sábado, 19 de setembro de 2020

Scars: [...]se você acredita em seu trabalho e ama o que faz, tudo é possível. Tudo!

Entrevista por: Renato Sanson



Músico entrevistado: Alex Zeraib (guitarrista) – Banda: Scars de Moóca/SP

 

Fala galera do Scars! Sou Renato Sanson do site Road to Metal e é um prazer fazer essa pauta com vocês, uma banda que acompanho desde 2008 e me agrada muito musicalmente. Abaixo segue a pauta de entrevista!

Obrigado pela oportunidade e pelo espaço, Renato e Road to Metal!

 

"Predatory" é o mais novo petardo do Scars. Trazendo a banda na melhor forma possível. Como se deu o processo criativo do mesmo?

Eu converso muito com o Régis sobre composição e arranjos, exploramos possibilidades de estruturas de músicas primeiro no âmbito abstrato e mental, imaginamos quais os tipos de riffs de guitarra que queremos e qual a velocidade da levada geral. Nos aventuramos em temas, refrãos e títulos até mesmo antes de começarmos a gravar os primeiros takes. 

Assim, eu monto a bateria eletrônica e começo a despejar riffs sobre diferentes esqueletos, buscando estabelecer um lugar para refrão, pré-refrão, pontes, etc... Após gravar os takes iniciais, envio para o Régis, que por sua vez organiza a música e me manda de volta com uma linha de voz. E assim vai, até o dia da gravação final, onde mudamos a música diversas vezes. 

Normalmente temos de 7 a 10 versões para cada faixa no período final da pré-produção. Após a música ter tomado forma, a apresentamos a banda e começamos a executa-la organicamente em ensaios, sempre experimentando mudanças e aperfeiçoamentos para chegarmos à um nível final e satisfatório para todos. Nunca perfeito, porque perfeito não existe. “Predatory” seguiu esse método e funcionou, gostamos muito do resultado final de nossos esforços.



Em relação a "Devilgod Alliance" (08), musicalmente onde vocês enxergam os pontos de evolução?

Embora grande parte do “Devilgod Alliance” tenha sido composto pela mesma formação que fez o “The Nether Hell”, somente eu gravei o álbum após uma debandada geral. Assim, apesar de um ótimo trabalho, faltou a essência do SCARS, especialmente o Régis, para soar mais fiel ao nosso legado. Já o “Predatory” tem mais a cara da banda em termos de origens, onde pudemos resgatar nossa personalidade mais fielmente.

 

O Scars passou por várias mudanças de formação ao longo de sua carreira, mas em nenhum momento o seu som se descaracterizou. Ao que devemos isso?

O SCARS sempre teve uma personalidade muito forte e uma ideia muito clara sobre sua essência e estilo musical. Até mesmo antes de eu integrar a banda eu notava isso quando via o SCARS ao vivo. Isso tudo em 1992 e começo de 93. Quando entrei na banda no final de 1993, eu já havia me identificado muito com o som e ajudei a continuar e confirmar as características que construiriam a identidade do SCARS. Tocar hoje em dia as faixas do primeiro cd de 94 ainda soa atual para mim, ou melhor, atemporal. É claro que já nos aventuramos muito em compor fora do nosso âmbito thrash. Aquilo que ficou bom, com a cara da banda, acabamos lançando em registros oficiais. E jogamos fora (literalmente) as composições que, de certa forma, desfiguravam a banda.



Pois em muitos casos as bandas acabam até mesmo mudando o seu direcionado por mudanças na formação, certo?

Sim, e perdem sua essência original. Quando músicos novos entram em uma banda, eles podem e devem contribuir com seu estilo e personalidade, mas a banda deve manter seus padrões e características pelas quais seus ouvintes se interessaram originalmente. Manter a fórmula é essencial. No nosso retorno em 2018, houve muito cuidado na escolha dos membros atuais que constituiriam o novo SCARS. Quando Régis e eu decidimos que era a hora de tomar o próximo passo, primeiro chamamos de volta o Gobo. 

Esta foi uma decisão lógica, uma vez que ele havia gravado o último álbum e assim daria continuidade a sua história na banda. Com três membros originais presentes, convidamos o Marcelo Mitché para o baixo e o Edson Navarrette para a guitarra solo, que sempre foram grandes amigos da banda desde o começo dela em 1991. Com esta formação, gravamos os dois singles e recomeçamos a fazer muitos shows. Hoje, o posto de guitarra solo está ocupado por Thiago Oliveira (Confessori, Warrel Dane, Seventh Seal) e foi ele quem teceu toda a incrível e, ao nosso ver, impecável teia de solos para o novo álbum. 

Ao total, ele compôs e gravou em dois meses mais de 60 solos para este álbum, além de uma faixa instrumental, que é inteiramente de sua autoria. O Thiago é um músico prodígio talentosíssimo, que não se atém à padrões e tem muita confiança no que faz. Como pessoa, ele é um cara muito agradável de se estar junto e se adentrou à banda com muita facilidade. Estamos muito felizes de tê-lo conosco.


Vocês tiveram um hiato de 10 anos longe dos holofotes. O que os motivou a retornar?

Com a dissolução da banda em 2009 após o lançamento de “Devilgod Alliance”, eu segui inativo musicalmente por uma década, focando minha atenção e energia na minha recém-nascida filha e carreira profissional como professor e linguista. Porém, uma vez que você é headbanger, você sempre será headbanger. No meu caso, não foi diferente. No final de 2017, o Régis entrou em contato comigo com um convite para fazer parte de uma banda de metal que ele estava montando na época. Eu agradeci, mas recusei, alegando que “se fosse para tocar em uma banda, eu voltaria o SCARS”, algo que para nós dois, em acordo, estava fora de questão. 

Meses após esse encontro, eu decidi trazer todo o material do SCARS para o novo mundo digital, do qual não havíamos participado antes. Assim, com gigas e gigas de músicas, vídeos, fotos, cartazes e muita coisa mais em back-up, criei um canal no YouTube e uma página tributo no Facebook, disponibilizando assim toda a discografia da banda e sua rica história para o novo mundo. A agência Distrokid, de Nova York/EUA, foi a responsável por lançar toda a discografia para streaming e vendas/downloads em todas as plataformas digitais como Spotify, Deezer, iTunes/Apple Music, Amazon, etc... Apesar de não haver planejado isso na época, toda essa movimentação teve um alcance mundial muito rápido e despertou o interesse de muitas pessoas, entre elas o Régis, que me procurou e, a partir de então, me ajudou a continuar a disseminação do material pelas redes sociais. Aliás, ele faz isso muito bem. 

Ele é um ótimo estrategista. Nessa nova parceria a coisa cresceu e começamos a compor juntos, online. Eu criava riffs de guitarra somados a linhas de bateria eletrônicas e mandava pra ele. Ele estruturava esses rascunhos e mandava de volta pra mim com linhas de vocais. Nesse ping-pong online, criamos 20 músicas, das quais duas soltamos em formato single/digital com um videoclipe cada, “Armageddon” em dezembro de 2018, e “Silent Force” em fevereiro de 2019.  Outras 09 faixas foram deixadas para o que viria a ser o novo álbum, “Predatory”. Devo ressaltar que a gota d’água para tomarmos a decisão de retomar as atividades foi uma campanha, a #VoltaScars, que foi lançada online por seguidores da banda. Isso nos sensibilizou muito.

 

"Predatory" teve seu lançamento feito pelo selo americano Brutal Records. Quais as vantagens de contar com um selo internacional para uma banda brasileira?

Exposição e abrangência mundial. Basicamente isso. O mecanismo de funcionamento de um selo internacional é diferente dos nacionais no que diz respeito a forma de trabalhar o produto (novo álbum + banda) e sua distribuição em todos os canais de vendas e divulgação disponíveis. 

Há um contrato, com cláusulas e condições a serem seguidas por ambas as partes. Há mais profissionalismo e menos “panelinhas”, o que, infelizmente, é uma realidade no nosso mercado nacional. Também há muito saudosismo na nossa cultura brasileira de seguir cultuando as mesmas bandas de sempre sem nos aventurarmos nas novas promessas - que são muitas! Por outro lado, os mercados do EUA, Europa e Japão são ávidos por novidades e querem buscar bandas diferentes de outros países, ou até mesmo de seus próprios países, incentivando o crescimento de uma nova cena mundial.

Nos últimos anos tivemos uma crescente de selos e gravadoras gringas interessadas em bandas brasileiras, porém já os selos e gravadoras do nosso país poucos realmente prestam este suporte. Na opinião de vocês seria falta de interesse ou o nosso mercado fonográfico que está quebrado?

Somos uma fonte rica de bandas e estilos em nosso território continental. A qualidade sonora de nossas bandas não deixa nada a desejar comparadas às gringas. Com isso, há profissionais da indústria musical internacional que enxergam isso e vêm no Brasil uma oportunidade de mercado de exportação, assim investindo aqui. Antes de fechar o contrato com a americana Brutal Records para o lançamento de “Predatory”, eu e nosso assessor (Johhny Z.) telefonamos para diversos selos locais para tentar fechar um contrato inicial aqui. Tivemos 95% de negativas ou indiferença, enquanto o único grande parceiro que se interessou foi o Silvio da Voice Music. A partir dai, fechamos com ambas para termos um lançamento realmente significativo e bem trabalhado e sua rede de distribuição e divulgação.

 Na verdade, não acho que seja somente falta de interesse do nosso mercado fonográfico, que sim, está quebrado, como o país todo está. Mas há também uma arrogância e petulância muito grande e enraizada nesse meio, onde essas tais “profissionais” realmente não têm o conhecimento e expertise necessários para poderem trabalhar adequadamente. Sāo toscos e limitados intelectualmente, em sua boa maioria. Acham que fazem um grande favor em aceitar as bandas em seu selo (leia, panela) ao invés de trabalhar em parcerias. 

Com isso, tais canais seguem fossilizados e desatualizados, regurgitando notícias velhas, lançando e relançando os mesmos álbuns e as mesmas bandas, e abrindo mais oportunidade para bandas internacionais em seus veículos do que para as locais. É uma pena. Mas, ao mesmo tempo não lamento. Fazemos nossa parte e focamos na nossa diretriz, com ou sem a ajuda deles. E se você acredita em seu trabalho e ama o que faz, tudo é possível. Tudo!

 

Desde o primeiro lançamento do Scars lá nos longínquos anos 90 até o presente momento, a indústria mudou bastante, principalmente em relação ao lançamento dos álbuns em formato físico. Como vocês enxergam esta questão?

O primeiro registro do SCARS foi no split “Ultimate Encore”, onde participamos com 04 faixas e foi lançado em janeiro de 1994. Esse cd foi lançado somente no formato de cd físico, não vinil - o que já representava uma mudança de cultura fonográfica na história do país. Aliás, este foi o primeiro lançamento brasileiro de metal nesse formato split em cd

Vinte e seis anos depois vemos “Predatory” ser lançado em dois formatos - cd físico e download/streaming digital. A principal diferença é a disponibilidade do material para que todos o escutem assim que foi lançado. No mesmo dia do lançamento, todo mundo pôde escutá-lo no mundo todo, o que é muito satisfatório para nós uma vez que nossa missão é espalhar nossa música aos quatro ventos, independente do formato que ela é apresentada. 


Para 2021 o que podemos esperar do Scars?

Olha, eu já tenho o “Predatory II: A Vingança” pronto no meu home-estúdio (risos). Brincadeira, não vai chamar assim. O que eu quero dizer é que já tenho 10 faixas inéditas prontas, as “sobras” de “Predatory”. Mas quando o momento chegar, nós inevitavelmente as mudaremos, utilizando 50% do que elas são. Tivemos muita sorte de poder terminar as gravações antes da epidemia se instalar. Enquanto estávamos em isolamento, finalizamos toda a mixagem com o Wagner Meirinho online. 

Foi nesse período que também assinamos com a americana Brutal Records para seu lançamento mundial em 07 de agosto. É muito bizarro pensar que não podemos iniciar a tour de lançamento do cd ainda, mas vamos aproveitar o que temos - o quê é muito! Somos muito afortunados de poder estar fazendo tudo isso após anos de dormência e faremos o nosso melhor para dar sequência a isso em muito breve com mais um full-length, relançamentos do nosso catálogo, até mesmo um DVD/álbum ao vivo com esta formação.

 

Para finalizar, o que vocês têm escutado ultimamente e quais bandas recomendariam aos nossos leitores? Desde já agradecemos pelo tempo cedido!

Eu tenho escutado muito SCARS ultimamente (rsrs), claro. É que ficamos muito satisfeitos com o resultado final de “Predatory” e ainda não cansei de ouvir todas as faixas em “repeat”. Mas fora o óbvio, tenho ouvido o Forkill – “The Sound of the Devil’s Bell”, Andralls – “Bleeding for Thrash”, Savant, Hatefulmurder e Venomous. Já no âmbito internacional, mantenho alguns de cabeceira também no “repeat” - todos do Forbidden, Fight, Leeway, ainda não cansei do “Hardwired...” do Metallica e sigo descobrindo novas emoções nos três primeiros do Destruction, sempre.


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