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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Cobertura de Show: Dark Dimensions Fest – 25/01/2025 – Carioca Club/SP

DARK DIMENSIONS FEST: UMA AMOSTRA DO QUE O ANO CORRENTE ESTÁ PARA TRAZER A TODOS NÓS

No ano de 2025, a produtora Dark Dimensions celebra os seus 25 anos de existência. Um marco desses poderia ser comemorado de maneira "ordinária", mas diante dos períodos constantes de testes e de tribulações que estamos submissos quando se fala em ficar vivo não só no ramo da música, e considerando o nicho do Metal em um país com as dificuldades como o Brasil possui neste segmento, este definitivamente não é um feito qualquer.

E obviamente, o Rock como um todo sempre teve uma característica basilar de inclusão. Bem antes dessa pauta tomar as discussões acaloradas no dia-a-dia, seja de maneira presencial, seja no ambiente de campo de batalha que são as redes sociais, reforçando a sua característica como CONTRACULTURA, o âmbito do Metal historicamente acolheu aqueles enquadrados como "minorias".

Tempos atrás, o mais esperado era apenas citar os nomes mais comuns quando se trata de representação feminina dentro desta subcultura, como Ângela Gossow e Simone Simmons. Os mais experientes soltariam uma Sabina Classen ou as pioneiras da GIRLSCHOOL. Nos dias de hoje, porém, a realidade tem sido mudada como uma presença consideravelmente maior do que víamos num passado parcialmente recente. 

Em grande parte, um dos agentes responsáveis para esta mudança de paradigma é a poderosa NERVOSA, banda que começou o seu trajeto no ano de 2010 com um Thrash Metal bem "na sua cara", e hoje em dia pode ser categorizada como uma das principais expoentes internacionais do gênero.

Em luz de eventos recentes, a Dark Dimensions aproveitou o momentum frontal para uma celebração específica em pleno dia de aniversário da cidade de São Paulo, culminando com o 1º Dark Dimensions Fest. Reunindo o estabelecido TORTURE SQUAD, as em crescimento ESKRÖTA, THE DAMNNATION e THROW ME TO THE WOLVES, o festival contou com a 1ª aparição em terra tupiniquim dos australianos do ELM STREET. A headliner foi a supramencionada NERVOSA, celebrando o seu aniversário de 15 anos, o que só enfatiza o fato deste ser um legítimo zeitgeist.


THE DAMNNATION

Os portões do Carioca Club foram abertos para todos precisamente às 14:11, pouco após do horário estabelecido, com um calor digno da estação do Verão castigando a fila que se encontrava preenchendo a esquina para o rolê do dia.

Nos perímetros de consumação da casa, os itens esperados à venda estavam disponíveis: camisas, patches, CD, discos de vinil... as opções eram numerosas.

Tais atrações serviram para ajudar a passar o tempo até a marca pontual das 14:30, ocorrendo a 1ª abertura das correntes na tarde escaldante de Sábado para o ato inicial do festival: a THE DAMNNATION.

Mesmo com o horário cedo, havia um pessoal já presente na famosa casa de shows do Pinheiros, por mais tímido que fosse. O trio formado em 2019 por Renata Petrelli (vocais/guitarra), Fernanda Lessa (baixo) e Leonora Mölka (bateria) começou os trabalhos com uma abordagem mais direta, sem muitas cerimônias, com PARASITE. Um ponto diferencial é que, ao contrário da maioria das oferendas do tipo, é possível ouvir claramente a nitidez de cada instrumento da mescla de Thrash/Death entregue por elas.

Por mais que a presença do público estivesse ainda acontecendo, isso não impediu que Renata prestasse consideração por aqueles que já se encontravam no recinto, trajando uma respeitável camisa do KING DIAMOND.

Assim como em ABSU (porém de maneira atenuada, pois o baterista é o vocal principal), outro diferencial do THE DAMNNATION é ouvir segmentos vocais vindos da bateria de Leonora, e WAY OF PERDITION serviu para soltar um ritmo que gradualmente se elevava, o que iria pintar um clima que estava marcado no horizonte para as horas que o Dark Dimensions Fest duraria.

APOCALYPSE foi a última entrega do trio, um puro suco de Thrash Metal que toma proveito de uma clareza mais moderna, sem ignorar a forte influência vista dos primórdios do SEPULTURA.

Como em uma apresentação de teatro, as cortinas se fecharam para provocar a multidão com uma sensação de curiosidade com que acontecera nos bastidores, até a chegada da próxima atração. Este modus operandi seria uma constante por toda a duração deste evento, para que também fosse possível mirar as atenções com certas necessidades sociais e biológicas que vem com o território de um festival.


The Damnation – setlist:

Parasite

World's Curse

Grief of Death

This Pain Won't Last

Way of Perdition

Unholy Soldiers

Slaves of Society

Apocalypse


THROW ME TO THE WOLVES

O que foi visto aqui seria a última vez que veríamos o início ser dado no horário pristinamente estabelecido, já que certos imprevistos começariam a participar durante o desenrolar do festival, o que não chega a ser algo fora do habitual. Exatamente às 15:30, o palco estava povoado com os membros do 2º ato programado do Dark Dimensions Fest: o THROW ME TO THE WOLVES, a mais nova do elenco.

A abertura instrumental serviu para gerar uma continuação com CHAOS, e com o tocar das primeiras notas, os mais iniciados no Death Metal Melódico podem sacar que a inspiração que reina o quinteto vem da cena de Gotemburgo dos anos 90 lá da Suécia, personalizadas por nomes como DARK TRANQUILITY e IN FLAMES.

Por conta disto, não só por ser formada há pouco tempo, mas eles são o que menos fazem parte da predominância do Thrash, o que coloca um destaque a parte para a banda que tem apenas pouco menos de 2 anos de idade. Levando em conta como as canções são estruturadas, ponto bastante positivo por deixar que cada membro consiga ter seus momentos de destaque, em linhas gerais.

Seja em TARTARUS ou em GATES OF OBLIVION, não faltou demonstração técnica e movimentação constante entre todos os instrumentistas de cordas e do vocalista Diogo Nunes com um ótimo alcance vocal.

Gui Calegari e Lucas Oliveira formam os chamados "gêmeos das guitarras", alternando ocasionalmente entre melodias e solos, colocando seus nomes para se prestar atenção num futuro próximo pelo que fora apresentado aqui. Rodrigo Gagliardi complementa apresentando uma performance de presença, e com Maycon Avelino na posição de baterista, eles certamente vieram para ficar.

É de se lembrar que GAIA conta com a participação especial do vocalista Bjorn "Speed" Strid (conhecido pelo SOILWORK e pelo THE NIGHT FLIGHT ORCHESTRA).

Tendo já feito entusiastas no meio da vastidão, THROW ME TO THE WOLVES é um nome que ainda será pronunciado aos ouvidos dos participadores da cena, em especial quando seu álbum de estreia for lançado ainda em 2025, entitulado Days of Retribution.


Throw Me To The Wolves – setlist:

Intro

Chaos

Tartarus

Days of Retribution

Gates of Oblivion

Fragments

An Hour of Wolves

Gaia


ESKRÖTA

Com o fim iminente da apresentação anterior, era possível observar um aumento na movimentação num dos locais mais famosos do bairro Pinheiros. Em uma reprise, as cortinas se mantinham fechadas para a construção de suspense entre o que acontecia nos bastidores.

No horário exato das 16:28, a abertura das cortinas tornou a acontecer, revelando os dizeres E.S.K.R.Ö.T.A., cujo trio experiencia uma ascensão considerável, tendo tocado recentemente no ROCK IN RIO e no KNOTFEST BRASIL, e feito uma turnê com o NAPALM DEATH pela América Latina no fim do ano que se passou.

Vindo do interior paulista, o trio conta com Yasmin Amaral (vocais e guitarra), Tamyris Leopoldo (baixo e backing vocal) e Jhon França (bateria), entregando um som como se fosse um "Megazord" de Crossover, Thrash Metal e Hardcore, sendo talvez a mais diferente das 6 bandas.

A abertura com GRITA já mostra algumas características que se tornaram marga registrada da ESKRÖTA: letras ácidas, críticas e políticas, casadas com um som bem cru e direto. Em uma tentativa de promover atitudes contra platitudes, desde o show no KNOTFEST se tornou tradição ver uma leva de bolas infláveis que contam com o logotipo do super trio voando pela plateia.

E neste meio tempo, a vocalista e guitarrista Yasmin aproveita a oportunidade para comentar sobre o quão importante é o serviço promovido pelo Dark Dimensions Fest, por trazer uma participação feminina maior diante de um cenário que ainda se mantém desproporcional no caso em tela.

Reais hinos como ÉTICAMENTE QUESTIONÁVEL e CENA TÓXICA evidenciam as supramencionadas características do que se pode esperar de uma entrega da ESKRÖTA, e PLAYBOSTA já alcançou a condição de um clássico do conjunto de São Carlos e Rio Claro.

Porém, nem só de letras com cunho político compõem o seu arsenal. Com inspiração em filmes de terror, NÃO ENTRE EM PÂNICO é uma das armas vistas em seus shows, com a participação de Vicki fazendo o papel do personagem Ghostface, tanto no palco como nas rodas de mosh.

FILHA DO SATANÁS, como de costume, mostrou ser o epicentro da apresentação, com uma descarregada magnificada de energia, sem perdoar qualquer ser vivo que estivesse em seu trajeto de ataque. O encerramento ficou por conta de MULHERES, culminando com uma passada de mensagem executada com sucesso, sem contar um wall of death similar a um arrastão elevado à décima primeira potência.

Seja pelo acaso ou por design, o uso do personagem Ghostface acabou criando um tipo de gancho para o que estava por vir em seguida, deixando a partir deste ponto com que o festival chegasse à metade das atrações.


Eskröta – setlist:

Grita

Playbosta

Cena Tóxica

Episiotomia

Não Entre Em Pânico / Exorcist in the Pit (com participação de Vicki, como Ghostface)

Homem É Assim Mesmo

Mosh Feminista

Éticamente Questionável

Instagramável

Filha do Satanás

Massacre

Mulheres


ELM STREET

Pelo nome da desconhecida ELM STREET, um pode adivinhar que faz referência ao famoso filme do Freddy Krueger, "A Hora do Pesadelo" (Nightmare On Elm Street), e esse palpite estaria correto. Vinda da Austrália, ela possui algo em comum com a ESKRÖTA: foco em filmes de terror. E tem algo em comum com a NERVOSA também: eles as acompanham abrindo para a banda brasileira na turnê de 15 anos na América Latina.

Na marca exata das 17:26, se iniciou a 1ª aparição dos australianos aqui no Brasil, iniciando com A STATE OF FEAR através de um Heavy tradicional com toque moderno. Pode-se perceber aqui que a predileção por filmes de terror fica cravada nas temáticas das composições, não na estética em si. E sem demorar muito, Aaron Adie (guitarra) puxou as atenções para si com uma quantidade impressionante de solos cativantes.

Pairava um certo ar de incerteza e curiosidade entre o público presente, o que fez com que Nick Ivkovic (baixo) ficasse se "movendo nos 220v" para agitar o recinto, por várias vezes se colocando no ponto de limite que separa o palco da pista central, interagindo freneticamente, sem perder uma batida.

Ben Batres (vocal/guitarra) se prontificou em deixar claro que, apesar do nome fazer alusão a um pesadelo, não seria onde estaríamos dentro, mas sim o de um sonho de Heavy Metal tradicional com pitadas de Speed, como ocorre em HEART RACER.

Para deixar todos mais familiarizados com os membros, eles inteligentemente possuíam em seu repertório um cover do IRON MAIDEN na forma de RUNNING FREE, tudo enquanto entregavam um instrumental muito bem elaborado, o que pode fazer muitos se perguntarem o que os levaram a não terem vindo ao Brasil antes.

O mencionado instrumental era complementado por Tomislav Perkovic, que esmurrava a sua bateria com a força proporcional do seu tamanho físico.

Por fim, com uma menção honrosa a DIO, a finalização ficou por conta de METAL IS THE WAY, se consolidando como uma opção acertada e que provará surpreender aqueles que dedicarem seus tempos para conhecerem algo novo e de qualidade aprovável.

Talvez não tão nova assim porque eles já possuem um pouco mais de 15 anos de idade, o que não elimina a possibilidade de ser uma boa descoberta para quem se dispor a conhecê-los.


Elm Street – setlist:

A State of Fear

Face The Reaper

Heart Racer

Elm St's Children

Take The Night

The Last Judgement

Behind The Eyes of Evil

Running Free (Iron Maiden Cover)

Barbed Wire Metal

Heavy Metal Power

Metal Is The Way


TORTURE SQUAD

O TORTURE SQUAD não ser o headliner do evento não muda o fato de ser uma atração que sempre chama a atenção onde irá realizar uma apresentação. Afinal, quando estamos falando de veteranos com décadas de experiência que dignificam o nome do Brasil mundo afora no cenário da música extrema, é natural a criação de uma receita que tem um ingrediente básico como o seu alicerce: ouvintes que praticam a tática da fidelidade como se fosse uma necessidade natural do corpo humano, como dormir ou se alimentar.

Isso é evidenciado pelo fato de que ao redor deste momento, o Carioca Club se aproximou da lotação máxima para que todos possam ver melhor o que pode ser aprendido por esta instituição nacional do Thrash Metal. Algo que já foi aprendido, no entanto, é testemunhar um show com um ritmo bem energético, com headbangings acelerados e um teste à capacidade dos equipamentos de som, caso aguentem o tranco.

Desde o lançamento do trabalho mais recente, DEVILISH, se tornou um padrão a abertura ficar por conta de HELL IS COMING, oportunidade para a vocalista Mayara Puertas demonstrar a ampliação do seu escopo como musicista ao não ficar apenas na tarefa vocal, e sim ao ser acompanhada pelo elemento do violão. Para além dela exalar uma voz limpa, assim que ela solta a sua gutural necromântica, você entende o motivo dela ser professora nesta modalidade de canto, personificando aquela valia da vida de que ações valem mais do que palavras.

Antes do anúncio de ABDUCTION WAS THE CASE, houve a menção respeitosa sobre o falecimento recente de Cristiano Fusco, por motivo de câncer. Em sinal cortês, este foi o momento de prestar a devida homenagem pelo fundador da banda com uma de suas favoritas.

Outro ponto de foco antes que RAISE YOUR HORNS fosse tocada é a contemplação do que acontece quando alguém alcança um nível de excelência por dedicação contínua. Em um solo destruidor e de gerar admiração, não é à toa que Amílcar Christófaro é visto como um dos melhores bateristas em seu ramo em solo brasileiro, com uma habilidade quase descomunal por trás do seu kit.

WARRIOR possui um propósito triplo: não só foi o momento para elogiarmos o técnico de som, que permitiu com que as sólidas linhas de baixo de Castor fossem claramente audíveis, tornando a sua possível ausência notada, como também alterou o ar da apresentação com uma vibe mais Hard Rock. 

Foi aqui que a icônica Leather Leone (mais conhecida pela sua estada na CHASTAIN) foi convidada ao palco para dar ainda mais vigor com a sua presença exótica, ao passo de que Mayara mostrava uma vez mais seu vocal limpo e a multidão vibrava consideravelmente enquanto Leather tentava arrancar um Português.

Em HORROR AND TORTURE, além de MURDER OF A GOD antes dela, vimos oportunidades para René Simionato performar riffs frenéticos e impactantes enquanto se agita constantemente entre as dimensões do palco e nos pontos limítrofes do mesmo, ligando-se com a multidão ao redor.

Foi através de muito suor, trabalho e esforço que o TORTURE SQUAD chegou ao patamar que hoje possui erguido, e assistir um show com um nível assustadoramente exemplar de profissionalismo e de produção é razão para se ter gosto em ser um headbanger. Com a mesma certeza de que o Sol iria nascer após algumas horas, muitos chifres foram erguidos não como um procedimento qualquer, mas por um senso de orgulho.

Em atmosfera explosiva, assim foi finalizado o último ato com a clássica THE UNHOLY SPELL antes da chegada do último motivo para o rolê do dia, o que fez com que surgisse a dificuldade comum em se movimentar aos arredores da casa de shows, pois o limite de pessoas foi atingido.


Torture Squad – setlist:

Hell Is Coming

Flukeman

Buried Alive

Abduction Was The Case

Raise Your Horns

Murder of a God

Warrior (com a participação de Leather Leone)

Pull The Trigger

Horror And Torture

The Unholy Spell


NERVOSA

...E assim chegamos ao chamativo central da noite. Uma vez mais, as cortinas se mantinham fechadas para a produção de ânimo e animação generalizada entre todos ali presentes.

Desde a abertura dos portões até chegarmos aqui, mais de 6 horas haviam se passado do festival, e era fácil observar que a casa estava lotada para presenciar algo que logo provou ser um autêntico evento.

Ainda que com um atraso considerável, na marca precisa das 20:25, a escuridão completa tomou conta do local e o começo em playback da memorável SEED OF DEATH era a audição dominante, com a abertura das cortinas ocorrendo em ato contínuo. Tal abertura aconteceu com um barulho quase ensurdecedor por parte dos expectadores, ansiosos por verem a headliner desta comunhão do Metal.


- A PAZ ENVOLVENTE NUNCA FOI UMA OPÇÃO

A introdução sozinha de SEED OF DEATH pode significar uma miríade de coisas. Como o meme de internet da franquia Street Fighter "O Tema de Guile Combina Com Tudo", ela pode suplicar por um senso de empoderamento o qual as palavras falhariam em traduzir. Ou uma manifestação sonora de um renascimento das cinzas, como a ave mitológica Fênix, talvez? Este é um dos vários efeitos que a música causa no corpo humano, já que dificilmente é a mesma sensação em indivíduos diferentes.

Uma regra não escrita do universo é que a tranquilidade é sempre ameaçada pela tempestade. Com a abertura das cortinas pela última vez no dia, era possível ver Gabriela Abud lá atrás, recém-completando o seu 1º ano na NERVOSA e exalando o seu carisma quase imensurável, observando a todos por trás do seu kit. A grega Helena Kotina entrou no palco logo na sequência saudando a todos, e simultaneamente para a surpresa do povo, a holandesa Emmelie Herwegh surgiu para realizar as tarefas do baixo, substituindo Hel Pyre já no passado e aqui novamente.

Completando o quarteto, a guitarrista e fundadora Prika Amaral surge para elevar a euforia da multidão com um cumprimento que já se tornou a sua marca registrada.

Se lembra da tranquilidade ameaçada, dita agora há pouco? É exatamente o que acontece com o final da introdução da música mencionada acima, já que o Carioca Club estava na iminência de ser tomado de assalto.


- CUIDADO! OUVIR NERVOSA PEDALANDO O(A) FARÁ ULTRAPASSAR CARROS!

O esforço multinacional composto pela trindade Brasil, Grécia e Holanda se prontificou em estabelecer a tonalidade do que iria ser desvendado com a promessa do maior repertório até então executado pela NERVOSA; promessa esta que foi cumprida. Uma duração apropriada para o 1º show de celebração dos 15 anos de aniversário de um autêntico quarteto fantástico.

Para uma apresentação diferenciada, o repertório fez um passeio por todo o histórico da NERVOSA. Victim of Yourself, Agony, Downfall of Mankind, Perpetual Chaos, e naturalmente, o álbum mais recente: Jailbreak. Todos os álbuns da discografia estiveram presentes na incrível quantidade de 19 músicas apresentadas no total.

Por ser o mais recente, o alvo dos holofotes foi justamente Jailbreak (que inclusive, consta no nome da turnê de 15 anos), álbum composto durante um período muito peculiar em seu trajeto, cujo título pode ser descrito como um grito primal de liberdade.

Merece ser lembrado que, em entrevistas e coletivas de imprensa nos dias que antecederam o início dos shows em solo latino, o show de São Paulo em específico contaria com algumas surpresas únicas, o que desenhou um clima de especial logo para a 1ª data brasileira. Previamente revelado foi que o show da capital paulista seria filmado para a posteridade.

Quando BEHIND THE WALL sucedeu a abertura, certas características se tornaram um padrão: o senso de realização e alegria ao estarem ali presentes no solo do Carioca Club, porque a história não só da NERVOSA, mas do Metal nacional estava sendo feita naqueles minutos.


- AS HERDEIRAS DIRETAS DO LEGADO DO SEPULTURA

Lá no fundo, sempre animando a multidão com um alto astral capaz de rivalizar com o de um grupo de pessoas, Gabriela Abud (tendo substituído a búlgara Michaela Naydenova há pouco tempo) demonstra que a idade é um mero número, já que mesmo sendo muito nova, descarrega uma barricada de uma pessoa só ao "marretar" impiedosamente o seu kit com as linhas de bateria compostas pelas suas antecessoras (e com adicionais da própria em certas passagens, como na introdução do encerramento), comprovando que não deixa a desejar em afirmar domínio em seu instrumento.

Inicialmente introduzida como baixista em 2022 com os primeiros shows da NERVOSA após o período da pandemia que assolou os arredores do planeta, a grega Helena Kotina se mantinha em constante movimentação do palco nos intervalos de seus riffs e solos que puxavam a atenção a si devido ao vigor dos próprios, como um pré-requisito essencial, sempre no ponto de limite do palco e a pista central para agitar o local.

Uma face não desconhecida, só que pela 1ª vez em turnê no Brasil foi corporificada pela holandesa Emmelie Herwegh nas tarefas do baixo, que substituiu a grega Hel Pyre pela passagem na América Latina por questões de deveres maternais. Sua presença entra em sinergia com as demais pelo grande sorriso contínuo que não escondia ao estar compartilhando este ocorrido, trazendo a combustão emocional necessária aos presentes na casa.

Com mudanças na formação em rápida sucessão entre os dois últimos lançamentos, um chamativo para aqueles que não puderam acompanhar o SUMMER BREEZE BRASIL 2024 era o fato de presenciar os vocais apresentados pela líder Prika Amaral, quem tomou mais uma responsabilidade em suas mãos ao realizar esta tarefa enquanto performa riffs violentos no front, assim como as ocasionais tarefas de solo, como puderam ser vistas em KILL THE SILENCE e em VENOMOUS. 

Adicionalmente, em sinal de respeito, a própria mencionou a ausência de Hel Pyre e voluntariamente explicou que é pelo fato de ter que cuidar da sua filha em casa, como consideração pela membra ausente e praticando empatia por aqueles que colocam a família em primeiro lugar.

E felizmente, a aceitação de Emmelie pela nação headbanger brasileira como um todo foi, na prática, unânime.


- KINDER OVOS VÊM EM FORMATOS DIFERENTES

O repertório teve espaço para canções que já são "figurinhas carimbadas" e que definem o que a banda veio a ser. Um dos propósitos de DEATH! era deixar as pessoas mais tranquilas com as suas mudanças de tempo e para quem já acompanha a NERVOSA há anos. MASKED BETRAYER era esperada para aparecer em alguma hora, por se tornar tradição em suas apresentações, e com uma cantoria fácil de ser gravada.

A ótima PERPETUAL CHAOS (faixa-título do penúltimo álbum) traz um paradoxo: apesar de ter um ritmo menos rápido do que a maioria das que foram tocadas, ela serve como um testamento para quem tinha dúvidas quanto à qualidade com a mudança vocal. Por análise empírica, havia gente que não esperava o quão potente seria a gutural de Prika in loco, que dispensa o uso de qualquer modificação para alterar o seu efeito imponente.

Reza uma das leis da vida de que, por definição, surpresas são inesperadas. Pois bem: a 1ª delas foi a participação de Alex Camargo em UNGRATEFUL, que foi merecidamente recebido por uma recepção calorosa. Afinal, estamos falando de um veterano de um dos maiores expoentes da música extrema nacional: o grande KRISIUN. 

Era notável um certo desconforto do próprio: natural, pois ele geralmente performa com um instrumento em mãos, então vê-lo fora da sua zona de conforto foi, no mínimo, curioso. Isso não pareceu ser um problema para aqueles que estavam lá, que extraiam mais energia de seus corpos, os quais pareciam não ter.

URÂNIO EM NÓS possui um fato curioso: foi a escolha de Prika como um teste para ver se ela conseguiria tocar guitarra e realizar os deveres de canto simultaneamente. Num saldo geral, pudemos observar que sim, e a descrição desta, assim como a de outras como HOSTAGES, deu a impressão de que um flashback desde o nascimento até a chegada dos 15 anos estava sendo transmitido, contando o progresso da NERVOSA.

Eventualmente, era a hora da próxima surpresa: CULTURA DO ESTUPRO foi tocada pela 1ª vez ao vivo, contando com as presenças de Yasmin Amaral (ESKRÖTA) e de Mayara Puertas (TORTURE SQUAD) participando nos vocais, fazendo com que Prika tirasse por um tempo a sua guitarra e as acompanhassem com mais liberdade de movimentação. A presença delas não foi sem um propósito, já que as vocalistas usaram aquele instante como protesto de uma realidade que infelizmente assola todo o mundo, usando as suas vozes para demonstrarem indignação com este fenômeno.

Ver as três bangeando circularmente de forma uníssona foi um significado de arte pura.

Se aproximando do fim, o último "kinder ovo" da performance veio na forma de WAYFARER, que assim como a canção antecessora, também fora tocada pela 1ª vez nos palcos. O adendo veio com o fato dela ser cantada com a voz limpa de Prika, o que invocou muitos rostos maravilhados com esta diferença.

Apesar da fundadora ter lançado um teste à plateia ao realizar uma piada autodepreciativa questionando a sua capacidade em fazer isso em específico mais vezes, a onda sonora de entusiasmo recebida como resposta diz que sim, é uma boa ideia tal tentativa ser repetida mais vezes.

Uma apresentação de todas as membras veio na sequência, anunciando a aparição do final, embora o público não tenha demonstrado em nenhum instante que estava com as energias gastas, mesmo após mais de 7 horas de festival.


- LÁGRIMAS DE ALEGRIA NÃO SÃO SINAIS DE FRAQUEZA; SÃO UM TESTEMUNHO DE GRATIDÃO POR ESTAR VIVO

Quando se trata de violência sonora, a canção que iria encerrar esta verdadeira festa carrega esta característica desde a sua concepção. Fazendo uma ode ao gênero ao qual faz parte, e seguindo a tradição desde o lançamento mais recente, o final ficou por conta da majestosa ENDLESS AMBITION.

Sendo a última oportunidade de aproveitar o que provou ser mais do que um show comum, não foi nada incomum presenciar uma aglomeração maior no mosh no meio do Carioca Club e um headbanging mais visceral pelo grau de pancada que a canção detém. Por mais que a raça humana tenha o deleite em se autointitular como "evoluída", ENDLESS AMBITION é um lembrete amigável de que não estamos acima da agressão física (ainda que organizada).

Em oposição a um sussurro, o 1º Dark Dimensions Fest foi terminado com um imenso estouro, deixando a audiência animada o suficiente para um ovacionamento mais forte do que todos os que vieram antes deste, em êxtase por um concerto digno vindo de uma das principais embaixadoras da expressão cultural extrema brasileira que é a NERVOSA.

Ainda que mal pudessem sair do palco, e com um voo para a cidade de Recife num prazo apertado, deve ser mencionada a consideração pela audiência presente (que são os responsáveis pelo plateau que o conjunto se encontra no atual cenário) por parte de todas, mesmo que fosse um atendimento bem breve para parabenizar pela performance, uma foto de recordação ou a assinatura de algum item. Isso se manteve até o momento de fechamento da casa, até que a leva de pessoas fosse dissipada.

Desta forma, o aniversário da maior cidade da América Latina deu um recado de que o Metal Extremo está vivo e bem, e o Dark Dimensions Fest tem o potencial de se consolidar como um dos principais festivais de Metal de reconhecimento nacional, nutrindo o desejo de que o próximo tenha uma entrega de, pelo menos, no mesmo nível do que o da 1ª edição.


Texto: Bruno França

Fotos: Amanda Vasconcelos

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Dark Dimensions

Mídia Press: JZ Press


Nervosa – setlist:

Seed of Death

Behind The Wall

Death!

Nail The Coffin

Kill The Silence

Perpetual Chaos

Venomous

Ungrateful (com Alex Camargo, do Krisiun)

Masked Betrayer

Under Ruins

Hostages

Urânio Em Nós

Kill Or Die

Cultura do Estupro (com Yasmin Amaral e Mayara Puertas, da Eskröta e do Torture Squad, respectivamente)

Into Moshpit

Jailbreak

Wayfarer

Guided By Evil

Endless Ambition

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Cobertura de Show: Nervosa – 30/01/2025 – Gravador Pub/RS

Por: Renato Sanson

Fotos: Vinny Vanoni

Após dois anos de sua mais recente vinda à capital gaúcha, a Nervosa retorna e com grandes novidades ao público. Uma delas é a tour de 15 anos divulgando o seu novo álbum “Jailbreak” e trazendo sua nova formação com Prika assumindo os vocais da banda.

Apresentando também a nova baterista Gabriela Abud e a baixista Emmelie (da banda Sisters of Suffocation, onde é guitarrista) que substitui Hel Pyre nessa tour por problemas pessoais.

Muitas novidades em tão pouco tempo. Se antes a Nervosa tinha tocado no Bar Opinião, agora seria no caldeirão Gravador Pub e sua ótima estrutura, se tornando a nova casa dos bangers gaúchos!

Para a abertura tivemos os australianos do Elm Street, que vem acompanhando a Nervosa nos últimos shows e que grata surpresa! Aquele Heavy Metal clichê do Accept, com algumas pitadas de Thrash e alguma influencia ali e aqui de Judas e Megadeth. O Elm Street fez um showzaço encantando os presentes. Não sendo apenas uma banda de abertura, mas trazendo um arsenal sonoro de primeira!

Uma dupla de guitarras afiadíssima e melodias que grudavam e arrepiavam vocais ásperos que bebe na fonte dos anos 80 e uma linha de baixo e bateria correta e bem variada. Não demorou muito para os bangers estarem grudados no palco e curtindo cada minuto do Elm Street ao vivo.

Com muito carisma e presença, o Elm Street ganhou os fãs e saíram de cena mais do que aplaudidos. Ainda em tempo a som em especial estava fantástico, parecia um CD tocando e tivemos também uma homenagem da banda a Paul Di’anno tocando o clássico “Running Free”. Sensacional!

Não demora muito e a Nervosa vai adentrando em palco para arrumar seus equipamentos, realizar pequenos ajustes para iniciar seu show. É fantástico isso na banda e no Gravador Pub que proporciona essa experiência e vemos ali o quanto às meninas são gente como a gente!

A intro ecoa nas caixas de som e a avalanche sonora se inicia com “Seed of Death” e “Behind the Wall” não é preciso dizer que o publico foi a loucura e as primeiras rodas já se formavam e o caldeirão estava pronto.

Um detalhe em questão é que o som não estava tão bom quanto o do Elm Street, o que prejudicou um pouco a força da apresentação, pois, mal se ouvia os solos da Kotina para quem estava do lado direito. Passava a sensação que em muitos momentos a banda não estava se ouvindo tocando apenas no feeling graças ao entrosamento que já possuem.

Tivemos uma parada técnica para ajustes do som, mas que não resolveu muita coisa, mas o baile seguiu e como era uma comemoração aos 15 anos de estrada Prika (muito aplaudida e referenciada) informou que seria uma festa por toda a discografia da banda, mas é inegável o quanto faixas como “Death!” e “Perpetual Chaos” são festejadas. 

E o que torna isso ainda mais incrível é que são musicas de diferentes fases, onde Prika mostrou se adaptar muito bem e ficar aquela pergunta: “Porque ela não assumiu os vocais antes?”. Após uma enxurrada de riffs Prika elogiou muito o publico gaúcho dizendo que somos um dos melhores do mundo e um dos mais brutais. Não preciso dizer que os berros de “Nervosa, Nervosa...” ecoaram aos quatro cantos da casa.

Ao total foram 18 musicas executadas sendo “Jailbreak” o álbum priorizado e mostrando a nova força da Nervosa, faixas essas que ficaram ainda mais poderosas ao vivo. Mas sem esquecer o passado e suas demais fases, a Nervosa passeou por todo o seu legado agradando gregos e troianos.

Um show enérgico, brutal e rico em carisma. As meninas são a nova força do Thrash nacional e vão levando a bandeira brasileira mundo a fora, doa a quem doer.

Vale mencionar que após o show a Nervosa atendeu todos os seus fãs. Detalhe: a casa estava extremamente lotada e aí você já viu, para bater aquela foto e trocar aquela ideia, tinha que pegar fila (risos). Avante Nervosa! Aguardamos o seu retorno!



sábado, 29 de outubro de 2022

Nervosa: “A Nervosa é uma banda de Thrash!”

Entrevista por: Renato Sanson

Fotos: Uillian Vargas




É clichê eu sei, mas sabemos que manter uma banda no Brasil não é fácil ainda mais quando a formação já solidificada com os fãs muda drasticamente. Com a Nervosa esse cenário não foi diferente e Prika Amaral se viu em um momento de reformular e fazer nascer das cinzas uma nova Nervosa.

Mostrando muita resiliência e foco no objetivo, em 2021 a nova Nervosa de Prika nos brinda com “Perpetual Chaos”, mostrando sua força e sendo um dos melhores lançamentos daquele ano (o melhor para esse que vós escreves).


No dia 28/10 a Nervosa deu o ponta pé inicial a sua nova turnê nacional (como o show passou da meia noite, foi possível comemorar o aniversário da Prika também!) e Porto Alegre/RS foi agraciada com o primeiro e trazendo de novo à tona toda a resiliência da guitarrista, pois, a banda passou por mais um momento de trocas em sua formação, mas isso não é um problema para Prika!

Tivemos o privilégio de conversar com a guitarrista antes do show em POA e você confere esse incrível bate-papo nas linhas a seguir! Divirta-se e compartilhe! 


Então Prika, queria que você falasse do “Perpetual Chaos” e as mudanças que tiveram na Nervosa nesse meio tempo.

Bom, eu fui pega de surpresa no meio da pandemia e tive que remontar a banda! Sigo muitas meninas no Instagram sempre admiro todas as meninas na verdade que são musicistas, e aí quando aconteceu a separação fui no meu Instagram para fazer uma lista de meninas que mais se encaixavam na ideia da Nervosa, no que a Nervosa é em todos esses anos. 

Então cheguei nos nomes da Diva, Mia e Eleni. A Nanu estava no topo da minha lista junto com a Eleni, só que a Nanu morava na Argentina e como a banda já estava se formando na Europa eu acabei “descartando” ela por localização, porque ia ser impossível fazer uma banda com alguém que mora em outro continente tão longe e os custos seriam muito altos. 

Não ia funcionar a banda. Mas agora que a Eleni saiu por problemas de saúde a Nanu está se mudando para a Europa, a família dela já mora em Portugal é perfeito! Estou feliz (risos) porque a banda volta a ser um pouco mais latina, mais sul americana e gosto do resultado! Mas foi muito legal trabalhar com a Eleni, infelizmente ela não pode continuar por problemas de saúde mesmo.

Mas foi muito legal trabalhar com as meninas em “Perpetual Chaos” eu tive que estar mais à frente no disco, pois elas eram novas na banda e ainda estavam entendo como as coisas funcionavam e naquela vibe toda de pandemia eu tomei a frente e compus a maior parte das músicas, mas as meninas também participaram e no próximo vai ser mais equilibrado todas vão participar mais e já sabem também como funciona o processo.

Uma coisa que eu gostei em “Perpetual Chaos” é que ele é agressivo, soa mais simples que os lançamentos anteriores, mas mostra uma margem de crescimento muito grande. Tu ouve o álbum e pensa: já estão destruindo agora, imagina os próximos discos! Como foi todo esse processo tu lidando sozinha com tudo isso? Esse era o direcionamento mesmo?

Sim. Muito dos motivos da separação da Nervosa era realmente os gostos que estavam difíceis de combinar. Então assim, eu queria trazer uma Nervosa mais versátil, sabe, e Thrash Metal. A Nervosa é uma banda de Thrash! Eu gosto muito de Death Metal, mas não queria que a Nervosa se transformasse em uma banda de Death Metal. Não foi isso que a gente começou, soa até como uma resistência ali do projeto sabe (risos). 

Acho legal ter mais influências de Death Metal, mas não se tornar totalmente uma banda de Death. Porque eu particularmente não gosto que tudo soe muito igual, então assim, no “Perpetual Chaos” me senti numa liberdade muito grande de fazer aquilo que eu sempre quis dentro da Nervosa. 

Então a gente compôs algumas músicas que tem um pouco mais de Heavy Metal, outra um pouco mais Motörhead, outra totalmente Death Metal, mas a outra é totalmente Thrash, já outra mistura Thrash com Death... Essas variações! Ter variações dentro do disco é uma coisa que eu queira e acho que o resultado final ficou menos linear.

Vocês lançaram o álbum em meio a uma pandemia, que em minha opinião foi o melhor lançamento de 2021. Como foi lidar com isso?

Cara, eu acho que na verdade tudo isso só ajudou a gente. Eu não senti a pandemia no quesito de estar trancada em casa sem fazer nada, porque na verdade eu trabalhei muito durante esse período. Porque a separação da Nervosa aconteceu bem no começo pandêmico. 

Aconteceu a separação e eu já comecei a trabalhar em seguida, porque se eu demorasse muito tempo as pessoas iriam esquecer que a banda existe e perderia força. Já estava na hora também de lançarmos um material novo. Eu estava correndo contra o tempo e fazendo a distância e tudo pela internet, já que estava todo mundo parado em casa e com tempo. 

Então fomos usando todos os minutos disponíveis e colocamos todo o nosso foco nisso e foi uma experiência completamente diferente, porque em uma situação normal é totalmente o oposto, temos turnês, nossa rotina e dessa vez estávamos sem fazer nada, fazendo apenas isso e por isso também conseguimos terminar o álbum em tão pouco tempo, pois estava todo mundo focado nisso. 


"Muito legal poder voltar as origens, construir tudo de novo...ter a oportunidade de escrever a jornada da Nervosa do zero...como se fosse 'resetando' "

Então eu não senti muito a ociosidade da pandemia. Porque muita gente ficou depressiva, pois não se podia fazer nada. Claro que eu fiquei mal por tudo que estava acontecendo, uma situação horrível. Quem não ficou mal é psicopata e não tem sentimentos. 

Eu digo que não senti nada referente a ociosidade, a depressão por estar ocioso, por não poder encontrar as pessoas e na verdade a gente encontra todo mundo o tempo todo por estar na estrada... Acabou sendo um momento para descansar ao mesmo tempo e de trabalhar de uma outra forma. 

Foi bastante desafiador! Eu procurei não pensar muito em outras coisas e me focar no que eu tinha para fazer, era um desafio muito grande. Estávamos totalmente concentradas. Lançar o “Perpetual...” durante a pandemia também nos ajudou muito, porque estava todo mundo em casa e na internet. 

A divulgação foi muito boa, lançamos em janeiro, mês que as bandas não lançam muitas coisas tivemos uma atenção muito boa, a galera escutou, foi muito bem aceito e a banda cresceu muito por causa de tudo isso, desde a mudança de formação, da volta as raízes do começo da Nervosa e o “Perpetual Chaos” expressa muito bem essa volta. 

Claro que lá no começo tínhamos menos habilidades profissionais, mas fomos pegando mais experiência e faz parte da história e é muito legal poder voltar as origens, construir tudo de novo e ter a oportunidade de escrever a jornada da Nervosa do zero. Não digo do zero, você entendeu né, como se fosse resetando.

E essa pequena mudança de formação que ocorreu agora para dar continuidade a turnê? Como foram os ensaios? Porque foi muito em cima né. Como ficou essa questão de ensaiar todo um set novo com duas novas integrantes em cima da hora?

Na verdade, a gente não ensaiou porque não teve como ensaiar. São meninas muito profissionais e tocam muito bem! Elas treinaram muito na casa delas e a gente chegou a fazer um, dois ensaios no máximo. 

De resto não teve ensaio, foi cada uma fazendo a sua parte e chegamos e tocamos. O bom é que eu e a Diva já estávamos num ritmo. A Nanu antes dessa tour fez uma tour na Europa com a Nervosa, foi uma turnê curta de 10 shows, mas já foi uma experiência para ela se ajustar e chegar na América Latina 100% e ela é uma baterista incrível! Ela já chegou para fazer o primeiro show com a gente já sabendo tocar tudo perfeitamente. Tudo que a Eleni tocava ela tocava. 

A Eleni tem a técnica nos bumbos de girar os pés para deixá-los mais rápido e a Nanu também tem essa técnica, elas tocam o blast beats com facilidade e super bem. Ela tocou todos os detalhes que a Eleni tocava, porque a Eleni é muito criativa, coloca muitos detalhes, groove e não é só uma coisa reta.... A Nanu tem tudo isso também e gosta muito de música brasileira então ela já tem um groove no sangue dela. 


"A banda cresceu muito por causa de tudo isso, desde a mudança de formação, da volta às raízes."

Trocas são coisas que acontecem na vida, nada é para sempre. A gente se apoia muito! A Mia não pode vir por problemas familiares, a gente apoia ela e são coisas que acontecem e não tem o que fazer. A Eleni por exemplo tem um problema de saúde sério e ela realmente não pode acompanhar a Nervosa, porque a Nervosa é uma banda muito ativa fazemos em média 120, 130 shows por ano. 

Passamos mais da metade do ano tocando e as vezes emendamos turnês e se a pessoa tem algum problema de saúde não aguenta, a gente que está com a saúde em dia já é difícil. Então agora a Eleni está numa banda que tem menos atividades, ela é musicista e ama o que faz, então é uma banda que não sai em turnê o ano inteiro fazem no máximo uma turnê de duas semanas.

Já é completamente diferente, pois a Nervosa fez 33 shows na Europa e depois fizemos mais 23 shows nos EUA. Só aí foram 50, 60 shows em sequência. Ela quis sair, a gente apoia, desejamos sorte, continuamos em contato, mas é o que acontece não temos como obrigar alguém a ficar e são coisas que passam.

Para 2023 a Nervosa já está pensando em algum novo lançamento? O que vocês estão planejando com essa nova formação?

Sim, estamos trabalhando em um disco novo desde o ano passado, mas mais devagar já que não tivemos muito tempo, porque tocamos muito esse ano! Fizemos cinco turnês em 2022 contando com essa tour nacional. 

Então tivemos poucos espaços para compor, mas estamos com muitas ideias na estrada e já vamos anotando e se inspirando. 2023 podem esperar o novo álbum da Nervosa!

 

Links:

https://www.facebook.com/nervosa

https://www.instagram.com/nervosathrash/

https://www.youtube.com/channel/UCiw4u85PXdgzmJ27awOo5Tg

https://open.spotify.com/artist/5D9d9xyLNQu32QVD9t4YqH




sábado, 15 de maio de 2021

Entrevista - Diva Satanica (Nervosa): "Acredito que a Nova Nervosa Soa Mais Poderosa"

 


O comunicado da separação da NERVOSA em abril do ano passado, foi uma das notícias de maior impacto no meio Metal brasileiro, inclusive ganhando destaque no exterior, devido a tudo que o trio brasileiro  vinha conquistando, contrato com o selo europeu Napalm Records,  muitas tours, inclusive sendo escalada para grandes festivais.

Mas rapidamente quaisquer dúvidas sobre a continuidade da banda se dissiparam, e a fundadora Prika Amaral não tardou em avisar que a Nervosa prosseguiria, e poucos dias depois, início de maio, as novas integrantes foram anunciadas, e a banda agora seria um quarteto e com integrantes de diferentes países: Diva Satanica (vocais, Espanha), Mia Wallace (baixo, Itália) e Eleni Nota (bateria, Grécia).

Mesmo a distância e com as restrições da pandemia, o novo line-up iniciou a composição do novo álbum, "Perpetual Chaos", lançado agora em 2021 e que recebeu excelente aceitação. Para falar um pouco mais de todo esse processo, conversamos com a atual frontwoman da Nervosa, Diva Satanica (Rocío Vázquez), que também expressou toda sua empolgação com a banda, o novo álbum e a resposta positiva em geral. Confira!  (Versión en español AQUÍ)


RtM: Em primeiro lugar, gostaria de falar sobre a sua participação na edição espanhola do programa "The Voice". Suas performances foram muito brilhantes. As reações dos jurados eram muito positivas e claro, eram surpreendidos. Conte-nos sobre essa experiência, os pontos positivos e negativos e, por fim, como você se sentiu em relação às reações das pessoas? E se é possível acreditar que pode haver uma aceitação maior do Metal novamente em espaços mais mainstream?

Diva: Participar do programa foi uma experiência magnífica, aprendi muito e me livrei de muitos preconceitos em relação a outros estilos musicais. (Confira vídeo aqui)

Aqui na Espanha as pessoas são muito apaixonadas, e se não amam algo, odeiam, então recebi muito apoio, mas também alguns comentários negativos que curiosamente vieram de um ou outro metalhead que ficava indignado por, segundo eles, eu ter colocado o Metal no mesmo nível de gêneros musicais que eles despresavam, como o pop.

Nunca concordei com isso porque ouço todos os tipos de música, e acredito que o Metal nunca será capaz de ter a mesma consideração que os outros estilos se insistirmos em nos fecharmos.

RtM: E agora nessa estreia com a Nervosa, como você está sentindo a reação dos fãs e da imprensa em geral ao álbum "Perpetual Chaos"?

Diva: Estamos muito gratas e afortunadas pela incrível resposta da imprensa e dos fãs. É sempre difícil aceitar a perda de integrantes tão queridas por fãs como a Fernanda e Luana, mas felizmente essa mudança no line-up resultou em 2 bandas compostas por mulheres muito interessantes, então acho que todas saímos ganhando.


RtM: Quando foi anunciada uma nova formação do Nervosa, muitos pensaram que tudo aconteceu muito rápido, como aconteceram os primeiros contatos para você ingressar na banda? Teve algum contato antes do anúncio da saída da Fernanda e Luana?

Diva: Quando Fernanda e Luana decidiram sair da banda, Prika decidiu continuar com o projeto e para isso teve que fazer uma lista de algumas pessoas com quem gostaria de trabalhar, inclusive nós.

Ela nos enviou uma mensagem perguntando se gostaríamos de fazer um teste para a banda e não hesitamos. Nos sentimos muito afortunadas por poder nos encontrar na estrada e poder trabalhar juntas, elas são pessoas maravilhosas e muito talentosas.

RtM: Nervosa é uma banda brasileira que hoje conta com integrantes de diversas partes do mundo. Teve algum contato ou conheceu algum dos integrantes da formação atual?

Diva: Prika seguia Mia nas redes sociais graças a sua adição a Abbath e Triumph Of Death. Ela descobriu Eleni em uma página de bateristas tocando um cover do Slipknot e ficou fascinada, e ela me conheceu em 2019 na turnê de Nervosa pela Espanha, na qual minha banda Bloodhunter abriu para elas.


RtM: Algumas publicações chegam a citar essa nova formação como uma espécie de "supergrupo". Gostaria que você comentasse sobre isso e se esse nome, além da banda já ter um nome conhecido, coloca algum tipo de pressão extra nesse novo álbum.

Diva: Suponho que todas nós, ao enfrentarmos esta nova etapa com um legado tão importante quanto o da Nervosa, sentimos certa pressão por não querer decepcionar os antigos fãs.

Ficamos muito surpresas que além de nos devolverem um imenso amor e apoio, as portas foram abertas para novos fãs que reconhecem que, por causa da nova formação, aproveitaram para conferir o álbum e ficaram fascinados. Com isso nos motivamos a continuar trabalhando muito.


RtM: Em sua avaliação pessoal, quais são as principais contribuições que você deu ao Nervosa, e quais você destacaria como diferenças em relação à banda atual com a formação anterior?

Diva: Todos nós contribuímos com nossas influências pessoais que pouco tinham a ver com o Thrash, embora também seja um estilo que gostamos, mas por uma razão ou outra estivemos envolvidos em projetos que estão longe disso musicalmente falando.

Logicamente ao lidar com um registro vocal diferente, que é perceptível nas composições, acho que adicionamos um pouco de diversidade na abordagem vocal tentando lidar com tons graves e agudos e alguma outra textura nos refrãos, que graças a Martin Furia, nosso produtor, eu fui capaz de encontrar.

Acho que o novo Nervosa soa mais potente, mas sem abandonar uma certa melodia, o que nos fez abrir o leque para muitos públicos diferentes.


RtM: Das novas músicas, qual você está mais ansiosa para tocar ao vivo?

Diva: Qualquer uma delas porque será nossa primeira vez juntas e a primeira vez que essas músicas serão tocadas ao vivo. Acho que "Under Ruins" ou "Until The Very End" serão algumas das mais emocionantes por causa da mensagem de suas letras.


RtM: e as músicas dos álbuns anteriores? Quais são seus favoritos? Você mudará algumas coisas nas linhas vocais para imprimir sua marca nelas?

Diva: Vou fazer o meu melhor para não fazer grandes mudanças, pois são ótimas músicas e que os fãs da banda amam, e eu como fã também hehehe! Mas não posso deixar de fazer com que soem um pouco diferentes porque meu registro é diferente, o que também pode ser interessante para adicionar outras nuances. Sem dúvida, "Kill The Silence" ou "Into Moshpit" são algumas das minhas favoritas.


RtM: Eu li algumas declarações de Prika de que quando você veio ao estúdio, as próprias ideias estavam praticamente prontas, o desafio em questão era apenas gravar. Como foi participar desse processo um tanto acelerado?

Diva: Não, todos nós participamos do processo de composição do álbum. Havia dias em que Prika nos mandava um riff e pedia a cada uma de nós para adicionar sua parte, ou apenas pensava em um conceito e nos pedia para trabalhar nele.

Havia também alguma música ou alguma letra que a Prika já compunha há muito tempo, de projetos anteriores, mas foi um trabalho conjunto com o nosso produtor Martín Furia, que tem feito um trabalho magnífico.

Sem dúvida foi um desafio poder trabalhar à distância e também com pessoas que você não conhecia, mas todas têm uma ótima atitude e uma mente muito aberta, o que tornou o processo muito mais fácil. Quando chegamos ao estúdio, tínhamos a pré-produção das faixas prontas, mas fizemos algumas mudanças em tempo real.


RtM: O documentário editado pela Napalm Records mostrando as gravações do novo álbum em Málaga, na Espanha, gerou uma grande expectativa do que os fãs poderiam esperar e, claro, uma relação mais próxima com o público, ainda mais em uma situação de caos extremo em que vivemos atualmente. Conte-nos um pouco mais sobre esses dias de estúdio e as gravações do documentário de apresentação “Perpetual Chaos”.

Diva: Achamos que seria uma boa ideia fazer um documentário sobre todo o processo para que as pessoas pudessem nos conhecer um pouco mais e testemunhar o que estava acontecendo naquele momento tão especial para a banda. Acho que também deu um halo de esperança às pessoas em meio a uma situação horrível com a qual poucas bandas conseguiram trabalhar devido a restrições.

 

RtM: Conte-nos um pouco sobre como você começou na música, suas principais inspirações como vocalista e como você estava moldando seu estilo, decidindo que esse estilo mais extremo era o que você queria seguir.

Diva: Sempre fui uma amante da música, mas quando tentei aprender a tocar violão ou cantar melódico, não me senti confortável o suficiente para continuar tentando. A primeira vez que ouvi metal extremo fiquei com medo hahaha. Mas então me aconteceu a mesma coisa que acontece com os filmes de terror, eu queria descobrir um pouco mais e então percebi que talvez esse pudesse ser o meu lugar na música.

Levei muitos anos para aprender porque não consegui encontrar nenhum professor ou músico que pudesse me ajudar, mas com muito sacrifício e perseverança finalmente consegui avançar. Se não fosse pelo Dani (guitarrista da minha outra banda, Bloodhunter), que me incentivou a escrever as letras do seu projeto e tentar aprender a cantar, eu não estaria aqui hoje. Naquela época, Sabina Classen foi a primeira mulher que pude ver em vídeo e talvez Angela Gossow (naquela época no Arch Enemy), a primeira que pude ver ao vivo.

RtM: Recentemente, houve uma ação muito interessante de artistas italianos em uma comunidade ao vivo onde eles subiram ao palco no dia em que terminou um ano de pandemia. Mas para surpresa de todos, não houve "show", mas silêncio, representando o que todos nós sentimos ao redor do mundo. 

Fernando Ribeiro do Moonspell expressou sua solidariedade às bandas que fizeram parte desta ação, e trouxe uma reflexão muito interessante, apoiando o manifesto: que não é possível fazer um show sem uma equipe técnica e um palco. Muitos fãs criticaram fervorosamente tal atitude. Na sua opinião, como você vê esse tipo de expressão artística, principalmente na atual conjuntura em que vive o mundo?

Diva: Fernando é um artista que sempre admirei muito como músico e como pessoa. A música, como a arte em geral, vive tempos muito difíceis devido à falta de apoios e alternativas por parte dos governos de alguns países.

É terrível ver quantas bandas deixaram a indústria e quantos profissionais do setor estão se formando em áreas que nada têm a ver com música porque é impossível para eles sobreviverem nessas condições. Está provado que podemos realizar eventos com segurança, então por que os governos não apoiam a cultura?


RtM: Já temos alguns países que já estão planejando o retorno dos eventos com público, quais são as suas expectativas em relação a esse retorno? Ainda é muito cedo? Devemos esperar mais?

Diva: A Espanha, por exemplo, é a imagem cuspida da contradição: enquanto em algumas regiões nem sequer permitem a abertura de estabelecimentos hoteleiros, noutras como Madrid organizam-se quase desde o início da pandemia, pequenos concertos em locais com capacidade reduzida.

Pode não ser o mais lucrativo, mas permitiu que muitas salas de concerto e artistas continuassem trabalhando. Acredito que com as medidas necessárias e capacidade ao ar livre (mesmo com o público sentado, distância social e máscara), grandes coisas podem ser feitas.


RtM: Obrigado pela entrevista. Esperamos ver a banda no palco em breve!

Diva: Muito obrigada pelo interesse e por nos ceder seu espaço. Estamos ansiosas para conhecer todos vocês e desfrutar deste álbum ao vivo. Cuidem-se bem, um grande abraço!


Entrevista por: Renato Sanson e Carlos Garcia

Edição e tradução: Carlos Garcia


Nervosa site oficial