sábado, 19 de outubro de 2019

Entrevista - Adrienne Cowan (Seven Spires, Avantasia, Masters of Ceremony)


ADRIENNE COWAN praticamente nasceu dentro do mundo da música, já desde criança participando de corais e tendo aulas de piano, atuar em musicais e depois ingressar em escola de música, e a partir daí começar a compor suas músicas, ampliar seus conhecimentos e habilidades, principalmente como vocalista.  (English Version HERE)

A boa visibilidade com os trabalhos no Light & Shade, Winds of Plague e principalmente com sua banda principal, Seven Spires, começaram a atrair muitos admiradores, entre eles Sascha Paeth (Avantasia, Heaven's Gate, Aina), que a convidou para sua nova banda, Masters of Ceremony, e isto abriu as portas para que integrasse o line-up do Avantasia, fazendo a tour do novo álbum, que inclusive passou pelo Brasil. 

Para Adrienne a experiência foi extremamente positiva, pois muito mais pessoas conheceram seu trabalho, todos queriam saber quem era aquela garota que ia aos tons mais altos do Power Metal, à regiões mais suaves e em seguida fazer vozes guturais. Conversamos com Adrienne, que nos contou mais de seu trabalho, sobre os álbuns com o Seven Spires e o recém lançado debut do Masters of Ceremony, e muito mais! Confira e saiba mais sobre esta grata revelação do cenário Metal.



RtM: Oi Adrienne, tudo ok? Obrigado por nos conceder esta entrevista, para que nos conte um pouco mais sobre sua carreira.
Adrienne Cowan: Olá, obrigada a vocês pelo interesse em meu trabalho.

RtM: Bom, para começar, gostaria que você nos contasse como você iniciou na música, quem foram seus principais incentivadores no início e como começou seu interesse em começar a cantar e a tocar?
Adrienne Cowan: Eu tive minha primeira apresentação como vocalista aos três anos de idade, em um evento na igreja em que minha família frequentava. Depois disso, comecei as aulas de piano aos 6 anos, e participei principalmente de corais e musicais populares mais sombrios, como Phantom of the Opera, no ensino fundamental e médio.

Meus pais me tiraram do ensino médio para que eu pudesse frequentar uma escola de música em período integral; assim, através desse programa de apoio, eu já tinha um bom pressentimento sobre minhas habilidades em potencial. Mas, acho que, quando recebi a bolsa integral da Berklee, dois anos depois, comecei a suspeitar que: “Bem, talvez isso possa realmente ser ...” Isso foi em 2013 e todos os anos desde então, houve algum evento notável tipo como o universo dizendo para mim: "Não vacile, esse é o caminho que eu fiz para você"

RtM: E como você entrou no universo do Heavy Metal? Você iniciou estudando música clássica e contemporânea, não é? 
AC: Meu tio me mostrou Metallica e Scorpions quando eu tinha uns 11 anos, mas foi quando eu descobri caras como Alexi Laiho, Janne Wierman e Yngwie Malmsteen, esse pessoal do "shreding", que eu realmente comecei a me sentir em casa ouvindo Metal. Eu acho que isso atraiu de alguma forma o meu passado clássico, e assistir vídeos ao vivo do Bodom foi bastante inspirador.

"Sempre tive um bom pressentimento sobre minhas habilidades...O universo parecia dizer: 'Esse é o caminho que escolhi para você...'"
RtM: Você é autodidata em vocais guturais e também mais clássicos e altos do Heavy Metal, nos conte um pouco como é transitar entre esses extremos.
AC: Quando eu tinha 16 anos, me matriculei na Academia de Música Contemporânea, e foi lá que entrei para um clube depois da escola, onde todos os alunos metalheads se reuniam para tocar uma música nova toda semana. O diretor deste clube abriu meus olhos para o resto do mundo do Metal e me desafiou vocalmente a experimentar os diferentes estilos de canto de cada subgênero.

RtM: E qual estilo vocal foi mais difícil desenvolver?
AC: Estudei muitas técnicas de canto - canto teatral, speech level singing, bel canto e até um pouco de voz de garganta. A parte mais difícil foi desaprender as coisas que os professores anteriores me disseram para abordar adequadamente qualquer nova técnica que eu estivesse aprendendo.
Os agudos altos do Power Metal levaram algum tempo, muita frustração e me jogando de bruços de cara no chão, até se desenvolverem! (risos)

RtM: Para manter uma performance intensa como a sua em palco, e ainda cantar com vocais altos e limpos, vocais guturais, às vezes com shows de um dia para o outro quase sem descanso, quais os cuidados que você toma para cuidar de sua voz e saúde e manter um nível alto?
AC: A fim de manter uma certa quantidade de saúde vocal, eu basicamente tenho que cuidar dos meus níveis de sono e hidratação, tentar ficar longe da explosão direta de aquecedores ou condicionadores de ar e tentar não ficar doente ou alérgica. Mas no final do dia, mesmo desidratada ou doente, o show deve continuar, e desenvolvemos técnicas alternativas para cantar mesmo doentes.

Fiz shows em que fiquei doente na cama sem voz o dia inteiro até meia hora antes do horário do show, ou tive uma infecção ocular ou uma amígdala enormemente inchada - que, a propósito, aprendi da maneira mais difícil que você não deve tomar analgésicos para cantar com amígdalas inchadas, porque silencia os sinais do corpo e você pode acidentalmente se prejudicar mais.


RtM: Conheci seu trabalho através dos álbuns do Seven Spires e Light & Shade, mas em sua opinião, em que trabalho seu, ou momento, você percebeu que poderia se destacar neste concorrido cenário? E como você se sente recebendo muitas críticas positivas, e que colocam você como uma das grandes revelações da cena Metal atual?
AC: “Uma das grandes revelações da cena metal atual” é uma coisa incrível de se ler sobre mim, mas também é aterrorizante. Embora eu diria que tenho uma quantidade segura de autoconfiança e coragem, também luto bastante com a síndrome do impostor. Espero poder continuar a crescer para a melhor versão de mim mesmo, fazer meu melhor e espero que as pessoas continuem gostando tanto quanto parecem terem gostado até agora.

Seven Spires
RtM: Sobre o Seven Spires, poderia nos contar um pouco como surgiu a banda e o conceito dela? No Seven Spires eu vejo que há muito da sua formação e influência clássica e de estilos fora do Metal, trazendo para a banda algo novo dentro do estilo, inclusive com o EP e full-lenght recebendo muitos elogios.
AC: Em 2012, ainda morando na Inglaterra, eu estava sozinha fazendo demos para um projeto sombrio e teatral que ainda não havia lançado. No ano seguinte, voltei para a América, encontrei Jack Kosto em uma livraria em minha primeira semana em Berklee (onde ele também estudava) e contei a ele sobre meu projeto e músicas. Ele pagou pelos livros e, quando eu estava saindo, ele me disse: “Ligue para mim se você for completar sua banda!”

Acho que o resto é história. Nós quatro estudamos muito a música ao longo de nossas vidas - acho que vi uma foto de Chris, aos 3 anos, sentado no chão em frente a uma caixa de tarola - e fomos treinados em várias épocas do jazz clássico e música contemporânea. A maioria de nós também foi treinada em um segundo instrumento, e acho seguro dizer que gostamos de contar com nossos antecedentes para nos expressar musicalmente sem limites de gênero ou técnica.

RtM: Conte-nos um pouco mais sobre a história principal em “Solveig” e quais são suas principais fontes de inspiração?
AC: "Solveig" é a primeira parte de uma história de duas almas. Um é um humano perdido navegando em um submundo neo-vitoriano sem sol, e o outro é o antigo governante demônio do referido submundo. É uma história que reflete sobre a natureza humana, um pouco sobre depressão, esperança, amor e morte. Adoro a construção do mundo, e fui inspirado pela "Night Sea Journey" de Carl Jung, bem como por algumas experiências da vida real.

RtM: O Seven Spires busca trazer algo novo e criativo, tendo uma ótima mão para criar melodias cativantes. Posso dizer que o álbum jamais fica chato, e não pode ser colocado simplesmente como “Symphonic Metal”. Temos por exemplo passagens do Black Metal sinfônico como na “The Paradox”, e as melodias grudentas de “Stay”. Gostaria que você comentasse um pouco mais sobre essas duas canções.
AC: Muito obrigada pelos elogios!  "The Paradox" foi realmente inspirada pelas melodias cíclicas da partitura de "Interstellar", de Hans Zimmer, além de um estilo saudável de confortar o niilismo durante um período particularmente difícil. Tenho certeza de que não estou sozinha em apreciar o céu noturno e lembrar que somos manchas minúsculas que não importam nem um pouco. Foi também uma das primeiras músicas que escrevi em que os vocais extremos são os principais.

"Stay" foi escrita no auge do inverno e é para ser o começo do Ato II da história. É cantada pelo demônio para a alma humana, apontando como a vida pode ser dolorosa e como a existência sombria e pacífica pode ser na beleza do submundo.A música acabou sendo a favorita dos fãs, e tentamos incluí-la em nossos shows ao vivo quando podemos.

"Espero poder continuar a crescer para a melhor versão de mim mesma."
RtM: Temos o ar teatral, presente em vários momentos, mas eu destacaria “Cabaret of Dreams” e “Ashes”, duas de minhas preferidas, e gostaria também que você falasse um pouco mais sobre elas. Primeiro a "The Cabaret".
AC: "The Cabaret of Dreams" foi o primeiro dos demos originais de 2012 que fiz. É a pedra angular do universo dos Sete Pináculos: demonicamente pomposo, vestido de brocado, flexível ao gênero. Isso mudou muito desde a sua versão original, incluindo a adição da ponte "Maldito é aquele que anda com essas almas desencantadas ..." e os padrões de pegadas mais rápidos ali pelos 3 minutos, durante a referência lírica de "The Paradox".

RtM: E a "Ashes"?
AC: “Ashes” para mim parece um pouco com as trilhas sonoras do Studio Ghibli no começo. Também foi uma das demos iniciais de 2012 e, na verdade, não mudou muito desde então. Lembro-me de sentir algo no meu peito brilhando e meus olhos ardendo enquanto escrevia o final. É uma música sobre o renascimento de uma terrível morte de uma vida terrível, é claro - Na história, o demônio convoca o sol e incinera o submundo, libertando toda alma capturada e finalmente encerrando seu longo e cansado reinado, deixando-a encontrar a verdadeira paz . É muito agridoce.

RtM: E sobre o Light & Shade, como surgiu a oportunidade de fazer parte desse projeto, formado na Itália, tendo músicos conhecidos da cena de lá, como o Marco Pastorino? Conte-nos um pouco mais como foi a repercussão desse trabalho.
AC: Marco Pastorino encontrou "The Cabaret of Dreams" em um CD compilação do ProgPower USA e entrou em contato comigo sobre como fazer um álbum juntos, porque ele não podia acreditar nas notas altas e longas que ouvia. Eu acho que as pessoas gostaram do álbum; Me perguntam bastante sobre isso em entrevistas. Foi também a primeira vez que li uma crítica muito ruim sobre mim, nunca esquecerei isso, ha ha ha!

RtM: Há planos para um segundo?
AC: No momento, estou ativa no Spires, Avantasia, Winds of Plague e Masters of Ceremony, então não tenho certeza se há outros planos no momento!

"Sascha (Paeth) me ligou e disse que o Avantasia precisava de uma vocalista, disse para não contar para ninguém. Foi um segredo difícil de manter."
RtM: Agora nos conte um pouco como surgiu a oportunidade de fazer a tour com o Avantasia?
AC: Sascha me ligou no ano passado e perguntou se eu estava disponível, eu disse que sim, ele disse: "Bem, o Avantasia precisa de uma nova vocalista, mas por favor não conte a ninguém ainda ..." Esse foi um segredo difícil de manter!

RtM: E como foi a sensação de subir ao palco pela primeira vez com aquele time de grandes músicos?
AC: Foi aterrorizante a princípio cantar com esses lendários vocalistas e músicos. Eu já conhecia Sascha e Miro um pouco desde que trabalharam no disco do Seven Spires, e conheci Herbie, Felix e Andre um pouco, durante o trabalho juntos no Masters of Ceremony, mas fora isso, todo mundo era um estranho - e com pelo menos duas vezes a minha idade. Tornou-se uma grande alegria estar com eles e viajar juntos nunca foi chato. É um elenco completo de personagens, e se eu precisar de um amigo que beba, de uma boa risada ou de alguém para ficar quieto e não dizer nada, tem alguém!

RtM: E como você se sentiu tendo a chance de passar por diversos países, o que com certeza lhe trouxe e trará muito mais visibilidade. Aqui no Brasil você já tinha conquistado fãs com o Seven Spires, que teve o álbum lançado aqui, e agora vejo muito mais pessoas comentando sobre seu trabalho.
AC: Ver pelo menos um pouco um pouco desses novos lugares tem sido incrível. Sempre quis ver a Suécia e o Brasil... e o Japão e Moscou ... Nem sempre conseguimos passear, mas tento quando posso. E eu geralmente tento sair e conversar com as pessoas depois do show, se alguém estiver esperando e se eu não estiver muito nojenta (risos). É sempre divertido e emocionante quando alguém diz: "Eu a conhecia da Seven Spires, é ótimO vê-la aqui, mas VENHA COM O SPIRES NA PRÓXIMA VEZ" em um lugar que nunca estive antes.

RtM: E sobre o álbum com Sascha Paeth e o Masters of Ceremony, o que você pode nos contar a respeito desse projeto, o que podemos esperar em termos de sonoridade?  E claro, como foi o processo de composição e trabalhar com Sascha Paeth?
AC: Compor com Sascha foi uma experiência única. Ele escreveu tantos álbuns de Power Metal, discos que eu ouvia enquanto aprendia a escrever músicas (tanto Kamelot, ha ha), tantas vezes quando ele apresentava uma melodia ou alguns acordes ou algo assim, eu não tinha nenhuma sugestão porque era exatamente o que Eu teria escrito ou cantado. 

Ele é um trabalhador esforçado e eu tenho muito respeito por ele, e eu sinceramente aprecio a oportunidade de escrever música e conversar sobre qualquer coisa com ele. O álbum do Masters é principalmente a composição de Sascha e as escolhas de Sascha para minha abordagem vocal. Estou empolgada e um pouco nervosa por nossa primeira apresentação ao vivo no Full Metal Holiday este mês! (N. do R.: o show foi ontem, 18/10)

"O Masters é principalmente a composição de Sascha, e as escolhas dele para minha abordagem vocal."
RtM: Bom, mudando um pouco de assunto, quando você não está em tour ou estúdio, quais são seus hobbies favoritos, o que você gosta de fazer para descansar depois de algumas semanas na estrada em tour?
AC: Depois de uma longa turnê, eu gosto de sentar em casa e dormir na minha própria cama, jogar videogame, talvez pensar em sair ... ha ha ha! Se eu sair de férias ou algo assim, adoro viagens rodoviárias e qualquer lugar remoto com florestas alpinas e águas tranquilas. Wyoming é ótimo para isso, assim como muitos pontos da costa oeste. Qualquer coisa para me afastar das pessoas e fora do meu mundo normal.

RtM: Notamos que você gosta muito de animais. Nessa vida cada vez mais agitada agora, de estar em tour ou gravando, você consegue ter tempo de se dedicar a algum bichinho de estimação? 
AC: Desejo de todo o coração espaço e tempo para cuidar de um cachorro ou três, talvez um gato corajoso também. Mas eu moro em um estúdio no momento e estou fora a maior parte do ano, então eu tenho que acariciar todos os cães que vejo, ha ha ha!



RtM: Outra coisa que notamos, é que você gosta bastante de café também! Nos conte quais seus tipos preferidos, aí a gente já sabe o que lhe indicar quando vier ao Brasil, pois aqui a gente adora um café!
AC: Sobre o café, sinceramente gosto de tudo, desde que não seja fraco! Café expresso, pingado, aromatizado, encorpado, com leite, preto, com açúcar ou nenhum, não discrimino! Talvez da próxima vez que estiver no Brasil, pergunte sobre os melhores grãos locais.

RtM: Adrienne, muito obrigado pela entrevista e parabéns pelo seu trabalho, sua performance, talento e simpatia impressionaram os fãs brasileiros, temos certeza que você tem muito sucesso pela frente! Fica o espaço para sua mensagem aos fãs e esperamos conversar muitas vezes mais com você.
AC: Muito obrigada por sua gentileza e entusiasmo em relação ao meu trabalho. Espero muito voltar ao Brasil em breve, sei que no Seven Spires estamos morrendo de vontade de tocar para vocês! Espero que possamos arranjar algo com o nosso próximo álbum no próximo ano.

Entrevista: Carlos Garcia (Colaborou: Raquel de Avelar)

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Winds of Plagues


                                        

         

        

         

         

2 comentários:

J. Neves disse...

Ótima entrevista. Essa menina tem um talento incrivel! Espero que o Seven Spires continue crescendo a ponto de fazer turnês pelo mundo. Parabéns ao Road pelo trabalho realizado na cena heavy metal!

Igor Maxwel disse...

Adrienne é de fato um furacão vocal... Talento, simpatia e beleza para dar e vender!