Quando
o assunto é Amaranthe acho difícil alguém ser meio termo. Ou você gosta ou você
odeia. Eu gosto e estava ansiosa pelo lançamento de “Manifest”, porque desde a divulgação dos primeiros singles eu criei uma expectativa de que esse álbum
seria melhor do que seu antecessor, “Helix”, que para mim foi o álbum mais fraco
da banda até o momento.
Na primeira audição do álbum, até parece que não houve
muita mudança sonora nesse trabalho, os vocais da Elize estão lá, os vocais
masculinos limpos também estão, os guturais também, sem falar nas batidas
eletrônicas marcantes desde o primeiro álbum.
Mas ao ouvir uma segunda vez com
um pouco mais de atenção, dá pra perceber os ingredientes que fizeram a
diferença em “Manifest”, principalmente no que se diz respeito aos vocais
masculinos, não só pela mudança de vocalista mas também porque nesse álbum eles
ousaram um pouco mais. Se você gosta de músicas cativantes vai concordar comigo
que “Fearless” foi uma ótima jogada para começar o álbum. Uma música rápida e
com um refrão forte onde Elize Ryd, Henrik Englund Wilhelmsson e Nils Molin
mostram grande entrosamento.
O ritmo diminui um pouco com “Make it Better”, com
os típicos efeitos de sintetizador roubando a cena. “Scream my Name” dura
apenas três minutos e três segundos, mas a energia cativante e agressiva ao
mesmo tempo, me faz querer que essa música durasse muito mais. “Viral” foi um
dos singles de divulgação pré-lançamento e possui um refrão grudento que faz
jus ao seu título.
Confesso que não tenho muito o que falar sobre “Adrenaline”
que me soa como uma das mais previsíveis do álbum, mas não posso tirar o mérito
do solo de guitarra que talvez seja o ponto mais forte dessa música.
Em
“Strong” os vocais masculinos tiram folga e dão espaço para a participação
super especial de Noora Louhimo, vocalista do Battle Beast. O dueto soa muito
agradável e a letra empoderadora é uma das minhas favoritas. A música “The
Game” poderia facilmente ser trilha do anime sobre corridas de carro, “Initial
D”, por ser animada e extremamente dançante, mas ao mesmo tempo pesada.
Quando
se fala em Amaranthe é impossível não pensar em suas lindas baladas, então aqui
temos“Crystalline” com Ryd dando um
show a parte com seus vocais doces. Mas não é só isso, os vocais de Nils Molin
parecem ter deixado a banda com uma cara um pouco mais Power Metal.
Eu não esperava que alguém
pudesse substituir Jake E. tão bem ao ponto de aprimorar o som da banda. É
difícil definir as músicas do Amaranthe sem as palavras “pesado e moderno” na
mesma frase, mas o refrão de “Archangel” surpreende pois pra mim soa como um
hard rock dos anos 80 só que mais pesado e acelerado. Se alguém gostaria de ver
a banda sair da mesmice então ouça “BOOM!1”. Os vocais de Henrik Englund
Wilhelmsson soam como em uma banda de Nu-Metal, um rap rápido e agressivo,
chegando a lembrar os vocais de Jonathan Davis do Korn.
Para mim a música “Die and Wake
Up” é a que apresenta maior apelo pop nos vocais de Elize Ryd, mas a cada vez
que menciono a palavra “Pop” para descrever Amaranthe não tome isso como
negativo, pois se eles fossem somente uma banda Pop eles mereceriam um título
de revolucionários assim como eles merecem ao serem descritos como uma banda de Metal.
Embora a música “Do or Die” tenha
sido divulgada anteriormente com a participação de Angela Gossow (ex - Arch
Enemy e atual empresária da banda), na versão do álbum houve a substituição de
Angela pelos membros masculinos da banda e Elize torna-se apenas uma
coadjuvante.
“Manifest” é muito bom e entrou
para o meu top 3 de álbuns favoritos da banda. Como eu disse anteriormente, as
inovações são muito sutis, e eles mantiveram a sonoridade dos trabalhos
anteriores.
Provavelmente a preocupação da
banda seja maior em agradar os fãs atuais do que fisgar um novo público. Mas o
principal para gostar dessa banda é ouvir com a mente aberta, pois eles estão
longe de ser uma banda “tradicional”. E francamente, espero que eles nunca
tentem.
1. Fearless 2. Make It Better 3. Scream My Name 4. Viral 5. Adrenaline 6. Strong (feat. Noora Louhimo) 7. The Game 8. Crystalline 9. Archangel 10. BOOM! 11. Wake Up And Die 12.Do Or Die 13. 82nd All The Way (Bonus) 14.Do Or Die (feat. Angela Gossow) (Bonus) 15.Adrenalina (Acoustic) (Bonus) 16. Crystalline (Orchestral)
(Bonus)
A anunciada “aposentadoria” e o
que poderia ser o derradeiro álbum, “InFinite”, em 2017, felizmente não se
concretizou, e a lenda Deep Purple parece que não estava pronta para parar e,
em tempos que precisamos mais do que nunca motivos para sorrir, apresentou seu
21º álbum de estúdio da carreira (terceiro seguido com a produção de Bob Ezrin), “Whoosh!”, e soando superior ao seu
antecessor.
Com 13 novas músicas, trazendo
uma diversidade que o faz um disco leve, interessante e que a cada audição vai
crescendo. Um álbum que soa atual e traz a identidade marcante da banda,
destacando o timbre inconfundível do vocalista Ian Gillan, que, se já não pode
mais alcançar as mesmas notas altas e agressividade de outrora, mantém a classe
e perspicácia que só os grandes ícones possuem, e claro, o impecável trabalho instrumental,
sempre com muito destaque dos teclados.
“Whoosh!” não tem canções muito
longas, tendo esse ar mais despretensioso, inclusive com músicas de melodias de fácil
assimilação, daquelas que já prendem no ouvido, como “Nothing at All”, com absoluto destaque para a melodia principal, dividida entre a guitarra e o teclado, e o refrão memorável, e já
considero o “hit” do álbum.
Há a simplicidade do boogie-woogie/Rockabilly de “What the What” e o
Hard Rock com trechos progressivos de “The Long Way Road", com a assinatura Purple tradicional, porém soando contemporânea, com direito a solos de teclado e guitarra. Típica banda que envelheceu muito bem
O Purple também mostra malícia e suingue, como na abertura com "Throw my Bones" e "Dancin' in my Slep".
A banda também passeia pelos ares progressivos como em “Power of the
Moon”, que tem uma certa dramaticidade em suas melodias; e em “Man Alive”, com destacado trabalho dos teclados, Gillan vai contando a história, em uma quase narrativa, envolta em melodias que funcionam com trilha para a letra, que traz apreensão sobre o futuro da natureza e humanidade.
Bem no finzinho, possivelmente o trecho que inspirou o título, onde Gillan termina com a frase "A man alone, washed up on the beach, just a man...whoosh."
Sobre o título do álbum, o
vocalista Ian Gilan, em uma das dezenas de entrevistas recentes, deu sua
explicação: “Whoosh é uma palavra onomatopaica que, quando vista por uma
extremidade de um radiotelescópio, descreve a natureza transitória da
humanidade na Terra; e, por outro lado, de uma perspectiva mais próxima,
ilustra a carreira do Deep Purple. ”
O Deep Purple entrega mais um trabalho
digno da história destes ícones do rock pesado, diversificado, de instrumental refinado e composições agradáveis, que por muitas vezes soam quase que como uma jam, com os músicos sempre tendo seus momentos solo. Parece tudo muito simples para estes grandes músicos, e que possuem entrosamento de longos anos, essa formação está junta desde 2003.
O disco está disponível no
Brasil via parceria ear Music e Shinigami Records, em formato simples e digipack duplo com DVD com o show da banda no Hellfest 2017 e mais alguns extras. Os anos passam e o Purple segue lançando material imprescindível para os fãs.
1. Throw My Bones 2. Drop the Weapon 3. We?re All the Same in the Dark 4. Nothing at All 5. No Need to Shout 6. Step by Step 7. What the What 8. The Long Way Round 9. The Power of the Moon 10. Remission Possible 11. Man Alive 12. And the Address 13. Dancing in My Sleep
Se em “White Sands” (14) o Dune
Hill apostava forte em um Hard Rock bem melodioso, em “Song of Seikilos” (19 –
segundo álbum da carreira) a tônica é bem diferente, pois o que temos aqui é
uma sonoridade moderna, pesada e ousada.
A começar pelo conceito do disco,
que traz como tema o amor entre duas mulheres que tentam sobreviver a enxurrada
de preconceitos e críticas ao decorrer de várias épocas, expressado minuciosamente
na bela arte de capa criada pelo artista Rodrigo Basto Didier.
Mas de nada disso adiantaria se a
musicalidade não fosse grandiosa, e é aí que os recifenses ganham o ouvinte,
pois após a bela intro que leva o nome da bolacha recitando lindamente um poema
grego antigo, temos uma inundação de riffs, peso e melodias desafiadoras.
Por ser um trabalho conceitual as
faixas variam as suas emoções, como em “Set Your Free” que vem para arrancar o
seu pescoço ou a monstruosa e enigmática “The Mirror”, que conta a participação
do eterno maestro Andre Matos.
A produção realizada por Antônio Araújo
(Korzus) tirou o melhor da banda e deixou suas lacunas fortes e cheias de
vida. Claro que esse exímio guitarrista – assim como produtor – não poderia
ficar de fora desse grande lançamento, participando da belíssima “The
Last Night”.
O Dune Hill nos apresenta um novo
patamar e um lançamento que você ficará semanas escutando e apreciando cada
detalhe.
O ano era 1973, após sofrer pressão da gravadora que queria interferir na parte criativa, o baterista Netinho resolve acabar com Os Incríveis, que que possuía uma carreira bem sucedida no cenário da Jovem Guarda, e criar uma nova banda, pois desejava trilhar outros caminhos musicais, com uma sonoridade mais elaborada e mais pesada, inspirado pelos grandes nomes que surgiam principalmente no cenário inglês, como Deep Purple, Yes e Pink Floyd.
Com ele, Netinho leva o vocalista e guitarrista Aroldo Santarosa (Som Beat), e completaram a banda com o jovem guitarrista Piska (que depois fez carreira como músico e produtor, principalmente de artistas populares, introduzindo arranjos mais elaborados), o baixista Cargê (Brazilian Beatles, Roberto Carlos) e o tecladista e saxofonista Pique Riverte (então na banda de Roberto Carlos), um time de excelentes músicos.
Inicialmente, batizaram a banda de Os Novos Incríveis, mas precisavam se desvincular do passado, e durante as gravações, surgiu o nome Astral Branco, mas logo substituído pelo definitivo, Casa das Máquinas, nome que marcaria a história do Rock Pesado brasileiro, com sua mescal de Hard, Progressivo e Psicodelia.
Foram 3 álbuns, com algumas mudanças nas formações em cada um deles, "Casa das Máquinas" (74), "Lar de Maravilhas" (75) e "Casa de Rock" (76), e principalmente os dois últimos, são tidos como verdadeira pérolas do Rock Pesado nacional.
A banda acabou prematuramente em 1978, retornando em 2015 para alguns shows e após disso o Casa começou a fazer apresentações mais regulares, e agora em 2020, prepara a gravação de um novo disco, após mais de 44 anos, mas isso é assunto para a parte 2 deste especial.
Nesta primeira parte, conversamos com o grande compositor, vocalista e guitarrista José Aroldo Binda, mais conhecido como Aroldo Santarosa, parte muito importante da história do Casa, presente nos dois primeiros álbuns e um dos principais compositores e letristas do grupo, parceiro de composição de Netinho desde Os Incríveis.
Após sair do Casa das Máquinas, Aroldo seguiu carreira, formando algumas bandas e colaborando com artistas como Zé Geraldo, com quem manteve uma parceria de sucesso por muitos anos. Aroldo hoje mora nos EUA, se dedicando a compor, escrever e até construir suas próprias guitarras! Confira:
RtM: Gostaria que você falasse um
pouco sobre as suas principais influências e como você iniciou na música,
quando foi que você sentiu que o caminho da música era o que você queria
trilhar?Aroldo Santarosa: Meu primeiro
instrumento foi a voz, cantava desde os 4 anos de idade.....comecei a estudar
violão clássico com 8 anos e meio, somente música clássica, mas com 16 pra 17
comecei a me interessar por guitarras.
RtM: Conte-nos um pouco do início
com o Casa das Máquinas, como foi essa transição dos Os Incríveis para o Casa.
Quais os principais motivos que levaram vocês a buscar novos ares no cenário
musical?AS: Os Incríveis acabou e o
Manito montou o Som Nosso de Cada Dia e o Netinho, eu que já tocava nos
Incríveis,o Carlinhos com o Piska e
chamamos o Pique pra tocar sax e teclados e ai nasceu os Novos Incríveisque virou Casa das Máquinas ..... Tem muito
detalhe que estou omitindo porque senão vira um livrokkkkkk masfoi
por ai o nosso caminho.
RTM: Nos dois primeiros álbuns do
Casa, você aparece como um dos principais compositores, com letras profundas e
que trazem muita reflexão. E acho que isso era uma característica muito
marcante na banda. Gostaria que você falasse um pouco sobre suas inspirações e
esse lado, digamos, "espiritualizado" nas letras.
AS: Sempre gostei de escrever,
leitura sempre me acompanhou, a espiritualidade você não pede vem junto quando
nasce., perguntas sobre o universo , sobreser humano , sobre a natureza e sobre todas as coisas que sempre fervilharam
na minha cabeça, por isso eu escrevo .... amo escrever assim como tocar
guitarra.
Primeira Formação do Casa: Netinho, Cargê, Aroldo, Pique e Piska
RtM: Gostaria que você comentasse um
pouco mais sobre o disco de estreia do Casa, e também sobre a música "A
Natureza", que em minha opinião é uma das mais marcantes.
AS: O primeiro disco do Casa foi
muito bem trabalhado, as músicas muito bem escolhidas por nós e "A Natureza" é um
resumo das minhas ligações como mundo
que me cerca, em especial o relacionamento entre o homem e a natureza que às
vezes se torna turbulento .....
RtM: Prosseguindo, nos conte um pouco sobre o "Lar de Maravilhas", onde vocês já mudaram
um pouco a sonoridade, indo por um caminho mais progressivo.
AS: o Lar de Maravilhas marcou uma
mudança na banda, saiu o Pique entrou o Marinho Testoni,entrouo irmão do Netinho, Marinho Thomaz, e ficamos com dois bateristas, mais progressivos, as letras mais fortes, a banda mais unida. Foi bom demais ...
muito tem pra falar e muito já é sabido.
Casa das Máquinas, formação da época do "Lar de Maravilhas"
RtM: Duas músicas que gosto muito, e
com certeza estão entre as preferidas dos fãs, são "Vou Morar no Ar"
e "Lar de Maravilhas", gostaria que nos falasse um pouco mais sobre
elas, principalmente sobre as letras.
AS: Bom, não é difícil falar
sobre as letras, mas como já disse, gosto de escrever e às vezes os caminhos da
tradução estão mais nossentimento do que
na palavra em si. "Vou Morar no Ar" é sobre a continuação da vida e de como eu
vejo a morte. "Lar de Maravilhas" é um lugar especial onde o sonho é seu, e você pode torná-lo real enquanto purifica o espirito.
RtM: Quais eram as principais
dificuldades na época? Conseguir bons equipamentos de palco, divulgação,
estúdios e técnicos que pudessem ser capazes de produzir o som que vocês
buscavam?AS: Dificuldades sempre existiram,
é o que te faz evoluir sem dúvida alguma. Bons equipamentos sempre foram uma
barreira paras a evolução das bandas noBrasil, tudo era contra ... sim tivemos dificuldades como todo mundo, mas de uma certa forma conseguimos o que a gente queria no momento, a gente só
queria ferramentas pra mostrar do que éramos capazes, mas o universo musical é enorme
e nem sempre gira conforme a música (risos)
RtM: E sobre a vida de músico numa
banda de Rock na época? A famosa trilogia sexo, drogas e rock & roll, as
longas viagens...você lembra alguma história engraçada ou marcante que gostaria
de compartilhar conosco.
AS: A trilogiaSexo, Drogas e Rock n Rollsempre esteve exposta, na essência da
intimidade de cada umde nós que habitam
esse universo. Têm gente que abre as
janelas e deixam entrar os olhos e ouvidos estranhose têm outros que se cobrem com seu desejo, se
trancam e se calam...... histórias
muitas, muita alegria e muito som.
RtM: Quais os principais motivos que
levaram você a deixar a banda na época?
AS: Deixei a banda pra montar
outra, mas nunca brigamos ... não me lembrobem, mas quando dei conta estava fora montando outra banda, outros
músicos, outro som, outro tudo..é a
vida.
Abaixo, alguns pensamentos do Aroldo, uma auto definição e o que ele pensa sobre as plataformas digitais e os caminhos da música hoje em dia. Um pouco mais deste grande músico e poeta do Classic Rock e da música brasileira.
"Nem santo e nem gênio .... E=mc 2
não é comigo e muito menos milagre.... O que eu gosto mesmo é de uma natureza
livre, de um bom rock n' roll, de uma verdade bem dita, de uma paz contínua e
de uma guitarra bem ajustada... o resto,
deixa comigo..... Love."
"O que aconteceu com a música e
quem vive dela? Algum músico sabe ou imagina a fortuna dos donos do spotify? Pode
crer, é muita grana ganha em cima da nossa criatividade. Poderia escrever um
textão, mas deixa pra lá, tudo está tão claro, tão moderno e também já comeram
todo o bolo sozinhos mesmo. Hoje, todo esforço do seu
trabalho termina num headphone de 99 centavos do Iphone."
"Não é aconselhável que alguém com
teto de vidro atire pedras.... Olhe pra cima, se der pra ver a lua e as
estrelas, guarde as pedras e escreva um poema sobre a hipocrisia."
Entrevista: Carlos Garcia (com colaboração de Alex Matos - Canal Rock Idol)
Fotos: Arquivo pessoal do artista
Dedicamos essas matérias/entrevistas a memória de Carlos Roberto Piazzoli (Piska), Pique Riverte e Carlos Geraldo da Silva (Cargê).