terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Cobertura de Show – Geoff Tate & Marenna – 20/01/2023 – Tokio Marine Hall/SP

 


E é dada a largada para a avalanche de shows, que promete ser tão movimentado quanto no ano passado, nesse começo de 2023. E a temporada começou em grande estilo para os fãs do Queensrÿche com o retorno do lendário e ex-vocalista, Geoff Tate, no último dia 20 de janeiro, no Tokio Marine Hall, em São Paulo, para dissecar dois discos que marcaram a carreira da sua antiga banda: Rage For Order (1986) e Empire (1990). Mas antes, os gaúchos do Marenna, um dos nomes mais fortes do Hard Rock nacional da atualidade, encarregaram de abrir a noite, pontualmente às 20h40. 


O competente Rod Marenna (vocal), ao lado dos seus parceiros Edu Lersh (guitarra), Bife (baixo), Arthur Schavinski (bateria) e Luks Diesel (teclado), uniu qualidade técnica com a empatia de cada um, e essa soma resultou no show para lá de divertido e performances de arrancar aplausos. 


O repertório abrangeu músicas do mais recente trabalho, Voyager, que figurou em várias listas de melhores álbuns do ano passado. O show logo começou com a ‘chicletosa’ faixa título, mas sem deixar de fora temas mais antigos, como a melódica Never Surrender, do álbum No Regrets (2016), e a cadenciada Pieces of Tomorrow, do autointitulado single – ambas, ao vivo, tiveram uma condução muito boa, principalmente a última com os poderosos ‘O, Oh, Oh’. Breaking the Chains, primeiro single do último álbum, comtemplou a meia hora de apresentação de forma animadora. 


Dos poucos que tiveram interesse de prestigiar a banda ficaram impressionados não só com o alto nível dos músicos, mas também com a energia de cada um. O baixista Bife não parava um segundo quieto de tão animado que estava, já o chefe Rod Marenna, que além de ótimo vocalista, mostrou ser um baita ‘front-man’ e rápido nas palavras, que não deixou de dizer que estava muito feliz em abrir a noite para um dos melhores vocalistas da história.


E sem muita demora, mandou a primeira faixa que abre o EP de estreia, My Unconditional Faith (2014), com You Need to Believe – ótima faixa para quem aprecia o bom e velho AOR dos anos 80. A letra, segundo o vocalista, fala sobre motivação e acreditar nos seus sonhos. 


A reta final ficou por conta de mais três temas do último disco: Wait, Out Of Line – que já considero clássico do Hard nacional – e Too Young to Die foram escolhas mais do que certeiras para encerrar a apresentação com outra antiga, Had Enough, que também tem suas linhas calcadas no AOR. 


O triste, dito no começo, foi a baixa presença de público, que estava sinistro de tão vazio. Só teve um pequeno aumento nos momentos finais, mas nada de surpreendente. Quem deixou para chegar mais tarde ou ficou no lado de fora à toa, perdeu um show e tanto. 




Não demorou muito para que atração principal da noite desse as caras. Parte da iluminação do palco e da casa foram apagadas assim que o relógio bateu 22hrs – horário marcado para iniciar o show. O atraso, que durou aproximadamente quinze minutos, só acabou depois que a instrumental Losfer Words (Big ‘Orra), presente no álbum Powerslave, do Iron Maiden, tocou nos falantes. 

Quem é mais velho e acompanhou os quatros primeiros anos de atividade do Queensrÿche sabe da história por de trás do primeiro disco executado na noite. Rage for Order trouxe uma mudança que causou críticas negativas na época por terem apostado em um direcionamento diferente dos dois trabalhos anteriores. Bem mais obscuro, melódico e introspectivo, o disco foi a porta de entrada para que os americanos de Seattle desfrutassem caminhos mais progressivos – estilo que também foi imposto nos discos seguintes. 


Confesso que imaginava que o primeiro tempo do show não tivesse a mesma proporção igual na hora que tocariam o Empire, mas minhas impressões foram para o ralo quando mandaram as músicas mais densas e acessíveis do álbum:   Walk in the Shadows, I Dream in Infrared, The Whisper, Gonna Get Close to You (cover da cantora Lisa Dalbello e com direito a coreografia do Tate), The Killing Words e Surgical Strike não só teve um vigor a mais ao vivo, mas também uma recepção quente do público, que cantaram todas elas de cor e salteado.


Tal reação só provou o quão disco envelheceu bem e tendo uma visão mais positiva por parte dos fãs nos dias de hoje. 

As músicas que compõem o lado B são mais amenas, mas isso não diminuiu o entusiasmo dos poucos que estavam presentes, pelo contrário. Só cresceu quando Tate e sua banda mandaram as incríveis Neue Regel, Chemical Youth (We Are Rebellion) e a marcante London.

Mas o momento mais emocionante dessa primeira parte veio com a balada I Will Remember, onde este que vos escreve não conteve a emoção. E ela foi tão grande que nessa hora uma menina, que estava ao meu lado vendo o show, ficou sentida dizendo que valeu a pena estar presente. Acredito que esse consolo pode ter sido por conta de ter ficado espantado com a baixa presença de público (risos). 


Muitos, como eu, devem ter pensado que o show iria seguir sem pausas. Logo que concluíram o primeiro ato, os músicos tiveram que se ausentar para dar uma descansada, tomar um pouco de folego e trocar de figurino.

Com as baterias recarregadas, Tate e sua trupe retornaram, após meia de hora de espera, para dar início no segundo ato com a emblemática Best I Can para que a viagem chamada Empire começasse. 

Daí por diante o show ganhou uma nova força, onde cada música reservou toques especiais que lampejaram a vista de cada um: a morosa The Thin Line ganhou um repique esbelto com Tate tocando saxofone. Jet City Woman e Another Rainy Night (Without You) – essa com direito a um arrepiante ‘Oh, Oh, Oh’ nos primeiros minutos – exortou as pessoas a cantaram o refrão de forma retumbante.


A faixa título, então, nem se fala. A proporção foi praticamente a mesma da anterior, mas que ganhou com o barulho das palmas durante a melodia pós refrão ganhou um brilho a mais. 

Os momentos finais ficaram por conta das músicas mais gritantes: a radiofônica e maior sucesso comercial, Silent Lucidity, fez muita gente se emocionar em lagrimas. Hand on Heart e a sublime Anybody Listening? – outra que ensandeceu todos – recompensou todo esforço de estar no Tokio Marine após uma tarde e começo de noite chuvoso.


Mas ainda sobrou um tempinho para tocar mais uma, e o encerramento definitivo veio com a arrebatadora Eyes Of a Stranger, do magnífico Operation: Mindcrime (1988). 

O show, que levou meses de espera para acontecer, teve que ser postergado para esse começo de ano devido Tate ter submetido a uma cirurgia cardíaca no meio do ano passado, mas o próprio falou que está se sentindo bem melhor. E esse tempo que ele ficou se recuperando só o fez ganhar mais força para essa turnê, que no Brasil também passou por Limeira (21/01) e seguiu por outros locais da américa latina. 

Quem é vocalista sabe que deve tomar certos cuidados quando chega determinada idade, mas depois de ter cantado dois discos difíceis com absoluta proeminência, Tate provou para todos que é como um vinho, quanto mais velho, fica melhor. 


Não posso deixar de parabenizar a banda de apoio: Alex Hart e Kieran Robertson (guitarras), Jack Ross (baixo), Danny Laverde (bateria) e o brasileiro Bruno Sá (teclado) foram fieis a cada nota sem alterar nada no que está contido em ambos os discos, e as músicas ficaram ainda mais vitaminadas com o timbre que cada um impôs nos instrumentos. 

O Queensrÿche segue em atividade com o vocalista Todd La Torre, que ano passado lançou o excelente Digital Noise, mas que, mesmo assim, não tem a mesma tonalidade que teve Operation: Mindcrime e o Empire, por exemplo. Mas uma reunião com Tate – junto com o sumido Chris DeGarmo (guitarra), Scott Rockenfield (bateria) e os remanescentes Mike Wilton (guitarra) e Eddie Jackson (baixo) – não seria nada mal. 


Texto: Gabriel Arruda 

Fotos: André Tedim @andretedimphotography| Leandro Almeida @leandroalmeidashow

Edição/Revisão: Carlos Garcia 


Produção: Top Link Music

Assessoria de Imprensa: Isabelle Miranda 


Marenna

Voyager

Never Surrender

Pieces of Tomorrow

Breaking the Chains

You Need to Believe

Wait

Out of Line 

Too Young to Die

Had Enough



Geoff Tate


Rage for Order 

Walk in the Shadows

I Dream in Infrared

The Whisper

Gonna Get Close To You

The Killing Words

Surgical Strike 

Neue Regel

Chemical Youth (We Are Rebellion)

London

Screaming In Digital

I Will Remember 


Empire

Best I Can

The Thin Line

Jet City Woman

Della Brown

Another Rainy Night (Without You) 

Empire

Resistance 

Hand on Heart

One and Only

Anybody Listening? 


***Encore***

Eyes of a Stranger 

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