Dogma faz show extra em São Paulo e surpreende público com apresentação de álbum de estreia, sons novos e performances diferenciadas
Apresentação na Casa Áurea contou com a abertura dos paulistanos do The Heathen Scÿthe; banda feminina também fez tributo a grandes bandas do Metal internacional
A misteriosa
banda de Heavy Metal e Hard Rock Dogma fez uma apresentação como
atração principal na Casa Áurea, no bairro da Bela Vista, Centro de São Paulo,
no último dia 23 de julho. A banda de abertura foi a The Heathen Scÿthe e a
organização do evento foi da OKF Produções junto à IDL Entertainment.
O quarteto, que
se apresenta ao vivo como quinteto – uma guitarrista adicional – e que foi uma
das atrações da edição de 2024 do Odin’s Krieger Fest, realizado dois dias
antes, apresentou todas as faixas de seu álbum de estreia, “Dogma” (2023), além
de possíveis faixas inéditas e um tributo às bandas Iron Maiden, Metallica,
Megadeth, Slayer e Lamb of God. Fora a parte musical, o show da Dogma contou
com um momento de dança em meio à apresentação. Todo o teor misterioso das
integrantes teve como consequência as poucas interações com o público, assim
como a falta de discursos que foi recompensada em um show enérgico e de alta
qualidade sonora.
Já o The
Heathen Scÿthe, na abertura, trouxe sua temática pautada no paganismo sobre
diversas culturas e localidades tanto nas letras, quanto no visual. Tão bem
produzidos quanto às freiras do Dogma, em termos de maquiagem e vestimentas, os
paulistanos trouxeram uma variação de subgêneros do Heavy Metal em suas
faixas e combinaram com o visual assustador e, ao mesmo tempo, impressionante.
A Casa Áurea
não teve lotação total, ocupando metade do palco e o mezanino. No entanto, os
que compareceram, seja por não terem ido ao Odin’s Krieger Fest, seja por terem
ido e quererem ver tanto a abertura, quanto a segunda apresentação da Dogma,
vieram curiosos com possíveis novidades e, também, ficaram totalmente vidrados
nas duas apresentações.
The The
Heathen Scÿthe
Nada mais
obscuro do que ver uma cabeça de bode contida em um círculo com espécie de
pentagrama. Essa foi justamente a decoração presente no microfone central do
equipamento da banda paulistana The Heathen Scÿthe. É claro que mais surpresas
viriam no show de abertura, mas a espera pelo início do evento teve esta figura
como centro das atenções daqueles que se posicionaram próximos ao palco, desde
a chegada. Os demais suportes de microfone tinham pequenos e “magros” galhos e
pedaços de correntes em volta, aprimorando assim a decoração do palco.
O grupo é
formado por Tato de Luca, o Da’at (vocal), Marcus Dotta, o Malkhuth (bateria),
Fernando Giovannetti, o Yesod (baixo), Flavio Sallin, o Hokhmah (teclado),
Bruno Luiz, o Netzah (guitarra) e Paulo Roveri, o Hesed (guitarra)
e tem faixas com variações de subgêneros do Heavy Metal e temáticas ocultistas.
A entrada da
banda começou às 20h. Dos membros, Tato foi o último a entrar e apresentou um
traje mais elaborado, com lentes que simulavam olhos sem pupila, um capacete
com chifres grandes, jaqueta rasgada e uma espécie de foice, em uma verdadeira
representação para Da’at. Os demais membros tinham jaquetas de couro e
maquiagens menos elaboradas, porém agregadoras para todo o ambiente formado ao
show.
The Heathen
Scÿthe começou a abertura da noite com a instrumental “The Offering”, dando o
cartão de boas-vindas da musicalidade da banda. “Into the Fire”, primeiro
single da banda (lançado em 2023) e faixa presente no EP de mesmo nome da
banda, de 2024, veio logo na sequência, com ótimos riffs e o potencial vocal de
Tato de Luca.
As decorações
do tripé do frontman da banda ameaçaram de cair em “The Magus”, mas um dos
roadies da banda fez questão de ajustar durante a faixa, de modo a manter a boa
estética do palco. A música veio com todo o peso e mostrou a desenvoltura de
Flavio Sallin (Hokhmah) com seus equipamentos, tanto o fixo, quanto o
móvel – este em formato de espada. Sentado, o tecladista conseguiu transitar
bem com os instrumentos, tendo o móvel no colo e, ainda assim, conseguindo
bater cabeça quando preciso.
A apresentação
seguiu com as poderosas “Welcome (To the Dead)”, cujo público acompanhou os
gritos de “Welcome” e ovacionou o gesto aparentemente ocultista de Tato,
e a sequência com “Carmini Pagani” e “S.O.L.O.M.O.N.”, com headbangings sincronizados
da banda e uma mistura de canto com performance por parte de Tato, o Da’at,
que bateu sua foice ao chão no ritmo da faixa.
Após um breve
discurso do frontman do Heathen Scÿthe, que indicou que as duas faixas
anteriormente citadas terão clipes futuramente, o grupo retomou à música com “Siras,
Etar, Besanar”, descrita como uma faixa “para invocar anjos e demônios para
si” e que contou com ótimos solos de guitarra. E após “Acolytes of Heka” e
“Heathen Scÿthe”, música descrita por Tato como “aquela que cita o nome da
banda 19 vezes”, a banda terminou sua grande apresentação com “Runes &
Blood”, faixa que tem um pequeno trecho narrado e que foi muito bem conduzida
pelos músicos. O solo de bateria de Marcus Dotta e o levantamento da foice de
Tato foram o gran finale.
Outro grande
exemplo de como aproveitar os pequenos espaços do local veio por parte da
equipe da banda, que rapidamente desmontou os kits e usou um dos cantos que
davam acesso ao palco e ao backstage como forma de organizar tudo. A ajuda de parte
dos presentes para liberar as passagens fez a diferença e facilitou para dar
espaço à equipe da apresentação seguinte.
Dogma
Muito mistério
pairou sobre o palco da Casa Áurea, após o fim do show do Heathen Scÿthe. Não
se sabia se haveria alguma novidade, em comparação com a apresentação do Odin’s
Krieger Fest.
No entanto, perto
do início da apresentação, a única decoração presente foi inserida. Era uma
espécie de wind flag, com uma imagem controversa e de cunho sexual, em
uma das laterais.
O início da
apresentação foi em volta das 21h22. Dez minutos antes, as caixas de som
tocaram um trecho musical semelhante a uma Bossa Nova e, depois, um remix de
pop com sinfonia. A última, que introduziu de fato a apresentação, veio com uma
versão de “Ameno”, do grupo Era, seguida de “Lux Aeterna”. As cinco
integrantes, cujos nomes verdadeiros nunca foram revelados, entraram no palco
dando a volta de uma entrada do backstage até a escadaria de acesso. Abrahel
(baixo), Lamia (guitarra), Rusalka (guitarra, sendo membro das apresentações ao
vivo), Nixe (baixo) e Lilith (vocais), ovacionadas pelo público presente,
estavam com seus trajes temáticos: vestidas de feira, maquiagem branca com
detalhes em preto e colares personalizados, com o símbolo feminino e chifres no
topo circular. Elas logo se posicionaram para cantar “Forbidden Zone”, faixa de
abertura do álbum homônimo da banda, “Dogma”, lançado em 2023 e a primeira de
um setlist com 15 faixas, duas a mais que na apresentação feita no Carioca
Club, dois dias antes.
A voz de Lilith
foi o primeiro grande destaque na primeira faixa e, também, o indicador de que
ela, assim como a banda, não estava com vergonha, e sim contida para não
atrapalhar as parceiras no curto espaço do palco.
“Feel the Zeal”
deu sequência à apresentação. As palmas ritmadas do público, no início, deram
mais suporte para que as integrantes se soltassem mais no palco, com a mesma
segurança de respeito ao espaço alheio. A performance musical, claro, gerou
mais reações positivas dos fãs. Já “Be Free”, faixa que não compõe o álbum de
estreia delas, trouxe um início a capella que reforçou o potencial vocal
de Lilith, assim como o solo de guitarra complementou e muito a faixa, durante
a parte com instrumental.
Em “My First
Peak”, iniciada por sussurros de suspense, o público, também mais à vontade e
com conhecimento da faixa, cantou junto o começo e os refrões. Um bom
complemento performático foi o balançar de cabeças das meninas após outro bom
solo de guitarra executado por uma das guitarristas.
As integrantes da
banda cedem espaço para uma performance de dança. Isso acontece logo após a
quarta faixa e antecedida de uma introdução com “O Fortuna”, poema dos
manuscritos de “Carmina Burana” que ficou famoso graças à cantata composta por
Carl Orff (1895-1982) e que foi tocada na Casa Áurea. Após esta parte musical
gravada, uma sexta moça, também vestida a caráter da banda e sob outra música
clássica ao fundo, performou uma dança repleta de momentos de contorcionismo e
que, infelizmente, não pôde ser totalmente vista por quem estava mais ao fundo,
uma vez que o palco era mais baixo do que a altura da maioria dos espectadores
que estavam nas duas ou três primeiras fileiras frontais.
O show da banda
Dogma prosseguiu com “Made Her Mine”, respeitando a sequência do álbum de
estúdio – sem contar as faixas que não o compõe -. A sonoridade, mais Power
Metal, trouxe uma nova energia ao show. Lilith seguiu impecável em sua voz,
assim como a banda esteve perfeita no ritmo. A velocidade proposta se manteve
com “Banned”, segunda música do setlist que não integra o LP do quinteto.
Abrahel teve
seu momento de maior destaque na noite, ao executar um solo de bateria que
levou o público a mais ovações e aplausos durante e depois das linhas tocadas.
A finalização logo emendou para o início de “Carnal Liberation”, logo
acompanhada das instrumentistas de corda e do vocal de Lilith. Uma tiara “solar”
prateada apareceu na cabeça de uma das guitarristas - justamente a que executou
um ótimo solo – e complementou seu traje.
“Free Yourself” deu sequência à apresentação. As iluminações a laser, que vieram do teto e seguiram em outras das músicas seguintes, foram a novidade do show neste momento, sendo algo com tom psicodélico, mas que atrapalhou muitas pessoas que, mais ao fundo da pista, tentavam gravar trechos da apresentação. Musicalmente, não houve somente o misto de Heavy Metal com Hard Rock, como um momento de Jazz sutil, que quebrou o ritmo momentaneamente, mas não a energia da faixa.
Já em “Bare to
the Bones”, Lilith manteve sua qualidade vocal em alta, assim como as
guitarristas dividiram a execução de um ótimo solo em meio a um momento mais Heavy
Metal da música em questão. Os pedidos de gritos de “hey” ao
público, por parte de uma das guitarristas – e em uma das raras interações com
o público -, foram essenciais na transição para “Make Us Proud”, faixa mais
lenta e que contou com a aparição de um ser encapuzado que, com uma das mãos na
cabeça de Lilith – como se fizesse uma espécie de oração ou bênção -, cantou os
trechos de refrão que, na versão de estúdio da música, são de um dos membros da
banda de Black Metal grega The Dark Messiah.
A décima
segunda faixa do show da Dogma, naquela noite, foi um verdadeiro medley
com cinco covers instrumentais de riffs e partes iniciais de grandes clássicos
do Metal. Na sequência, as quatro instrumentistas tocaram – muito, muito bem -
“Walk”, do Pantera, “The Trooper”, do Iron Maiden, “Master of Puppets”, do
Metallica, “Symphony of Destruction”, do Megadeth, “South of Heaven”, do
Slayer, e “Laid to Rest”, do Lamb of God. Cada faixa levou uma parcela do
público, repetidamente ou não, ao delírio e a cantar pequenas partes,
principalmente nos refrões. Lilith
aproveitou para dançar ao fundo do palco, de frente para a baterista.
“Pleasure From
Pain” foi a faixa que deu os ares de reta final à apresentação. O público voltou
a dar gritos de “hey” no ritmo da faixa, assim como houve coreografia
entre as integrantes. Lilith, com outra tiara “solar” de cor dourada, mostrou
mais das variações de notas mais estridentes e agudas de sua voz durante toda a
faixa.
A frontman da
Dogma, após o término da faixa, se animou a ponto de ecoar uma simples frase
que, pela ausência de diálogo verbal com o público, valeu como um discurso: “It’s
Crazy, São Paulo sinners!” – “Isso é uma loucura, pecadores de São
Paulo!”, em tradução livre.
Logo na sequência, o riff de “Father I Have Sinned” é ecoado. A faixa é uma das mais populares da banda e do álbum de estreia e, consequentemente, animou ainda mais a plateia que já estava a toda a concentração possível com o show. E a performance é espetacular: riffs pesados, refrão liricamente cativante, letra interessante, solo de guitarra de alta qualidade e uma finalização absurda de Lilith com guturais que, na apresentação, foram inéditos e aclamados pelo público.
A música “The
Dark Messiah”, assim como no álbum, fechou a apresentação em grande estilo, com
uma mistura de notas do peso de Heavy Metal e um background
sinfônico.
Todas as
integrantes da Dogma, em fila, desceram do palco e deram a volta nele para o
acesso ao backstage e camarim, ao som de “Tubular Bells”, música que faz parte
da soundtrack do filme “O Exorcista” (1973). O mistério quanto a cada
identidade seguiu do mesmo jeitinho, mas a impressão positiva do público, seja
da parcela dos que viram a banda pela primeira vez ou de quem as viu por mais
uma vez, após o Odin’s Krieger Fest, foi praticamente unânime dentro da Casa
Áurea. Positiva o suficiente para que muitos até mesmo esperassem a saída
definitiva das integrantes para uma foto, autógrafo ou até uma tentativa de
diálogo. Noite memorável para uma banda mais que promissora.
Texto: Tiago Pereira
Fotos: Edu Lawless
Edição/Revisão: Gabriel Arruda
Realização: OKF Produções / IDL Entertainment
Mídia Press: Tedesco Comunicação & Mídia
The Heathen Scÿthe
The Offering
Into the Fire
The Magus
Welcome (To the
Dead)
Carmina Pagani
S.O.L.O.M.O.N.
Siras, Etar,
Besanar
Acolytes of
Heka
The Heathen
Scÿthe
Runes &
Blood
Dogma:
Forbidden Zone
Feel the Zeal
Be Free
My First Peak
Intro: O Fortuna (cantata de Carl Orff). Na sequência, uma performance de dança
Made Her Mine
Banned
Drum Solo
Carnal Liberation
Free Yourself
Bare to the Bones
Make Us Proud
The Tribute: Pantera – Walk, Iron Maiden – The Trooper, Metallica – Master of Puppets, Megadeth – Symphony of Destruction, Slayer – South of Heaven, Lamb of God – Laid to Rest
Pleasure From Pain
Father I Have Sinned
The Dark Messiah
Encerramento: Tubular Bells (música presente na soundtrack do filme “O Exorcista”, composta por Mike Oldfield)
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