segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Entrevista - Eclipse: Erik Martensson fala sobre a trajetória da banda e a volta ao Brasil: "Mal posso esperar para tocar rock and roll com vocês!"

Por Gabriel Arruda 

Fotos: Paula Cavalcante

Erik Martensson é um dos músicos mais capacitados do hard rock na atualidade. À frente do Eclipse, banda que rapidamente se tornou referência no gênero nos últimos anos, ele conquistou fãs com composições marcantes que unem a energia do hard rock a melodias envolventes. Além de vocalista e guitarrista, Erik também é produtor e compositor, talento que lhe rendeu o título de “novo Desmond Child” graças à sua habilidade em criar músicas empolgantes, seja com sua própria banda, seja em projetos como o W.E.T. (ao lado de Jeff Scott Soto e Robert Säll, do Work of Art) e o Nordic Union (com a voz experiente de Ronnie Atkins, do Pretty Maids e Avantasia). 

Antes de desembarcar no Brasil para se apresentar com o Eclipse no próximo sábado, dia 30, na Hard N’ Heavy Party, Erik bateu um papo descontraído que você confere a seguir:

A gente não poderia começar essa conversa sem falar da vinda do Eclipse, um ano depois da apresentação no Summer Breeze. No seu caso, Erik, é a segunda vez participando da Hard N' Heavy Party, mas a primeira com o Eclipse. Quais são as expectativas para esse show, que será o primeiro internacional do novo Manifesto?

Erik: Bem, eu estou super empolgado por estar de volta ao Brasil, para começar tomando caipirinhas, conhecendo todas as pessoas maravilhosas, encontrando amigos e tocando um pouco de rock and roll.

No show do Summer Breeze do ano passado, notei que muita gente estava assistindo vocês — ainda mais considerando que foram a primeira banda a tocar no dia em um dos palcos principais. Muitos, inclusive eu, já conheciam a banda por causa do Carlos, da Animal Records. Mas, por ser um festival com tantas atrações, também houve quem conhecesse vocês ali pela primeira vez. Esse forte apelo dos brasileiros já era sentido nos shows na Europa e nos Estados Unidos, mas eu sei que havia a ambição de sentir isso aqui no próprio Brasil. Podemos dizer que foi um sonho realizado?

Erik: Com certeza! Nós queríamos tocar na América do Sul desde que começamos a banda. E finalmente aconteceu no ano passado depois de receber aqueles comentários clássicos de 'come to Brazil' em todos os posts que fazemos nas redes sociais. Foi super empolgante fazer parte do festival Summer Breeze, e havia tantas bandas incríveis lá. E foi engraçado ver tantas bandas suecas no festival também. Tinha, acho que o The Night Flight Orchestra, o HammerFall, o Dark Tranquillity também, se não me engano. E ainda tivemos alguns amigos dinamarqueses do King Diamond (Mercyful Fate) tocando também. Então foi ótimo.

Nos últimos anos, o Eclipse tem tocado nos principais festivais, e este ano a banda passou bastante tempo na estrada fazendo shows pela Europa. Como foi essa experiência e o que mais marcou vocês nessa turnê?

Erik: É realmente um privilégio poder ver o mundo viajando e tocando música. Não são muitas as pessoas que têm a sorte de viver essa experiência, e nós nos sentimos muito sortudos por isso. Conhecer o Brasil, conhecer o Japão, os Estados Unidos, toda a Europa… Viajar é incrível, exceto ficar sentado nos aviões, isso não é divertido. Mas passar um tempo em lugares diferentes e tocar rock and roll é maravilhoso.

Megalomenium II, lançado no ano passado, é o mais recente trabalho do Eclipse. Quem acompanha a banda sabe que vocês costumam lançar discos regularmente, mas desta vez foi de um ano para o outro, já que o primeiro Megalomenium saiu em 2023. O que motivou vocês a lançarem um novo álbum tão rapidamente?

Erik: Na verdade é um disco duplo, então, para nós, é o mesmo álbum. Nós escrevemos todas as músicas, já tínhamos todas prontas antes de começar a gravar. Então, para a gente, é realmente o mesmo disco, mas queríamos fazer esse álbum duplo. Só que sabíamos que seria um suicídio comercial lançá-lo todo de uma vez, especialmente com o streaming, porque isso significaria que pelo menos 16 músicas seriam completamente esquecidas nas plataformas. Por isso decidimos dividir e lançar com um ano de diferença. Foi uma quantidade enorme de trabalho fazer esses dois discos. E, agora, provavelmente vamos esperar um pouco para que os fãs tenham tempo de absorver e ouvir as músicas.

Falando ainda sobre o álbum, ele é muito especial e traz músicas que facilmente tocariam em qualquer rádio de rock, como Apocalypse Blues, The Spark — que é a minha favorita —, Falling to My Knees e Still My Hero, que é uma homenagem ao seu pai. Mais do que um ótimo trabalho, ele mostra que o Eclipse não é uma banda parada no tempo, pois está sempre experimentando coisas novas. Como líder da banda, como é compor cada álbum sem que ele soe igual ao anterior, mas ainda agradando os fãs que esperam ouvir algo no estilo que já amam?

Erik:  Sim, cada álbum é diferente porque você evolui como pessoa a cada vez que faz um novo disco. E alguns fãs acham que ‘Ah, vocês soam completamente diferentes agora de quando me apaixonei pela banda, eu amo o primeiro disco’, enquanto outras pessoas adoram o fato de estarmos sempre mudando. Mas nós não podemos escrever o mesmo álbum repetidas vezes, precisamos encontrar novas formas de fazer música para manter o interesse tanto para nós quanto para os fãs. Nunca se sabe o que esperar de um novo disco. Nós ainda não começamos a compor o próximo, então não tenho nenhum plano de como ele vai soar. Pode ser um álbum acústico, pode ser um álbum de metal… não tenho nenhum plano até agora. Vamos ver para onde a inspiração nos leva este ano.

Este ano foi lançado o quinto álbum do W.E.T., Apex. Por ser uma banda que não faz shows ou turnês, o público sempre espera ansiosamente por um novo trabalho. Pelo que sei, você também é o responsável por coordenar tudo — o próprio Jeff já me disse que você é a força criativa e o motor do W.E.T., uma espécie de mestre de cerimônias. Como é para você assumir esse papel e manter o projeto tão relevante, mesmo sendo uma ideia da Frontiers Records?

Erik: Sim, tudo começou como uma ideia da Frontiers Records. Eu já conhecia o Jeff antes da Frontiers nos juntar, querendo que fizéssemos um disco. Eu fui convidado para escrever algumas músicas para ele e, depois, me pediram para produzir o álbum inteiro. E eu não gosto muito desses projetos com vários compositores espalhados, onde cada música soa diferente, porque acaba parecendo apenas um projeto. Nós não queríamos isso, queríamos que soasse como uma banda. Então decidimos, junto com o Robert Säll, que é o guitarrista e também a força criativa por trás do W.E.T., escrever todas as músicas juntos, com o Jeff também, para manter tudo bem consistente. Mantivemos isso ao longo dos anos, e acho que esse é um dos motivos do sucesso do projeto. Nós realmente nos esforçamos para criar uma identidade própria.

This House of Fire é a música que mais ouvi esse ano até agora (risos).

Erik: E essa é uma música que entrou de última hora. O álbum já estava sendo mixado e eu pensei: ‘Precisamos de mais uma música animada, algo cativante’. Então, eu tinha várias ideias diferentes que já havia escrito antes e simplesmente as juntei, como um colagem, e criei essa música. Foi tipo: ‘Essa é a música perfeita para o disco, nós realmente precisamos dela’. Então, foi um acréscimo de última hora ao álbum.

Muitos não sabem, mas Apex marca o encerramento desse projeto tão especial, certo? 

Erik: Eu não tenho certeza, também não sei. Mas, de qualquer forma, é um bom disco.

Existe a possibilidade de, no futuro, você e o Jeff criarem um novo projeto no mesmo molde? Algo como um “Martensson & Soto”?

Erik: Claro, eu adoro trabalhar com o Jeff, ele é um grande amigo meu. E tocar algumas músicas do W.E.T. ao vivo com a banda de verdade, não apenas o Jeff fazendo músicas do W.E.T. no set dele, mas sim a banda completa do W.E.T. se apresentando. Seria ótimo, eu adoraria.

Você está sempre compondo e produzindo música , imagino quantas ideias deve ter guardadas no seu HD. Quando está compondo, o que você prioriza como mais importante? E, na sua visão, como decide qual ideia é ideal para o Eclipse, para o W.E.T. ou para o Nordic Union?

Erik:  Eu não tenho tantas ideias guardadas no meu drive quanto você possa pensar. Tenho algumas ideias meio bobas no meu celular, mas eu meio que componho um álbum de cada vez. Normalmente, quando é hora de trabalhar com o Eclipse, nós escrevemos músicas para o Eclipse, esse é o foco principal. Mas, claro, às vezes escrevemos uma música e pensamos: ‘Ah, isso não soa como Eclipse, soa mais como uma música do W.E.T. ou do Nordic Union’, e vice-versa. Se estou compondo para um álbum do W.E.T., posso acabar escrevendo algo que soa muito como Eclipse, então deixo guardado para o Eclipse. Mas, no geral, componho um álbum por vez.

A prioridade, ao produzir e compor um álbum, é a composição em si. A música é a base de tudo. Se você não tem boas músicas, não há motivo para gravar nada. Existem muitos discos com músicas ruins demais. Lembro que, quando criança, às vezes comprava discos com duas músicas boas e o resto muito chato, e eu não entendia por que eles colocavam tantas músicas ruins. Então, eu sempre tento, o máximo que posso, manter a qualidade das músicas o mais alta possível ao longo de todo o álbum.

Na maioria dos casos, você conta com o apoio do Magnus Henriksson. Eu sempre vejo vocês dois como o Roland Orzabal e o Curt Smith, do Tears For Fears — uma dupla que nunca se separa para fazer música. Qual é o segredo dessa parceria, que dura desde 1999?

Erik: Eu acho que, em primeiro lugar, nós realmente amamos música. Nós começamos a tocar não porque queríamos ser famosos ou gravar discos, mas porque simplesmente queríamos tocar música. Nós nos conhecemos bem jovens e crescemos ouvindo as mesmas bandas, mesmo tendo crescido tão longe um do outro. Acho que nós nos complementamos muito bem e… nós adoramos tomar cerveja juntos. Ele é como um irmão para mim, e não consigo me imaginar fazendo música sem ele.

O Eclipse tem uma boa quantidade de discos lançados. Qual disco você recomendaria primeiro para quem não conhece a banda?

Eu acho que todos são bons. Acho que todos os discos soam como o Eclipse, de uma forma ou de outra. Eu gosto muito do Wired, de 2021. Não posso dizer que o último álbum é o melhor, porque preciso de alguns anos depois do lançamento para ter o distanciamento necessário entre os discos. Normalmente as pessoas dizem que o último é o melhor, mas você nunca sabe até passar alguns anos. Então, vou esperar antes de recomendar o mais recente e recomendo o Wired (risos).

Não menos importante, gostaria de saber quais são as suas bandas favoritas, as principais influencias tanto como musico e compositor e se você tem o habito de ouvir musica no seu tempo livre. Eu sei que você veio da escola do Thrash e do Death Metal. Como essa transição para o Hard Rock?

Erik: Eu sempre ouço de tudo. Eu tenho um irmão três anos mais velho e ele tinha muitos discos: ele teve o primeiro do Mötley Crüe, o primeiro do W.A.S.P... O primeiro disco que comprei com meu próprio dinheiro foi o The Last Command, do W.A.S.P., em vinil. Eu mudo o que escuto o tempo todo, mas ainda assim o hard rock clássico é, de longe, o meu favorito. O AC/DC é a maior banda do mundo, mas também é uma das minhas bandas favoritas. Eu adoro! Ouvi thrash por muitos anos, tive uma banda cover de Slayer em que tocávamos apenas músicas do Slayer por alguns anos. E, bom, eu escuto muita música. Tenho uma coleção enorme de vinis e CDs, então praticamente ouço música o tempo todo.

Qual é o segredo para ter tantas bandas boas na Suécia, o país que originou Europe, ABBA e as outras bandas como H.E.A.T, Crazy Lixx, Ghost e Nestor?

Erik: Acho que um dos motivos é que nós temos escolas de música gratuitas, então qualquer pessoa pode frequentar sem pagar, e isso é uma parte importante. Também acho que há uma longa tradição  de música folclórica na Suécia, desde a Idade Média.

Além disso, acredito que boas bandas inspiram outras bandas. Quando eu era criança e vi o Mötley Crüe, eu não pensei: ‘Eu posso fazer isso’, porque, para mim, eles poderiam muito bem ser de Marte. Mas, quando você vê uma banda local tocando, você se inspira. É como tipo: 'se eles  conseguem fazer ótimos discos, talvez nós também possamos'. Isso é algo inspirador. Boas bandas inspiram pessoas a formar boas bandas também, pelo menos é assim que eu vejo hoje em dia.

Esse ano eu vi mais bandas suecas - Opeth, Europe, H.E.AT, Dynasty, Sabaton - do que bandas de outros países.

Erik: Tem mais uma coisa também: a Suécia é bem fria e escura durante metade do ano. O verão é ótimo, mas o inverno é muito escuro e frio, então não sobra muito o que fazer além de tocar música. Vamos ver no futuro. Agora todo mundo fica no celular, então talvez as pessoas passem a assistir Netflix ou ficar no Instagram e parem de compor músicas (risos).

Fazendo um balanço sobre sua trajetória, você tem vinte discos lançados, somando tudo com Eclipse, W.E.T., Nordic Union e Ammunition. Olhando para trás, o que mais te orgulha dessa caminhada? E, olhando para frente, qual ainda é o grande objetivo que você quer alcançar na música?

Erik:  Essa é uma pergunta difícil.  Acho que tenho orgulho de ter mantido meu interesse em compor e fazer a música que amo, o hard rock melódico e o rock, porque se eu quisesse ser bem-sucedido e ganhar dinheiro com isso, provavelmente teria seguido para algo mais pop ou outro estilo. Mas sempre me mantive fiel a esse pequeno gênero musical simplesmente porque o amo demais. Acho que tenho orgulho de ter continuado fazendo isso, de ainda estar fazendo e de conseguir viver disso, além de termos tido a coragem de seguir nossos próprios corações e escrever a música que amamos. 

Para finalizar, quais os planos do Eclipse para o futuro?

Erik: Agora é hora de sair em turnê e, claro, ir ao Brasil e aproveitar nosso catálogo de músicas e esse último álbum duplo. Vamos curtir isso por um tempo, apenas tocando ao vivo e sem passar tanto tempo no estúdio - embora eu fique no estúdio o tempo todo, já que meu trabalho diário é mixar discos de rock. Mas acho que precisamos passar bastante tempo na estrada juntos e ver o que acontece no futuro. Pela primeira vez, não temos um plano de dois anos, está tudo em aberto. Então, vamos ver o que acontece.


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