segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Entrevista - Alexander Krull e Elina Siirala (Leaves' Eyes): Mitos, Mudanças e Novas Sonoridades

Divulgação

Por Fernando Queiroz

Quando a cantora norueguesa Liv Kristine deixou o Theatre of Tragedy, houve muita expectativa quanto ao que viria a seguir na carreira desta que, para muitos, é a “mãe” do estilo “beauty and beast”, onde mistura-se o agressivo gutural masculino aos doces e ao mesmo tempo sombrios vocais femininos. O que veio foi o Leaves’ Eyes, banda em conjunto com seu então marido, o alemão Alexander Krull, conhecido pelo seu trabalho com o Atrocity - tradicional banda de death metal. E não desapontou. No começo, seguiram a mesma linha sonora do “gothic metal” apresentado por seu conjunto anterior, mas com o tempo, se distanciaram, chegando ao metal sinfônico, e até ao viking metal.

Por anos, a banda continuou firme e forte, sempre evoluindo nesse gênero, mas em 2016, um choque: Liv deixou a banda. Quem entrou no lugar foi a finlandesa Elina Siirala, e em 2018, veio o primeiro disco com essa nova formação, Sign of the Dragonhead. Quase dez anos após o início dessa nova era da banda, eles seguem firmes! 

Na ocasião do primeiro show dessa encarnação da banda no Brasil, em novembro de 2025, o vocalista e fundador Alexander Krull, ao lado de Elina, falaram com exclusividade ao Road to Metal sobre o passado, o presente, seus temas, carreiras, e polêmicas da época da transição de vocalistas. Confira!

Edu Lawless - @edulawless

Como você acha que a forma e a abordagem de composição mudou de quando você compunha para a Liv para agora fazendo músicas para a voz de Elina?

Alexander Krull: Eu acho que o estilo, ou o estilo, a ideia de como o Leaves’ Eyes deve soar não é focado em uma pessoa, mas como um conjunto. Mas, claro, a voz da Elina é, vamos dizer, mais “carregada”, então temos que ter noção de como é isso, e fazer as nossas composições de uma forma que ela performe da melhor forma possível - por isso, muitas vezes quando fazemos uma música inicialmente, ela está em alguma outra escala, e acabamos ajustando isso quando realmente produzimos. Mas no geral, a música e o estilo são evoluções da banda por si. Claro, isso passa principalmente pela voz.

Pois a voz é única de cada um, afinal, não como um instrumento elétrico.

Alexander Krull: Precisamente! Por isso nas nossas sessões fazemos muitas coisas de tentativa e erro em cima disso. 

Elina Siirala: E para ser honesta, minha voz mudou muito de dez anos para cá, e isso nos deu mais possibilidades de como trabalhar em cada disco.

Edu Lawless - @edulawless

Elina, o que você acha que foi mais desafiador para você quando entrou na banda e teve que cantar as músicas antigas?

Elina Siirala: Bem, eu acho que quando o seu corpo é seu instrumento, não é como reproduzir simplesmente uma música. Minha voz é muito diferente da Liv, então nunca quis soar igual, não seria o ponto. O que eu quis foi tentar tirar o melhor de mim dentro daquele estilo e me sentir bem comigo mesma cantando as músicas.

Edu Lawless - @edulawless

Alex, quando você compõe para o Atrocity e para o Leaves’ Eyes, bandas tão semelhantes em integrantes (nota: a formação de ambas bandas é a mesma, com a exceção da presença de Elina), mas distintas em estilo, como é seu preparo para fazer cada música, para não ficar realmente uma soando parecida com a outra?

Alexander Krull: É verdade, algumas coisas podem acabar se misturando! Mas acho que você tem que separar, em primeiro lugar, o pensamento em cada estilo. É como dirigir filmagem. Eu também faço roteiros e dirijo vídeos musicais e coisas assim, e o que faço é analisar a proposta de gênero da produção - coloco minha mente em um lugar quando vou dirigir um vídeo de terror, e em outro quando faço, por exemplo, um épico medieval, ou um drama. Assim fica bem claro para mim onde quero chegar.

O Leaves’ Eyes aborda bastante a coisa da mitologia nórdica, as histórias e sagas do norte da Europa. Como é para vocês irem para lugares com culturas tão distantes, e com culturas tão diferentes - América Latina e Ásia, por exemplo - e atingirem o público? Há alguma diferença de como lidam com isso para shows na Europa e shows em outros lugares?

Alexander Krull: Pensando agora assim, é realmente complicado responder. Quero dizer, nós somos como embaixadores da cultura viking. Quando vamos ao Japão, por exemplo, temos pessoas em nossos shows que entendem disso, gostam disso, imergem nisso. No Chile também tem um grupo grande que está conosco, que até participam ativamente ali no show. Isso está por todo o mundo, da Europa à Austrália e Nova Zelândia, até à América do Sul! Mas o Leaves’ Eyes vai além disso. Temos muito foco em temas como natureza - o poder da natureza -, paisagens, coisas assim.

Mas a parte legal é que os próprios vikings, na antiguidade, foram a quase todo lugar eles mesmos! Você vai achar vestígios deles em quase todo canto, como pela América; no que hoje em dia é a Turquia; na Itália, etc.

De toda forma, hoje nos vejo como uma banda realmente internacional.

Você disse, Elina, que acha que sua voz mudou bastante nos últimos anos. Como você percebe o quanto ficou mais confortável para você cantar nesse tempo?

Elina Siirala: Eu acho que no começo eu me sentia muito confortável em uma outra forma de cantar, mas houve um período que minha voz parecia uma montanha russa de tanto que variava, então tive que entendê-la de novo, e desde então sinto que está muito, muito melhor. Sinto que estou no meu melhor momento, e que posso usar minha voz de formas muito diferentes, e isso me dá mais oportunidades de criar. Antes, eu queria fazer algo, mas sentia que não conseguia, e hoje tenho certeza que consigo de muitas formas. E a cada dia venho achando mais e mais possibilidades, e isso é ótimo! Não é como se eu fosse fazer guturais (risos), mas vejo mais possibilidades.

Alexader Krull: Deixe essa parte comigo (risos)! Mas é muito bom ver isso pessoalmente, em especial quando estamos em estúdio. É muito legal achar essas novas facetas em nossas vozes enquanto trabalhamos. Nos ajuda a criar.

Elina Siirala: Mas, claro, nossa voz é nossa voz, e ela nunca vai realmente ser muito distante daquilo.

Edu Lawless - @edulawless

Quando a nova formação foi anunciada, houve alguma desconfiança quanto à banda. Como vocês lidam com pessoas muitas vezes mal educadas, que por ventura falaram mal da Elina, ou da banda como um todo?

Alexander Krull: Essa eu sei responder bem facilmente, na verdade. Em especial, eu sei o quão acalorado isso foi no Brasil e na América Latina em geral. Haviam grupos aqui nos amando, nos odiando, e sei que é assim com outras bandas também. Bem, para mim, existe uma coisa muito importante, que é ‘família em primeiro lugar’, e o meu filho é minha prioridade número um. Bem, até um certo momento, estava tudo bem, nós só ficávamos falando “por favor, Elina, não leve isso que estão falando a sério”, pois é normal essa desconfiança. 

Enquanto houve respeito, estava tudo bem. A única coisa que realmente não gostei foi quando falaram sobre meu filho. Ele morava comigo, na verdade ainda mora. E eu não aceito que pessoa nenhuma, não importa de onde quer que ela seja, fale sobre meu filho. E foi isso que me chateou, quando pessoas entraram em contato com ele, e sem saber de nada, começaram a contar todo tipo de contos de fada para ele! Pois essas histórias que inventaram sobre (o divórcio com Liv e separação da banda) são completamente falsas. Eu entendo que algumas pessoas ficaram frustradas com a mudança, ou que simplesmente precisassem de algum tempo para se acostumar com outra pessoa cantando. Isso é bem justo, e eu concordo. Mas a causa da mudança foi completamente clara desde o começo, e nós somos muito gratos de ter encontrado a Elina para cantar conosco.

Elina Siirala: Para mim, igualmente, está tudo bem se alguém prefere uma ou outra vocalista. É perfeitamente normal! Criticar o como canto, nossa música, é perfeitamente justo. Mas há uma hora que as pessoas falam coisas que eu nem sequer consigo levar a sério, de tão ridículas que são. Mas sendo sincera, eu nunca senti tanto alguma negatividade - onde quer que eu vá, as pessoas são sempre muito legais comigo, me apóiam, me dão carinho. Quase ninguém me escreveu xingando ou algo assim. Não senti nada muito pesado.

Edu Lawless - @edulawless


Vocês ainda não têm uma gravação ao vivo oficial, um disco ao vivo, com a Elina. Isso está nos planos?

Alexander Krull: Bem, sabe que agora que você mencionou, eu acho que não tinha pensado nisso, e é verdade! Realmente, precisamos de um registro assim. Tem algumas questões contratuais com gravadoras em relação a alguns álbuns anteriores lançados por outro selo, e coisas assim. Isso é algo que precisamos resolver, mas é uma ótima ideia.

E já há alguma ideia de gravarem um novo álbum?

Alexander Krull: Sim! Na verdade, estamos trabalhando nisso agora mesmo. Saímos do estúdio direto para a América do Sul. Vamos lançar um EP novo, inclusive. Apresentaremos uma música inédita aqui, pela primeira vez! Antes mesmo de tocar na Europa, apresentaremos aqui! (nota: a música chama-se Song of Darkness, e foi apresentada pela primeira vez na Colômbia, e logo depois no Brasil).

Nenhum comentário: