terça-feira, 6 de agosto de 2024

Cobertura de Show: Dogma – 23/07/2024 – Casa Aurea/SP

Dogma faz show extra em São Paulo e surpreende público com apresentação de álbum de estreia, sons novos e performances diferenciadas

Apresentação na Casa Áurea contou com a abertura dos paulistanos do The Heathen Scÿthe; banda feminina também fez tributo a grandes bandas do Metal internacional

A misteriosa banda de Heavy Metal e Hard Rock Dogma fez uma apresentação como atração principal na Casa Áurea, no bairro da Bela Vista, Centro de São Paulo, no último dia 23 de julho. A banda de abertura foi a The Heathen Scÿthe e a organização do evento foi da OKF Produções junto à IDL Entertainment.

O quarteto, que se apresenta ao vivo como quinteto – uma guitarrista adicional – e que foi uma das atrações da edição de 2024 do Odin’s Krieger Fest, realizado dois dias antes, apresentou todas as faixas de seu álbum de estreia, “Dogma” (2023), além de possíveis faixas inéditas e um tributo às bandas Iron Maiden, Metallica, Megadeth, Slayer e Lamb of God. Fora a parte musical, o show da Dogma contou com um momento de dança em meio à apresentação. Todo o teor misterioso das integrantes teve como consequência as poucas interações com o público, assim como a falta de discursos que foi recompensada em um show enérgico e de alta qualidade sonora.

Já o The Heathen Scÿthe, na abertura, trouxe sua temática pautada no paganismo sobre diversas culturas e localidades tanto nas letras, quanto no visual. Tão bem produzidos quanto às freiras do Dogma, em termos de maquiagem e vestimentas, os paulistanos trouxeram uma variação de subgêneros do Heavy Metal em suas faixas e combinaram com o visual assustador e, ao mesmo tempo, impressionante.

A Casa Áurea não teve lotação total, ocupando metade do palco e o mezanino. No entanto, os que compareceram, seja por não terem ido ao Odin’s Krieger Fest, seja por terem ido e quererem ver tanto a abertura, quanto a segunda apresentação da Dogma, vieram curiosos com possíveis novidades e, também, ficaram totalmente vidrados nas duas apresentações.

 

The The Heathen Scÿthe

Nada mais obscuro do que ver uma cabeça de bode contida em um círculo com espécie de pentagrama. Essa foi justamente a decoração presente no microfone central do equipamento da banda paulistana The Heathen Scÿthe. É claro que mais surpresas viriam no show de abertura, mas a espera pelo início do evento teve esta figura como centro das atenções daqueles que se posicionaram próximos ao palco, desde a chegada. Os demais suportes de microfone tinham pequenos e “magros” galhos e pedaços de correntes em volta, aprimorando assim a decoração do palco.

O grupo é formado por Tato de Luca, o Da’at (vocal), Marcus Dotta, o Malkhuth (bateria), Fernando Giovannetti, o Yesod (baixo), Flavio Sallin, o Hokhmah (teclado), Bruno Luiz, o Netzah (guitarra) e Paulo Roveri, o Hesed (guitarra) e tem faixas com variações de subgêneros do Heavy Metal e temáticas ocultistas.

A entrada da banda começou às 20h. Dos membros, Tato foi o último a entrar e apresentou um traje mais elaborado, com lentes que simulavam olhos sem pupila, um capacete com chifres grandes, jaqueta rasgada e uma espécie de foice, em uma verdadeira representação para Da’at. Os demais membros tinham jaquetas de couro e maquiagens menos elaboradas, porém agregadoras para todo o ambiente formado ao show.

The Heathen Scÿthe começou a abertura da noite com a instrumental “The Offering”, dando o cartão de boas-vindas da musicalidade da banda. “Into the Fire”, primeiro single da banda (lançado em 2023) e faixa presente no EP de mesmo nome da banda, de 2024, veio logo na sequência, com ótimos riffs e o potencial vocal de Tato de Luca.

As decorações do tripé do frontman da banda ameaçaram de cair em “The Magus”, mas um dos roadies da banda fez questão de ajustar durante a faixa, de modo a manter a boa estética do palco. A música veio com todo o peso e mostrou a desenvoltura de Flavio Sallin (Hokhmah) com seus equipamentos, tanto o fixo, quanto o móvel – este em formato de espada. Sentado, o tecladista conseguiu transitar bem com os instrumentos, tendo o móvel no colo e, ainda assim, conseguindo bater cabeça quando preciso.

A apresentação seguiu com as poderosas “Welcome (To the Dead)”, cujo público acompanhou os gritos de “Welcome” e ovacionou o gesto aparentemente ocultista de Tato, e a sequência com “Carmini Pagani” e “S.O.L.O.M.O.N.”, com headbangings sincronizados da banda e uma mistura de canto com performance por parte de Tato, o Da’at, que bateu sua foice ao chão no ritmo da faixa.

Após um breve discurso do frontman do Heathen Scÿthe, que indicou que as duas faixas anteriormente citadas terão clipes futuramente, o grupo retomou à música com “Siras, Etar, Besanar”, descrita como uma faixa “para invocar anjos e demônios para si” e que contou com ótimos solos de guitarra. E após “Acolytes of Heka” e “Heathen Scÿthe”, música descrita por Tato como “aquela que cita o nome da banda 19 vezes”, a banda terminou sua grande apresentação com “Runes & Blood”, faixa que tem um pequeno trecho narrado e que foi muito bem conduzida pelos músicos. O solo de bateria de Marcus Dotta e o levantamento da foice de Tato foram o gran finale.

Outro grande exemplo de como aproveitar os pequenos espaços do local veio por parte da equipe da banda, que rapidamente desmontou os kits e usou um dos cantos que davam acesso ao palco e ao backstage como forma de organizar tudo. A ajuda de parte dos presentes para liberar as passagens fez a diferença e facilitou para dar espaço à equipe da apresentação seguinte.

 

Dogma

Muito mistério pairou sobre o palco da Casa Áurea, após o fim do show do Heathen Scÿthe. Não se sabia se haveria alguma novidade, em comparação com a apresentação do Odin’s Krieger Fest.

No entanto, perto do início da apresentação, a única decoração presente foi inserida. Era uma espécie de wind flag, com uma imagem controversa e de cunho sexual, em uma das laterais.

O início da apresentação foi em volta das 21h22. Dez minutos antes, as caixas de som tocaram um trecho musical semelhante a uma Bossa Nova e, depois, um remix de pop com sinfonia. A última, que introduziu de fato a apresentação, veio com uma versão de “Ameno”, do grupo Era, seguida de “Lux Aeterna”. As cinco integrantes, cujos nomes verdadeiros nunca foram revelados, entraram no palco dando a volta de uma entrada do backstage até a escadaria de acesso. Abrahel (baixo), Lamia (guitarra), Rusalka (guitarra, sendo membro das apresentações ao vivo), Nixe (baixo) e Lilith (vocais), ovacionadas pelo público presente, estavam com seus trajes temáticos: vestidas de feira, maquiagem branca com detalhes em preto e colares personalizados, com o símbolo feminino e chifres no topo circular. Elas logo se posicionaram para cantar “Forbidden Zone”, faixa de abertura do álbum homônimo da banda, “Dogma”, lançado em 2023 e a primeira de um setlist com 15 faixas, duas a mais que na apresentação feita no Carioca Club, dois dias antes.

A voz de Lilith foi o primeiro grande destaque na primeira faixa e, também, o indicador de que ela, assim como a banda, não estava com vergonha, e sim contida para não atrapalhar as parceiras no curto espaço do palco.

“Feel the Zeal” deu sequência à apresentação. As palmas ritmadas do público, no início, deram mais suporte para que as integrantes se soltassem mais no palco, com a mesma segurança de respeito ao espaço alheio. A performance musical, claro, gerou mais reações positivas dos fãs. Já “Be Free”, faixa que não compõe o álbum de estreia delas, trouxe um início a capella que reforçou o potencial vocal de Lilith, assim como o solo de guitarra complementou e muito a faixa, durante a parte com instrumental.

Em “My First Peak”, iniciada por sussurros de suspense, o público, também mais à vontade e com conhecimento da faixa, cantou junto o começo e os refrões. Um bom complemento performático foi o balançar de cabeças das meninas após outro bom solo de guitarra executado por uma das guitarristas.

As integrantes da banda cedem espaço para uma performance de dança. Isso acontece logo após a quarta faixa e antecedida de uma introdução com “O Fortuna”, poema dos manuscritos de “Carmina Burana” que ficou famoso graças à cantata composta por Carl Orff (1895-1982) e que foi tocada na Casa Áurea. Após esta parte musical gravada, uma sexta moça, também vestida a caráter da banda e sob outra música clássica ao fundo, performou uma dança repleta de momentos de contorcionismo e que, infelizmente, não pôde ser totalmente vista por quem estava mais ao fundo, uma vez que o palco era mais baixo do que a altura da maioria dos espectadores que estavam nas duas ou três primeiras fileiras frontais.

O show da banda Dogma prosseguiu com “Made Her Mine”, respeitando a sequência do álbum de estúdio – sem contar as faixas que não o compõe -. A sonoridade, mais Power Metal, trouxe uma nova energia ao show. Lilith seguiu impecável em sua voz, assim como a banda esteve perfeita no ritmo. A velocidade proposta se manteve com “Banned”, segunda música do setlist que não integra o LP do quinteto.

Abrahel teve seu momento de maior destaque na noite, ao executar um solo de bateria que levou o público a mais ovações e aplausos durante e depois das linhas tocadas. A finalização logo emendou para o início de “Carnal Liberation”, logo acompanhada das instrumentistas de corda e do vocal de Lilith. Uma tiara “solar” prateada apareceu na cabeça de uma das guitarristas - justamente a que executou um ótimo solo – e complementou seu traje.

“Free Yourself” deu sequência à apresentação. As iluminações a laser, que vieram do teto e seguiram em outras das músicas seguintes, foram a novidade do show neste momento, sendo algo com tom psicodélico, mas que atrapalhou muitas pessoas que, mais ao fundo da pista, tentavam gravar trechos da apresentação. Musicalmente, não houve somente o misto de Heavy Metal com Hard Rock, como um momento de Jazz sutil, que quebrou o ritmo momentaneamente, mas não a energia da faixa.

Já em “Bare to the Bones”, Lilith manteve sua qualidade vocal em alta, assim como as guitarristas dividiram a execução de um ótimo solo em meio a um momento mais Heavy Metal da música em questão. Os pedidos de gritos de “hey” ao público, por parte de uma das guitarristas – e em uma das raras interações com o público -, foram essenciais na transição para “Make Us Proud”, faixa mais lenta e que contou com a aparição de um ser encapuzado que, com uma das mãos na cabeça de Lilith – como se fizesse uma espécie de oração ou bênção -, cantou os trechos de refrão que, na versão de estúdio da música, são de um dos membros da banda de Black Metal grega The Dark Messiah.

A décima segunda faixa do show da Dogma, naquela noite, foi um verdadeiro medley com cinco covers instrumentais de riffs e partes iniciais de grandes clássicos do Metal. Na sequência, as quatro instrumentistas tocaram – muito, muito bem - “Walk”, do Pantera, “The Trooper”, do Iron Maiden, “Master of Puppets”, do Metallica, “Symphony of Destruction”, do Megadeth, “South of Heaven”, do Slayer, e “Laid to Rest”, do Lamb of God. Cada faixa levou uma parcela do público, repetidamente ou não, ao delírio e a cantar pequenas partes, principalmente nos refrões.  Lilith aproveitou para dançar ao fundo do palco, de frente para a baterista.

“Pleasure From Pain” foi a faixa que deu os ares de reta final à apresentação. O público voltou a dar gritos de “hey” no ritmo da faixa, assim como houve coreografia entre as integrantes. Lilith, com outra tiara “solar” de cor dourada, mostrou mais das variações de notas mais estridentes e agudas de sua voz durante toda a faixa.

A frontman da Dogma, após o término da faixa, se animou a ponto de ecoar uma simples frase que, pela ausência de diálogo verbal com o público, valeu como um discurso: “It’s Crazy, São Paulo sinners!” – “Isso é uma loucura, pecadores de São Paulo!”, em tradução livre.

Logo na sequência, o riff de “Father I Have Sinned” é ecoado. A faixa é uma das mais populares da banda e do álbum de estreia e, consequentemente, animou ainda mais a plateia que já estava a toda a concentração possível com o show. E a performance é espetacular: riffs pesados, refrão liricamente cativante, letra interessante, solo de guitarra de alta qualidade e uma finalização absurda de Lilith com guturais que, na apresentação, foram inéditos e aclamados pelo público.

A música “The Dark Messiah”, assim como no álbum, fechou a apresentação em grande estilo, com uma mistura de notas do peso de Heavy Metal e um background sinfônico.

Todas as integrantes da Dogma, em fila, desceram do palco e deram a volta nele para o acesso ao backstage e camarim, ao som de “Tubular Bells”, música que faz parte da soundtrack do filme “O Exorcista” (1973). O mistério quanto a cada identidade seguiu do mesmo jeitinho, mas a impressão positiva do público, seja da parcela dos que viram a banda pela primeira vez ou de quem as viu por mais uma vez, após o Odin’s Krieger Fest, foi praticamente unânime dentro da Casa Áurea. Positiva o suficiente para que muitos até mesmo esperassem a saída definitiva das integrantes para uma foto, autógrafo ou até uma tentativa de diálogo. Noite memorável para uma banda mais que promissora.


Texto: Tiago Pereira

Fotos: Edu Lawless

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: OKF Produções / IDL Entertainment 

Mídia Press: Tedesco Comunicação & Mídia

 

The Heathen Scÿthe

The Offering

Into the Fire

The Magus

Welcome (To the Dead)

Carmina Pagani

S.O.L.O.M.O.N.

Siras, Etar, Besanar

Acolytes of Heka

The Heathen Scÿthe

Runes & Blood

 

Dogma:

Forbidden Zone

Feel the Zeal

Be Free

My First Peak

Intro: O Fortuna (cantata de Carl Orff). Na sequência, uma performance de dança

Made Her Mine

Banned

Drum Solo

Carnal Liberation

Free Yourself

Bare to the Bones

Make Us Proud

The Tribute: Pantera – Walk, Iron Maiden – The Trooper, Metallica – Master of Puppets, Megadeth – Symphony of Destruction, Slayer – South of Heaven, Lamb of God – Laid to Rest

Pleasure From Pain

Father I Have Sinned

The Dark Messiah

Encerramento: Tubular Bells (música presente na soundtrack do filme “O Exorcista”, composta por Mike Oldfield)

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