segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Carcass: 8 Anos Depois, Mais um Álbum de Refinado Metal Extremo


8 anos de passaram depois do álbum que marcou o retorno do Carcass, com "Surgical Steel" (2013), e ao contrário de algumas bandas que ficam anos sem lançar algo, e não aproveitam praticamente em nada o tempo para criar algo relevante, Billy Steer e Jeff Walker apresentaram um álbum de excelente qualidade musical, "Torn Arteries"

Além da refinada técnica, qualidade nas composições e excelente produção, o disco traz uma apresentação gráfica curiosa e criativa, com a arte de capa e encartes trazendo um coração formado por vegetais em um fundo branco. 

Em cada folha do encarte, podemos acompanhar o coração se deteriorando. Esse tipo de arte é inspirada na técnica japonesa chamada kusôzu. Outra curiosidade é o título do álbum, que é alusão a uma antiga demo da banda nos anos 80.

Musicalmente, "Torn Arteries" traz elementos que remetem a toda a discografia da banda, e mesmo que o refino técnico e melódico seja mais evidente, a brutalidade e agressividade também dão as caras.

Na faixa título e de abertura, por exemplo, "Torn Arteries", temos uma enxurrada de brutalidade e velocidade, entrecortada por passagens com melodia, fazendo a ligação do Carcass mais extremo com o mais técnico.

Aqueles toques de senso de humor também estão aí, como nas nomenclaturas longas de algumas músicas, e na brincadeira com o título de "Eleanor Rigor Mortis", que na parte sonora traz peso descomunal e andamento cadenciado, riff graves e solos de técnica e melodia.

É bom já destacar o trabalho primoroso da gravação, onde podemos ouvir com clareza todos os instrumentos, de modo que é possível perceber minuciosamente os riffs, solos e arranjos, e claro, o trabalho impressionante da bateria de Daniel Wilding.

Difícil ir apontando destaques, mas elegi três favoritas, que creio que expressam bem a capacidade musical e técnica da banda, e "The Devil Rides Out" é, sendo clichê, uma aula de Death Metal Melódico, com variações, seus riffs galopantes, trabalho primoroso nas melodias e solos das guitarras, baixo trovejante e bateria absurdamente técnica, porém veloz e brutal quando necessário.

"Flesh Ripping Sonic Torment Limited", com seus mais de 9 minutos, seria uma peça de "Progressive Death Metal"? Cheia de variações, a faixa transita por momentos de puro peso e brutalidade, contrastando com trechos límpidos e melodiosos, e claro, uma avalanche de riffs.

"Dance of Ixtab (Psychopomp and Circumstance March Number 1)", que foi um dos singles de apresentação, tem peso e "groove", e o trabalho percussivo com trechos que se assemelham a uma marcha marcial.

"Torn Arteries" fica um pouco atrás de seu antecessor, mas não é nenhum demérito, pois a qualidade aqui é muito alta, e o trio, que tem ainda o membro honorário Tom Draper nas guitarras, concebeu mais uma peça de Metal Extremo de refino técnico, com melodia e brutalidade bem dosadas. 

Texto: Carlos Garcia

Banda: Carcass
Álbum: "Torn Arteries" 2021
País: Inglaterra
Estilo: Death Metal, Melodic Death Metal
Selo: Nuclear Blast/Shinigami Records

Confira o Álbum no site do selo

Tracklist

1. Torn Arteries
2. Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March No. 1 in B)
3. Eleanor Rigor Mortis
4. Under the Scalpel Blade
5. The Devil Rides Out
6. Flesh Ripping Sonic Torment Limited
7. Kelly’s Meat Emporium
8. In God We Trust
9. Wake up and Smell the Carcass / Caveat Emptor
10. The Scythe’s Remorseless Swing



segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Seven Spires: Aprimoramento e Surpresas no Metal Sinfônico



A banda Seven Spires é uma das bandas mais promissoras do Symphonic Metal atual. Fiquei muito animada desde que eles anunciaram seu novo álbum intitulado “Gods of Debauchery”. Lançado no dia 10 de setembro via Frontiers Records, para mim este é um dos melhores álbuns de 2021.

Em “Gods of Debauchery” é como se a banda misturasse os melhores elementos experimentados em seus dois álbuns anteriores e os transformassem em algo muito bem aprimorado. 


A introdução do álbum já impressiona com apenas 1 minuto e 42 segundos de duração. Adrienne cantando em um tom suave com um belo arranjo sinfônico nos prepara para a faixa título, “Gods of Debauchery”, apesar da introdução super sinfônica, minha expectativa foi completamente quebrada pelos vocais guturais de Adrienne e isso foi incrível!!! 

Em “The Cursed Muse” é comprovado que não é porque uma música tem um arranjo sinfônico que ela será algo suave. Em seguida temos a faixa “Ghost of Yesterday”, e é impossível não admirar a versatilidade de Adrienne, inclusive quando ela arrisca algo super pop como “Lightbringer”. 

Os conservadores irão odiar, mas eu me diverti muito com a ousadia de Adrienne ao ponto de fazer uma coreografia durante o clipe da música. 


Fiquei fascinada com “Echoes of Eternity” e recomendo fortemente para que todos ouçam!! Para mim, “Shadow on an Endless Sea” é arrepiante, principalmente no refrão quando Adrienne traz à tona toda a dramaticidade da música com seus vocais limpos. Em “Dare to Live” os arranjos orquestrais deram um toque mais requintado à música. 

Como é bom sentir que o metal sinfônico está em uma boa safra novamente!! Toda vez que eu ouço “In Sickness, In Health”, eu sinto um clima mais cinematográfico, diria até que essa música é a mais fácil de se ouvir, caso você não esteja habituado ao som da banda.

E agora nem sei o que falar sobre “This God is Dead”, pois trata-se de um dueto com um dos meus vocalistas masculinos favoritos, Roy Khan (Conception), então qualquer elogio que eu fizer será totalmente suspeito. 


Dez minutos é  pouco para eu poder apreciar essa obra prima!! Para mim a faixa “Oceans of Time” tem uma introdução tão épica e refrão tão cativante que não perde nada para bandas mais experientes como Rhapsody, Nightwish e Epica. 

Em seguida, a absurda “The Unforgotten Name”, um belo dueto entre Adrienne e Jon Pyres (Threads of Fate). Essa poderia ser só mais uma balada de metal, mas eles entregaram uma verdadeira obra dramática cheia de melancolia. 

Em seguida “Gods Amongst Men” tem um bombardeio com guturais de Adrienne e mais uma vez a quebra de expectativas, dessa vez com um coro cantando um refrão memorável. 

Os instrumentais de “Dreamchaser” por um momento me fizeram perguntar se eu ainda estava ouvindo Seven Spires ou se o Spotify havia inciado uma playlist aleatória de Black Metal. Chris Dovas espanca a bateria sem dó, enquanto os teclados me lembram um pouco o Cradle of Filth.

Ainda assim, está longe de ser uma cópia. Cada vez que ouço essa música eu percebo algo a mais e me apaixono ainda mais. 

Through Lifetimes” é a penúltima faixa do álbum e sua sinfonia dá uma sensação de encerramento, como se todos os eventos estivessem sendo concluídos e te preparando para o fim de uma incrível peça que você vai lamentar ter acabado.


Se “Gods of Debauchery” fosse um filme, provavelmente “Fall With Me” seria o momento em que subiriam os créditos e como nos filmes da Marvel você ficaria aguardando para ver se não haveria nenhuma cena após. Infelizmente não, só resta começar novamente. 

Esse álbum é tão bom, que eu realmente não consigo pular nenhuma faixa. Apesar de ambicioso, o Seven Spires chegou sem prometer a obra mais épica de todos os tempos, quebrou todas as expectativas e entregou um dos melhores álbuns do ano. 

Só não direi o melhor porque o ano ainda não acabou e ainda dá tempo para mais alguma surpresa, mas no fundo eu dúvido que haverá mais algum álbum que irá me causar o mesmo impacto.

Texto: Raquel de Avelar 
Edição: Carlos Garcia

Banda: Seven Spires
Álbum: "Gods of Debauchery" 2021
País: USA
Estilo: Symphonic Metal
Selo: Frontiers


Tracklist: 

1. Wanderer’s Prayer 
2. Gods Of Debauchery 
3. The Cursed Muse 
4. Ghost Of Yesterday 
5. Lightbringer 
6. Echoes Of Eternity 
7. Shadow On An Endless Sea 
8. Dare To Live 
9. In Sickness, In Health 
10. This God Is Dead 
11. Oceans Of Time 
12. The Unforgotten Name 
13. Gods Amongst Men 
14. Dreamchaser 
15. Through Lifetimes 
16. Fall With Me






sábado, 6 de novembro de 2021

Paradise Lost: "At the Mill", um " Ao Vivo" Marcante na Era Pandemica

Durante o período da pandemia e impossibilitadas de fazer turnês, as bandas tiveram que se adaptar, e uma das alternativas foram as lives e shows em streaming, com alguns criando eventos com vários atrativos à plateia que acompanharia a distância. 

O Paradise Lost foi uma dessas bandas que experimentou a experiência de levar um show seu, com todos os preparativos de um concerto convencional. O grupo inglês montou o seu palco na boate The Mill, nas proximidades de sua terra natal, Yorkshire, e no dia 5 de novembro do ano passado transmitiu ao vivo a apresentação, que culminou neste álbum e DVD, "At the Mill".

A qualidade sonora é muito boa, e apesar de ser uma situação bem diferente, tocar em um palco, como se fosse um show convencional, mas para uma plateia que você não pode ver, a banda conseguiu transmitir emoção, sentindo os milhares de olhos que os acompanhavam e vibravam a distância, em suas casas.

O show traz músicas que englobam todas as fases do Paradise Lost, incluindo do "Host" (1999), que foi recebido com desconfiança e teve muitas críticas negativas por causa da guinada mais profunda na sonoridade, iniciada com o "One Second" (1997).

Mas é incrível como essas músicas soam uniformes, de maneira alguma parecendo como se fossem de uma outra banda. 

Isso mostra o quanto é forte a identidade dos caras, um nome do seleto grupo dos que construiram uma sonoridade bem própria, e as faixas que transitam pelo Doom, Gothic e os flertes com o Synth Pop, fluem naturalmente, assim como as que unem esses elementos todos que compoem a música dos ingleses.

O Paradise desfila com maestria músicas como "Gothic", "One Second", "As I Die", "Ember's Fire", "So Much is Lost" e inclusive  do mais recente trabalho de estúdio, "Obisidian", que pela primeira vez foram tocadas ao vivo e dessa maneira bem diferente, mas naturalmente inclusas, pois em condições "normais", este show seria da tour do álbum. Temos então as versões ao vivo das ótimas "Ghosts", "Fall From Grace" e "Darkest Thoughts".

"At the Mill" é um registro histórico, em um momento muito diferente e marcante, e somente isso seria necessário para torná-lo singular e chamar a atenção do ouvinte, mas vai além, pois é uma excelente apresentação, com um set-list primoroso.

Texto: Carlos Garcia

Banda: Paradise Lost
Álbum: "At the Mill" 2021
Estilo: Doom Metal, Gothic Metal
País: Inglaterra
Selo: Nuclear Blast/Shinigami Records



Tracklist
1. Widow
2. Fall from Grace
3. Blood And Chaos
4. Faith Divides Us - Death Unites Us
5. Gothic
6. Shadowkings
7. One Second
8. Ghosts
9. The Enemy
10. As I Die
11. Requiem
12. No Hope In Sight
13. Embers Fire
14. Beneath Broken Earth
15. So Much Is Lost
16. Darker Thoughts