sexta-feira, 7 de maio de 2021

Morcrof: [...]não estou dizendo que eu prefira este “mundo digital”, mas estou convencido de que é um caminho sem volta!

 Entrevista por: Renato Sanson

 

Músico entrevistado: PAVLLVS (baixo/vocal) – Banda Morcrof de São Paulo

 

Em 2019 o Morcrof lançou o tão aguardado “.:. CODEX . GNOSIS . APOKRYPHV .:. arcane . verba . revelatio .:.” – 3° disco de estúdio oficial – cercado de muito misticismo e filosofia. Qual o conceito por trás do mesmo?

PAVLLVS: Esse álbum trás à luz conhecimentos herméticos revelados por uma entidade exilada desde tempos imemoriais em um mundo caótico e em formação. São parábolas continuadas de “Machshevet Habriá (Myths And Conjectures Of Creation)” que à época tratou do impulso primordial da criação. Já em “.:. CODEX . GNOSIS . APOKRYPHV .:. arcane . verba . revelatio .:.”, trata-se do Ente já constituído e que manifesta-se, por meio da necromancia, os  segredos e a sabedoria do mundo.


O Latim não é uma novidade para o Morcrof, sempre com inserções da língua romana em suas composições. Com o novo álbum não seria diferente, mas aqui temos um disco cantado por completo em Latim. Como surgiu está ideia e porque o Latim?

PAVLLVS: Como você bem observou e disse, sempre flertamos com antigos idiomas e, em especial, com o latim. É uma língua que interpreta e sedimenta a atmosfera e a lírica proposta em “.:. CODEX . GNOSIS . (...)”, além do que, foi através desse vernáculo que a entidade primordial, presente no álbum, transmitiu seus conhecimentos e que o torna, ainda, suas metáforas mais misteriosas.

 

São praticamente 30 anos de história e diversos materiais lançados, desde Demos, EP’s, discos ao vivo... Quais você julga os mais importantes na trajetória da banda?

PAVLLVS: Penso que circunstancial e contextualmente a demo de 1999 “peragere hvmvm et semem terrai abditae” tem uma maior significância para a banda quando a gravamos num importante momento de superação e adaptação de todos que participaram daquela formação. Através dessa demo fomos projetados de modo incisivo à cena nacional e estrangeira.

 

 

Em 2002 nascia “Apeiron (Trinitas Primitiae Opus)”. Um álbum que traz o apanhado da história do Morcrof desde 1992, com diversas Demos e EP’s ali presentes, se tornando de fato um Debut, pois as composições são tão homogenias que não parecem ser de épocas diferentes. Como surgiu a ideia deste lançamento e a importância do mesmo para o Black/Dark Metal?

PAVLLVS: A intenção era que “peragere hvmvm et semem terrai abditae” fosse o tal álbum de estréia contando com músicas que foram editadas posteriormente, em 2001. Ocorreu que as versões gravadas das três faixas que entrariam na “peragere...” não ficaram boas e, por isso, as regravamos posteriormente com mais qualidade em “alesh”. Apesar de demos distintas, “peragere...” e “alesh” possuem faixas compostas num mesmo período e por isso talvez soem, como você disse, tão homogêneas, embora gravadas em épocas e formações distintas. Então, perguntamos a Mutilation Records, nossa gravadora na época, se haveria possibilidade para o lançamento de um CD que reunissem a “peragere hvmvm et semem terrai abditae”, a “alesh” e, ainda, cooptasse a debute demo “scientia ab mortvvs”. A proposta foi aceita e consequentemente ganhamos tempo para compormos o próximo álbum, que viria ser em 2005 o “Machshevet Habriá (Myths and Conjectures of Creation)”. Por isso, muitas pessoas consideram “Apeiron (...)” uma compilação...  Bem, para nós trata-se do debute álbum lançado com todos os protocolos de registros e legalidades exigidas. O público mais antigo, que acompanha a Morcrof desde os anos 90, considera “Apeiron (...)” de grande importância e relevância na história da banda e pro cenário nacional, o que nos enche de júbilo e honra!


Em termos de sonoridade, muito podemos notar a influência do Metal Extremo grego no Morcrof, mas com muita originalidade, não tendo bandas no Brasil fazendo um som nessa linha. Pois vai além do Black Metal em si, tendo influencias progressivas, góticas e tradicionais aliado ao Metal Extremo. A ideia era essa desde o começo?

PAVLLVS: Na época que a banda foi formada queríamos fazer algo extremo e subversivo, mas não sabíamos bem por onde começar ou como proceder. Conforme a banda tomava experiência, abríamos espaço para que as composições fossem feitas mais coletivamente, aproveitando o que cada um pudesse oferecer do melhor de suas influências. No início, de modo majoritário, tendíamos basicamente ao Death Metal que se fazia nos anos 90. Porém, paulatinamente, cada troca de integrantes trazia-nos outras influencias e as composições transformavam-se naturalmente. Então, definitivamente largamos mão de nos preocupar com rótulos e passamos a focar em como queríamos deixar as músicas, compondo de forma livre e que nos agradassem.

 


“Machshevet Habria” (05) traz um Morcrof mais melodioso e ainda mais progressivo, com inserções sinfônicas belíssimas, tendo uma qualidade ímpar, e abrindo caminho para o que escutamos em “.:. CODEX . GNOSIS . APOKRYPHV .:. arcane . verba . revelatio .:.”. Existe alguma ligação entre ambos?

PAVLLVS: Há uma ligação temática, como acabei antecipando em sua primeira questão e, talvez por isso, creio que instintivamente usamos a mesma fórmula de composição musical entre esses dois álbuns para que soassem, ambos, sinfônicos.

 

Paullus, mesmo com grandes lançamentos que só engrandecem a discografia da banda vocês sempre foram uma banda de palco, tocando em diversos festivais e cidades Brasil a fora. Como está sendo este período obscuro em que vivemos há exatos um ano sem shows?

PAVLLVS: Tem sido difícil... tanto no sentido de apresentações quanto de ensaios... tem sido realmente muito difícil! Tentamos de algum modo remediar a situação compondo e, nesse ponto foi prolífico, uma vez que neste período de “lockdown” e “distanciamento social” conseguimos compor, gravar e lançar, mesmo que no formato digital, o EP 2020 “qvod dea et qvod eqves avratvs”, que terá ainda neste ano seu formato físico além do 7' EP split a caminho.

 

Um novo lançamento está por vir em 2021 em formato de Split, certo?

PAVLLVS: Sim! O 7' EP split INFERAHL / MORCROF já está sendo prensado e deverá chegar, se tudo correr dentro da expectativa, entre maio e junho. São faixas inéditas e exclusivas de ambas bandas em limitadas cópias, para aqueles que realmente gostam de ter material físico em sua coleção. Acho que na pré-venda terá um poster das bandas para quem adquirir! Estamos bastante empolgados com esse material pois será nosso primeiro vinil em quase 30 anos... um formato que sempre quis fazer!

 

 

Em um momento tão crítico que estamos passando mundialmente, mas se atentando agora a indústria musical e underground, o que você diria aos artistas para sobreviverem a este caos?

PAVLLUS: Diria que o homem chegou onde chegou, em todos os aspectos, pelo seu alto poder de adaptação com o meio. Em nossas experiências, conseguimos trabalhar com o que a internet tem a oferecer: emails, whatsapp, redes sociais, meet e tantas outras ferramentas de poderio tecnológico. Desta forma, continuamos produzindo, gravando, divulgando e lançando... não precisamos da banda toda para gravar, mixar e masterizar... podemos trabalhar à distância indo um a um para se fazer o que precisa em estúdio... pode-se até mesmo apresentarmos em um festival on line... enfim, o que quero dizer é que, se não é o ideal, pelo menos é o que está no nosso alcance no momento. A tecnologia está aí para nos servir.

 

O mundo digital e suas facilidades não seriam uma saída para lá na frente os artistas não serem esquecidos?

PAVLLVS: Acho, de verdade, que qualquer artista na atualidade tem total autonomia sobre sua obra e carreira, ainda que poucos saibam utilizar o potencial das ferramentas tecnológicas disponíveis. Há pessoas, como eu, que resiste a isso e transita entre a ignorância e a opção própria, mas ainda assim, tudo está nas mãos dos artistas. O impacto que o mundo digital vem tendo desde a década de 90 nos obriga a rever planejamentos em todas as esferas e num grau de dinamismo tão ensandecido que muitas vezes torna-se sem sentido. É um caminho sem volta... veja, não estou dizendo que eu prefira este “mundo digital”, mas estou convencido de que é um caminho sem volta!

Gostaríamos de agradecer pela oportunidade e deixamos o espaço final a você!

PAVLLVS: Meu caro nobre, foi uma satisfação e uma honra responder suas perguntas e estar presente neste espaço. Agradeço a você e aos leitores que se dispuseram a ler estas breves linhas!

 

Fotos por: Claudio Higa 

 

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