Existem bandas em nosso
underground que quando mencionadas sempre geram uma certa comoção e respeito,
mesmo que não sigam tão ativas, mas sempre são lembradas e reverenciadas.
Com os gaúchos do Bestial não é
diferente, ainda que se mantivessem extremamente ativos no começo dos anos
2000, algumas pausas geraram incertezas, até que em 2015 o novo trabalho tomou
forma e nos traz o amargo e poderoso “Hellfuckdominium XXI” (3° trabalho até o
momento).
Se distanciando do Black Metal lá
no começo da carreira e apostando mais no Death Metal, o que caiu muito bem
para a estética sonora, lembrando em alguns momentos o saudoso Angelcorpse.
Claro que o Black Metal ainda
existe em sua musicalidade, mas não tão aguçado e abrindo espaço também para o
Thrash, onde o casamento de estilos se mostra homogêneo e extremamente brutal e
doentio.
A produção do EP ficou a cargo do
já renomado Fábio Lentino e a qualidade é mais que latente. Os timbres muito
bem encaixados e claros, mas sem perder o peso e agressividade.
Em termos de agressividade não
teria como não mencionar a capa deste trabalho, vindo em um Digipack de luxo
envernizado, mostrando toda a agonia e repudio que o Bestial expressa em suas
letras contra os dogmas e religiões, impactante e sinistra!
Já se passaram cinco anos deste
trabalho, que soa autentico e extremamente atual. São apenas quatro faixas (sem
contar a intro) e que nos deixa com aquela sensação de, que, queremos mais,
pois esse novo Bestial se consolidará ainda mais no underground nacional se
manter essa pegada absurda.
Fechamos as entrevistas de 2020 com a segunda parte do especial com a lendária Casa das Máquinas, e entrevistamos o tecladista e compositor Mário Testoni Jr e o atual guitarrista, Cadu Moreira. Testoni esteve na banda nos anos 70, entrando junto com Marinho Thomaz, baterista irmão do fundador Netinho, e tiveram uma grande contribuição na evolução sonora do grupo e o direcionamento mais progressivo do segundo álbum, "Lar de Maravilhas", onde os teclados tiveram muita importância nos arranjos e direcionamento, além do fato de passarem a tocar com duas baterias.
Após o fim prematuro da banda no fim dos anos 70, depois do lançamento do disco "Casa de Rock", a banda retornou anos mais tarde, por volta de 2008, tendo membros das primeiras formações, como Testoni e Marinho e o fundador Netinho, e junto com eles diversos músicos de gabarito da cena Rock, como Andria Busic e Faiska, depois chegando a estabilizar uma formação, que contou com Marinho Thomaz (bateria), Testoni (teclados), João Luiz (vocais) Marcelo Schevano (guitarra) e Fábio César (baixo), e após essa saíde desses 3 últimos, e a entrada de novos integrantes, o grupo iniciou em 2020 a produção do novo álbum, "Brilho nos Olhos", tendo mais uma baixa, a saída de Marinho Thomaz antes de iniciar as gravações finais.
Conversamos com Testoni e Cadu, para falar sobre história, novidades e expectativas sobre a continuidade desse legado. Confira:
RtM: Conte-nos um pouco sobre
esse retorno, agora com mais força, pois o Casa das Máquinas já vinha tendo
alguns shows, variando bastante a formação, com muitos convidados. Esse
interesse recente do público de resgatar o legado musical brasileiro, em especial
o rock 70’s, foi crucial para o grupo retornar com força total?
Testoni: Bem, na verdade o Casa só não
gravou nada de novo, mas estamos na estrada desde 2008 fazendo vários Shows
pelo Brasil e tivemos duas formações desde essa volta, fizemos três Shows comemorativos
de 40 anos de cada lançamento onde convidamos vários músicos para participarem
de cada Show, inclusive o Simbas, que participou do Show de 40 anos do Casa de
Rock, na verdade o Casa teve mais mudanças nos anos 70 do que agora nessa
volta. Claro que sempre pensei em gravar um trabalho novo, mas não era a hora,
agora sim, com essa formação conseguimos realizar o que eu pretendia desde
nossa volta lá em 2010.
Formação atual: Lucas, Ivan, Geraldo, Testoni e Cadu
RtM:
E como está esse sentimento de, após mais de 40 anos, voltar a fazer um álbum
novo do Casa das Máquinas? Qual o principal desafio para a banda nessa nova
fase?
Testoni: Nosso sentimento é como se fosse o
primeiro trabalho do Casa, estamos cuidando do nosso mais “novo filho” com todo
carinho e respeito que merece. Não chamaria de desafio, mas sim de um
compromisso conosco mesmo e para com o público que é um seguidor do Casa.
RtM: Cadu, conte para a gente como você conheceu o Casa e sobre sua entrada na banda.
Cadu: Conheci o Casa ali pelos 17 anos,
já tocava em algumas bandas, e foi uma surpresa boa quando em um desses eventos
encontrei o Testoni, e conversamos, fizemos amizade e ele falou "cara um
dia desses vamos fazer alguma coisa juntos". Anos depois esse dia chegou,
do nada o Testoni entrou em contato comigo pra substituir o Marcelo Schevano em
um Show. Quando ele saiu da banda, então fui chamado para entrar em definitivo.
Tenho uma ótima relação com ele, estamos gravando inclusive no estúdio dele.
RtM: Contem-nos um pouco sobre o
processo de composição, visto é uma nova formação, há músicos mais jovens,
provavelmente trazendo uma mescla de estilos e influências. Muitos dos
integrantes que apareciam como compositores principais em álbuns anteriores,
como o Netinho, já não fazem parte do Casa das Máquinas. Falem-nos sobre as
influências que os novos membros trouxeram. Testoni: Os músicos são novos no Casa, mas todos
tem muita experiência e vivência musical, o único mais novo em idade é o Cadu
Moreira (guitarrista), mas traz na sua mala um grande conhecimento musical, é
formado em Licenciatura em Música e também já fez parte de algumas bandas, o
nosso baixista é nada mais, nada menos que o Geraldo Vieira (Geraldinho),
músico de um nível altíssimo que já tocou e gravou com vários nomes como, Raul
Seixas, O Terço, Terreno Baldio, Kiko Zambianchi, e outros.
Nosso líder vocal é
o Ivan Gonçalves, que também já participou de algumas bandas e também foi radialista
da Nova Brasil e 89 FM, e completando, eu e o Marinho Thomaz (N. do R.: Entrevista feita antes da saída de Marinho, que deixou o casa antes de iniciar as gravações das últimas músicas, e foi substituído por Lucas Tagliari). Temos músicas
compostas pelo Aroldo Binda, primeiro guitarrista do Casa, Kiko Zambianchi,
Marcelo Schevano, também ex-guitarrista do Casa, Magrão, Eu, o Cadu, Daniel Power
Blues. Todos os arranjos são meus e alguns juntos com o Cadu, estamos
praticamente seguindo o que fizemos na década de setenta.
RtM: E você Cadu, que contribuições você acredita já ter trazido para o Casa das Máquinas?
Cadu: Acredito que essa dedicação,
minha e também dos demais que estão na banda. Certamente eu trouxe minha
identidade, coisas mais modernas, do
Blues e minhas outras influências, procuro ser balanceado sempre respeitando a
história da banda. Eles são um escola. Acho que o pessoal vai conseguir ver a
mesma cara do Casa clássico e algumas coisas diferentes, e é difícil comparar o
agora com 40 anos atrás, e acho muito bacana o que vamos apresentar nesse novo
disco.
RtM: E sobre seu início na música e suas influências?
Cadu: Sou do interior de SP, na minha infância tinha mais contato com a música sertaneja, comecei cedo cantando, meu pai e amigos tocavam na
igreja, então isso também foi me incentivando a entrar na música. Aos 13
iniciei a tocar de forma autodidata, e comecei a conhecer mais coisas, já do
Rock e Pop Rock. Depois tive aulas com o Guilherme de Sá (Rosa de Saron), músico e compositor fantástico, que foi muito
importante na minha formação. Depois fiz faculdade de música, dei aulas, toquei
em bandas de diversos estilos. Acho importante essa diversificação para a
evolução, sair de sua "zona de conforto".
"O Casa das Máquinas é como uma escola"
RtM: Os 3 discos do Casa das
Máquinas, variavam bastante as direções mesmo dentro de cada álbum, qual será o
rumo de “Brilho nos Olhos”? Ao escutar o novo single, alguns trechos dele me
pareceram mais pesados, porém rapidamente desdobrava-se num lado calmo
lembrando as canções do debute. Há um rumo definido nesse novo trabalho? Ou ele
revisitará todas as facetas da banda? Testoni: Brilho nos Olhos trará uma mescla do que
foi o Lar de Maravilhas e o Casa de Rock, que são estilos marcantes do Casa das
Máquinas.
RtM: Vocês lançarão ainda mais algum
single antes do álbum completo estar disponível? E ele será lançado também em
formatos físicos LP e CD? Será um lançamento independente ou haverá algum selo
ou gravadora envolvido? Testoni: Lançamos A Rua, Brilho nos Olhos e Tão
Down ( N. do R.: Lançado recentemente o single "Horizonte"), estamos voltando para o estúdio, como estamos com as
músicas praticamente prontas, é só gravar e fechar o trabalho, acredito que
ainda lançaremos mais um Single. Essa Pandemia atrapalhou toda programação,
tínhamos um lançamento do CD no dia 13/06/2020 no SESC Pompeia. Será lançado em
CD, Vinil e talvez K7, juntamente com a Monstro Discos.
"É como se fosse o primeiro trabalho...não chamaria de desafio, mas um compromisso conosco e com os fãs."
RtM: Voltando um pouco no tempo,
vamos falar sobre o início da banda e os 3 álbuns. Quais as principais influências
musicais que a banda tinha na época? Sendo que o primeiro álbum me parece que
ainda havia uma procura de uma identidade própria. Testoni: É verdade, o primeiro Álbum estava
indefinido, na verdade iria sair com o nome de Novos Incríveis, mas por
sugestão do empresário da época foi mudado para Casa das Máquinas.
RtM: “Lar de Maravilhas” já traz
uma banda mais “madura”, digamos assim, e creio que as influências de Rock
Progressivo estavam bem latentes nesse trabalho. Gostaria que você comentasse
um pouco sobre esse trabalho. Testoni: Com a minha entrada e do Marinho Thomaz,
o Casa passou a ter uma identidade, que na época caiu para o Rock Progressivo,
até porque como eu tive uma formação Erudita foi uma coisa natural e somando
com o que ouvíamos na época, não deu outra, caímos no Prog.
RtM: Creio que uma das
composições mais marcantes de “Lar de Maravilhas” é “Vou Morar no Ar”, conte-nos
um pouco mais sobre essa canção, e claro, quais suas músicas preferidas desse
disco? Testoni: Eu acho que Lar de Maravilhas é a melhor
música do álbum, mas a Som Livre optou por Vou Morar no Ar, que também é uma
música muito boa, enfim foi a música que mais tocou e alavancou o Álbum, mas
temos Astralização, Vale Verde, que são obras primas, na minha opinião.
O Casa nos anos 70
RtM: A ideia de adicionarem uma
bateria extra num dos períodos do grupo, complicou mais o processo de criação
das músicas? O que vocês puderam extrair disso?
Testoni: O lance da bateria foi meio casual forcado, heheheheh, o Netinho precisava de um tecladista para o segundo trabalho do
Casa, me chamou e eu levei um problema junto, que se tornou uma solução o
Marinho além de baterista é irmão do Netinho e para o Casa ter dois bateristas
foi o tempo de uma cervejinha no Guarujá. Ao contrário que se pensou, passou a
ser um atrativo pois os dois se entrosaram como uma luva e foi assim que o Casa
se tornou a primeira banda no Brasil a ter dois bateristas tocando ao mesmo
tempo, SENSACIONAL !!!!
RtM: “Casa de Rock” trouxe uma
roupagem mais direta, mais Hard Rock, e sua faixa título acredito ter se
transformado na música mais popular da banda. Gostaria que você falasse um
pouco sobre as direções tomadas nesse disco. Testoni: Então, o disco Casa de Rock começou a ser
gravado com dois bateristas, tecladista e um guitarrista...... muito louco né?
Mas foi o que aconteceu, gravamos algumas faixas com essa formação, na verdade
o Pisca que era o guitarrista, gravou os baixos primeiro e depois as guitarras
e violões, e em playback eu os teclados, o Simbas entrou na banda sofrendo,
pois as tonalidades foram feitas para a formação que tínhamos, Aroldo e
Carlinhos cantando, mas acabou dando certo, e mesmo estando altas as tonalidades
o Simbas acabou dando conta do recado e ainda trouxe para gravar, a música
“Stress”.
RtM: E sobre esse outro
verdadeiro clássico/hit do Rock clássico brasileiro, “Casa de Rock”, conte-nos
um pouco sobre a criação da música e a letra.
Testoni: A música já estava composta pelo Pisca e o
Netinho, a letra foi feita depois pelo Catalau, e acabou virando praticamente
um hino do Rock nacional.
RtM: A banda acabou tendo um fim
prematuro no final dos anos 70, vocês sentiram muito essa decisão? Ficou aquele
sentimento de que poderiam ter produzido muito mais?
Testoni: Na verdade, sempre achamos que podemos fazer
mais e mais........ temos o exemplo da gravação, nada acontece por acaso e nem
antes de seu tempo, acho que a parada do Casa teve que acontecer......
RtM: Falando sobre a questão das
letras, qual era a reação do público quanto as letras transcendentais beirando
a religiosidade ao lado das outras, como no primeiro disco, mais próximas da
jovem guarda? Curtiam essa mistura? Parte delas perturbavam os “milicos”? Qual
foi a mais problemática?
Testoni: Vivíamos numa época que se buscava liberdade
política, mas também de expressão, de sonhos...... e nossas letras não falavam
de política, mas sim de viagens astrais, de um mundo melhor num sentido mais
espiritualista, enfim como você disse beirávamos uma religiosidade.... não
tivemos grandes problemas com os militares a não ser a encheção de saco por
sermos cabeludos, usarmos roupas despojadas e fumar uns baseados.
RtM: Alguns acontecimentos
recentes, vimos pessoas contrariadas com manifestações de artistas contra
questões políticas, dizendo que não é papel do artista se envolver nisso, que o
Rock & Roll e Rock Pesado é somente entretenimento, como aconteceu com
Roger Waters aqui no Brasil. Qual sua opinião a respeito? Afinal o Rock sempre
foi algo contestador, símbolo de liberdade, rebeldia, lutar contra a opressão. Testoni: O estigma do roqueiro sempre foi o
marginalizado, independente do que a pessoa é ou faz, sempre terá o direito de
se expressar em qualquer assunto ligado a sua realidade, sua vida, seu dia a
dia, seus familiares. Só acho que cada um deveria cuidar do seu quintal, se
formos ver a história a Inglaterra do Waters e outros já fizeram muitas
falcatruas, já destruíram muitas coisas e já aniquilaram muitas pessoas........
falar dos outros sempre é fácil, deixe que nós cuidamos do nosso quintal, ou
pelo menos tentemos cuidar......
O Casa ainda com Marinho Thomaz nas baquetas
RtM: E qual sua opinião sobre o
atual cenário do Rock mundial e brasileiro? Vejo que muitas bandas veteranas
retornaram, lançando bons álbuns, mas chegará o momento em que muitas vão
acabar encerrando seu ciclo. Sempre teremos nomes para seguir o legado, novos
fãs, mas há bandas novas que possam causar algum tipo de revolução musical,
lançar músicas que atravessarão gerações? Testoni: O atual cenário CULTURAL é desastroso, não
só no Brasil, claro que aqui é maior, por sermos um País de quinto mundo tudo é
mais difícil, mais complicado, ainda bem que os dinossaurosestão na ativa e voltando, aqueles que estão
ainda nesse plano, se esperamos alguma coisa mudar em relação ao Rock, a
música, letras, CULTURA de um modo geral, estaremos fritos no azeite.
Respeito o
que vem acontecendo na música, é a cena atual, se é que podemos chamar de cena,
mas que está difícil de aceitar isso é fato, na verdade o Rock propriamente
dito, parou no meio da década de 80, virou POP ROCK e daí pegou uma ladeira e
arrastou tudo para a mesma panela...... está difícil, como diz um amigo “o
ouvido deveria ser igual aos olhos, poderíamos fechar, assim não ouviríamos
tanta merda”.
Cadu: É complicado, a grande mídia
tenta empurrar lixo, desde música a comportamento, tentam colocar essa coisa
mais vazia, para que a população consuma. O que tentamos fazer é o oposto. O
rock tem que voltar a ser essa música de protesto, de contracultura ele sempre
viveu mais no cenário underground. Acredito que a influência dos anos 70,
deveríamos conhecer mais. Principalmente para quem é do interior, as
informações parecem que não chegam.
Hoje a internet está aí, mas mesmo assim,
parece que essas informações não chegam. Se não temos um meio de chegar a essa
informação mais naturalmente, dificilmente alguém vai ouvir um Rock
Progressivo, por exemplo. Através do Testoni, acabei me aprofundando muito mais
nesse mundo, e é impressionante a riqueza da música daquela época. E muitas dessas bandas ainda estão aí. Essa
música deveria chegar a mais pessoas, provavelmente não estarão na grande
midia, mas através da gente. Procuro mostrar a amigos, e eles se surpreendem, e
eu mesmo também, descobrindo novas coisas.
RtM: E sobre a produção dos álbuns do Casa, você acredita que sempre chegaram onde vocês pretendiam?
Testoni: Acho que em cada Álbum foi alcançado o seu
objetivo, tanto de produção, como de composição e execução e sonorização.
Acredito que "Brilho nos Olhos" também vai alcançar.
RtM: Cadu, e sobre suas músicas favoritas da banda? Seria possível escolher algumas, as que você mais curte tocar?
Cadu: Músicas preferidas do Casa
dificil escolher, são muitos sons absurdamente bons. Em um evento tocamos o Lar
de Maravilhas, que é um álbum absurdo de bom, tem várias músicas excelentes, a
"Lar de Maravilhas", que já inicia com aquele arranjo de violão, tem
toda a parte de arranjos. E claro, temos sons como "Dr. Medo" e
"Londres" do "Casa de Rock", que tem riffs excelentes, temos
a contribuição de guitarristas como o Piska e o Aroldo. Inclusive temos uma
música do Aroldo, que foi escrita há 30 anos, que vai entrar no novo disco.
"Trabalhamos sem a preocupação de fazer um hit, mas de continuar um trabalho que ficou 44 anos em um vazio." (Testoni)
RtM: Vocês sentiram ou sentem alguma pressão para a gravação desse novo disco, essa continuidade do legado da banda?
Testoni: Já senti sim uma pressão em gravar, existe
uma cobrança própria em ter que gravar algo do mesmo nível, mas hoje não, sei
que trabalhamos com seriedade e sem ter a preocupação em fazer um hit, mas sim
em continuar um trabalho que ficou 44 anos num vazio.
Cadu: Claro, é só ver as pessoas que
passaram pela banda, só feras, pessoas com bagagem e uma história muito forte.
Costumo dizer que ainda não sou ninguém, o que vai falar o que sou são esses
trabalhos que estamos fazendo. A opinião dos fãs do Casa, certamente haverá
comparações, mas mesmo das mais controversas podemos tirar algo para refletir.
Respeito as opiniões, não sou dono da verdade, procuro estudar muito, respeitar
a história e claro, trazer coisas novas. A energia está sendo muito boa, e até
podemos dizer que já tem um próximo engatilhado, pois a energia está tão boa
que não podemos deixar dissipar. Música é muito isso, coisas que estão no ar, e
a gente consegue transformar em uma melodia, uma música.
RtM: Obrigado pela entrevista, ficamos
no aguardo desse novo trabalho, e fica o espaço para seu recado final aos
leitores. Testoni: Um grande abraço a todos e espero que curtam
o novo Álbum do Casa das Máquinas, Brilho nos Olhos.
Cadu: Muito obrigado pelo espaço, confiram
os singles que lançamos, nos acompanhe nas plataformas e redes, sempre teremos
novidades e logo logo o disco vai estar disponível.
Entrevista por: Carlos Garcia e Alex Matos (Canal Rock Idol)
Dedicamos à memória dos grandes músicos que passaram pelo Casa, os quais não estão mais entre nós, deixaram um legado de clássicos do Rock brasileiro: Piska, Pique e Cargê
Foram muitos altos e baixos na carreira de Timo Tolkki, principalmente pós-Stratovarius, banda com a qual Timo construiu álbuns e carreira sólida por um bom período. Não há como negar a qualidade e importância de discos como "Epidose", "Visions" (acredito que a grande obra da banda) ou "Destiny", por exemplo, que levaram a trupe finlandesa a um patamar elevado, com canções memoráveis e que são referência no Power Metal e Metal Melódico.
Os problemas com depressão, os desentendimentos, saída da banda e altos e baixos, com projetos que não repetiram o mesmo êxito da época áurea do Stratovarius.
Mas a capacidade e talento reconhecidos de Timo o levaram a assinar com um dos principais selos de Hard, Classic Rock e Metal Melódico, a Frontiers Records, produzindo então a Metal Opera "Avalon" (trilogia que tem como tema a ficção, e se passa no ano de 2055, em um planeta terra desolado por tsunamis e outros desastres), que seis anos após a primeira parte, chega ao seu derradeiro álbum.
Contando com uma ótima produção e um time de convidados de peso, a trilogia iniciou em 2013, com "The Land of New Hope" com convidados como Elize Ryd, Mike Kiske e Russel Allen. A segunda parte foi lançada em 2014, "Angels of the Apocalypse", que contou novamente com Elize e um time novo, com Fabio Lione, David DeFeis, Simone Simons, Zak Stevens e a cantora chilena Caterina Nix5.
O primeiro álbum teve boa aceitação, sem grandes novidades para o estilo, mas com boas canções, e o segundo sofreu algumas críticas mais pesadas, principalmente pela falta de músicas mais empolgantes.
"Return to Eden" (2019), álbum que fecha a trilogia, e que chega ao Brasil nessa nova parceria da Shinigami Records, agora com a Frontiers - o que é uma excelente notícia pelo catálogo atrativo da gravadora italiana - a Opera Metal de Tolkki apresenta seu melhor e mais consistente momento. Talvez o tempo, 5 anos desde o lançamento da segunda parte, favoreceu a Timo, que teve um tempo maior para criação das músicas.
O álbum tem vários acertos, como a adição de novas parcerias, a produção de Aldo Lonobile e mixagem/masterização de Federico Pennazzatto, ou seja, Timo pode se concentrar mais na parte criativa.
Anneke, trazendo brilho ao mais recente álbum de Tolkki
O time de vocalistas também foi bem escolhido, trazendo mais novidades, como Anneke Van Giersbergen, um dos grandes destaques, Mariangela Dermutas (Tristania), Todd Michael Hall (Riot), Eduard Hovinga (Mother of Sin e ex-Elegy) e Zak Stevens, que também esteve no anterior, e também possui atuação com maior destaque.
A sonoridade é voltada ao Power Metal melódico, área que Timo conhece muito bem, mas os maiores destaques são as canções de andamentos mais melodiosos e moderados, como em "Return to Eden", única em que temos mais de um dos vocalistas atuando juntos, e Zak, Todd e Mariangela se revezam, trazendo um "molho" bem especial.
Nessa mesma linha, Anneke aparece com "Hear My Call", uma das melhores do álbum, mostrando toda a capacidade da holandesa em criar belas melodias vocais, sendo capaz de deixar interessante até canções mais medianas. A holandesa também traz seu brilho para "We are the Ones".
Zak, além da já citada acima, tem mais dois números individuais, em "Miles Away", também seguindo essa linha mais cadenciada e refrão marcante, e "Wasted Dreams", cadenciada e de guitarras com bastante pegada e riff principal marcante, trechos com somente a cozinha, teclads e voz, dando aquele ar dramático. É até clichê, mas é uma boa canção, lembrando a época Visions/Destiny do Stratovarius.
Mariangela Dermutas mostra outras nuances de sua voz
Outra que me lembrou bastante essa era é "Now and Forever", com Todd nos vocais, e é outra que se destaca. Outra que se destaca é "Guiding Star", na voz de Mariangela, e é muito interessante ouvi-la em estilos diferentes do que estamos acostumados. Alternando linhas vocais suaves com outras mais altas, é um fechamento bem agradável para o álbum. Mariangela ainda aparece individualmente na balada "Godsend".
Os temas mais velozes e mais tradicionais de Power Metal melódico ficaram a cargo de Hall e Hovinga. Para o vocalista do Riot coube aabertura, com a veloz e pomposa "Promises", e ainda"Limits" e "Give me Hope", que tem aquela linha de melodias "felizes" e velozes. Estas duas últimas na voz de Hovinga.
Zak Stevens tem atuação destacada, com seu estilo bem pessoal de interpretar as músicas
Dá para colocar "Return to Eden"como o melhor trabalho de Timo Tolkki em muito tempo, provavelmente o melhor pós-Stratovarius, e vale dizer que bem mais interessante do que a sua ex-banda vem produzindo desde sua saída. Que os acertos aqui sejam o norte para futuros trabalhos do guitarrista, porque temos a impressão de que ele pode mais.
Texto: Carlos Garcia
Banda: Timo Tolkki's Avalon
Álbum: "Return to Eden" 2019
Estilo: Power Metal, Melodic Power Metal, Opera Metal
Timo Tolkki: Guitarras Andrea Buratt: Baixo Antonio Agate: Piano and
Keyboards Giulio Capone: Bateria ,Piano and
Keyboards Aldo Lonobile: Guitarras
Tracklist e vocalistas convidados: Enlighten (instrumental) Promises (Featuring Todd Michael
Hall) Return To Eden (Featuring
Mariangela Demurtas, Zachary Stevens & Todd Michael Hall) Hear My Call (Featuring Anneke
Van Giersbergen) Now and Forever (Featuring Todd
Michael Hall) Miles Away (Featuring Zachary
Stevens) Limits (Featuring Eduard Hovinga) We Are The Ones (Featuring Anneke
Van Giersbergen) Godsend (Featuring Mariangela
Demurtas) Give Me Hope (Featuring Eduard
Hovinga) Wasted Dreams (Featuring Zachary
Stevens) Guiding Star (Featuring
Mariangela Demurtas)