Dominar algum cargo, função ou
administrar requer sapiência e preparo para que as pessoas aceitem suas ideias.
Para criar algo também são necessárias inspirações e influências, mas essa
busca pela identidade é facilitada para quem possui o dom da criatividade. E a
dádiva da engenhosidade sempre foi algo presente nos finlandeses do Amorphis,
que novamente apresenta sua sonoridade original e toda própria em “Queen Of
Time”, 13º álbum da banda e 7º com Tomi Joutsen nos vocais.
É uma banda que sofreu mutações desde sua estreia, e se tratando de Amorphis, já é praticamente consenso esperar muito. E quem acompanha ou for conferir sua discografia, observará que eles têm uma sonoridade própria e diferenciada. E “Queen Of Time” soa totalmente íntegro, valorizando sempre a força bruta com melodias, orquestrações e corais emocionantes, sendo atribuído a eles a alcunha de ser um dos pioneiros do Death Metal melódico, sendo claro que hoje vão muito além disso.
A produção tem a mão firme do sueco Jens Bogren. A sua contribuição é de extrema competência. Quem ouve e pensa que tudo tange de maneira descomplicada está muito enganado, pois tudo aqui opera como se fosse um multi processador, transitando por os arranjos refinados e selos bem definidos, não deixando de lado a massa sonora intensa e pesada.
Comparar o Amorphis com outros nomes da música extrema torna-se uma perda de tempo, e a melhor explicação de todo esse resultado é a busca por evolução, experimentando novos caminhos, transformando o Death Metal mais extremo de outrora a uma variedade sonora que praticamente não se pode rotular, entregando artifícios folclóricos e nuances progressivas sem medo de arriscar, administrados pela energia e emoção que são unicamente do sexteto. E vale lembrar que o disco marca a volta, depois de 17 anos, do baixistaOlli-Pekka Laine.
É trabalho árduo apontar destaque ou melhores músicas, o disco todo é muito relevante, começando com a orgânica “The Bee”, que apresenta ótimas orquestrações e um refrão melódico, a Folk “Message In The Amber” é apoiada pela agressividade e pelas melodias de teclado; os elementos jazzísticos surgem surpreendentes na ríspida “Daughter Of Hate”; o fulgor dos violinos surge em "The Golden Elk”, enquanto que a força tribal da bateria e o poder denso do baixo em “Wrong Direction”. Apenas pequenas impressões deste contagiante e criativo álbum.
As harmonias de guitarra casam-se perfeitos com os arranjos orquestrais da pesada “Heart Of The Giant”, onde Tomi mostra a sua técnica nos vocais guturais; a enérgica “We Accursed” traz as tradicionais linhas Folk, vocais intensos e teclados que remetem ao Rock Progressivo dos anos 70. “Grain Of Stand” possui uma atmosfera oriental, mas sem abortar do peso, destacado nos corais e teclados, e, claro, temos de ressaltar o dinamismo vocal de Tomi Joutsen, que vai do gutural ao limpo com extrema competência. “Among Stars” traz uma cadência lírica encantadora, graças à participação da cantora holandesa Anneke van Giersbergen (ex-The Gathering), e dos fantásticos traços de flauta; fecha o álbum a requintada e de fascinantes elementos sinfônicos “Pyres Of The Coast”.
Mais uma obra-prima desses homens de gelo, mostrando novamente o porquê de serem a banda de maior relevância da Finlândia, ao lado do Nightwish. Um grupo com sonoridade própria, sendo excelentes no que fazem.
Texto: Gabriel Arruda
Edição/Revisão: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação
Ficha técnica
Banda: Amorphis
Álbum: Queen Of Time
Ano: 2018
Tipo: Death Metal Melódico
País: Finlândia
Gravadora: Shinigami Records (Nac.) / Nuclear Blast (Imp.)
Formado em 2006 em Belo Horizonte, Minas Gerais, começando como uma banda cover do Metallica, logo o Sacrificed partiu para produzir seu material próprio. Após um EP bem aceito e algumas trocas de integrantes, destacando a adição da vocalista Kell "Hell" Reis, a banda lançou o elogiado "The Path of Reflections" (2011), e depois dessa muito boa estreia, gerou-se naturalmente a expectativa do que poderiam apresentar no álbum sucessor. Bom, "Enraged", lançado novamente com a parceria do selo Shinigami Records, traz a consolidação do Sacrificed, mostrando uma banda que evoluiu e está muito segura, e o tempo relativamente longo para finalizá-lo, com certeza contribuiu para que evoluíssem, lapidando ainda mais sua sonoridade.
Em "Enraged" a banda apresenta ainda mais diversidade e qualidade no seu Heavy Metal moderno. Desde a bela arte gráfica, passando pela produção sonora, a cargo da própria banda e de Lucas Guerra, do Estúdio Guerra em BH, e principalmente pelas composições, pesadas, modernas, melodiosas e que se mostram bem criativas, acrescentando um diferencial.
O som do grupo segue por uma linha com traços do Metal Europeu, mas claro, há algo do Heavy e Thrash da escola Metallica ainda correndo nas veias. Do Metal do velho mundo as inspirações vêm principalmente da escola suéca, e para dar alguma referência, poderia citar Evergrey e Arch Enemy (mais na parte instrumental, pois o vocais de Kell são limpos e melodiosos), além dos italianos do Lacuna. O timbre vocal de Kell é muito marcante, ponto que ajuda bastante nessa cara própria do grupo.
O grupo tem peso, mas tem uma sonoridade límpida, valoriza o trabalho das guitarras e melodias marcantes, a cozinha bem elaborada, e Kell sempre tendo linhas vocais variadas. "Meet your Face" traz percussões e mescla peso com linhas melodiosas marcantes. A qualidade do grupo já salta aos olhos (e ouvidos), com uma identidade sonora bem resolvida; "Shame", que foi, pelo que lembro, a primeira faixa que o grupo mostrou desse novo trabalho, também traz o Metal moderno, pesado e melodioso, com cozinha esbanjando peso e técnica e guitarras com excelente trabalho nas melodias e solos, o que faz com que o som do grupo seja muito cativante.
São muito bem-vindas também as passagens mais progressivas e mais melodiosas, que trazem algumas surpresas, como em "Oblivion", que além das linhas marcantes de guitarra e vocal, tem algumas passagens com ritmos bem brasileiros; momentos mais carregados de emoção também se fazem presentes, como na balada "To Whom You Belong", que traz teclados e passagens acústicas, destacando mais uma vez as linhas vocais de Kell.
Um trabalho que não deixa espaço para composições descartáveis, e parece que que passa tão rápido, pois as músicas são marcantes, bem trabalhadas, mantendo o interesse do início ao fim, e gostaria de destacar ainda a excelente "Dear Killer", com linhas bem variadas nos vocais e soando melodiosa e tensa; e "Thick Skin", que me lembrou algo de Evergrey, e Kell tem a companhia de lucas nos vocais. Metal moderno, pesado, com sonoridade límpida, técnica, melodiosa e empolgante, o que é a tônica deste ótimo álbum.
Qualidade, composições bem resolvidas e criativas, que dão uma personalidade bem marcante para o Sacrificed, realmente um daqueles grupos que traz um sopro de ar fresco para o cenário. às vezes é difícil entender o porque de algumas bandas nacionais e Sul Americanas não tenham um reconhecimento maior, tanto aqui, como fora. O Sacrificed merece galgar degraus mais altos.
Texto: Carlos Garcia Fotos: Divulgação
Fcha Técnica:
Banda: Sacrificed
Álbum: "Enraged" (2018)
Estilo: Heavy Metal, Modern Heavy Metal
Pais: Brasil
Produção: Sacrificed e Lucas Guerra
Selo: Shinigami Records
Assessoria: Metal Media
Fundado em 1975, em Nova Iorque, o Riot, segue firme superando as adversidades, como as trocas de integrantes, mudanças no cenário musical e mais recentemente, em 2012, a morte do guitarrista e fundador Mark Reale. Desde a morte de Reale o grupo adicionou em sua homenagem o número romano "V", sendo "rebatizado" a partir daí como "Riot V". Um grupo que possui uma bagagem considerável, tendo contado em sua fileira com músicos excelentes, como Bobby Rondinelli (Rainbow, Blue Öyster Cult), Bobby Jarzombek (Demons And Wizards, Halford, Fates Warning), John Macaluso (ARK, TNT) e Tony Moore, vocalista na época do maior clássico do Riot, o álbum "ThunderSteel" (1988).
Este "Armor of Light", traz o mesmo line-up de seu antecessor, "Unleashed the Fire" (2014), destacando os vocais de Todd Michael Hall, que encaixaram muito bem na banda. O mascote Johnny mais uma vez aparece na capa, que, diga-se de passagem, essas últimas capas estão bem mais legais que muitas das antigas, que eram bem feiazinhas! Com um Johnny bem esquisito, e agora deu uma melhorada. ha ha!
Mas o principal é falarmos da sonoridade de "Armor of Light", que traz o som clássico do Riot revigorado e atual. Aquele "Speed" Heavy Metal recheado de riffs e duelos das guitarras, vocais altos e poderosos. Metal Clássico, com traços da NWOBHM e do "American Metal", que sempre soou um pouco mais rápido e agressivo que o Metal europeu.
A abertura com "Victory" já escancara o Metal Clássico e veloz dos nova-iorquinos, trazendo também uma veia bem NWOBHM, com um refrão bem tradicional e marcante. "End of the World" e "Messiah" seguem por essa mesma linha, mas também temos momentos mais Hard Rock e com groove, como em "Burn the Daylight".
Entre uma ou utra faixa abaixo das demais, temos "Angel's Thunder, Devil's Rage", que com suas bases cavalgadas remete à NWOBHM, e não dá pra não destacar uma canção que tem frases como "Heavy Metal runs through my veins"; a excelente "Heart of a Lion", que discorre sobre a histórica figura do Rei Ricardo Coração de Leão, traz uma grande performance de Todd e refrão épico. O instrumental é veloz e de muita técnica, onde podemos destacar também a performance das guitarras. E ainda destaco a faixa título, "Armor of Light", naquela linha Speed Metal clássica e melodiosa, e a regravação encorpada para o clássico "ThunderSteel".
A edição nacional traz ainda CD bônus com o show ao vivo do Riot V no festival "Keep it True", na Alemanha, em 2015, onde a banda, em uma performance empolgante, desfila vários clássicos e músicas mais recentes.
O orgulho do Metal nova-iorquino segue firme, e não decepcionará os fãs ou o ouvinte amante da sonoridade do American Metal Clássico e da NWOBHM. Um lançamento cheio de bons motivos para aquisição, valorizado por excelentes momentos e também pelo CD bônus.
Texto: Carlos Garcia Fotos: Divulgação
Ficha Técnica:
Banda: Riot V
Álbum: "Armor of Light" (2018)
Estilo: Heavy Metal, Speed Metal
País: EUA
Produção: Chris Collier (Metal Church, Flotsam And Jetsam entre outros)
Selo: Nuclear Blast/Shinigami Records
O We Sell The Dead é formado por membros e ex-membros de bandas conhecidas no meio Metal, e é interessante como tem surgido projetos assim, onde os músicos podem se expressar musicalmente, buscando outras sonoridades, algo que seria mais difícil em suas bandas de origem, pois estas já possuem uma identidade, além do que, em uma outra configuração de parcerias, novas influências irão se fundir, trazendo também a possibilidade de criarem algo novo.
O We Sell The Dead traz em seu line-up Niclas Engelin (In Flames), Gas Lipstick (ex-HIM), Apollo Papathanasio (Firewind, Spiritual Beggars), Jonas Slättung (Drömriket) e Dan Lind (responsável pela parte visual e animações dos vídeos), e além de um line-up competente e experiente, o grupo ousa inovar. Sim, podemos sentir as influências de Doom e Gothic Metal, e de bandas Black Sabbath/Heaven and Hell (traduzindo, a era Dio) e Paradise Lost (em seus momentos mais melodiosos e mais Gothic Metal), por exemplo, mas os caras realmente trazem algo novo, mostrando que nem sempre é regra soar "retrô" para manter a essência.
O debut "Heaven Doesn't Want You and Hell is Full" traz uma temática que aborda a lenda de Jack, o estripador, envolto em uma bem cuidada arte visual, o grupo entrega uma sonoridade original, pesada, tétrica e dramática. As faixas quase em sua totalidade seguem um andamento mais lento, mas jamais cansativo. Riffs pesados, melodias tétricas e envolventes, o grande trabalho da cozinha e os excelentes vocais de Apollo, que interpreta as canções com uma dramaticidade e feelling dignos de altas notas (Que timbre esse cara possui!) jamais deixam o álbum cair na mesmice e cansar o ouvinte.
Após a intro sinistra, "The Body Market", "Echoes of an Ugly Past" já me fez perceber que se tratava de algo novo, diferente e trazia a sensação de ser muito bom, sensação essa que se confirmou no decorrer do álbum. O riff grave de abertura abre o espaço para uma faixa densa, tétrica, com ares épicos, destacando já os grandes vocais de Apollo e as melodias carregadas de dramaticidade. Como eu disse antes no texto, você reconhece algumas influências, mas elas foram unidas para entregar algo novo. "Leave Me Alone" me recordou algo do Sabbath dos melhores momentos da era Tony Martin, talvez pelo timbre vocal de Apollo que também me recorda o de Tony por vezes. Por certo é que a rifferama grave e pesada é tétrica e envolvente.
"Imagine", além do ótimo trabalho das guitarras e as onipresentes dramaticidade e peso, tem um andamento mais acelerado. Importante ressaltar que as faixas possuem esses ganchos e arranjos, trazendo momentos marcantes, que prendem o ouvinte. "Turn it Over" remete ao Gothic Metal, com melodias e vocais bem graves em alguns momentos, bem característicos. Além de seguir um andamento um pouco mais rápido, também possui ótimo refrão, de fácil assimilação.
"Too Cold to Touch", podemos dizer que é uma balada, carregada de melancolia e dramaticidade, permeada por teclados e orquestrações. Envolvente. "Trust" incia carregada com riffs mastodônicos, e sim, remetem ao Paradise Lost, mas jamais soando uma cópia. Realmente mostram habilidade em criarem uma atmosfera envolvente com suas linhas dramáticas, melodiosas e pesadas. Tenho de destacar também o trabalho da guitarra e o trecho melancólico e reflexivo ao meio dela.
Em "Pale and Perfect" o som vem surgindo aos poucos, crescendo, até preencher tudo com seu som denso. Um andamento mais melodioso com guitarra em palm mute se alterna com momentos mais pesados, até chegar em um refrão marcante, que também traz um algo de Gothic Metal. Destaque novamente para as melodias na guitarra; Fechando este excelente play, "Silent Scream" tem um algo de bluesy nas guitarras, sendo uma balada com belas melodias melancólicas, em um embalo carregado de dramaticidade, destacando as linhas e arranjos vocais envolventes.
Original, muito bem feito e com momentos memoráveis. Um discaço! É muito bom quando se "descobre" algo novo e empolgante. "Heaven Doesn't Want You and Hell is Full" é altamente recomendado.
Na vizinha Argentina temos uma
prolífica cena de excelentes nomes no Rock e Heavy Metal, e se bandas como Soda
Stereo (um dos sucessos do grupo, “De Música Ligera”, ganhouversão em português do Capital Inicial, com
“A Sua Maneira”), e Rata Blanca alcançaram grande repercussão, não só no seu
país de origem, mas na América Latina, México e Espanha, outros grupos merecem
um olhar atento, e uma delas é o RENACER.
O Renacer é uma banda que já possui
uma bela bagagem, foi fundada em 2001, em Buenos Aires, pelo vocalista
Christian Bertoncelli (Horcas, Imperio), e em pouco tempo grupo já estreou ao vivo no
Uruguai, lançando em seguida seu debut “Hoy como Ayer”, simultaneamente na
Argentina e México. O Heavy Metal muito bem trabalhado, com muita importância
às melodias e letras profundas logo chama a atenção, ganhando seguidores em
vários países da América. No ano seguinte editam o segundo trabalho, “Renacer”,
distribuído em toda a América Latina, Espanha e Japão.
Lançaram em 2003 o EP “Surcando
Camiño” e o terceiro full-lenght, “Senderos del Alma”, 2004, ficam entre os
destaques nos álbuns importados da revista Burnn do Japão, e também dividem
shows com bandas como Primal Fear e Shaman.
2007 reservam para o lançamento de
“Em Versiones Vol 1”, um tributo a grupos como Rata Blanca, Riff, Dio, Baron
Rojo, Judas Priest, Heroes Del Silencio e outros. Partem para mais tours pela
América Latina e México, incluindo shows com grupos como Mötorhead, Gamma Ray e
Jorn Lande, e “Renacer VI” e “Hijo del Viento” são os próximos petardos, de
2008 e 2009, com a banda apresentando um som mais pesado, com nuances de Power
Metal. O aniversário de 10 anos é comemorado de forma bem especial, com a Tour
“Alas de Fuego”, e com o DVD ao vivo “Bienvenidos al Show”.
Em 2013, “Espíritu Inmortal” é um
álbum que o grupo disse voltar às raízes, em um Metal mais tradicional, com ênfase nas melodias e letras
profundas. E em 2015 a compilação comemorativa dupla, “Alas de Fuego”, pela
Icarus Music, com suas canções mais clássicas regravadas especialmente para
este lançamento, que traz ainda algumas versões demo de canções como “Senderos
del Tiempo” e “Hijo del Viento”. Uma excelente pedida para quem quer conhecer a
banda. “Alas de Fuego” traz uma bela capa embalada em um slipcase, e são 21
faixas de Metal poderoso, técnico e melodioso.
Após uma pausa para ajustar seu direcionamento e para que Bertoncelli também se recuperasse de um problema nas cordas vocais, o grupo, com a adição de novos integrantes para o baixo e bateria, retorna com "Del Silencio a La Tempestad", lançado este ano pela Icarus Music. Contendo 12 faixas, destacando a homenagem a Lemmy Kilmister, "Leyenda del Rock" e "Voces en el Viento", a qual é o mais recente vídeo oficial (assista logo abaixo). Neste álbum adicionaram mais peso e agressividade em faixas como a abertura "Cultura del Odio", mas também possui momentos mais melodiosos, como a já citada "Voces en el Viento" e na Hard/Heavy "Corazón Salvaje", ou seja, um excelente balanço de pura agressividade Heavy e Power Metal, doses de Hard Rock, melodias marcantes e letras profundas e bem elaboradas. O Renacer escreve mais um capítulo de uma história que ainda tem muito a dar pelo Heavy Metal Sul Americano e Mundial. Como eles dizem, em uma faixa de seu novo álbum: "La Sangre No Es Agua". Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação Agradecimentos: Marcelo Quiroga y Telon de Acero Radio; Icarus Music
Este mestre das seis cordas poderia
simplesmente seguir vivendo somente dos clássicos criados ao lado das bandas em
que fez parte, sendo um dos fundadores do Scorpions ao lado de seu irmão Rudolf, e criando algumas dezenas de clássicos com o UFO, além do ótimo material de seus discos solo, mas não, de cara
limpa e energias renovadas, Michael não para de criar material, e uma das
últimas empreitadas é a Michael Schenker Fest, festival em que reuniu vários
vocalistas que passaram pelo MSG. Para quem achou que isto seria somente um
pretexto para angariar alguns euros com os sucessos do passado, se enganou! O
alemão lançou um novo álbum, “Michael Schenker Fest – Ressurection” (2018), com
músicas inéditas e contando com todos os vocalistas de sua carreira solo,
ninguém menos que Robin Mcauley, Graham Bonett e Gary Barden, além de Doogie
White e também nos teclados e voz, Michael Voss, somente feras do estilo.
E que grande álbum! Na abertura "Heart and Soul" destaca-se a companhia de Robin McAuley e Kirk Hammet. Não poderia ser uma abertura melhor, e com título tão apropriado. Com alma e coração a canção traz um andamento acelerado, e Schenker despeja seus solos sobre a base pesada, nos deixando já aquecidos para "Warrior", peça que já nasceu com ares de clássico obrigatório no repertório do guitarrista. O andamento moderado e melodioso, preenchido pelas camas de teclado e inspiradas intervenções da Flying V de Schenker, é complementado por interpretações carregadas de alma dos 4 vocalistas, que se revezam nesta faixa. E o álbum não fica só nesse começo arrasador, que já me ganhou de cara, e a partir daí, e ainda com esse time envolvido, a expectativa aumentou, e felizmente não tive decepção! "Take Me to the Church", inicia com um órgão de igreja, nos convidando para seguir neste culto ao Rock & Roll, e tome mais Hard/Heavy Clássico, com base cavalgada, melodias cativantes e refrão que te agarra com unhas e dentes!
"Night Moods" a voz àspera de Bonett, as melodias e refrão envolventes deste Classic Rock não precisam de muito tempo pra já ganharem o ouvinte, quase sem perceber você já vais estar cantarolando "Night moods..."; na voz de Doogie White o Heavy/Hard clássico de "Girls With Stars in Her Eyes" esbanja classe e bom gosto. As melodias do teclado trazem aquele ar neoclássico, num estilo Rainbow, e Michael preenche a música com riffs e solos com a excelência que só os extra-classe são capazes. O peso e pegada são os destaques na acelerada "Everlast", enquanto que "Messin'n Around" o clima de malícia e o groove deste faixa Rock n' Roll convidam o ouvinte a agitar e cantar junto, com certeza será uma festa quando tocada ao vivo. E que refrão desgraçadamente pegajoso! É tempo de velocidade e peso novamente, com "Time Knows When It's Time". Um Speed Metal carregado de melodia e bateria e andamentos acelerados, destacando as marcantes melodias de guitarra e teclados e o excelente refrão.
Os Hammonds, orquestrações e melodias de vocal e guitarra trazem ares épicos e neoclássicos em "Anchors Away". Doogie soa perfeito neste tipo de faixa; "Salvation" é uma instrumental vibrante, um espaço para o dono da festa brilhar sozinho, mostrando sua classe, técnica e feeling; em "Livin' a Life Worth Livin'" Gary Barden mostra que segue com a garganta em dia, neste Hard melodioso e de andamento moderado; "Last Supper" fecha de forma magistral, com suas melodias memoráveis, uma faixa com aquele jeitão de Hit e refrão irresistível. Aqui os 4 vocalistas se revezam novamente, o que traz ainda mais brilho para esta música.
Com 63 anos de idade e quase 50 de
carreira na música, Michael nem cogita parar de produzir, e não se acomoda com o
passado de glória, prêmios e centenas de capas de revistas especializadas. Provavelmente, enquanto escrevo estas linhas, já está compondo músicas para um
novo álbum ou está na estrada. Um álbum altamente recomendado para os fãs do trabalho do guitarrista, e claro, apreciadores Hard/Heavy e Rock & Roll empolgante e de qualidade. Já está na minha lista de melhores do ano!
Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação
Ficha Técnica:
Banda: Michael Schenker Fest
Álbum: "Resurrection" (2018)
Estilo: Hard Rock, Classic Rock, Hard/Heavy
País: Alemanha
Selo: Nuclear Blast/Shinigami Records
A banda escocesa Nazareth
completa este ano 50 anos de carreira e vai lançar seu 24º álbum de estúdio, e não obstante os altos e baixos, tem
uma contribuição valiosa com discos e canções marcantes.
O quarteto, cujo embrião foi o
Shadettes (banda criada por Pete Agnew), reuniu os 4 integrantes originais, Dan, Manny
Charlton (guitarra), Pete Agnew (baixo) e Darrel Sweet (bateria), e ao final de 1970 já havia sido rebatizada para Nazareth. O grupo teve seu auge
nos anos 70, período em que lançou seus maiores clássicos.
Após os dois primeiros, "Nazareth" e "Exercises", onde a banda ainda procurava sua identidade, foi com o
terceiro álbum, “Razamanaz” (1973, produzido por Roger Glover, do Deep Purple, que também produziu os 2 seguintes, "Loud n' Proud" e "Rampant", que teve Jon Lord, tecladista do Purple, em duas faixas), que adotou uma sonoridade mais Hard Rock, algo que já aflorava em seus shows, e também figurou no top 10 das paradas
britânicas.
Em 1975 lançam “Hair of the Dog”, produzido por Manny, definitivamente levou os
escoceses a status de banda reconhecida internacionalmente.
Músicas como a
faixa título e a versão para “Love Hurts”, dos Everly Brothers, impulsionaram o
disco e a carreira da banda, que chegou a vender mais de um milhão de cópias só
nos EUA. "Love Hurts" é daquela canções fadadas ao sucesso, pois para o tradicional single que a banda costumava lançar antes dos álbuns, havia sido escolhida a faixa "Guilty", mas um executivo da gravadora ouviu a versão do grupo para a canção dos Everly Brothers e praticamente exigiu que ela fosse o single, dizendo que era um hit! E acertou.
O grupo tem uma carreira marcada
por períodos bem irregulares, pois tem álbuns realmente excelentes, como “Hair
of the Dog” , “Razamanaz” e “Close Enough for Rock N’ Roll”, e forjou hits
inesquecíveis e importantes na história do Classic Rock, além de capas com
artes lindas, como a do citado “Hair of the Dog”, “No Mean City” e “Expect no
Mercy” (desenhada por Frank Frazetta), por exemplo. Mas, em contrapartida, também foi capaz de fazer músicas e
álbuns muitos fracos, assim como capas e títulos horríveis (“Boogaloo” e
“Cinema”, por exemplo, fracos em todos esses quesitos).
Eu acredito que essa
irregularidade da banda, que até mesmo em álbuns bons conseguia ter músicas
muito boas e algumas realmente péssimas, muito se deve a falta de melhores
managers e produtores ,lembrando que o manager da banda, Bill Fehilly, era o mesmo do Lynyrd Skynyrd, e faleceu naquela fatídico acidente aéreo, onde faleceram também o vocalista Johnny Van Zant e o guitarrista Steve Gaines, além de outros membros da equipe.
A partir daí, muitas mudanças de direção ocorreram, além de que podemos perceber uma certa pressão externa
para que entregassem algumas canções mais comerciais. Os anos 70 foram bem
produtivos, com ótimos álbuns, e o início dos anos 80 também foram bem
interessantes, apesar de ser o período em que a música da banda começou a
sofrer mais com a irregularidade.
Desse período, temos como exemplo o álbum “2XS” (1982), que possui boas canções e de potencial
comercial, como “Love Leeds to Madness” e “Dream On”, que acabou tendo
excelente repercussão em países como a Alemanha, mas também tem músicas bem
descartáveis, além de algumas que funcionaram melhor ao vivo.
Ainda sobre o final dos anos 70, o grupo seguiu
com bons álbuns como “No Mean City” e “Malice in Wonderland”, e nesses dois
contaram com um segundo guitarrista, Zal Cleminson (Alex Harvey Band), além de
também adicionarem mais teclados ao seu som, chegando a formar um
sexteto, e contando com Billy Rankin ao lado de Manny nas guitarras e John Locke e Ronnie Leahy ficaram a cargo das teclas, entre os anos 80 e final dos 90.
Nesse fim dos anos 70 e anos 80 a banda direcionou sua sonoridade mais ao AOR. O álbum "Snakes 'n' Ladders", de 89, foi um disco controverso, e ficou mais lembrado por ser o marco da separação, pela primeira vez, dos membros originais, com Manny deixando o grupo, além de terem rompido com a sua então gravadora, a Vertigo.
Retornam com o disco “No Jive” (1991), como
quarteto e com Billy Rankin na guitarra voltando a se juntar ao grupo. Um disco interessante, mas não o suficiente para dar
uma alavancada. Billy novamente deixa a banda, que começa a buscar um substituto. Jimmy Murrison, indicado pelo filho de Pete Agnew, Lee, que havia tocado com Jimmy e se impressionou com seu trabalho. Jimmy trouxe novo fôlego, além de mostrar qualidade como compositor. "Move Me", de 94, vem com uma tour extensa, passando por Europa, EUA, Canadá e Brasil entre outros.
Em 1998, lançam
“Boogaloo”, que alcançou números interessantes, mas seguidamente figura entre os piores álbuns do grupo na opinião dos fãs e crítica, ao lado de "Cinema" e "Snakes 'n' Ladders". Durante a tour desse passam por uma grande perda, com a morte do
baterista Darrel Sweet, aos 51 anos, por causas cardíacas. O filho do baixista
Pete Agnew, Lee, assume a bateria, e após uma nova parada de quase uma década,
o Nazareth resiste e retorna com seu 21º álbum, “The Newz” (2008),
coincidindo com seu aniversário de 40 anos, trazendo bons momentos e tendo boa aceitação
Em 2011 e 2014 lançam “Big Dogz” e
“Rock and Roll Telephone”, sendo que este último marca a despedida do vocalista
Dan McCafferty. Dan teve de deixar a banda devido a complicações de saúde (doença crônica pulmonar), que inclusive lhe causaram colapsos durante apresentações ao vivo. Frente às dúvidas de que a banda continuaria sem a voz
original, que marcou os maiores êxitos da banda, eles seguem resistindo, e com
as bênçãos do próprio Dan, recrutam para os vocais o seu conterrâneo Linton
Osborne. Porém, devido a complicações causadas por um vírus que contraiu,
causando uma infecção na garganta e obrigando a banda a adiar alguns shows,
somado a isso um consenso entre o cantor e a banda de que as coisas não estavam
funcionando de acordo com o esperado entre eles, e no começo de 2015 anunciam
sua saída.
No mesmo ano, em fevereiro anunciam o excelente e experiente Carl
Sentance (Persian Risk, Geezer Butler Band, Dario Mollo’s Crossbones), com o
qual lançarão em outubro deste ano, comemorando 50 anos de banda, o álbum
“Tattooed on My Brain”, pela gravadora italiana Frontiers Records, o primeiro
sem McCafferty, sendo que agra resta somente Pete Agnew de membro original.
A
Frontiers, especializada em Classic Rock, juntamente com o novo vocal, com
certeza dará fôlego renovado ao grupo, apoiados por pessoas capacitadas. Uma
pena que a banda não tenha caído nas mãos deles antes, com certeza traria bons
resultados. Sempre há o porém,como a certa
apreensão dos fãs mais conservadores, pois sempre é delicada a troca de um
vocalista, ainda mais aqueles que são considerados uma marca registrada de uma
banda.
São poucas linhas para contar todas as histórias e comentar um pouco mais a fundo a discografia, mas o principal aqui é prestar uma homenagem aos 50 anos desta banda, que apesar dos altos e baixos, possui uma bela contribuição, sendo até um pouco injustiçada. Mas o grupo tem uma legião de fãs fiéis, e é respeitada por muitas bandas de gerações recentes, como o Guns and Roses, que homenageou o Nazareth em seu álbum de versões "The Spaghetti Incident", e também chegou a levar a banda como convidada, abrindo shows do Guns. Pete Agnew lembra que os integrantes do Guns vieram um a um cumprimentá-los e dizer que eram seus fãs, e que o Nazareth e Aerosmith eram para eles o que os Beatles e os Rolling Stones significavam para o grupo escocês.
Em meio às mudanças do cenário musical e de sua própria formação, como a mais recente e mais profunda, com a saída de Dan McCafferty, o Nazareth seguiu resistindo aos modismos, sendo uma daquelas que passou pelas ondas do Punk Rock, Disco Music, Grunge e etc, e está aí, mesmo que somente com um membro original, fazendo Rock and Roll, enquanto muita gente já ficou pelo caminho, e parece que vão provar que ainda tem o que contribuir. Méritos à eles.
Aguardemos os próximos capítulos da história deste dinossauro do
Hard/Classic Rock.