Chegando perto de completar 15 anos de estrada e em plena divulgação de seu último e elogiado artefato, esta horda que sempre teve como prioridade o profissionalismo e a busca por crescimento, ultrapassando dificuldades e barreiras, vem colhendo os frutos dessa obstinada caminhada, sendo hoje, com certeza, um dos nomes mais respeitados do estilo, senão o mais, no continente. Tivemos o prazer de conversar com está grande banda, que nos conta desde seus primórdios aos seus planos futuros. Com vocês Unearthly!
RTM: Primeiramente gostaríamos de agradecer pela entrevista, todos nós estamos honrados por ter a chance de conversar com uma das maiores bandas do nosso país. Bom, vamos ao trabalho. Em 2012 vocês estão completando mais de 14 anos de carreira, podería nos dizer como foram os primórdios da horda e as primeiras barreiras vencidas por vocês ?
M.Mictian: A recíproca é verdadeira com certeza. Se você quiser ter uma banda realmente profissional fazendo um trabalho sério, então quando se monta uma banda, esse com certeza é o grande obstáculo aqui no Brasil, poucas pessoas levam o Metal a sério e de forma profissional quase tudo é feito “nas coxas” no amadorismo, mas quando montei o Unearthly priorizei o profissionalismo e sempre procuramos fazer um trabalho de nível, não queríamos uma banda de hobby e sim algo sério, desta forma tivemos que ultrapassar as barreiras do amadorismo de muita gente (apesar de que ainda existe muito amadorismo), mas as pessoas que nos olham e nos conhecem já percebem que este não é nosso caso.
RTM: Sem dúvida o Unearthly já tem seu nome marcado no Metal nacional, porém como vocês avaliam a repercussão da banda no mercado externo? E até que ponto gravar o mais recente álbum “Flagellun Dei” na Polônia foi significativo para o trabalho em si?
Eregion: O disco tem aberto muitas portas, a gravação lá, fez com que o público percebesse que temos sim a mesma qualidade que as bandas “gringas” e isso nos levou a outro nível de público e de cobrança também, pois nos shows todos querem ver se conseguimos executar tudo com a mesma qualidade do que está gravado, e acredito que todos tem saído bem satisfeitos.
RTM: Olhando um pouco a história da horda, até aqui vemos que são freqüentes a mudança de formação, até que ponto isso influenciou ou atrapalhou a história do grupo. E qual o perfil ideal para ser músico do Unearthly?
M.Mictian: Qualquer banda que passa por muitas mudanças de formação sofre muito, porque atrapalha o andamento do trabalho e conosco não foi diferente, de 2004 até 2007 para gravar um novo trabalho, isso atrapalhou e muito nossos planos, mas infelizmente isso acontece aqui no Brasil é difícil se manter uma banda de Metal Extremo devido a não se ter apoio e os músicos acabam desistindo de se sacrificar por uma banda. O perfil do músico para fazer parte do Unearthly é se sacrificar sempre pela banda, acreditar que podemos estar sempre crescendo, ser profissional e dedicado, essas seriam as características básicas.
RTM: Algo que sempre me chamou a atenção no trabalho de vocês é a temática em si, afinal de contas são sem sombra de dúvidas Black Metal, porém fogem dos clichês do estilo apresentando um grande leque de metáforas, sempre surpreendendo o ouvinte. Como é esse processo da criação do tema de cada musica e quais são os músicos envolvidos nesse processo?
Eregion: Antes isso ficava mais por conta do Mictian, hoje fica mais a meu cargo, tentamos abordar sempre temas que estão ligados a nossa realidade e as nossas crenças, não falamos de nada no qual não seja realmente o nosso ideal. Os temas mais abordados são o anti-cristianismo, guerras e caos social.
RTM: Colocando agora o “Flagellum Dei” na conversa. Pois bem, existia alguma pressão acerca desse trabalho? Afinal de contas ele veio após um verdadeiro divisor de águas da banda, o trabalho anterior “Age of Chaos” (2009). E até agora como vocês tem encarado as resenhas extremamente positivas elevando esse trabalho a nível de clássico do Metal nacional?
M.Mictian: Existia sim essa pressão, mas a mesma era criada por nós mesmos porque acreditávamos que poderíamos fazer um disco melhor que o “Age of Chaos”, então nos pressionamos para podermos alcançar o melhor e foi muito válido porque o resultado final nos deixou satisfeitos.
RTM: Seja pela musica em si ou até mesmo pela garra e concepções de suas composições o Unearthly é comparado muitas vezes ao Behemoth, como vocês avaliam esse comparativo e quais bandas poderias apontar como referência?
M.Mictian: Geralmente fazem essa comparação mais por causa do visual que usamos que se assemelha ao deles, mas nem sempre quem nos compara a eles ouviram nosso disco então muitas das vezes o comentário é infundado e eu poderia citar dezenas de bandas que usam o visual parecido, mas isso não nos incomoda, sempre estivemos focados em nossa carreira e em nossa música temos consciência da importância de nosso trabalho e seguimos em frente.
RTM: Gostaria que comentasse um pouco sobre a arte gráfica de “Flagellum Dei” que é belíssima. E a propósito, a banda está de parabéns por anexar pequenas explicações referente a letras no encarte, como surgiu essa ideia?
Eregion: Por diversas vezes abordamos os temas de maneira mais metafórica, mais poética e não tão explícita, isso dificulta o leitor a entender exatamente o nosso ponto de vista, essa foi a melhor maneira que encontrei para que o leitor se sentisse no nosso papel, sob o nosso ponto de vista da questão.
RTM: Como vocês chegaram a ter contato com Steven Tucker (ex-Morbid Angel) e como foi o clima da gravação com essa participação em especial?
M.Mictian: Conheci Steven pela internet a algum tempo atrás sempre tivemos boas conversas e ele sempre se mostrou um cara gente boa e sempre elogiava a nossa música então quando terminamos de compor o “Flagellum Dei” e o convidei e ele aceitou prontamente, foi bem fácil, e quando estávamos na Polônia gravando ele enviou as suas partes de vocal para a música “Osmotic Haeresis” que ficaram ótimas, daí pra frente foi inserir na canção.
RTM: O trabalho anterior apresentava em algumas faixas uma sonoridade voltada para música oriental, já o trabalho atual apresenta influências da música nordestina. Sendo uma banda tão militante da cena, qual a importância que vocês defenderiam para a inclusão de novos elementos na sonoridade do Black Metal em si?
Eregion: Evoluir é preciso, é natural do ser humano buscar por novas maneiras e novos conceitos de se praticar velhos hábitos, por isso acreditamos sempre em agregar mais valor e mais coisas diferentes ao nosso som, mas sem perder jamais a essência do Black Metal e do Heavy Metal em si, que é a contestação, a agressividade, queremos levar o Metal brasileiro a outros níveis.
RTM: Lendo uma revista digital me chamou a atenção uma citação onde M. Mictian foi questionado sobre um sonho que ele possuía, em especial ele respondeu o seguinte:
- “Andar pelas ruas sem encontrar nenhuma igreja.”
Gostaria de saber se vocês já sofreram algum contratempo devido a fanáticos religiosos ou coisas parecidas? E se vocês, ao exemplo de Dave Mustaine do Megadeth ( Mustaine declarou que se recusaria a tocar com bandas "satanistas"), se recusariam a tocar em algum festival com bandas de ideologia cristã?
M.Mictian: Eu nunca sofri nada porque eles olham pra mim e ficam com medo (risos), eu não dou atenção a esse tipo de pessoa eu simplesmente os ignoro pelas ruas ou em qualquer outro lugar que os encontre. Nunca fui fã do Megadeth e pra mim não faz diferença o que ele pensa ou não, não me lembro de ter tocado em algum evento com bandas cristãs, mas com certeza faço questão de não me envolver com essas bandas.
RTM: Falando um pouco mais desse assunto há alguns anos atrás a cena Black Metal do RJ virou um verdadeiro campo de guerra onde muitas bandas esqueceram de fazer música e se focaram em apenas ficar denegrindo a imagem das verdadeiras hordas, lembro que o Unearthly foi alvo de muitas idiotices espalhadas pela mídia. Hoje em dia como está essa cena e o que vocês podem tirar de positivo desse momento na carreira de vocês?
M.Mictian: Lembro bem desses acontecimentos, mas confesso a você que nunca me envolvi nisso, inventaram um monte de babaquices e muitos idiotas acreditaram; Quando eu agredi o baixista de uma merda de uma banda aqui do RJ não foi pela música e nem fiz isso para promover minha banda mesmo porque não precisamos disso, apesar de que teve bandas que usou sim estes fatos para se promoverem, mas o Unearthly sempre estava focado na música por isso estamos “na ativa” hoje gravando e lançando discos, a grande maioria que falavam suas “merdas” sumiram ou pararam com suas bandas ou viraram crentes, nós sempre nos mantemos na ativa lutando independente de qualquer problemas ou obstáculos.
RTM: Falando em shows, quem nunca viu a banda ao vivo como que vocês descrevem uma apresentação do Unearthly?
Eregion: Um show enérgico eu acredito, pensamos sempre no melhor setlist pra aquela noite, para levantar o público, e deixar todos satisfeitos e com vontade de assistir a banda mais vezes. Ensaiamos bastante para que a performance seja a mais impecável, e para que possamos levar ao público que nos conhece apenas de ouvir nossos CDs a fidelidade do que está gravado.
RTM: Então é isso, obrigado pela entrevista, todos os bangers do Brasil estão orgulhosos de ter uma horda tão poderosa representando o Metal nacional. Este espaço fica para as considerações finais para os leitores do Road To Metal.
RTM: Então é isso, obrigado pela entrevista, todos os bangers do Brasil estão orgulhosos de ter uma horda tão poderosa representando o Metal nacional. Este espaço fica para as considerações finais para os leitores do Road To Metal.
Eregion: Nós que agradecemos o espaço, e acreditamos que se cada um fizer a sua parte em prol da cena brasileira o Metal só tem a crescer. Hails!
M.Mictian: Muito obrigado ao Road To Metal pela oportunidade e pelo espaço é com certeza uma honra para nós ter essa chance no seu meio de comunicação.
Entrevista por: Luiz Harley Caires
Revisão & Edição: Alexandre Ferreira / Renato Sanson
Fotos: Divulgação
Live Fotos: Juliana Santana
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Assessoria: Metal Media
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