terça-feira, 2 de setembro de 2025

Cobertura de Show: Wacken Open Air – 30/07/2025 – Schleswig-Holten/GE

Cheguei ao Holy Ground com o céu carregado, botas já se afundando na lama e a chuva castigando o terreno, vale ressaltar que , além de tudo o check-in foi feito em uma nova área bem distante, ao menos para imprensa . A cada passo era como lutar contra o próprio solo, mas a energia da multidão fazia esquecer qualquer desconforto. Estava ali, no lugar certo, na hora certa: pronto para mergulhar no primeiro dia de Wacken.

A primeira banda que acompanhamos no dia foi a provocativa e ousada Dogma. Vestidas como freiras sedutoras e ao mesmo tempo sombrias, as integrantes deram início à programação com uma performance marcada por intensidade e teatralidade, injetando energia no público apesar do mau tempo. Já conhecidas pela equipe após nossa fotógrafa registrar o show da banda anteriormente esse ano no Brasil, a expectativa era alta, e o grupo não decepcionou.

Nayara Sabino

Mesmo enfrentando alguns problemas técnicos durante a execução inicial de “Forbidden Zone”, a Dogma demonstrou profissionalismo e rapidamente conquistou a plateia com sua presença de palco arrebatadora.

Na sequência, “Carnal Liberation” e “Free Yourself” destacaram o lado mais grooveado da banda, mostrando versatilidade e domínio de dinâmica. O momento mais surpreendente, entretanto, foi a ousada releitura de “Like a Prayer”, clássico da Madonna. Transformada em um hino pesado, a faixa ganhou guitarras distorcidas e uma interpretação visceral, arrancando aplausos calorosos do público.

Nayara Sabino

A segunda metade do show manteve a energia em alta. “Bare to the Bones” e “Make Us Proud” reforçaram a identidade do grupo, preparando o terreno para um dos ápices da apresentação: “The Tribute”, medley que percorreu a obra de lendas do metal, incluindo Black Sabbath, Pantera, Metallica e o eterno príncipe das trevas, Ozzy Osbourne. Recebido com entusiasmo, o número transformou-se em um verdadeiro momento de celebração coletiva.

Nayara Sabino

No fim, a Dogma provou ser mais do que apenas provocação estética. Sua apresentação equilibrou força, ousadia artística e respeito à tradição do metal, resultando em um show coeso, repleto de momentos memoráveis, e que certamente ficará marcado na memória dos presentes. 

Nayara Sabino

A lama não perdoava: cada deslocamento entre palcos era uma pequena batalha, gente escorregando, outros ajudando a levantar, e todos rindo juntos. Era cansativo, mas o lema de Wacken se provava verdadeiro a cada segundo: Rain or Shine, o show não para. 

Do folk ao caos: o Warbringer chegou com thrashdevastador. O mosh pit virou um campo enlameado, mas ninguém arredava o pé. “Firepower Kills”, “Hunter-Seeker”, “Remain Violent” e “Living Weapon” incitavam rodas furiosas, e cada queda na lama era seguida de gargalhadas e braços que levantavam o próximo guerreiro. Brutal, catártico, inesquecível.

*Wacken Press

A lendária Lita Ford provou que o hard rock também tem seu espaço sagrado. Com décadas de estrada e status de pioneira, a guitarrista e vocalista entregou um show eletrizante, recheado de clássicos de sua carreira solo e homenagens a ícones que ajudaram a moldar a história do rock.

A abertura com “Gotta Let Go” e “Larger Than Life” foi o gatilho para uma plateia que já se mostrava ansiosa. Carregadas de riffs marcantes e refrões grudentos, essas faixas estabeleceram a energia contagiante que guiaria toda a apresentação. “Relentless” reforçou esse espírito, trazendo a agressividade característica da artista.

Nayara Sabino

Em seguida, Lita surpreendeu com uma versão incendiária de “The Bitch Is Back”, clássico de Elton John, adaptado ao peso e à pegada roqueira que só ela poderia imprimir. O show seguiu em alta rotação com “Playin’ With Fire” e “Can’t Catch Me”, que contou com um solo de bateria estendido, arrancando aplausos de admiração da multidão.

Nayara Sabino

A nostalgia tomou conta quando Lita revisitava suas raízes com “Cherry Bomb”, imortalizada nos tempos de The Runaways, levantando coros uníssonos de milhares de fãs. O momento seguiu com a visceral “Black Leather” (cover do Sex Pistols) e a emocionante releitura de “Only Women Bleed”, balada de Alice Cooper, interpretada com emoção e respeito.

O ápice emocional veio com “Close My Eyes Forever”, dedicada ao eterno parceiro Ozzy Osbourne. A canção ecoou pelo campo de Wacken como um hino, com a plateia cantando cada verso em uníssono, em um dos momentos mais marcantes do festival.

Nayara Sabino

Para encerrar, “Kiss Me Deadly” coroou a apresentação em clima de celebração, reafirmando o status de Lita Ford como uma das grandes damas do rock.

Aí veio a festa com Wind Rose. Ver todo aquele público enlameado gritar junto refrões de músicas como “Of Ice and Blood”, “Fellows of the Hammer”, “DrunkenDwarves” e o meme eterno “Diggy Diggy Hole” foi surreal. Era impossível não sorrir, mesmo atolado até o tornozelo. O clima era de celebração, como se a lama fosse só mais um adereço da fantasia épica que eles criaram no palco.

*Wacken Press

Na sequência, o orgulho tomou conta quando o Torture Squad subiu ao palco. O peso dos riffs e a fúria dos vocais foram um soco no peito. A banda incendiou o público com “Hell Is Coming”, “Flukeman”, “Buried Alive”, “Warrior”, e fechou com a clássica “The Unholy Spell”. O cover de “Killing Yourself to Live” do Black Sabbath trouxe sorrisos cúmplices, e a participação de PrikaAmaral em “Horror and Torture” foi a cereja no bolo. Ver o nome do Brasil sendo celebrado em meio ao barro alemão foi arrebatador.

Nayara Sabino

Nayara Sabino

Nayara Sabino

Apocalyptica trouxe outro clima. Os violoncelos ecoavam pesados, criando uma atmosfera quase ritualística, e quando tocaram “Ride the Lightning” e “Enter Sandman”, parecia que cada arco rasgava junto com os trovões que rondavam o céu. Outro ponto alto do show foi quando tocaram “Master of Puppets” do Metallica onde arrancaram um coro da plateia que cantavam a letra inteira. 

Nayara Sabino

Nayara Sabino

Nayara Sabino

Outra grande recompensa do dia foi com o show da Tarja Turunen e Marco Hietala juntos, revivendo a magia do Nightwish. Quando os primeiros acordes de “Wishmaster” ecoaram, o público inteiro cantou como um só coro, e eu senti a pele arrepiar apesar da água escorrendo no rosto. Entre a chuva e as poças, Tarja ainda trouxe faixas como “I Walk Alone” e “Until My Last Breath”, e parecia que até o temporal deu uma trégua em respeito àquela voz. Foi um momento que misturou nostalgia e força, daqueles que ficam cravados na memória.

Nayara Sabino

Nayara Sabino

Nayara Sabino

E então veio o gran finale: Saltatio Mortis. Abriram com “Finsterwacht”, mergulhando o público em um clima medieval sombrio, antes de incendiar a noite com seus hinos poderosos. O público inteiro cantava junto, como se estivéssemos todos participando de um ritual coletivo. A energia foi tão intensa que parecia anunciar o que estava por vir — e, de fato, assim foi. Logo após o último acorde, raios começaram a cortar o céu, e a tempestade desabou com força.

*Wacken Press

*Wacken Press

A irreverência de Mambo Kurt foi um alívio. Seus covers e piadas cortaram o cinza do céu, transformando a lama em palco de risadas coletivas. Era o contraste perfeito no meio da tempestade.

*Wacken Press

O Holy Ground precisou ser esvaziado às pressas por segurança, e o público foi conduzido para fora enquanto os trovões iluminavam o campo enlameado. Saí dali encharcado, exausto, mas com a sensação de ter vivido um daqueles dias que definem porque Wacken é único: não importa chuva, lama ou tempestade, a música sempre vence.


Texto: Lukka Leite e Nayara Sabino

Fotos: Nayara Sabino (*exceto onde indicado)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Dogma – setlist:

Forbidden Zone

My First Peak

Made Her Mine

Carnal Liberation

Free Yourself

Like a Prayer (Madonna cover)

Bare to the Bones

Make Us Proud

The Tribute (Ozzy Osbourne, Black Sabbath, Pantera, Iron Maiden, Metallica, Megadeth, Slayer, Lamb of God.)

Pleasure From Pain

Father I Have Sinned

The Dark Messiah


Warbringer – setlist:

Firepower Kills

Hunter-Seeker

Neuromancer

Woe to the Vanquished

The Sword and the Cross

Living Weapon

Remain Violent

Total War


Lita Ford – setlist:

Gotta Let Go

Larger Than Life

Relentless

The Bitch Is Back (Elton John cover)

Playin' With Fire

Can't Catch Me

Cherry Bomb (The Runaways cover)

Black Leather (Sex Pistols cover)

Only Women Bleed (Alice Cooper cover)

Close My Eyes Forever (dedicada a Ozzy Osbourne)

Kiss Me Deadly


Wind Rose – setlist:

Dance of the Axes

Fellows of the Hammer

Drunken Dwarves

Gates of Ekrund

Mine Mine Mine!

Rock and Stone

Together We Rise

Diggy Diggy Hole (The Yogscast cover, com pariticpação de Jörg Roth)

I Am the Mountain


Apocalyptica – setlist:

Ride the Lightning

Enter Sandman

Creeping Death

For Whom the Bell Tolls

St. Anger

The Four Horsemen

Blackened

Master of Puppets

Nothing Else Matters

Seek & Destroy (com particição de Tina Guo)

One


Tarja – setlist:

Eye of the Storm

Demons in You

Tears in Rain

Dark Star

Undertaker

I Walk Alone

Victim of Ritual

Silent Masquerade (com Marko Hietala)

Wishmaster (com Marko Hietala)

Dead Promises (com Marko Hietala)

The Phantom of the Opera

Wish I Had an Angel (com Marko Hietala)

Until My Last Breath


Saltatio Mortis – setlist:

Finsterwacht

Wo sind die Clowns

Loki

Schwarzer Strand

Feuer & Erz (participação especial de Tina Guo)

Heimdall (participação especial de Tabernis)

Odins Raben

My Mother Told Me / Valhalla Calling (participação de Miracle of Sound)

We Might Be Giants

Der Himmel muss warten

Mittelalter

Rattenfänger

Prometheus

Satans Fall

Gardyloo

Große Träume

Hypa Hypa (Electric Callboy cover)

Vogelfrei

Keine Regeln (FiNCH cover)

Für immer jung (participação especial de Deine Cousine)

Spielmannsschwur