Argentina (03/10); Santiago, no Chile (04/10); e Rio de Janeiro (05/10). Além disso, houve passagens por Belo Horizonte (08/10), Bogotá, na Colômbia (10/10); Monterrey, no México (12/10); e San José, na Costa Rica (14/10).

Em um Fabrique Club que ficou totalmente lotado na última apresentação - porém, com públicos consideráveis em cada apresentação de abertura, ao longo da tarde e noite do dia 6 -, o quinteto europeu, composto por quatro suecos e uma alemã, trouxe um setlist de 15 faixas (uma delas, um cover em introdução), contando com o repertório da banda a partir do álbum “Lucifer II’, de 2018 e uma maioria de faixas do último lançamento de estúdio. A lotação quase que absoluta se converteu a um público que pouco pôde pular ou balançar a cabeça na última apresentação, mas que deu toda a atenção e retorno vocal à banda principal, chegando a emocionar Johanna em certo momento.

Da mesma forma, cada banda de apresentação se destacou por conta de alguma característica sonora - com destaque para da boa mescla musical do Space Grease -, visual - a exemplo das bandas Night Prowler e Tantum - ou performática - repetindo o Tantum como exemplo, graças às misturas espetaculares de canto e atuação da vocalista, Chermona. Muito se questiona sobre um evento ter muitas bandas de abertura, mas cada uma das cinco apresentações pré-Lucifer mostraram que a organização acertou em cheio, uma vez que as impressões foram totalmente positivas por parte do gradual público presente em cada show.


Night Prowler 

Os osasquenses e paulistanos do Night Prowler, banda formada em 2017, iniciaram a série de aberturas com um setlist de oito faixas que mostrou o melhor do Heavy Metal inspirado na musicalidade e nas vestimentas relacionadas ao gênero nos anos 1970 e 80. O repertório foi baseado no álbum de estreia da banda, “No Escape…” (2021), e em singles lançados a partir de 2023.

Fernando Donasi (vocal), Luke D. Couto (guitarra), Igor Senna (guitarra), Lucas Chuluc (baixo) e Marcelo Oliveira (bateria) entraram pontualmente no palco do evento, com uma Fabrique Club consideravelmente ocupada no primeiro terço da pista - fora outras pessoas dispersas no restante do espaço. A faixa “Free the Animal”, single mais recente do grupo e lançado em setembro deste ano, abriu o setlist após uma pequena introdução, seguida das músicas “Devil in Desguise” e “Never Surrender”, esta última já do álbum “No Escape…”. Para todas elas, houve destaque para as variações de velocidades nas músicas, riffs e solos dos guitarristas e  variação vocal de Donasi, todas elas sem deixar de fugir da essência Heavy Metal proposta pela banda.

“The Darksider”, single de abril de 2023, deu sequência ao show, aumentando novamente o ritmo e velocidade com as poderosas linhas de bateria de Marcelo e os poderosos solos de Luke e Igor. A situação se manteve com “Tightrope”, single que também foi lançado no ano passado e que foi muito bem conduzida pelos pedais duplos de Marcelo Oliveira. Donasi, além da voz marcante, também interagiu com os guitarristas da banda em seus momentos de solo, chegando a ajudar Luke com a execução de um trecho de tapping, em meio ao solo.

A apresentação do Night Prowler chegou à reta final com uma trinca do álbum de estreia da banda. Na primeira das faixas, “The Witches Curse”, um belo instrumental com uma fase em ritmo normal, e outra mais acelerada, ambas lideradas principalmente pelas ótimas linhas de guitarra de Luke e Igor. Já na segunda, “No Escape”, mais uma faixa em ritmo frenético, somada a boas viradas dos instrumentos de corda e bateria. Por fim, a faixa “Make It Real”, carregada de ótimos timbres do vocalista Fernando Donasi.

O fim da última faixa citada contou com um ótimo falsete de Donasi, logo acompanhado pelas linhas de finalização da banda e vários “tapas” de Lucas Chuluc nas cordas de seu contrabaixo, num encerramento que botou a cereja no bolo de musicalidade e performance ótimos do Night Prowler.

 

WeeDevil

Os paulistanos do Weedevil trouxeram sua proposta muito interessante da mistura do Doom Metal com o Stoner Metal. O quinteto, composto por Carol Poison (vocal), Claudio HC Funari (baixo), Henrique Bittencourt (guitarra), Paulo Ueno (guitarra) e Flavio Cavichioli (bateria), montou um setlist de seis faixas, sendo cinco delas do mais recente álbum de estúdio da banda, “Profane Smoke Ritual” (2024), e uma única faixa do primeiro disco, “The Return” (2022).

Antes do início do show, era possível ver uma banda muito focada nos ajustes finais, com todos no palco e realizando pequenos testes dentro do intervalo. O maior destaque visual no palco foi, sem dúvidas, a cruz invertida, com detalhes em led verde e uma cabeça de bode ao meio.

O início do show se deu às 16h22, três minutos antes do previsto, com todos os membros da banda no palco, sem ter saído dele após os ajustes finais e iniciando a primeira faixa do show, “Serpent’s Gaze”, sem uma introdução ou aviso prévio - fator que pegou o público presente de surpresa, em um Fabrique um pouco mais ocupado em sua pista.

O riff obscuro de “Serpent’s Gaze” deu a ideia de como seria o estilo das faixas do show: pesado, dando uma sensação obscura. A voz de Carol, assim como em algumas das faixas seguintes, ficou um pouco baixa em comparação aos instrumentos dos demais membros, muito possivelmente por conta de algum problema de som que envolveu microfone e retorno e que, mais pra frente, chegou a ser sinalizado pela vocalista. Ainda assim, as partes mais altas ficaram bem audíveis e mostraram o potencial vocal da cantora, principalmente no refrão. A faixa em questão também contou com o destaque de Henrique Bittencourt e sua ótima execução de solo de guitarra, e com uma “escapulida” da baqueta de Cavichioli, que acertou Carol no final da faixa - momento engraçado, que de nada atrapalhou a execução da música de abertura.

O grupo deu sequência com “Chronic Abyss of Bane”, que não teve a narração presente na versão de estúdio da música em questão, o que deu mais destaque para o riff pesado dos guitarristas. A primeira parte da música foi mais lenta, mas se acelerou e tornou-se mais pesada da metade até perto do fim da faixa, com ótimas linhas de baixo de Claudio e da bateria de Cavichioli..

Após os pedidos de Carol para o reparo no retorno, o Weedevil continuou a apresentação com a faixa “Underwater”, única do disco “The Return” e, consequentemente, a única a não fazer parte de “Profane Smoke Ritual”. As características de Stoner Metal são mais evidentes nesse momento, assim como Henrique Bittencourt teve um ótimo destaque em um solo de guitarra distorcido, em meio a sua pose mais curvada no palco.

Em seguida, o repertório do álbum mais recente voltou com “Profane Smoke Ritual”, faixa-título do último lançamento da banda que teve um início só de bateria e que logo em seguida, foi acompanhado de poderosas linhas groovadas do baixista Claudio. As notas vocais de Carol foram mais altas, o que deu maior destaque para sua performance no palco, em um momento já mais solto no show. Henrique voltou a solar muito bem ao final dessa música, que foi encerrada com mais das notas do baixista do quinteto.

A reta final da apresentação se deu com as faixas “Necrotic Elegy”, muito bem conduzida por todos os membros da banda, e “Serenade of Baphomet”, anunciada por Carol Poison em meio ao discurso final, antecedida da pergunta positivamente respondida pelos presentes: “Quem gosta de um ritual aqui?”. Nela, a mistura de Stoner Metal e Doom Metal se tornou mais evidente, em meio a uma execução ao vivo impecável de todos os membros, com direito a Flavio Cavichioli finalizando a faixa com a simbolização de uma cruz, feita com suas baquetas. Definitivamente um show poderoso em todos os sentidos, tanto que gerou no público o desejo de mais uma faixa. Uma pena que não deu tempo.

 

Tantum

A terceira apresentação da noite, dentre as aberturas, foi a mais interessante principalmente em termos de performance e estética. Os belorizontinos do Tantum também trouxeram elementos musicais e visuais pautados nos anos 1970 e 80, com a adesão de atuações em palco que surpreenderam positivamente os presentes, que lotaram pouco mais da metade do local. Essa foi a sua segunda passagem por São Paulo, pouco mais de um ano após a vinda para o Legends Music and Bar.

Chervona (vocal), Laer Aliv (baixo), João Brumano (guitarra) e Rafael Mineiro, já (ou quase totalmente) caracterizados e assim como as bandas anteriores, ajudaram diretamente na montagem e passagem dos instrumentos antes do show, em horário pontual. Seus visuais, inclusive, tinham características únicas, desde a maquiagem ou pintura facial - a exemplo da linha horizontal preta de Marcelo na região do olho, somada às duas linhas verticais vermelhas na cabeça - até a vestimenta. No segundo caso, Chermona se destacou por conta de seu conjunto muito semelhante ao usado por dançarinas de dança do ventre, somado a panos brancos nos braços, com manchas vermelhas que lembram as de sangue.

No setlist, o grupo planejou oito faixas e, com a sobra de tempo entre sua apresentação e a seguinte, conseguiram tocar mais uma ao final. As músicas foram principalmente do até então único álbum de estúdio da banda, intitulado “Turning Tables” (2022), com a adição de um single recém-lançado, “ROJO”, no qual o público presente foi o primeiro a ouvir a execução da banda ao vivo.

A faixa “Speed (Addicted)” abriu a apresentação do Tantum, às 17h11, já em ritmo animado por parte dos membros, linhas groovadas do baixista Laer Aviv e até mesmo a remoção e uso da alavanca da guitarra, por parte de João Brumano, para tocar as cordas em determinado trecho da faixa.Chervona entrou no palco com um lenço de véu na boca, no mesmo estilo que o restante da vestimenta. A peça, no entanto, não atrapalhou a captação de sua voz ao longo da faixa. Na reta final, houve variações interessantes de velocidade da faixa.

Em seguida, o quarteto tocou “New World”, faixa que abre o álbum de estreia da banda e que contou com Chervona já sem o véu citado anteriormente. As danças que a frontwoman fez durante o riff reforçaram a inspiração oriental da dança do ventre e foram complementos em alguns dos momentos em que ela não cantou na música, já que houve algumas partes em que ela, de forma inovadora dentro da proposta da banda, tocou uma flauta de sopro. Tanto o baixista quanto o guitarrista da Tantum performaram muito bem a música em questão, apesar de o volume do instrumento de João Brumano ter ficado baixo naquele momento, em comparação com os demais. “Wicked Spirit” deu sequência à boa vibe da banda no palco.

Um dos grandes destaques performáticos da Tantum foi em “Blind Snake”, quando Laer, João e Rafael colocaram um capuz preto, aparentemente sem algum espaço de visão, para tocar a faixa em questão. Chervona começou sem vendas, segurando uma balança romão com objetos em cada lado. Após o solo de guitarra, a frontwoman colocou uma venda branca nos olhos e caminhou pelo palco, enquanto cantava muito bem. Ao final da faixa, essa venda branca foi invertida, aparecendo assim um desenho em vermelho que aparentava ser uma caveira. A música “Ivory Towers” prosseguiu o show, tendo margem para a apresentação dos membros da banda e linhas calmas de baixo e guitarra, em certo momento.

Mas foi em “ROJO”, single mais recente da banda, que o auge performático de toda a noite aconteceu. A faixa, que foi lançada no último dia 03 de outubro e cuja primeira apresentação ao vivo foi nesse evento da Fabrique Club - segundo o baixista Laer Aliv -, teve uma bela encenação por parte de Chermona, que durante a parte instrumental da faixa anterior, aproveitou para colocar um vestido de noiva branco e cantar a música em questão na sequência, que fala sobre um relacionamento abusivo e a tentativa do homem relatado na história de aprisionar a personagem-narradora. A frontwoman do Tantum abriu a faixa com um cálice de sangue, narrando os versos “This Is my body, this Is your blood / This Is the sacred chalice / If you are a man, come to me / And I will show you the truth”. Entre danças e cantos, Chermona também usou de sua flauta de sopro novamente e, ao final da faixa, colocou uma pequena manta de plástico para tomar o sangue do cálice e cuspir, simulando a morte, priorizando o vermelho e, claro, sem sujar o vestido.

Após o discurso do baixista da banda, o grupo transitou para o primeiro single lançado pela banda, “Roulettenbourg Roulette”, que compõe também o até então único álbum de estúdio da banda. Sob uma sonoridade heavy metal do início dos anos 80, a execução da faixa pela banda em geral ficou ótima, com uma combinação do solo de guitarra de João com as danças de Chermona, além de uma dança em conjunta de baixista, vocalista e guitarrista que muito lembrou o can can francês.

“On the Road” seria a última faixa do setlist, mas se tornou a antepenúltima. Esta é uma música que, segundo a banda, será lançada futuramente e fará parte do EP que a banda planeja lançar. Segundo Chermona, a faixa fala sobre “o amor em estar na estrada, fazendo shows, e em conhecer pessoas no caminho”. A recepção positiva do público presente no local se converteu em um acompanhamento mútuo ao refrão da faixa em questão, no qual a frontwoman da Tantum fez questão de ensinar ao público.

Por fim, a música “Glory” foi a resposta ao público, que pediu por mais uma faixa, aproveitando o tempo disponível que a banda ainda tinha. Laer a conduziu com maestria, com ótimas linhas de baixo, acompanhado de uma banda animada com os últimos gases e com o balançar de cabelos dos membros do Tantum e, principalmente, do público mais próximo do palco, animado principalmente com o ótimo riff da música e com os solos presentes. Um show de nível espetacular e que gerou gritos altos em nome da banda, no verdadeiro final da apresentação.

 

Pesta

Assim como a Tantum, a banda Pesta também é de Belo Horizonte, porém com formação em 2014. O grupo trouxe a sonoridade do Doom Metal - com uma evidente influência do Black Sabbath principalmente nos vocais - e do Stoner Metal para o palco da Fabrique Club novamente, em um setlist de seis faixas que passaram pelo repertório do quarteto, incluindo o EP “Here She Comes” (2015) e os álbuns de estúdio “Bring Out Your Dead” (2016) e “Faith Bathed in Blood” (2019).

Thiago Cruz (vocal), Marcos Cunha (guitarra), Anderson Vaca (baixo) e Flávio Freitas (bateria) também passaram pelo processo de ajustes e passagem de som no palco, começando o show diretamente de lá, de forma pontual, com a faixa “Anthropophagic”, do último disco lançado pela banda. Já de cara, era possível perceber um Flávio inspirado em batidas fortes em todo o kit de bateria, principalmente nos pratos - e sem comprometer a sonoridade dos demais integrantes -, algo que ocorreria nas seguintes execuções. Da mesma forma, a voz de Thiago Cruz surpreendeu o público logo de cara.

“Marked by Hate”, segunda faixa do setlist do Pesta na noite, foi anunciada como uma música inédita, que estava para lançar na versão de estúdio e que se tornou inédita ao vivo, naquele momento. A condução da banda, a partir do riff inicial, foi exímia e atenuou a parte mais obscura da sonoridade.

Depois, com “Witches’ Sabbath”, esta situação se manteve, dando maior ar da influência que a banda tem com a lendária banda britânica de Birmingham, Inglaterra. As luzes vermelhas ajudaram no clima Doom no palco, assim como Thiago Cruz fez algumas danças durante o solo de Marcos Cunha. O frontman do Pesta, inclusive, chegou a se declarar para a capital paulista ao fim da faixa em questão: “Eu amo essa cidade… por algum motivo”.

A segunda metade da apresentação chegou com a faixa “Black Death”, do álbum de estreia da banda, “Bring Out Your Dead”. O riff da mesma, não obstante de criar mais do clima obscuro na Fabrique, também teve suas finalizações com três batidas no surdo da bateria, até a última, que contou com oito dessas batidas e uma virada para uma parte mais agitada da faixa. É nela, também, que Thiago voltou a dançar no palco na reta final, só que de forma mais solta e psicodélica. O grupo emendou com a faixa seguinte, “Words of a Madman”, formando uma dobradinha que também acontece no disco - a primeira e segunda faixas dele, no caso. É nesta música, inclusive, que há um refrão muito contagiante: “Words to the wind, lost in time / felt with the weight bodies lying” (Palavras ao vento, perdidas no tempo / Feltro com os corpos de peso deitado). Por fim, pela versão ao vivo, os membros do Pesta aceleraram a finalização a um ritmo frenético, arrancando ovações do público.

Antes da música final, “Moloch’s Children”, o vocalista Thiago Cruz voltou a discursar, agradecendo a presença de todos e reforçando o amor por São Paulo: “Sempre é um prazer tocar para vocês”. Esta faixa tem uma primeira metade mais lenta, transitada a uma segunda metade mais rápida e com mais elementos de Stoner Metal e uma predominância dos timbres vocais mais graves do vocalista. Ao todo, um show surpreendente e de ótima sonoridade por todos os membros.

 

Space Grease

A última banda de abertura, antes da principal, trouxe elementos do Hard Rock com nuances do Stoner Rock, Acid Rock, Hard Rock e até de ritmos latinos em suas faixas. Os paulistanos do Space Grease, banda fundada em 2020, pautaram seu setlist de sete faixas no EP de estreia da banda, “Can’t Hide” (2023). E no primeiro single avulso, “Separation Time” (2022).

O quinteto, liderado pela vocalista Ju Ramirez, contou com a mudança de Antônio “Tonhão” Fermentão para a bateria - antes, baixista da banda - devido a saída de um membro no começo do ano. Além deles, estiveram no palco Fernando Ceravolo (guitarra), Diego Nakasone (guitarra).

Assim como no EP “Can’t Hide”, o grupo abriu a apresentação com “Burning Inside My Chest”, faixa em que Ju Ramirez apresentou grande performance vocal, além do uso de chocalhos, acompanhados de danças, durante os trechos instrumentais - algo que seria visto em outras das faixas seguintes -. Em seguida, “Can’t Hide”, faixa-título, contou com um riff distorcido interessante de Fernando Ceravolo no início, além da presença de Caique Fermentão, baixista do Sugar Kane, na percussão que se situava no canto direito do palco - o esquerdo, na visão do público -. As características de rock psicodélico, com a distorção das guitarras, deram uma sonoridade interessante à faixa.

O ritmo agitado da banda por um todo prosseguiu em “Breakdown”, com destaque coletivo pela entrega instrumental e performática na faixa. Ao fim dela, Ramirez anunciou ao público que a banda está na produção de um novo álbum, no qual três das faixas seguintes estariam nele (mesmo sendo parte do EP lançado em 2023).

Assim veio “Little Man”, música com início mais lento, porém com aumento do agito ao longo dela. Tonhão, inclusive, se destacou por conta da entrega na bateria, principalmente com as fortes batidas nos pratos. Já em “Again”, o ritmo pautado em Hard Rock tornou o ambiente do Fabrique mais frenético, principalmente pelo piscar dos refletores brancos, em ritmo frenético.

Na reta final, os membros do Space Grease tocaram as duas últimas faixas. A primeira delas, “Get Away”, teve outro grande solo de Fernando Ceravolo em meio ao ritmo agitado. Já na segunda, o single inaugural “Separation Time”, o quinteto trouxe elementos do Punk Rock no começo da faixa, além do incremento da sonoridade do Stoner Rock no restante. Na finalização, uma ótima repetição das linhas finais, seguidas dos gritos de “OOÔ” por parte de Ju Ramirez em meio a um aumento proposital do ritmo da faixa, que reduziu aos poucos até o fim. Por um todo, uma apresentação surpreendente e diferente das propostas das bandas anteriores, trazendo a energia necessária antes da atração principal.


Lucifer

Do final da apresentação anterior até minutos antes do início da apresentação da atração principal, não somente a organização do palco foi rápida, como a pista da Fabrique ficou completamente lotada a ponto de não ter como se movimentar sem ser pelas laterais da pista. Digo isso, pois bastou uma ida até os fundos do local e, num piscar de olhos, pessoas que estavam nos bares, na área de merchan ou que entraram no final do evento vieram de uma única vez.

Eram 20h31, quando o público apresentava um misto de ansiedade e alegria com a chegada da atração principal. O show se deu com o surgimento do nome da banda em formato de letreiro iluminado, no telão, e com a introdução em violão. Aos poucos, os membros da banda entraram, todos muito ovacionados: Nicke Andersson (bateria), Harald Göthblad (baixo), Linus Björklund (guitarra), Martin Nordin (guitarra) e, por último, a icônica vocalista Johanna Platow Andersson, com seu microfone retrô. O setlist da banda se deu com as músicas de seu repertório a partir do segundo álbum de estúdio, “Lucifer II” (2018), com a maioria das faixas sendo de seu último disco, “Lucifer V” (2024) e com a inclusão de um pequeno trecho de cover.

A primeira faixa tocada foi “Crucifix (I Burn for You)”, do álbum “Lucifer IV” (2021), iniciada por um ótimo riff de guitarra e as primeiras amostras do belo vocal de Johanna em meio a uma forte iluminação em vermelho e, claro, seguida de um ótimo primeiro solo de Martin Nordin na noite.

“Ghosts” e “Midnight Phantom” fizeram a dobradinha das únicas faixas do álbum “Lucifer III” (2020). A vocalista do Lucifer teve pequenos problemas com o microfone, que foram rapidamente corrigidos por um dos roadies da banda em meio à execução da primeira música, compensados por uma sonoridade muito bem ritmada pela bateria de Nicke, que não deixou sua boina cair em momento algum do show, e por outro ótimo solo de guitarra de Martin. Na segunda faixa citada, em ritmo mais dançante - mas ainda dentro de uma estética Occult Rock e Hard Rock, teve um vocal impecável de Johanna, principalmente nos refrões cantados “This Is the last goodbye / Before you Follow”. Situação digna de aplausos calorosos e ovações, ao final, de um público que, muito atento com a performance da banda, cantou de forma tímida, mas sem mesmo encostar nos celulares.

“Dreamer” trouxe um pouco do repertório de “Lucifer II” (2018), em mais um refrão contagiante e que, dessa vez, foi muito cantado por grande parte do público presente a ponto de fazer Johanna se emocionar: “Dreamer, have you seen her? / On a white horse tall with pride / Eyes turned to the sky”. Martin voltou a se destacar com outro grande solo na reta final. Em meio às ovações fortes do público, o Lucifer deu continuidade ao show com a comemorada “A Coffin Has No Silver Lining”, a primeira faixa da noite a representar o disco “Lucifer V” (2024) e com uma sonoridade que mescla Heavy Metal e Hard Rock em suas essências.

A música “Wild Hearses” trouxe a primeira linhagem Doom Metal da apresentação, com linhas poderosas do baixo de Harald Göthblad, somadas à uma sonoridade que lembrou uma guitarra barítona durante os riffs. Johanna apresentou tons mais baixos na voz, o que caiu super bem para a sonoridade da música em questão.

Já em “Fallen Angel”, outra faixa de “Lucifer V” e que abre o disco em questão, a semelhança inicial com “Children of the Grave”, do Black Sabbath, deu jus a uma situação mais animada no palco e na pista, somada ao piscar frenético dos refletores brancos em meio a uma iluminação ainda vermelha do palco. Tudo isso, claro, complementado por mais um ótimo refrão de Johanna e ótimas variações do baterista do Lucifer. A dobradinha se formou na sequência, com mais um Doom Metal de ótima qualidade pela faixa “At the Mortuary”, que também teve fortes linhas da bateria e das guitarras. A frontwoman da banda também fez questão de esbanjar carisma ao interagir com os fãs mais à frente da pista, apontando para as câmeras de seus celulares e sorrindo.

O grupo ainda tocou a ótima “The Dead Don’t Speak”, de ritmo um pouco mais lento na primeira parte, mas com batidas viscerais de Nicke Andersson após o segundo refrão. A sequência de faixas do álbum “Lucifer V” - apesar de ainda ter mais uma mais à frente - terminou com a lenta “Slow Dance in a Crypt”, conduzida muito bem por conta de linhas de guitarra poderosas, assim como pela voz marcante de Johanna, cuja performance teve o incremento do vento dos ventiladores em seus cabelos.

A primeira grande parte do show terminou com “Bring Me His Head”, do álbum “Lucifer IV”, emendada da faixa anterior e com ótimo riff inicial. Ambos os guitarristas, Linus Björklund e Martin Nordin, tiveram solos impactantes em meio ao Hard Rock imposto na faixa, além de viradas poderosas de bateria e outra versatilidade vocal que deram o resultado final: aplausos, ovações e gritos em nome da banda na saída para pausa de todos os membros.


Este encore, como é padrão em diversos shows, contou com tais gritos em nome da banda e palmas ritmadas. O diferencial veio do meio da pista, com um homem que, aparentemente alterado, tentou ficar no alto para ser carregado até a frente do palco, o que não deu certo nas diversas tentativas.

O retorno rápido da banda foi comemorado e, de cara, a banda tocou um cover - que se tornou uma introdução breve - do começo da música “I Want You (She’s So Heavy)”, icônica música dos Beatles e que compõe o disco “Abbey Road” (1969). Logo, houve a transição para o começo e sequência da faixa “Maculate Heart”, última do disco mais recente da banda a ser tocado na noite. Quando Johanna cantou o primeiro “Bring it on” da faixa, o público explodiu no sentido vocal, acompanhando muito bem a frontwoman durante a faixa. Só faltou um pulo coletivo, mas havia pouco espaço para alguém arriscar - no entanto, mesmo homem que não conseguiu ser levado para a frente, no encore, ao menos conseguiu ficar mais alto que todos por um tempo, sendo notado e cumprimentado por Johanna em certo momento da faixa. Todos os instrumentistas se mostraram muito bem na faixa, no entanto vale o destaque para as viradas poderosas de Nicke Andersson durante a execução da música.

“California Son”, música que abre o disco “Lucifer II” (2018), veio como a penúltima do setlist, em um ritmo mais rápido, relembrando a sonoridade dos primórdios do Heavy Metal e com ótima qualidade dos riffs e solos de guitarra. As ovações, mais que merecidas, encerraram esta faixa, mas introduziram o gran finale da noite.

A última faixa da noite foi “Reaper on Your Heels”, na que também formou a última dobradinha de um álbum na noite. O início marcante foi a base da ótima condução instrumental da faixa e das últimas execuções vocais de Johanna, que também usou um pandeiro meia-lua da metade para o fim da faixa. Esta reta final, inclusive, contou com uma poderosa finalização, na qual a velocidade do ritmo foi propositalmente acelerada pelos instrumentistas da banda para um ritmo frenético e visceral, em meio a piscares de luzes que seguiam a mesma frequência da banda, principalmente de um Nicke Andersson que, repito, não deixou a boina cair nem mesmo num momento como esse.

Os agradecimentos da banda não foram suficientes para um público que pediu por mais uma faixa e que, junto a isso, ainda aguardou que a banda voltasse para algo. Mas foi, de fato, o final de um show impecável musicalmente, no qual fãs de longa data, mais recentes ou os que descobriram a banda nesse evento com certeza saíram satisfeitos e com o desejo de um retorno rápido do quinteto, em meio a uma atenção máxima e coletiva ao longo do show. E claro, um evento em que todas as bandas, em alguma característica - estética, musical ou a soma dos dois -, deu uma impressão mais que positiva, fazendo com que a oportunidade fosse claramente bem abraçada.


Texto: Tiago Pereira

Fotos: Leandro Almeida (Rock Brigade)


Realização: Xaninho Produções / Caveira Velha Produções

Mídia Press: LP Metal Press

 

Night Prowler – setlist:

Free the Animal

Devil in Desguise

Never Surrender

The Darksider

Tightrope

The Witches Curse

No Escape

Make It Real

 

Weedevil – setlist:

Serpent’s Gaze

Chronic Abyss of Bane

Underwater

Profane Smoke Ritual

Necrotic Elegy

Serenade of Baphomet


Tantum – setlist:

Speed (Addicted)

New World

Wicked Spirit

Blind Snake

Ivory Towers

ROJO

Roulettenbourg Roulette

On the Road

Glory

 

Pesta – setlist:

Anthropophagic

Marked By Hate

Witches’ Sabbath

Black Death

Words of a Madman

Moloch’s Children

 

Space Grease – setlist:

Burning Inside My Chest

Can’t Hide

Breakdown

Little Man

Again

Get Away

Separation Time

 

Lucifer – setlist:

Crucifix (I Burn for You)

Ghosts

Midnight Phantom

Dreamer

A Coffin Has No Silver Lining

Wild Hearses

Fallen Angel

At the Mortuary

The Dead Don't Speak

Slow Dance in a Crypt

Bring Me His Head

Bis

I Want You (She's So Heavy) - Cover dos Beatles. Apenas o trecho inicial tocado, como uma introdução

Maculate Heart

California Son

Reaper on Your Heels


terça-feira, 15 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Shawn James – 11/10/24 – Carioca Clube/SP

Muitos o conheceram depois da inclusão de sua música “Through the Valley” no jogo Last Of Us Part II, no começo da pandemia, mas o Shawn James, cantor de blues/folk nativo de Chicago, Illinois têm estado na ativa desde 2012, impressionando tanto fãs quanto críticos ao redor do mundo com sua voz incrível. Aqui no Brasil, sua primeira apresentação veio em 2022, voltando em abril do ano passado, no Fabrique Clube. Agora, em outubro de 2024, o americano voltou para terras tupiniquins, trazendo 6 de 12 apresentações da perna latinoamericana de sua nova turnê, “Muerte Mi Amor Tour” para a nação verde-amarela, passando por São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Brasília, Belo Horizonte e pelo Rio de Janeiro. A “gira” começou em São Paulo, em uma sexta-feira, dia 11, no Carioca Clube. Veja como foi.

Perto das 19:00, horário de abertura das portas, já havia uma fila decente do lado de fora da casa, dobrando a Cardeal Arcoverde. Dentro da casa, pessoas corriam de um lado para o outro, tentando garantir um lugar perto do palco. Mais ou menos umas 19:40, a luz começou a pipocar, ficar meio instável. Em várias regiões da cidade, começou uma chuva forte, derrubando a energia de vários lugares. Quase uma hora depois, nada do Shawn no palco. Ele só foi subir às 20:45, mais de uma hora depois de acabar a luz.

Logo de cara, os fãs enlouqueceram, gritando e batendo palmas, mas assim que Shawn pegou no violão, dava para ouvir até um cílio cair no chão. Foi só o nativo de Chicago começar “Six Shells (The Outlaw’s Anthem)”, com sua voz poderosa ecoando pelo Carioca como fortes trovoadas que a galera acordou de novo. Inicialmente, até havia um coro singelo o acompanhando, mas acabaram deixando a cantoria só para James. O músico até tentou agradecer o público no final na música, mas não deu nem para ouvir o que ele tinha a dizer, por conta do volume absurdo dos gritos dos fãs.

“The Curse of the Fold”, por sua vez, foi cantada inteira a plenos pulmões, por uma massa de fãs que estava claramente maravilhada, estavam vidrados pelo Shawn. Esse apreço foi retribuído pelo cantor, que disse que “não há lugar melhor no mundo que São Paulo”, logo antes de iniciar “When the Stones Cried Out”, que também foi recebida de maneira tão calorosa quanto a sua antecessora. 

Shawn mostrou estar incrivelmente grato pelo apoio dos Brasileiros, apontando que o show que fez na capital paulista no ano passado, no Fabrique, havia sido o maior de sua carreira, então, com o show daquele domingo, São Paulo estaria quebrando seu próprio recorde. Ele falou que não tinha palavras para descrever o apoio que recebia do pessoal daqui, dizendo que genuinamente adora o país. Seria chover no molhado dizer que vindo dele, parecia ser algo verdadeiramente genuíno, diferente de muitos artistas. “The Thief and the Moon” e “Eating Like Kings” deram sequência ao show, cada uma ocasionando um mar de aplausos. A sintonia entre James e o Carioca Club, quase lotado, era espetacular, ele tocava com um sorriso no rosto, pulando pelo palco, e os fãs iam verdadeiramente à loucura. “Eating Like Kings” veio com a história comovente de sua origem: composta originalmente por Baker (Gravedancer), um dos melhores amigos de James, ela é o resultado emocionante de estar lutando no Afeganistão pelo exército americano.

Entre conversas com quem estava lá, destacou também “I Want More”, de seu mais novo álbum, “Honor and Vengance”, de novembro de 2023 e tocou “Pendulum Swing”, de “Deliverance” (2014). Era incrível que não importava a música, os fãs cantavam junto. Honrando o halloween, a chamada “spooky season”, foi executada “Burn the Witch”, que o cantor admitiu ser uma de suas favoritas. Mostrando seu carisma, soltou um “vamo, caralho!” e chamou alguém (que este que vos escreve não identificou) de arrombado. Troçando os xingamentos por elogios, introduziu sua banda de apoio e todo o time por trás dessa turnê, tour managers, técnicos de som e até sua mulher, que aparentemente estava encarregada de fazer sua segurança.

O bloco “plugado” de seu show foi encerrado com “Orpheus”, que abriu as portas para “Muerte Mi Amor”, faixa que dá nome à turnê e foi a primeira de 6 consecutivas a ser tocada de maneira acústica. “Muerte” foi prefaciada com um discurso um tanto deprimente, com Shawn falando que já havia terminado o último disco, quando começou a pensar sobre sua própria morte, criando a letra da música. No palco, havia só ele e o baixista, que havia assumido o violão, criando um clima um pouco mais intimista. O baixista saiu do palco, deixando só James, claramente surpreso com o apoio do público, falou que tocaria mais algumas músicas que não estavam no setlist. A primeira dela foi “That’s Life”, clássico do Frank Sinatra.

Para realmente enfartar seus fãs, Shawn tirou uma dobradinha absurda da manga, “The Guardian (Ellie’s Song)”, famosa por conta de sua inclusão na segunda parte do The Last of Us e um cover arrepiante do “The Number of the Beast”, hino absoluto do heavy metal. A energia naquele momento foi indescritível. Não há como fazer jus à o que foram aquelas duas músicas, especialmente escutar um clássico do metal na voz de Shawn James. Veja:


“Midnight Dove”, composta para sua irmã, que à época batalhava contra o câncer, foi seguida por “Through The Valley”, e desculpe meu palavreado, mas puta que pariu, caralho, porra, vai tomar no cu, que música bonita. Veja também. Não tem nem porque tentar descrever. Mantendo a energia lá no alto, os fãs gritavam “Shawn, eu te amo! Shawn, eu te amo!” e ele, segurando uma dose de cachaça, trazida pelo baixista, que voltava ao palco, virou como se não tivesse amanhã.


Continuando com a sequência de hits, Bill Withers foi homenageado com “Ain’t no Sunshine”, novamente linda, com uma energia indescritível. Shawn até estendendo a parte do “I know, I know, I know”, vendo o ânimo dos fãs. O violinista já estava pra lá de maluco, virando uma lata de cerveja, soltando o cabelo e batendo cabeça que nem louco. Estava um clima de festa mesmo, bem descontraído. Com a banda toda já no palco e seu bloco acústico para trás, tocou “Flow”, uma das favoritas dos fãs, julgando pelo número de celulares que foram ao ar para registrar o momento.

O Chris Cornell é um dos melhores vocalistas da história, ele tinha um timbre de voz único, uma intensidade ímpar, e nunca, ninguém vai chegar no nível dele, nem sequer superá-lo. Mesmo assim, (desculpe minha vulgaridade), puta merda, como esse Shawn James canta. “Like a Stone” coube na voz dele como uma luva. Ele tem um pouco da mesma intensidade e do drive natural do Cornell. Ouvir uma música tão clássica, em uma versão tão diferente ser cantada a plenos pulmões por mil fãs apaixonados não tem preço, é mais que especial. Sei que parece que estou com preguiça de escrever, mas nada faz jus à performance de Shawn James, veja só você:


Deixando um pouco do melhor para o “final” - como se o show inteiro já não estivesse um arregaço de bom - executou as enérgicas “The Wanderer” e “Blood From a Stoner”, ambas incrivelmente enérgicas, dava quase para abrir mosh. Transbordando carisma, pegou novamente a garrafa de cachaça e virou um pouco na goela de cada músico de apoio.

Para o Bis, o americano nem saiu do palco, só soltou o violão e pegou, pouco tempo depois. “Voltaram” com uma versão de “Bad Moon Rising”, do Creedence Clearwater Revival, ainda não lançada, que estão tocando só nessa turnê e 2 autorais, “Hellhound” e “Haunted” de “On the Shoulders of Giants” (2016) e “The Dark & The Light” (2019). “Hellhound” foi introduzida com uma pequena amostra das habilidades do baterista irlandês, acompanhado do violinista, já doidasso das ideias. James, incentivando o público a “enlouquecer” naquela sexta à noite, começou o riff, banhado em distorção, criando um peso até inesperado. Apesar de uma falta de cantoria, seria chover no molhado dizer que quem esteve lá se divertiu, batendo palmas, trocando “oooos” no refrão e até batendo cabeça.


Com uma lata de cerveja na mão e o público na outra, gritou “one more”! Levando a galera à loucura, “Haunted” foi a faixa que teoricamente fecharia a noite. Foi um frenesi generalizado, gente pulando, copos de cerveja indo ao ar e “o caralho a quatro” - a energia estava animal, justifica mais um último palavrão, vai. Agradecendo a presença e energia de todos, ao som de gritos de “mais um! mais um!”, anunciou “Hunger”, música originalmente do projeto dele com sua banda, Shawn James and the Shapeshifters. “Hunger” tem dois pés fincados no southern rock, com partes que quase beiram o punk. Foi certamente um ponto alto da noite e o melhor jeito de fechar o show, com a energia lá em cima. Acentuando ainda mais o espírito punk, o violinista nem esperou a música terminar para “meter o louco” e moshar do palco, recebido pelos braços do público.


Vou falar a verdade, não estava esperando que fosse um show incrível. Vi um monte de vídeos dele ao vivo, em estúdio, todo material Shawn Jamestico que tinha para consumir, eu consumi. Um dos comentários que eu mais vi nos vídeos do YouTube foi “his voice turned me gay” (a voz dele me fez virar gay), e mesmo com os comentários sendo 100% na zoeira, dá para entender tranquilamente. A potência que o Shawn James tem é algo para ser estudado pela NASA. A presença de palco dele nem se fala. O repertório, perfeito, sem erros. Quem não foi, perdeu um dos shows do ano, e olha que sou metaleiro chato.





Realização: Agência Powerline



Shawn James - setlist:

Six Shells (The Outlaw’s Anthem)

The Curse of the Fold

The Stones Cried Out

The Thief and the Moon

Eating Like Kings

I Want More

Pendulum Swing

Burn the Witch

Orpheus

Muerte Mi Amor*

That’s Life*

The Guardian (Ellie’s Song)*

The Number of the Beast*

Midnight Dove*

Through the Valley*

Ain’t No Sunshine

Flow

Like a Stone

The Wanderer

No Blood From a Stone

Bis

Bad Moon Rising

Hellhound

Haunted

Hunger

domingo, 13 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Living Colour – 12/10/2024 – Tokio Marine Hall/SP

Poucas bandas têm um som tão característico e tão impactante quanto os nova-iorquinos do Living Colour e sua mescla flamejante de rock, punk, soul e funk. Atualmente composta por Vernon Reid na guitarra, Corey Glover no vocal, Will Calhoun na bateria e Doug Wimbish no baixo, o quarteto realizou sua décima passagem pela capital paulista com um show eletrizante no Tokio Marine Hall, uma das maiores casas de show da “cidade da garoa”, com capacidade para aproximadamente 4 mil pessoas. A gira atual não passaria só por terras tupiniquins, mas também pelo Chile e pela Argentina, ambos “queridinhos da banda”, contando com 4 e 8 visitas, respectivamente. Aquele sábado, feriado, prometia ser mais uma apresentação histórica, recheada de clássicos.

Chegando no Tokio, o bairro inteiro estava apagado, escuridão para todos os lados, menos a própria casa, que estava completamente acesa. Sair na rua - completamente apagada - no final do show, que estava previsto para COMEÇAR às 22:00 seria algo complicado, mas aí é uma história à parte. Mesmo assim, já havia uma quantia decente de pessoas na parte de fora da casa, esperando para ver o Living Colour ao vivo e à cores. Lá dentro, era aquele esquema típico dos shows da Toplink, estande de merchan no saguão (que curiosamente contava com exemplares do disco acústico do Angra) e um pequeno palco perto da entrada da pista, com alguns equipamentos para outra banda assumir e tocar alguns covers no final dos shows.

Por volta das 20:40, subiu ao palco o Black Pantera, acompanhados por palavras do Mano Brown pelo PA. Para quem ainda não conhece, são um power trio mineiro composto pelos irmãos Charles e Chaene Gama (guitarra/voz, baixo respectivamente) e o baterista Rodrigo Pancho. Foram uma escolha certeira para abrir para o Living, visto que a influência dos nova-iorquinos no som do Black Pantera é palpável, fora o fato de ter uma noite em uma das maiores casas de show de São Paulo só com músicos negros. Quem já foi em algum show deles, sabe bem como é, um show objetivo, direto, com uma energia incrível, mas também recheado de interação com os fãs. 

Desde o meio do ano, seguem com a turnê de seu quarto álbum, “Perpétuo”, e foi ele o foco do repertório. Das 13 músicas, só não foram do último disco as já clássicas “Padrão é o Caralho” e “Fogo nos Racistas” e as enérgicas “Dreadpool Zero”, “Boto pra Fuder” e “Recolução é o Caos”, que começou com Chaene tocando a introdução de “Anesthesia (Pulling Teeth)” no baixo. Das do disco novo, vale destacar “Provérbios”, que começou a noite com tudo, a linda “Tradução”, dedicada às mães presentes e “Fudeu”, que foi prefaciada por “September”, aquela, do Earth, Wind and Fire pelo sistema de PA. 

No geral, mostraram porque são uma das bandas nacionais que mais crescem nos últimos tempos; não só fizeram um show muito bom, direto ao ponto, mas também esbanjaram uma presença de palco absurda, interagindo bastante com os fãs e se divertidndo visivelmente, tocando com um sorriso no rosto, pulando, batendo cabeça.

Os headliners assumiram a casa um pouco atrasados, mas nem tanto, às 22:10, ao som da marcha imperial do Star Wars. Começaram com “Leave it Alone”, destaque de seu terceiro álbum, “Stain” (1993). Não se passaram nem 2 minutos, já dava para sentir a energia incrível que tomava o Tokio Marine Hall. Som incrível, galera animada, banda tão animada quanto, evidentemente felizes no palco. Tem tanta banda que toca parecendo que precisa bater ponto e ir embora, cumprir tabela, mas o Living Colour com certeza não é uma delas.

Seguiram com a volta para o passado, tocando “Desperate People”, de seu primeiro trabalho, “Vivid” e novamente destacaram “Stain” com a dobradinha de “Ignorance is Bliss” e “Bi”, que começou com uma troca de “everybody” entre Glover e os fãs. Foi só o Will Calhoun começar aquela introdução no cowbell que a galera já sabia o que ia rolar, “Ausländer”, mais um petardo diferenciado, banhado de efeitos, do “Stain”. “Never Satisfied” fechou a sequência de “Stain”, abrindo as portas para “Funny Vibe”, de “Vivid”, que mostrou claramente as habilidades incríveis da banda. Calhoun é um relógio na bateria, Doug Wimbish, que teve seu primeiro show com a banda aqui na capital paulista, no Hollywood Rock, toca as linhas de baixo complexas como se fossem músicas de punk e Vernon Reid e Cory Glover nem se fala, um Deus da guitarra com um estilo próprio e um vocalista que mesmo beirando os 60, ainda chega nos mesmos agudos que chegava no auge dos anos 90.

“Sacred Ground”, lado B de “Collideøscope” (2003) deu sequência à festa, que contava com um Tokio Marine Hall quase cheio. A groovadíssima “Open Letter (To A Landlord)” veio à seguir, esfregando na nossa cara o fato de que Cory Glover, aos 59, canta melhor do que muito jovem por aí. Depois dessa performance incrível, até os proprietários de imóveis que estavam presentes começaram a viver de aluguel. Glover descreveu o baterista como a nona, décima e décima-primeira maravilha do mundo, e o solo de bateria que eles fez realmente explicou o porquê.

“Flying” terminou com um pedido de aplausos para o Vernon Reid. Quando o público parou, Glover mostrou seu carisma e disse, “dont stop, dont stop”, brincando com o público. O vocalista passou a tocha para Doug Wimbish, que além de baixista da banda, também gravou diversos artistas no começo da cena do hip-hop nova-iorquino, oferecendo uma pequena medley com músicas da época, White Lines (Don’t Don’t Do It), do Grandmaster Flash e Melle Mel, “Apache”, da The Sugarhill Gang e “The Message”, de Grandmaster Flash e o Furious Five.

A folia continuou, agora de volta ao rock, com “Glamour Boys”, cantada junto pelo público. Mostrando toda sua versatilidade, foram da quase pop “Love Rears Its Ugly Head” para “Time’s Up”, rápida e objetiva, com cheiro de Bad Brains com uma facilidade absurda. Ambas foram recebidas calorosamente pelos fãs, que cantaram “Love Rears” junto, a plenos pulmões e ficaram vidrados pelos solos de derreter o rosto que Vernon Reid fez em “Time’s”.

Com o show já chegando ao fim, tocaram aquela música, a famigerada, a icônica, a mais pedida (não a do Raimundos), “Cult of Personality”. Foi só a introdução começar, que um mar de celulares foi ao ar, e justificavelmente, foi um momento digno de ser registrado. Quem nunca viu isso acontecer ao vivo ainda não viveu direito. Ouvir “Cult of Personality” ao vivo deveria ser obrigatório por lei. Pensa numa música boa, pensa numa energia incrível, pensa numa banda que replica o instrumental perfeitamente, pensa num público envolvido. Foi isso que rolou naquele sábado.

Antes de irem embora, falaram que viram o Black Pantera na passagem de som e acharam incrível, então queriam dedicar um último som a eles. Para fechar a noite, foi escolhida a “Type”, faixa enérgica, pé na porta, sem massagem, vinda também do “Time’s Up”, de 1990. Fecharam o show com chave de ouro, com uma energia ímpar.

No geral, mostraram porque são um dos maiores. Repertório muito sólido, som perfeito, presença de palco absurda, banda de abertura acertadíssima, público envolvido. A única reclamação que pode ser feita realmente é o horário. Não tem necessidade de fazer algo tão tarde assim, especialmente com a cidade toda apagada, tornando a saída um perigo. Bom, deixando isso de lado, o show em si foi incrível, inacreditavelmente bom. Produção e banda estão de parabéns! Baron, já pode trazer eles ano que vem de novo…


Texto: Daniel Agapito 

Fotos: Belmilson Santos 


Realização: Top Link Music


Black Pantera - setlist:

Provérbios 

Padrão é o Caralho

Dreadpool Zero

Boom!

Perpétuo 

Fogo nos Racistas

Tradução

Fudeu

Black Book Club

Sem Anistia

Candeia

Revolução é o Caos

Boto pra Fuder


Living Colour - setlist:

Leave it Alone

Desperate People

Ignorance is Bliss

Bi

Ausländer

Never Satisfied

Funny Vibe

Sacred Ground

Open Letter (to a Landlord)

Solo de Bateria

Flying

White Lines (Don’t Don’t Do It) / Apache / The Message

Glamour Boys

Love Rears Its Ugly Head

Time’s Up

Cult of Personality

Type

sábado, 12 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Destruction – 06/10/2024 – Carioca Club/SP

No dia 6 de outubro, a capital paulista recebeu a tão aguardada apresentação da lendária banda alemã de Thrash Metal Destruction, em uma noite que celebrou seus 40 anos de carreira. A expectativa era alta, especialmente com a presença do Sextrash, um ícone da cena nacional, que infelizmente não pôde se apresentar nem em São Paulo e nem em Belo Horizonte.

A coincidência das eleições no domingo trouxe um clima caótico à cidade, e a proximidade do show da banda Lucifer acabou dividindo a atenção dos fãs de Heavy Metal. No entanto, em uma reviravolta de última hora, os paulistanos do Válvera assumiram a abertura do evento, oferecendo um set curto, mas energético, que levantou o público e preparou o terreno para o espetáculo principal, com direito a moshes tímidos e uma atmosfera de grande expectativa.

Formada por Glauber Barreto (vocal e guitarra), Rodrigo Torres (guitarra), Gabriel Prado (baixo) e Leandro Peixoto (bateria), a banda - que mistura vários gêneros do metal - soube escolher perfeitamente as músicas do setlist, com canções dos álbuns “Cycle of Disaster” (2020) e “Back to Hell” (2017), e trazendo ainda uma música nova que fará parte de seu próximo álbum. Com toda a certeza o Válvera saiu dali com novos fãs.


Válvera - Setlist

The Skies Are Falling

Bringer of Evil

The Damn Colony

Reckoning Has Begun

Nothing Left to Burn

Demons of War


Previsto para subir ao palco às 20h15 (antes de sabermos da apresentação do Válvera), o Destruction iniciou sua performance às 20h35. Embora a casa não estivesse lotada, estava quase cheia, e a atmosfera prometia uma noite memorável. Ao som de “Curse the Gods”, a energia no ar era palpável, como se o local pudesse desabar a qualquer momento. Um mosh pit se formou bem no meio da pista - e permaneceu ali até o fim do show -, enquanto os fãs se uniam em gritos de ‘hey, hey’, sinalizando que aquela seria uma apresentação inesquecível.

“Invincible Force” deu sequência ao set, e em “Nailed to the Cross” o som do público parecia ser até mais alto do que a própria banda.

A seguir, o vocalista e baixista Schmier saudou o público, compartilhando seu amor pelo Brasil.  Revelando a conexão especial que a banda tem com São Paulo, ele anunciou que na noite estava sendo gravado o próximo clipe da banda, o que foi outra decisão em cima da hora. Schmier também comentou que a próxima música, "Mad Butcher", tinha um significado especial para ele, pois foi o primeiro riff que escreveu. Esse anúncio fez com que a roda de mosh se intensificasse ainda mais, refletindo a empolgação do público e a importância daquela noite na trajetória da banda.

“Life Without Sense” e “Release from Agony” mantiveram a energia. A banda puxou um coro de “We’re Destruction! We’re Destruction”, que o público prontamente atendeu e, Schmier, avisou que a próxima música será o videoclipe, a ótima “Armageddonizer”, do álbum Day of Reckoning de 2011.

“Total Desaster” e um solo de guitarra, que iniciou com Damir Eskic, mas que teve a participação de Martín Fúria também, foram bem recebidas, assim como “Eternal Ban” que veio na sequência.

O último single da banda, “No Kings No Masters”, foi anunciado por Schmier com os dois dedos do meio levantados e como uma dedicatória a todos os políticos.

Antes do encerramento da primeira parte do set, a banda “voltou no tempo” - como disse o vocalista -, com “Antichrist” e “Death Trap”, ambas do álbum Infernal Overkill de 1985.

Com uma breve pausa, a banda voltou com “Diabolical”, faixa do álbum de mesmo nome de 2022. A faixa instrumental “Thrash Attack” foi bem recebida pelos fãs, que apesar de não terem o que cantar, não deixaram de agitar, ou de tornar a roda ainda maior.

Schmier mencionou que faltava uma música muito conhecida e, foi subitamente interrompido por um fã que subiu no palco. Em uma interação de poucos segundos, ele contou ao gigante alemão que um grande fã da banda conhecido como “Big Hands” faleceu algum tempo antes. Schmier, apesar de parecer levemente nervoso, dedicou a fantástica “Bestial Invasion” a ele.

O hino “Thrash ‘Til Death” encerrou essa noite, que foi energia pura e realmente uma grande celebração dos 40 anos de carreira do Destruction. Com dezenas de passagens no Brasil ao longo dos anos, a recepção calorosa do público com certeza fará com que tenhamos muitos e muitos shows da banda por aqui.


Texto: Jessica Valentim 

Fotos: Gabriel Gonçalves (Sonoridade Underground)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Estética Torta 

Mídia Press: Lex Metalis Assessoria 


Destruction - Setlist

Curse the Gods

Invincible Force

Nailed to the Cross

Mad Butcher

Life Without Sense

Release From Agony

Armageddonizer

Total Desaster

Solo de guitarra

Eternal Ban

No Kings, No Masters

Antichrist

Death Trap

Bis

Diabolical

Thrash Attack

Bestial Invasion

Thrash ‘Til Death