quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Rock Ao Vivo: edição porto-alegrense de alto nível com grandes nomes da música pesada mundial

Cobertura por: Renato Sanson
Fotos: Diogo Nunes



O Rio Grande do Sul continua sendo a rota dos grandes shows e também de grandes festivais. Como foi o caso do Festival Rock Ao Vivo que ocorreu no dia 01/10/19 no já conhecido Ginásio do Gigantinho (que já recebeu nomes do porte de: Iron Maiden, Ozzy, Kiss e etc...), em um super cast com Helloween, Whitesnake e Scorpions.

Vale ressaltar que inicialmente o evento contaria com Megadeth, mas devido a um problema de saúde do vocalista/guitarrista Dave Mustaine (câncer de garganta) os americanos foram substituídos pelos alemães do Helloween.

Mesmo sendo em uma terça-feira tivemos um ótimo público para o Festival (um pouco mais de 8 mil pessoas), mas também não era para menos, estaríamos diante de três lendas do Heavy Metal mundial em uma única noite, com toda a estrutura e aparato necessário para que o espetáculo fosse grandioso.

As 16h os portões começaram a abrir e a acomodação ao local foi tranquila, assim como o acesso da Imprensa que foi tratada com muita cordialidade pelos responsáveis. Ao adentrar ao local (que sim estava muito quente hehehe) já era possível ver o contraste entre os públicos, pois cada banda que estaria no palco está noite, são grandes em gerações diferentes, o que deixou o clima ainda mais festivo.

Perto das 17h30min era hora da a atração local abrir os trabalhos, e para esta tarefa foram recrutados os diabos porto-alegrenses do Cartel da Cevada, que mostram uma musicalidade consistente que transita entre o Heavy Metal tradicional mais old school com a pura malícia do Rock n’ Roll, com sua temática em volta do regionalismo rio-grandense e cantado em português. Onde a parte lírica é extremamente bem-humorada e acida.


Vale destacar a caracterização dos membros que estavam com coletes estilo dos generais da Guerra dos Farrapos e do mascote da banda, que é o próprio Diabo, que interage durante o show, fazendo declamações em algumas músicas. Deixando tudo muito divertido e original.


Após o bom show do Cartel da Cevada, era hora de um dos maiores nomes do Power Metal mundial, os alemães do Helloween que continuam a bem-sucedida tour “Pumpkins United”, que traz a adição dos lendários Michael Kiske (vocal) e Kai Hansen (guitarra/vocal). Em uma formação bem pouco convencional, já que a tour em questão mantém os membros anteriores, tendo em palco três vocalistas e três guitarristas!

Depois da bela montagem de palco com um kit de bateria monstruoso de Daniel Loeble, as luzes se apagam os telões tomam forma e o clássico “I'm Alive” chega para estontear os desavisados, com Kiske mostrando o porquê ser um dos vocalistas mais cultuados do mundo, além de manter um belo dueto com Andi Deris.


A chuva de clássicos não para e “Dr. Stein” abre caminho e mostra toda a interação da banda com seu público, onde Deris é o carro chefe das interações e Kai Hansen não economiza energia e transita por todo o palco, que diga-se de passagem era belíssimo, com uma base embaixo da bateria que permitia que os músicos subissem ao seu lado, onde Kai fez questão de subir várias vezes e pular de cima sem aviso prévio com sua Flying V em mãos.

“Eagle Fly Free” chega para deixar todos boquiabertos com o poder vocal de Kiske, já que essa o vocalista mandou sozinho e impressiona tanto pela técnica quanto pela potência de sua voz, onde você fechava os olhos e parecia que estava ouvindo o disco em casa. Seguimos com “Perfect Gentleman” com Deris cantando a mesma praticamente sozinha e Kai nas guitarras, tendo ao seu final a volta de Kiske ao palco. Era então a vez de Kai Hansen brindar a sua época como vocalista do Helloween e “Ride the Sky” chega para os fãs mais old school. Mas não teria como não mencionar os duetos de vozes entre Kiske e Deris, onde mostram que encontraram o equilíbrio perfeito para este novo momento, e ter Kai Hansen junto nestes duelos só engrandecem ainda mais a banda como um todo, como podemos perceber na antológica “How Many Tears” onde os três vocalistas se dividiam e mostravam grande interatividade.


O final com a mais que clássica “I Want Out” trouxe os balões gigantes preto e laranja que foram jogados ao público que se pareciam com aboboras, e deixaram o clima ainda mais descontraído e divertido em seu show.

Interação, presença de palco e um setlist na medida para a proposta do Festival, o Helloween encerra mais uma passagem pela capital gaúcha em grande estilo e nos brinda com toda a sua genialidade.

Setlist:
I'm Alive
Dr. Stein
Eagle Fly Free
Perfect Gentleman
Ride the Sky
A Tale That Wasn't Right
Power
How Many Tears
Future World
I Want Out


Em uma rápida troca de palco, já era possível ver a belíssima bateria do extraterrestre Tommy Aldridge e a bela produção que acompanharia os britânicos do Whitesnake em mais uma apresentação em solo gaúcho. Mas desta vez com a tour do mais recente lançamento, “Flesh and Blood” (19).

O Gigantinho já se encontrava praticamente lotado quando Coverdale e sua trupe entram em cena para o delírio do público, e “Bad Boys”, “Slide It In” e “Love Ain’t No Stranger” dão o cartão de visitas com os presentes cantando os clássicos a plenos pulmões.

Muitos reclamariam da voz de Coverdale, mas temos que levar em consideração a sua idade (68 anos), e mesmo assim, o coroa não “arrega” e mantém as notas lá em cima, ainda que conte com o suporte dos backing vocals (com destaque ao tecladista que é o grande vocalista Michele Luppi, mais conhecido pelos seus trabalhos com a banda Vision Divine) David mostra quem manda e sua voz rouca e aveludada encanta e embala grandes clássicos da história do Rock.


Houve espaço para o novo álbum, e “Hey You (You Make Me Rock)” e “Trouble Is Your Middle Name” fizeram bem o seu papel, já que dividiam o set com clássicos inquestionáveis. Antes do final da primeira parte do show tivemos o duelo de guitarras entre Reb Beach e Joel Hoekstra, que em minha opinião poderia ter sido substituído por uma ou duas músicas. Não me entendam mal, mas ambos solam na banda e temos que concordar que já são solos complexos, um duelo entre ambos ao meio do show ficou um pouco desconexo dando uma certa amornada no clima.


Mas que voltou a esquentar com “Shut Up & Kiss Me” e ferveu de vez com o  solo de bateria de Aldridge. Que tirou mais do que aplausos, a técnica e a desenvoltura deste senhor de 69 anos é invejável, e quando continuou seu solo sem baquetas (sim o mesmo seguiu esmurrando o kit com as mãos) o ginásio veio abaixo e muitos olhavam não acreditando no que estavam presenciando. “Is This Love” chegava para deixar todos sem folego e emocionados, com Coverdale dominando o palco e tendo o público ao seus pés.

A chuva de clássicos para a reta final do show foi de tirar lagrima de muitos marmanjos, pois a sequência: “Give Me All Your Love”, “Here I Go Again”, “Still of the Night” e “Burn” (referenciando a época de Coverdale no Deep Purple) encerram com chave de ouro!

O Whitesnake mostra que ainda tem muita lenha para queimar. Um show grandioso e repleto de clássicos históricos.

Setlist:
Bad Boys
Slide It In
Love Ain't No Stranger
Hey You (You Make Me Rock)
Slow an' Easy
Trouble Is Your Middle Name
*Duelo de guitarras
Shut Up & Kiss Me
*Solo de bateria
Is This Love
Give Me All Your Love
Here I Go Again
Still of the Night
Burn


Por volta das 22h era hora de um dos maiores nomes da história do Rock/Heavy Metal mundial entrar em cena, os dinossauros do Scorpions que vinha dando continuidade na Crazy World Tour. As expectativas dos fãs eram grandes, pois essa era a segunda vez que o Scorpions passava por Porto Alegre, já que a primeira vinda foi há 19 anos no Festival Live'n'Louder (também realizado no Gigantinho).

Com um belo pano da turnê que escondia o palco as luzes se apagam por completo, a intro ecoa nos PA’s e já podíamos ver a animação computadorizada nos belos telões onde Mikkey Dee subia em seu kit de bateria com a banda entrando em ação em “Going Out With a Bang” (do último lançamento “Return to Forever” – 15) que abriu espaço para os clássicos “Make It Real” e “The Zoo”, com todos os presentes cantando junto.


É inegável que Mathias Jabs é um guitarrista mais habilidoso e técnico que Rudolf, mas é na simplicidade que Rudolf se destaca e em “Coast to Coast” podemos perceber todo o seu brilhantismo. Com a entrada de Mikkey Dee na banda é notável que ao vivo ganharam mais força, ainda que a suavidade em suas composições sejam sua marca registrada. Em termos técnicos o Scorpions sempre manteve um ótimo nível ao vivo, mas é a precisão e o perfeccionismo que fizeram dos germânicos o que são hoje, pois o show em si é como se fosse um relógio suíço, sem falhas e preciso. Klaus Meine continua com sua voz cristalina e característica, não exagerando nos tons altos e tendo boa presença de palco.

O carisma de Mathias e Rudolf são o show à parte, pois ambos interagem o tempo todo com os fãs e não se poupam, além de usarem diversas guitarras diferenciadas durante a apresentação. “Send Me an Angel” ganhou uma bela versão acústica com o público cantando cada nota, onde Dee deixou o seu grande kit nas alturas e desceu para o palco para embalar o clássico em uma mini bateria acústica. Em seguida um dos maiores clássicos do Rock mundial: “Wind Of Change” com Meine reproduzindo ao vivo o belo assobio na introdução, mostrando que folego não é problema e que não precisam do samplers para reproduzir esta parte marcante e lindíssima da música.


Posterior ao solo de bateria de Dee o show se encaminhava para o final e os maiores clássicos do Scorpions chegam para encerrar a noite e deixar cada presente mais do que satisfeito, pois como não sair com um sorriso de ponta a ponta com “Blackout”, “Big City Nights”, “Still Loving You” e “Rock You Like a Hurricane”? Pois é, praticamente impossível!

Setlist:
Going Out With a Bang
Make It Real
The Zoo
Coast to Coast
Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy's Coming / Catch Your Train
We Built This House
Delicate Dance
Send Me an Angel (Acoustic)
Wind Of Change
Tease Me Please Me
*Solo de bateria
Blackout
Big City Nights
Still Loving You
Rock You Like a Hurricane

O Rock Ao Vivo mostra que esta modalidade de Festival funciona e pode sim ter diversas edições em nossa capital, já que o público comprou a ideia e o evento foi extremamente bem produzido e planejado. Seja no som, iluminação ou palco, pois era visível o profissionalismo das equipes e a preocupação em entregar o melhor aos presentes.

Algumas considerações finais são cabíveis, como o espaço destinado a pessoas com deficiência, que ficou extremamente bem centralizado, onde era possível assistir aos shows de qualquer lugar do espaço, tendo a altura certa para a visão do palco e sendo bem confortável. Nota dez para os responsáveis e por se preocuparem com está questão, já que em muitos shows essa acessibilidade (que é um direito, não um favor) passa batido.

Agradecemos também a dedicação e profissionalismo da Agência Cigana e toda a sua assistência para a Imprensa presente, dando todo o suporte necessário tanto para os fotógrafos como para os redatores.

Que mais eventos deste nível invada Porto Alegre!



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