Dia 12 de julho,
Porto Alegre. Uma noite quente para os padrões do inverno gaúcho. Noite de
novamente conferir uma apresentação dos cariocas do Matanza, que desta vez
desembarcaram no Rio Grande do Sul com o intuito de apresentar o seu mais novo,
e excelente, trabalho "Pior Cenário Possível". Grande parte do
público ainda permanecia na rua aproveitando o bom tempo para confraternizar e
tomar uma cerveja, quando a casa de shows começou a aquecer os já presentes com
clássicos do rock/metal no telão. Legal comprovar que mesmo que seja pelo
telão, uma apresentação do Black Sabbath, AC/DC ou Pantera conseguem animar os
ímpetos do público que abruptamente mudou de atitude, e começou a se comportar
como se o show de fato já tivesse começado.
Pontualmente
as 20:00, sem tempo para apresentações, sobe ao palco a banda de abertura Motor
City Madness. Sinceramente, não conhecia a banda e acredito que a maior parte
dos presentes também não. Consegui perceber que nos primeiros momentos todos
estavam atentos, tentando assimilar o som que emanava dos alto-falantes, e
conforme o tempo de show foi passando, algumas conversas paralelas revelavam um
misto de surpresa e interesse crescente pela grupo. Com um som que lembra o
Stray Cats mordido por zumbis fazendo um cover de R.A.M.O.N.E.S. do Motörhead,
a agressão começou e não parou mais.
A
banda desfilou músicas dos seus dois discos, o autointitulado "Motor City
Madness" e "Dead City Riot". O som direto não era intercalado
por pausas, conversas com a plateia ou covers para ganhar a simpatia dos
presentes. A banda ligou os amplificadores e desceu a mão, e dessa forma foi
conquistando cada vez mais o público, que já agitava bastante com a enérgica
apresentação. O Motor City Madness mostrou bastante profissionalismo, um bom entrosamento
e principalmente destilou ótimos timbres de guitarra alimentados pelos seus
amplificadores "Bulldog".
O
guitarrista Fabian Steinert tocava com um instrumento semiacústico, e apesar do
tipo de música "na cara" que a banda faz, o seu som em nenhum momento
embolava com os outros instrumentos. Os seus solos permeados de clichês de rock
aliados ao uso do pedal Wah Wah, mostram que a banda não bebeu só em fontes
punk-rock/horror-punk/hardcore. Derrubando qualquer possível rótulo pré-concebido,
estávamos todos assistindo um belo show de rock'n'roll! O único momento de
interação foi quando o vocalista Sergio Caldas literalmente lançou discos para
a plateia e agradeceu a presença e apoio de todos. Disse que sabe da
dificuldade de ser banda de abertura, e que assim como todos, eles também
estavam lá para ver a atração principal da noite, o Matanza. Pois não seria
nenhum motivo de espanto se em breve, muitas bandas repitam o mesmo discurso
antes de um show do Motor City Madness.
Setlist - Motor City Madness
Ms. Dynamite
(We Are the) Outlaws
Schizoid
Dancing With the Devil
Dead City Riot
Strong as a Rat
Dead Man's Hand
The Hunter
One Way Ride
Night Rider
Shamänco
Rope-a-Dope
New Order: Disorder
Poucos minutos
depois das 21:00, o sistema de som solta a "intro" que mais parece
ter sido tirada de um filme do Sergio Leone ou de uma propaganda de Marlboro. O
Matanza sobe ao palco, e o público que a esta altura já era completo, se
espremia próximo ao palco para ver de perto os cariocas. O show começa com "O
Chamado do Bar" e os presentes cantam o refrão a plenos pulmões quase como
uma provocação para quem ficou em casa esperando, amargamente, pela chegada da
segunda-feira.
Como uma locomotiva
desgovernada o show seguiu em frente com "Meio Psicopata",
"Country Core Funeral" e o "Último Bar". A descarga de
energia que permeia o ar em todo o início de show do Matanza é notável, e
conforme a pressão arterial foi voltando ao normal, alguns detalhes puderam ser
avaliados de forma mais eficiente. A primeira delas foi a presença do novo
baixista, Don Escobar. Se por um lado Don Escobar demonstrou uma atitude um
pouco mais tímida e concentrada, ainda mais se comparado ao antigo baixista
China, o seu entrosamento com o resto da banda é notável. As músicas do Matanza
apesar de simples exigem um forte comprometimento de quem se arrisca a
executá-las ao vivo, e talvez isso explique o "excesso" de
concentração de Don Escobar nesses primeiros momentos do show. O ponto negativo
se deu por conta do volume baixo da guitarra do Maurício Nogueira.
Quem já assistiu a
algum show do Matanza sabe que uma das características mais importantes, desde
o tempo em que o Donida era o responsável pelas guitarras, é justamente o som
com um volume exageradamente alto saindo dos amplificadores. Mas com ou sem
problemas técnicos, o show, a banda e muito menos o público no mosh pit (ou
roda punk) podem parar, e a sequência ficou por conta de "Tudo
Errado" e "Eu Não Gosto de Ninguém". Dessa vez o problema não
foi apenas no som da guitarra (que continuava baixa), pois a bateria sumiu do
som dos PAs e o público teve a oportunidade de presenciar por alguns instantes
um show do Matanza no formato baixo/vocal. Se alguém ainda duvidava da
capacidade de Don Escobar, mudou de ideia nesse momento.
O som dos
alto-falantes continuou oscilante, e seguiu assim durante a execução de "A
Sua Assinatura", prejudicando a análise da primeira música inédita da
noite. O momento não poderia ser mais oportuno para a primeira pausa. Enquanto
Jimmy vociferava o já tradicional “PUTA QUE PARIU PORTO ALEGRE”, e interagia
com o público, Maurício Nogueira tratava de rapidamente reafinar a sua guitarra
Flying V modelo Kerry King. Era hora de tocar "Pé na Porta e Soco na
Cara". Essa música que já se tornou um clássico na discografia do Matanza,
contou com a participação em uníssono dos presentes, que não diminuíram a
empolgação em "Imbecil" e "O Que Está Feito, Está Feito". A
segunda música inédita da noite foi muito bem recebida, e sem perder o embalo, Nogueira
puxa um dos riffs mais legais da carreira da banda: seja bem vindo ao
"Clube dos Canalhas". A casa de máquinas, que também atende pelo nome
Jonas, volta então à potência máxima com "Ela Não me Perdoou",
"Orgulho e Cinismo", "Remédios Demais" e "Mesa de
Saloon".
Tempo para recuperar
o fôlego, pois era o momento da segunda pausa da noite. Nogueira mais uma vez
afina a sua guitarra, enquanto Jimmy protagoniza o momento mais insólito do
show quando, canta um trecho de Menina Veneno, sucesso do Ritchie e uma
introdução "sui generis" para "Mulher Diabo". E foi
justamente nessa música que pela primeira vez na noite a guitarra de Maurício
Nogueira estava no volume (excessivo!) ideal para um show do Matanza. E que
maravilha explodir os tímpanos ao som de "Carvão, Enxofre e Salitre".
Apesar de se tratarem dos componentes da pólvora, essa música ao vivo funciona
como nitroglicerina. Nova pausa para reafinação da guitarra, e somos
presenteados com outra música nova.
"Casa em Frente
ao Cemitério" é introduzida como a música mais sinistra da carreira do
Matanza, e o seu andamento arrastado apenas nos confirma que já faz alguns anos
que a banda tem se afastado do rótulo de country-core (estilo mais explícito no
início da carreira). Mesmo que o hardcore e o country continuem sendo uma
influência, cada vez mais o grupo tem flertado com o metal. Outra mudança (para
melhor) são as suas letras, que se por um lado perderam a temática “western”,
parece que ficaram ainda mais politicamente incorretas. E por falar em
politicamente incorreto, a banda executa "Bom é Quando Faz Mal" e nos
deixa com saudades de uma época em que a única luminosidade vinda da plateia
durante um show de rock era relacionada a cigarros ou assemelhados. "Pane nos Quatro Motores",
"Matadouro 18", "Ressaca Sem Fim" e "Tempo Ruim"
fecham o bloco, com Jimmy praticamente se desculpando por terem tocado uma
música tão "amorosa".
Desculpas à parte, a
música com a mensagem mais positiva da carreira do Matanza é muito bem recebida
pelo público. Aliás, um grande elogio que pode ser feito ao Matanza, é que de
forma geral as suas músicas funcionam muito bem ao vivo. Se encaminhando para o
final do show, Jimmy pede a Maurício Nogueira que ele toque um hardcore
radical. A resposta vem na forma de "Todo o Ódio de Jack Bufallo
Head". "Rio de Whisky", "Ela Roubou meu Caminhão" e
"A Arte do Insulto" fecham com chave de ouro um show com vinte e sete
músicas executadas em pouco mais de uma hora e meia, que deixou os presentes
sem voz, exaustos, com dores no corpo, mas com um sorriso no rosto esperando
pela segunda-feira. Na próxima vez que o Matanza tocar na sua cidade, não
resista ao chamado do bar!
Cobertura por: Samyr
Ismail
Fotos: Uillian
Vargas
Revisão/edição:
Renato Sanson
Setlist - Matanza
O Chamado do Bar
Meio Psicopata
Country Core Funeral
O Último Bar
Tudo Errado
Eu Não Gosto de
Ninguém
A Sua Assinatura
Pé na Porta e Soco
na Cara
Imbecil
O Que Está Feito,
Está Feito
Clube dos Canalhas
Ela Não me Perdoou
Orgulho e Cinismo
Remédios Demais
Mesa de Saloon
Mulher Diabo
Carvão, Enxofre e
Salitre
Casa em Frente ao
Cemitério
Bom é Quando Faz Mal
Pane nos Quatro
Motores
Matadouro 18
Ressaca Sem Fim
Tempo Ruim
Todo Ódio da
Vingança de Jack Buffallo Head
Rio de Whisky
Ela Roubou meu
Caminhão
A Arte do Insulto
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