sexta-feira, 30 de abril de 2021

Sodom: Entrevista com Tom Angelripper - "Trabalhamos para Nossos Fãs, não para a Indústria"



Thomas Such, nascido em 19/02/1963, tornou-se mais conhecido como  Tom Angelripper, um verdadeiro ícone do Thrash Metal mundial, líder, fundador, vocalista e baixista do Sodom, uma das mais íntegras e queridas bandas do estilo. (English Version)

Desde 1983 na estrada do Metal, atravessando intacto por diversas fases do cenário musical, Tom jamais abriu mão da identidade da banda, trabalhando sempre para os fãs e forjando diversos clássicos do estilo. 

Agora a banda chega ao 16° álbum de estúdio, "Genesis XIX", que marca o retorno de Frank Blackfire nas guitarras, tendo também a companhia de Yorck Segatz, e pela primeira vez o Sodom gravou um disco com dois guitarristas, o que traz novas possibilidades e também permite encorpar e reproduzir ao vivo mais fielmente seus petardos. Conversamos com Tom, para falar um pouco mais sobre essa nova fase e a excelente repercussão do novo álbum, já aclamado como um possível novo clássico na discografia do Sodom. Confira!!


RtM: Em “Genesis XIX” podemos sentir um Sodom que traz novidades, mas também tem muito de um retorno às suas raízes, inclusive usando gravações analógicas. Eu gostaria que você comentasse sobre isso.

Tom: Acho que o álbum pode se tornar um clássico. Quando escrevemos as músicas, não nos preocupamos se deveria soar old school ou não. Acredito que a produção fornece as informações cruciais. Mas acho que o processo de composição da música faz a diferença. Ainda fazemos tudo de acordo com o costume dos velhos mestres. Nós nos encontramos na sala de ensaio, começamos uma jam session, tomamos algumas cervejas e assim as coisas vão funcionando pra nós.

Na maioria das vezes, começa com um riff de guitarra e todos adicionam suas ideias. Em seguida, organizo tudo novamente para adaptar o título às minhas partes vocais e para corresponder às dimensões do texto. Mas também há ensaios em que voltamos para casa sem ter conquistado nada; você simplesmente não pode cair de joelhos.

Ambos os guitarristas são grandes compositores, mas com pontos de vista diferentes. Frank também é muito influenciado por guitarristas dos anos 60 e 70, Yorck também se interessa por bandas modernas. Mas essas músicas diferentes tornam o novo álbum tão colorido.


RtM: Nós realmente gostamos do som do álbum, que soa orgânico e vigoroso, já que muitas das gravações atuais são, digamos, muito "limpas", às vezes soando plásticas e de mau gosto.

Tom: Eu contratei o engenheiro/produtor Siggi Bemm e seu estúdio profissional para mixar o álbum em sua enorme mesa analógica. Na minha opinião o som ficou mais orgânico e autêntico, pois a mesa do Siggi funciona com válvulas.

Eu sei que a gravação e mixagem digital é normal e mais barata hoje em dia, mas foi um sonho realizado trabalhar em um estúdio de verdade com um produtor/engenheiro experiente como Siggi. As novas músicas são mais autênticas e muito mais adaptadas às sonoridades que nossos fãs estão habituados a ouvir.

RtM: O álbum foi apontado como um dos melhores trabalhos do Sodom nos últimos anos. Como você recebeu este feedback e, em sua opinião, quais são os principais pontos que tornaram "Genesis XIX" tão bem recebido?

Tom: Estamos muito felizes com o álbum. Até agora, as análises e feedbacks foram todos muito bons e positivos. Mas o que importa para nós é o que nossos fãs pensam do álbum. 

Mas eu acho que é um álbum puro-sangue do Sodom e talvez novos fãs gostem dele. Nosso novo baterista também contribuiu muito para o sucesso. 

Ele é um grande fã de Chris Witchhunter e tenta adotar seu estilo, mas com um nível de precisão maior. Acredito que "Genesis XIX" se encaixa perfeitamente no catálogo anterior e será uma parte importante na história da nossa discografia.


RtM: Você também prefere ter um line-up que possa ter ensaios regulares, uma interação e aproximação da banda, evitando compor, ensaiar e gravar à distância, existem muitas bandas em que os membros vivem mesmo em países diferentes. Você acha que este é um fator que pesa muito na sonoridade, criatividade e sintonia?

Tom: Se os músicos moram em países diferentes, isso não é uma banda para mim. É também uma questão de contato pessoal regular. É importante que as novas músicas sejam arranjadas em conjunto pela banda. Todos nós moramos na mesma região e podemos nos encontrar com frequência. Isso sempre foi muito importante para mim.


RtM: "Genesis XIX" também traz uma nova formação, e com o retorno de Frank Blackfire às guitarras. Como ocorreu essa reaproximação?

Tom: Frank ainda é um cara legal e estou feliz por tê-lo de volta aos negócios. Eu sabia que ele tinha seu próprio projeto solo e também tocava com o Assassin. Ele me disse que eles não estão tão ocupados no momento, e que ele terá tempo suficiente para se juntar ao Sodom para as próximas sessões de ensaio e shows ao vivo. Isso foi incrível e parece uma grande chance para ele retornar à cena internacional do Metal.


RtM: E por falar na adição de um segundo guitarrista, algo inédito na carreira do Sodom, como foi a experiência de gravar em estúdio com duas guitarras? Quando e por que você sentiu que era hora de adicionar um segundo guitarrista?

Tom: Anos atrás, tive a ideia de recrutar um segundo axeman quando Bernemann ainda estava na banda. Mas ele não pareceu muito interessado e pensei que nunca aceitaria um segundo guitarrista ao seu lado. 

Mais tarde, começamos a ensaiar sessões com Frank pela primeira vez depois que ele deixou a banda, e músicas como "Nuclear Winter", "Sodomy & Lust" e "Christ Passion" soaram incríveis e autênticas. Fiquei muito surpreso ao ver que o som da guitarra é exatamente o mesmo do "Persecution Mania" ou do álbum "Agent Orange".

Agora, podemos reproduzir as músicas de forma original durante os sets ao vivo. Yorck também é um grande fã do Sodom, então ele teve muitas ideias para novas músicas e setlists que virão. Com dois guitarristas, somos capazes de tocar músicas que não funcionam com apenas um. Mesmo meu baixo não pode substituir uma segunda guitarra. O som ao vivo está ficando mais brutal e dinâmico.

RtM: Qual é a expectativa para esse line-up nos shows ao vivo?

Tom: Esperamos poder tocar ao vivo novamente em breve. Esse é o nosso trabalho. Com dois guitarristas também estamos com um som mais "gordo" no palco e com Toni atrás de nós nada pode dar errado.


RtM: Além do Sodom você também participou do projeto Dezperadoz e sua incrível fusão de Heavy Metal com Western. É uma pena que sua participação tenha durado apenas um álbum, pois “The Legend and the Truth” é fantástico e tem várias referências ao Sodom em suas letras. Existe a possibilidade de voltar ao projeto algum dia?

Tom: Eu também acho que o primeiro álbum é excelente e estou orgulhoso de ter participado dele. Sempre há algo especial na minha carreira, mas não voltarei. Como convidado no palco, entretanto, um dia serei visto. Você tem que saber que  o Sodom é minha vida e que tenho que dar tudo por ele. Não há tempo para outros projetos paralelos.


RtM: Como é para você gravar algo fora do Thrash Metal, que tem sido sua vida por mais de trinta anos? Experiências além do Sodom, como os já citados Dezperadoz, Bassinvaders ou Onkel Tom, são uma forma de relaxar e recarregar as baterias?

Tom: É sempre emocionante tentar algo novo. Participei de outros projetos com frequência. Ainda recebo muitos pedidos como vocal convidado, mas não faço mais isso. Às vezes, meu tempo livre é muito precioso. Quando estou livre, vou caçar, é o melhor lugar para relaxar.


RtM: Tom, você sempre se manteve fiel às suas raízes, não tendo, digamos, aquele momento em que você teve que se adaptar musicalmente à indústria ou a qualquer tendência. Porém, na década de 90 parece que muitas bandas de Thrash Metal mudaram suas características musicais, tentando se encaixar no rumo que o mercado musical estava tomando. Quais suas impressões no momento em que testemunhou todos esses estragos?

Tom: Nos anos 90, muitas bandas mudaram seu estilo. As vendas caíram. Alguns deles foram forçados a fazê-lo pelas gravadoras. Mas nós continuamos e nossos álbuns ficaram mais difíceis e intransigentes do que nunca. Ninguém nos diz o que fazer, só trabalhamos para nossos fãs e não para a indústria da música

RtM: As principais abordagens nas letras do Sodom são as guerras e a destruição do mundo, a catástrofe pela mão humana. Falando do momento atual, vivemos um caos mundial e muito por parte do próprio ser humano, que se mostra irresponsável e pouco empático com o próximo. Nessas décadas de experiência, você sente a responsabilidade de trazer algumas mensagens e lições para o seu público, especialmente as novas gerações?

Tom: Sim, a situação atual é catastrófica. Tudo está ficando fora de controle no momento. Sempre penso em como as gerações futuras vão lidar com isso. Por pior que seja, isso me inspira para minhas letras. Espero, é claro, que minhas letras façam você pensar. Infelizmente, como não sou politicamente ativo, não consigo contribuir tanto.


RtM: Tom, obrigado pelo tempo em nos responder, parabéns pelo ótimo álbum, e espero que possamos ver a banda no palco em breve.

Tom: Obrigado! Espero revê-los todos em breve novamente. Estamos esperando por tempos melhores


Entrevista por: Carlos Garcia e Renato Sanson

"Genesis XIX" está disponível no Brasil via parceria Nuclear Blast e Shinigami Records.

Sodom:

Tom Angelripper: bass, vocals
Frank Blackfire: guitars
Yorck Segatz: guitars
Toni Merkel: drums


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