sábado, 15 de maio de 2021

Entrevista - Diva Satanica (Nervosa): "Acredito que a Nova Nervosa Soa Mais Poderosa"

 


O comunicado da separação da NERVOSA em abril do ano passado, foi uma das notícias de maior impacto no meio Metal brasileiro, inclusive ganhando destaque no exterior, devido a tudo que o trio brasileiro  vinha conquistando, contrato com o selo europeu Napalm Records,  muitas tours, inclusive sendo escalada para grandes festivais.

Mas rapidamente quaisquer dúvidas sobre a continuidade da banda se dissiparam, e a fundadora Prika Amaral não tardou em avisar que a Nervosa prosseguiria, e poucos dias depois, início de maio, as novas integrantes foram anunciadas, e a banda agora seria um quarteto e com integrantes de diferentes países: Diva Satanica (vocais, Espanha), Mia Wallace (baixo, Itália) e Eleni Nota (bateria, Grécia).

Mesmo a distância e com as restrições da pandemia, o novo line-up iniciou a composição do novo álbum, "Perpetual Chaos", lançado agora em 2021 e que recebeu excelente aceitação. Para falar um pouco mais de todo esse processo, conversamos com a atual frontwoman da Nervosa, Diva Satanica (Rocío Vázquez), que também expressou toda sua empolgação com a banda, o novo álbum e a resposta positiva em geral. Confira!  (Versión en español AQUÍ)


RtM: Em primeiro lugar, gostaria de falar sobre a sua participação na edição espanhola do programa "The Voice". Suas performances foram muito brilhantes. As reações dos jurados eram muito positivas e claro, eram surpreendidos. Conte-nos sobre essa experiência, os pontos positivos e negativos e, por fim, como você se sentiu em relação às reações das pessoas? E se é possível acreditar que pode haver uma aceitação maior do Metal novamente em espaços mais mainstream?

Diva: Participar do programa foi uma experiência magnífica, aprendi muito e me livrei de muitos preconceitos em relação a outros estilos musicais. (Confira vídeo aqui)

Aqui na Espanha as pessoas são muito apaixonadas, e se não amam algo, odeiam, então recebi muito apoio, mas também alguns comentários negativos que curiosamente vieram de um ou outro metalhead que ficava indignado por, segundo eles, eu ter colocado o Metal no mesmo nível de gêneros musicais que eles despresavam, como o pop.

Nunca concordei com isso porque ouço todos os tipos de música, e acredito que o Metal nunca será capaz de ter a mesma consideração que os outros estilos se insistirmos em nos fecharmos.

RtM: E agora nessa estreia com a Nervosa, como você está sentindo a reação dos fãs e da imprensa em geral ao álbum "Perpetual Chaos"?

Diva: Estamos muito gratas e afortunadas pela incrível resposta da imprensa e dos fãs. É sempre difícil aceitar a perda de integrantes tão queridas por fãs como a Fernanda e Luana, mas felizmente essa mudança no line-up resultou em 2 bandas compostas por mulheres muito interessantes, então acho que todas saímos ganhando.


RtM: Quando foi anunciada uma nova formação do Nervosa, muitos pensaram que tudo aconteceu muito rápido, como aconteceram os primeiros contatos para você ingressar na banda? Teve algum contato antes do anúncio da saída da Fernanda e Luana?

Diva: Quando Fernanda e Luana decidiram sair da banda, Prika decidiu continuar com o projeto e para isso teve que fazer uma lista de algumas pessoas com quem gostaria de trabalhar, inclusive nós.

Ela nos enviou uma mensagem perguntando se gostaríamos de fazer um teste para a banda e não hesitamos. Nos sentimos muito afortunadas por poder nos encontrar na estrada e poder trabalhar juntas, elas são pessoas maravilhosas e muito talentosas.

RtM: Nervosa é uma banda brasileira que hoje conta com integrantes de diversas partes do mundo. Teve algum contato ou conheceu algum dos integrantes da formação atual?

Diva: Prika seguia Mia nas redes sociais graças a sua adição a Abbath e Triumph Of Death. Ela descobriu Eleni em uma página de bateristas tocando um cover do Slipknot e ficou fascinada, e ela me conheceu em 2019 na turnê de Nervosa pela Espanha, na qual minha banda Bloodhunter abriu para elas.


RtM: Algumas publicações chegam a citar essa nova formação como uma espécie de "supergrupo". Gostaria que você comentasse sobre isso e se esse nome, além da banda já ter um nome conhecido, coloca algum tipo de pressão extra nesse novo álbum.

Diva: Suponho que todas nós, ao enfrentarmos esta nova etapa com um legado tão importante quanto o da Nervosa, sentimos certa pressão por não querer decepcionar os antigos fãs.

Ficamos muito surpresas que além de nos devolverem um imenso amor e apoio, as portas foram abertas para novos fãs que reconhecem que, por causa da nova formação, aproveitaram para conferir o álbum e ficaram fascinados. Com isso nos motivamos a continuar trabalhando muito.


RtM: Em sua avaliação pessoal, quais são as principais contribuições que você deu ao Nervosa, e quais você destacaria como diferenças em relação à banda atual com a formação anterior?

Diva: Todos nós contribuímos com nossas influências pessoais que pouco tinham a ver com o Thrash, embora também seja um estilo que gostamos, mas por uma razão ou outra estivemos envolvidos em projetos que estão longe disso musicalmente falando.

Logicamente ao lidar com um registro vocal diferente, que é perceptível nas composições, acho que adicionamos um pouco de diversidade na abordagem vocal tentando lidar com tons graves e agudos e alguma outra textura nos refrãos, que graças a Martin Furia, nosso produtor, eu fui capaz de encontrar.

Acho que o novo Nervosa soa mais potente, mas sem abandonar uma certa melodia, o que nos fez abrir o leque para muitos públicos diferentes.


RtM: Das novas músicas, qual você está mais ansiosa para tocar ao vivo?

Diva: Qualquer uma delas porque será nossa primeira vez juntas e a primeira vez que essas músicas serão tocadas ao vivo. Acho que "Under Ruins" ou "Until The Very End" serão algumas das mais emocionantes por causa da mensagem de suas letras.


RtM: e as músicas dos álbuns anteriores? Quais são seus favoritos? Você mudará algumas coisas nas linhas vocais para imprimir sua marca nelas?

Diva: Vou fazer o meu melhor para não fazer grandes mudanças, pois são ótimas músicas e que os fãs da banda amam, e eu como fã também hehehe! Mas não posso deixar de fazer com que soem um pouco diferentes porque meu registro é diferente, o que também pode ser interessante para adicionar outras nuances. Sem dúvida, "Kill The Silence" ou "Into Moshpit" são algumas das minhas favoritas.


RtM: Eu li algumas declarações de Prika de que quando você veio ao estúdio, as próprias ideias estavam praticamente prontas, o desafio em questão era apenas gravar. Como foi participar desse processo um tanto acelerado?

Diva: Não, todos nós participamos do processo de composição do álbum. Havia dias em que Prika nos mandava um riff e pedia a cada uma de nós para adicionar sua parte, ou apenas pensava em um conceito e nos pedia para trabalhar nele.

Havia também alguma música ou alguma letra que a Prika já compunha há muito tempo, de projetos anteriores, mas foi um trabalho conjunto com o nosso produtor Martín Furia que tem feito um trabalho magnífico.

Sem dúvida foi um desafio poder trabalhar à distância e também com pessoas que você não conhecia, mas todas têm uma ótima atitude e uma mente muito aberta, o que tornou o processo muito mais fácil. Quando chegamos ao estúdio, tínhamos a pré-produção das faixas prontas, mas fizemos algumas mudanças em tempo real.


RtM: O documentário editado pela Napalm Records mostrando as gravações do novo álbum em Málaga, na Espanha, gerou uma grande expectativa do que os fãs poderiam esperar e, claro, uma relação mais próxima com o público, ainda mais em uma situação de caos extremo em que vivemos atualmente. Conte-nos um pouco mais sobre esses dias de estúdio e as gravações do documentário de apresentação “Perpetual Chaos”.

Diva: Achamos que seria uma boa ideia fazer um documentário sobre todo o processo para que as pessoas pudessem nos conhecer um pouco mais e testemunhar o que estava acontecendo naquele momento tão especial para a banda. Acho que também deu um halo de esperança às pessoas em meio a uma situação horrível com a qual poucas bandas conseguiram trabalhar devido a restrições.

 

RtM: Conte-nos um pouco sobre como você começou na música, suas principais inspirações como vocalista e como você estava moldando seu estilo, decidindo que esse estilo mais extremo era o que você queria seguir.

Diva: Sempre fui uma amante da música, mas quando tentei aprender a tocar violão ou cantar melódico, não me senti confortável o suficiente para continuar tentando. A primeira vez que ouvi metal extremo fiquei com medo haha. Mas então me aconteceu a mesma coisa que acontece com os filmes de terror, eu queria descobrir um pouco mais e então percebi que talvez esse pudesse ser o meu lugar na música.

Levei muitos anos para aprender porque não consegui encontrar nenhum professor ou músico que pudesse me ajudar, mas com muito sacrifício e perseverança finalmente consegui avançar. Se não fosse pelo Dani (guitarrista da minha outra banda Bloodhunter), que me incentivou a escrever as letras do seu projeto e tentar aprender a cantar, eu não estaria aqui hoje. Naquela época, Sabina Classen foi a primeira mulher que pude ver em vídeo e talvez Angela Gossow (naquela época no Arch Enemy), a primeira que pude ver ao vivo.

RtM: Recentemente, houve uma ação muito interessante de artistas italianos em uma comunidade ao vivo onde eles subiram ao palco no dia em que terminou um ano de pandemia. Mas para surpresa de todos, não houve "show", mas silêncio, representando o que todos nós sentimos ao redor do mundo. 

Fernando Ribeiro do Moonspell expressou sua solidariedade às bandas que fizeram parte desta ação, e trouxe uma reflexão muito interessante, apoiando o manifesto: que não é possível fazer um show sem uma equipe técnica e um palco. Muitos fãs criticaram fervorosamente tal atitude. Na sua opinião, como você vê esse tipo de expressão artística, principalmente na atual conjuntura em que vive o mundo?

Diva: Fernando é um artista que sempre admirei muito como músico e como pessoa. A música, como a arte em geral, vive tempos muito difíceis devido à falta de apoios e alternativas por parte dos governos de alguns países.

É terrível ver quantas bandas deixaram a indústria e quantos profissionais do setor estão se formando em áreas que nada têm a ver com música porque é impossível para eles sobreviverem nessas condições. Está provado que podemos realizar eventos com segurança, então por que os governos não apoiam a cultura?


RtM: Já temos alguns países que já estão planejando o retorno dos eventos com público, quais são as suas expectativas em relação a esse retorno? Ainda é muito cedo? Devemos esperar mais?

Diva: A Espanha, por exemplo, é a imagem cuspida da contradição: enquanto em algumas regiões nem sequer permitem a abertura de estabelecimentos hoteleiros, noutras como Madrid organizam-se quase desde o início da pandemia, pequenos concertos em locais com capacidade reduzida.

Pode não ser o mais lucrativo, mas permitiu que muitas salas de concerto e artistas continuassem trabalhando. Acredito que com as medidas necessárias e capacidade ao ar livre (mesmo com o público sentado, distância social e máscara), grandes coisas podem ser feitas.


RtM: Obrigado pela entrevista. Esperamos ver a banda no palco em breve!

Diva: Muito obrigada pelo interesse e por nos ceder seu espaço. Estamos ansiosos para conhecer todos vocês e desfrutar deste álbum ao vivo. Cuidem-se bem, um grande abraço!


Entrevista por: Renato Sanson e Carlos Garcia

Edição e tradução: Carlos Garcia


Nervosa site oficial






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