terça-feira, 20 de março de 2012

Misfits: Exorcizando O Passado E Seguindo Em Frente

O Misfits se apresenta em Porto Alegre/RS ao lado dos Thrashers do Anthrax no dia 25/04. Realização: Opus Promoções & Top Link Produtora. Para compra de ingressos acesse OPUS PROMOÇÕES.

O último álbum desse grupo americano era de 1999, o multi elogiado “Famous Monster”, que marcava a saída do carismático Michal Graves. De lá pra cá muitas coletâneas, covers, mas nada novo, então é com muita apreensão e até mesmo curiosidade que os fãs recebem esse novo trabalho, afinal de contas como será esse Misfits do novo milênio, que conta apenas com Jerry Only (Baixo e Vocal) da formação original, sendo que ao seu lado se apresentam Dez Cadena (Guitarras) e Eric Chupacabra Arce (Bateria)?

Sanando curiosidades, final de 2011 é lançado “The Devil’s Rains”, e o que podemos dizer desse trabalho é que ele mantém as raízes e ao mesmo tempo procura inovações, mostrando que o horror Punk pode estar um pouco fora dos holofotes, mas está muito longe de morrer.

As características gerais estão todas ali letras abordando criaturas do além, mitos, pestes, mortes misteriosas, etc... Não espere rompantes de poesia ou qualquer letra mais profunda o objetivo aqui é divertir e até assustar os mais incautos. E a música em si? 


A trinca inicial, com a faixa titulo, mais “Vivid Red” e “Land Of The Dead” possuem aquela sonoridade tão conhecida por todos, sabe quando a banda joga pra torcida? Pois é exatamente essa sensação que essas músicas transmitem. Uma crítica? Muito pelo contrário afinal de contas não é isso que os fãs esperam?

Mas Only e sua trupe não vivem apenas do passado, e prova disso são faixas como “Father” e “Jack The Ripper” que apresentam excelentes solos de guitarras (Sim solos, por mais estranho que isso soe) e arrisco a dizer que Cadena é um dos melhores músicos que a banda já teve em toda sua história. Falando dele, o próprio canta na faixa “Dark Shadows” e se sai muito bem roubando a cena muitas vezes.

E é claro deve ter gente se perguntando: "Misfits no Road to Metal?". Para quem quer porrada na orelha  (e quem não quer?), pois bem, pule para a última faixa “Death Ray”, uma música nervosa, rápida e violenta digna dos melhores momentos do estilo. Simplesmente um grande som.

É claro que vai ter gente malhando pau e choramingando dizendo que a fase Dazing era melhor e que o punk morreu faz tempo, mas aí vai um conselho de amigo; esqueça essas discussões todas e se concentre no som, porque a diversão é garantida.



Texto: Luiz Harley
Revisão/edição: Renato Sanson
Revisão Final: Waldisney "Warrior" Silva
Fotos: Divulgação


Ficha Técnica

Banda: Misfits
Álbum:  The Devil’s Rains
Ano: 2011
País: EUA
Tipo: Horror / Punk
Gravadora/selo: Misfits records


Formação

Jerry Only (Baixo e Vocal)
Dez Cadena (Guitarras e Vocal)
Eric Chupacabra Arce (Bateria)


Tracklist


1) The Devil’s Rain
2) Vivid Red
3) Land of the Dead
4) The Black Hole
5) Twilight of the Dead
6) Curse of the Mummy’s Hand
7) Cold in Hell
8) Unexplained
9) Dark Shadows
10) Father
11) Jack The Ripper
12) Monkey’s Paw
13) Where Do They Go?
14) Sleepwalkin
15) Ghost of Frankestein
16) Death Ray

Acesse e conheça mais sobre a banda



ANTHRAX & MISFITS – PORTO ALEGRE/RS – 25/04
Realização: Opus Promoções & Top Link Produtora

Dia 25 de abril
Quarta-feira, às 21h
Ginásio Gigantinho (Av. Padre Cacique, 891)

Duração: 3h
Classificação: 12 anos (menores acompanhados de pais ou responsáveis)

Ingressos:
Abertura de vendas: 17 de janeiro
Pontos de venda:
Site: www.ingressorapido.com.br
Call Center: 4003-1212
Bilheteria do Teatro do Bourbon Country (segunda a sábado, das 14h às 22h, e aos domingos e feriados, das 14h às 20h)
Tele-entrega Ingresso Show 8401 0555 (segunda a sexta, das 9h às 19h)
Formas de pagamento: Cartão de crédito 1X, débito e dinheiro.

Arquibancada/ Pista (lote promocional – 1000 ingressos)
R$ 70,00
Arquibancada/ Pista
R$ 80,00
Cadeira Numerada
R$110,00
Pista Vip
R$ 140,00

Desconto de 50% para titulares do cartão Clube do Assinante Zero Hora nos 1000 primeiros ingressos de arquibancada/pista (sob o valor de R$ 80,00) adquiridos através da Telentrega Ingresso Show e Bilheteria do Teatro do Bourbon Country;
Desconto de 10% para titulares do cartão Clube do Assinante Zero Hora e Clube Premier Bourbon somente para setores arquibancada/pista e cadeira numerada nos demais ingressos;
*Descontos não-cumulativos;

domingo, 18 de março de 2012

Soulfly: Amado Por Uns, Odiado Por Outros, Mas Respeitado Por Todos... “Enslaved” Uma Aula De Heavy Metal!


Falar do legado de Max Cavalera no Heavy Metal é chover no molhado, pois ao lado do Sepultura ele fez história e, após sua saída traumática da banda mineira, veio o Soulfly, banda que gerou muita expectativa por parte dos fãs, mas que de começo não agradou a maioria, devido o excesso de elementos tribais aliado a composições que podemos classificar de New Metal.

Mas com o tempo, Max foi acertando a mão até chegar em “Dark Ages” (2005) e a partir deste álbum, o Soulfly começava a escrever uma nova história no cenário metálico, resgatando muitos fãs de sua fase no Sepultura, pois a evolução era notória. A cada lançamento o Soulfly vinha mais agressivo e inspirado, até chegar ao seu melhor lançamento. Estou falando de “Enslaved”, álbum que com certeza marcara época e será lembrado para sempre.


Tirando o guitarrista Marc Rizzo, que acompanha Max já há alguns anos no Soulfly, a banda vem revigorada e de cara nova com os experientes Tony Campos (baixo) e David Kinkade (bateria), deixando o som extremamente brutal, fazendo o Soulfly flertar por novos campos como Death e até mesmo o Black Metal.

As linhas de guitarras criadas por Max e Rizzo são de cair o queixo, com riffs espetaculares,  muitas variações e  solos geniais de Rizzo, que caem como uma luva para sonoridade da banda.

Após a intro “Resistence” temos “World Scum”, que já mostra o poder de devastação do novo álbum, com aquela pegada Thrash, mas flertando entre o Death e o Black Metal ainda mais com a participação de Travis Ryan (Cattle Decapitation) nos vocais, com grandes variações nos riffs chegando a uma pancadaria incrível.


“Gladiator” e “American Steel” vêm para mostrar toda a fúria de Max & Cia, mas com alguns elementos modernos que já acompanham a banda desde o inicio, mas com o Thrash Metal predominando e refrões grudentos, além de um show a parte da cozinha comandada por Tony e Kinkade. Sem falar nos riffs intrincados de Max e Rizzo.

Mas os destaques não ficam por aí, não teria como não mencionar a épica “Plata O Plomo” (a melhor do play pra mim), música esta que homenageia o traficante Pablo Escobar, cantada em português e espanhol, com a participação do baixista Tony Campos cantando as partes em espanhol. Grande composição que mescla o Heavy Metal contemporâneo com a música flamenca, enriquecendo ainda mais a sonoridade da banda.

O álbum ainda conta com “Revengeance”, que fecha o play (faixa está que Max fez em homenagem ao seu falecido enteado Dana Wells) e que conta com as participações dos herdeiros do trono de Max, o seu enteado Rich e seu filho Igor dividindo com ele os vocais e o outro filho Zyon na bateria, com todos mostrando grande competência em uma ótima composição, que com certeza deixou a família Cavalera muito orgulhosa.
Apesar de todas as polêmicas envolvidas com Max VS Sepultura, que de alguma forma acabou manchando um pouco sua reputação com seus fãs, ele continua firme e forte, e a prova está ai com o Soulfly não lançando apenas seu melhor álbum, mas sim um possível clássico do Heavy Metal.



Texto: Renato Sanson
Revisão/edição: Renato Sanson
Fotos: Divulgação


Ficha Técnica

Banda: Soulfly
Álbum: Enslaved
Ano: 2012
País: EUA
Tipo: Groove/Thrash Metal
Gravadora/selo: Roadrunner


Formação

Max Cavalera (Guitarra e Voz)
Marc Rizzo (Guitarra)
Tony Campos (Baixo)
David Kinkade (Bateria)




Tracklist

01. Resistance
02. World Scum
03. Intervention
04. Gladiator
05. Legions
06. American Steel
07. Redemption Of Man By God
08. Treachery
09. Plata O Plomo
10. Revengeance


Acesse e conheça mais sobre a banda

sexta-feira, 16 de março de 2012

Napalm Death: Definição Ampla de Grindcore



A frase que dá título a esse texto é uma citação do grande vocalista Mark "Barney" Greenway, e mesmo ele não sendo um membro fundador, é hoje uma das engrenagens principais que mantém a máquina de destruição sonora chamada Napalm Death, que desde 1987 nunca amaciou sua sonoridade e, mesmo acrescentando novos elementos, mantém o espírito brutal de sempre. O décimo-quarto álbum de estúdio está aí, e podemos sorrir e quebrar o pescoço bangueando, porque a podreira é de responsa!
Para situar os fãs, vale dizer que a banda não vive presa ao seu passado, ou seja, não espere um “Scum” Parte 2. Quem curtiu "Time Waits For No Slave" (2009), vai ver que as melodias apresentadas naquele trabalho são mantidas, e parece que as críticas feitas na época chegaram aos ouvidos do grupo inglês, porque "Utilitarian" mantém as experimentações, porém é muito mais brutal que seus antecessores.
Antes de mais nada acho que é dever geral citar o engajamento político deste trabalho. Na realidade é uma característica recorrente do grupo (vide a capa de Scum) temas como ética, meio ambiente e guerras.
O termo "Utilitário", resumidamente, pode ser encarado como a valorização moral das ações coletivas, o que é totalmente utópico na nossa sociedade, cada vez mais egocêntrica e individualista. Uma temática rica, que com certeza ajudou a despertar o ódio dos músicos. A propósito, quem completa essa formação ao lado de Barney é Mitch Harris, nas guitarras e backing vocals, um monstro das baquetas chamado Danny Herrera e o baixista multi-bandas, Shane Embury (na boa, como esse cara consegue participar de tanta banda boa como Brujeria, Lock up entre outras?)
A barreira entre o som podre e o mal gravado é muito estreita, e sabendo desse risco, a produção deste trabalho caiu nas mãos do cara certo, o que Russ Russel (Dimmu Borgir) fez vai servir de modelo para as próximas gravações! Ao mesmo tempo em que é executado um verdadeiro caos sonoro, todos os instrumentos soam cristalinos e audíveis. Parece um paradoxo, mas é de ficar boquiaberto.
E as músicas em si? Ah meu amigo, brutal, insano, caótico, desarmônico, sujo e violento! Para dizer o minimo! São mais ou menos 50 minutos de pura alegria para fãs dessa vertente mais extrema do Metal. Destaques? Qualquer uma! Mas vamos lá,  eu apontaria “Nom de Guerre”,  “Opposites Repellent” e  “Errors in the Signals”  que tem até aquela leve influência do Punk,  mas muito mais desgracento.
Recomendado é pouco. Eu diria que esse cd é obrigatório para qualquer Headbanger, em tempos que ainda foram lançados novos CDs do Aborted , Soulfly, Cannibal Corpse e Terrorizer, não há duvidas 2012 é o ano do fim do mundo!

Texto: Luiz Harley
Revisão/edição:Valdemar "Butcher"
Fotos:Divulgação

  
Ficha Técnica
Banda: Napalm Death
Álbum: Utilitarian
Ano: 2012
País: Inglaterra
Tipo: Grindcore
Gravadora/selo: Century Media Records

Formação
Mark “Barney” Greenway (Vocal)
Mitch Harris (Guitarra e Vocal)
Shane Embury( Baixo)
Danny Herrera(Bateria)

Tracklist
01 Circumspect
02 Errors In the Signals
03 Everyday Pox
04 Protection Racket
05 The Wolf I Feed
06 Quarantined
07 Fall on their Swords
08 Collision Course
09 Orders of Magnitude
10 Think Tank Trials
11 Blank Look About Face
12 Leper Colony
13 Nom de Guerre
14 Analysis Paralysist
15 Opposite Repellent
16 A Gag Reflex

Links de acesso


quarta-feira, 14 de março de 2012

Psychotic Eyes - Quando Metal & Literatura Se Encontram


Já com uma bela bagagem e trabalhos muito elogiados por fãs e imprensa Metálica, desde 1999 na cena, a banda Psychotic Eyes procurou sempre diversificar e evoluir, sendo hoje muito difícil classificar o música dos paulistanos como simplesmente Death ou Thrash Metal. Aliás o  epíteto de Death Metal Progressivo também até está sendo usado, mas também essa denominação ainda não consegue passar uma ideia exata, não restando outra solução senão ouvir você mesmo o Metal praticado pelo trio, formado atualmente por Dimitri (Guitarra e Vocal), Alexandre Tamarossi (Batera) e Douglas Gatuso (Baixo).

O novo trabalho, "I Only Smile Behind The Mask", mostra o profissionalismo, criatividade e cuidado da banda para com seu trabalho, que foi mixado e masterizado por Jean François Dagenais (também guitarrista do Kataklysm), teve a contribuição do poeta Adriano Villa (responsável pelas letras do projeto Hamlet, lançado pela Die Hard em 2002), declarado fã da Banda, foi trabalhado um conceito muito bem elaborado, que Dimitri Brandi nos conta em detalhes nesta entrevista exclusiva para o Road, além de muitas coisas mais! Enjoy it!


Road to Metal: Hail, Psychotic Eyes! Primeiramente gostaria de dizer que estamos honrados de estar conversando com uma banda tão ativa do nosso cenário com mais de dez anos de carreira e dois CDs que são verdadeiras obras primas! Para iniciar, gostaríamos de saber como foi o início da banda e da suas formações musicais? Além disso, a proposta musical foi sempre essa ou a banda já enveredou para outros estilos nos seus primórdios?

Dimitri Brandi:Retribuo dizendo que nós é que nos sentimos extremamente honrados em colaborar com o Road to Metal, que aos poucos vai se tornando um dos sites mais importantes de divulgação do metal no Brasil! Vocês estão de parabéns, as matérias que estão saindo são excelentes. Aliás, tenho um agradecimento pessoal, pois foi através do Road to Metal que soube do lançamento das edições comemorativas dos álbuns do Death, e fiquei tão fascinado pela resenha que encomendei o Individual Thought Patterns no mesmo dia! 

Respondendo sua pergunta, acho que a maioria dos elementos da nossa música sempre esteve lá. Como eu e o Alexandre Tamarossi estamos desde o começo da banda, nossos estilos pessoais como músicos definiram a sonoridade do Psychotic Eyes ao longo desses anos. Sempre tivemos intenção de evoluir, de adicionar elementos diferentes, mas a base sempre foi o metal extremo, com riffs de guitarra calcados no heavy metal tradicional e no thrash, com levadas de bateria rápidas e agressivas. A isto fomos adicionando elementos de doom metal, hard rock, rock progressivo e, mais recentemente, música brasileira, principalmente devido às pesquisas com ritmos que o Alexandre desenvolveu. Foi muito interessante, pois me obrigou a também pesquisar a harmonia da MPB e da bossa nova, e descobri coisas bem interessantes, que me sugeriram novas ideias de composição.


RtM: Para nós ouvintes é constante a evolução do Psychotic Eyes. Olhando hoje, como vocês descreveriam o álbum debut? E qual o papel dele na construção da sonoridade atual da banda?

Dimitri - Eu adoro nosso disco de estreia, que recebeu excelentes críticas na época. Graças a eles fomos considerados “banda revelação” em várias votações dos melhores do ano de 2007 e 2008. Gosto de todas as faixas daquele álbum, que é bem variado e tem a cara do Psychotic Eyes. Acho que dá para perceber uma evolução entre ele e o “I Only Smile Behind the Mask”, não houve rupturas. O atual é mais progressivo e mais pesado, além de ter recebido uma produção extraordinária a cargo do J.F Dagenais (Kataklysm). 

Mas a produção do primeiro álbum também é muito boa, o Alex Nasser fez milagre com os recursos disponíveis na época, e ele trabalhou duro para arrancar a melhor sonoridade da banda e dos equipamentos. A principal diferença entre os álbuns, de fato, é que no primeiro éramos um quarteto, então as composições são centradas nos duetos e contrapontos das duas guitarras. Em “I Only Smile Behind the Mask” já compusemos focados na formação de trio, o que deixou o disco mais pesado, o baixo mais evidente e exigiu do Alexandre que utilizasse mais preenchimentos de bateria, pois não haveria uma segunda guitarra tapando buracos. Surpreendentemente, o som ficou mais pesado, técnico e cheio. Por exemplo, não é qualquer solo que funciona sem uma guitarra base, então tudo foi mais pensado e elaborado desta vez.


RtM: É uma atividade realmente muito difícil classificar a sonoridade do Pyschotic Eyes. Por mais que o senso comum classifique a banda como Death Metal, existem ali vários elementos que se aproximam de vários outros estilos. Sendo assim, como a banda descreve a sua sonoridade? E quais bandas ou músicos os influenciaram nos primórdios?

Dimitri - Nem nós mesmos conseguimos classificar nosso som, hehe. Nas vezes que tentei, só criei discórdias. Já tentamos com vários rótulos, mas as pessoas não os aceitam muito bem. Atualmente estamos divulgando como Death Metal Progressivo, que é um rótulo diferente, não tem muitas bandas que o utilizam, e acho que define bem nossa sonoridade. Mas, como todo rótulo, tem seus problemas, claro. Nosso som é muito influenciado por thrash e heavy tradicional, não é somente Death. E não temos muito a ver com as bandas que geralmente são rotuladas como metal progressivo. Mas é inegável que o som tem uma predominância extrema, pela bateria, vocais guturais, timbres de guitarra, mas as músicas tem uma estrutura progressiva, com mudanças de andamento, harmonia, climas, fraseados mais ou menos complexos. 

Sobre as influências, eu sempre gosto de dizer que aprecio todos os estilos de metal. Os guitarristas que mais me influenciaram são Chuck Schuldiner, Randy Rhoads, Adrian Smith e Dave Murray, Hank Shermann e Michael Denner, Andy LaRocque, Tony Iommi, Eddie Van Halen, Dave Mustaine e Jeff Waters. Como vocalista tenho influência do Chuck (de novo), Mille Petrozza, Jon Nordveid, John Tardy, Chris Barnes, Glenn Benton.


No Brasil, minha maior influência sempre foi o Carlos Lopes, como guitarrista, vocalista e pela postura honesta de defender o trabalho da Dorsal e o metal brasileiro.
Na gravação de “I Only Smile Behind the Mask” adotei um processo bem engraçado. Antes de gravar cada solo, eu imaginava “qual guitarrista, se eu pudesse, eu chamaria para tocar esse solo?”. Aí eu ficava ouvindo a obra do cara incessantemente, tirava algumas frases, analisava a estrutura da composição do solo. 

Em “Dying Grief”, por exemplo, imaginei como o Neal Schon faria um solo e bolei o meu em cima dessa sonoridade. Já na “Life” minha inspiração é Randy Rhoads, e por aí vai.

RtM: Por mais que obtenha resenhas extremamente positivas, o Psychotic Eyes ainda não atingiu o mainstream. Para vocês, a que se deve essa injustiça? Afinal de contas, a banda é uma das mais promissoras do nosso seleto Heavy Metal!

Dimitri - Muito obrigado!! Sei lá se isso é injustiça, pois vejo bandas muito melhores que nós que também não atingiram o mainstream. Acho que isso não acontece mais no Brasil. Se você pensar, só Sepultura, Angra e Krisiun chegaram lá. Mainstream mesmo, só o Sepultura na época do Max. Ou seja, é mais fácil ganhar na loteria do que sair do underground. Afinal, tem sorteio da mega-sena toda semana, hehe, mas o Sepultura só aconteceu uma vez.

Falando sério agora, o fato é que não existe público para metal feito no Brasil, infelizmente. Essa é uma dura realidade que temos que reconhecer. Os fãs de metal aqui, na sua maioria, não se interessam pela música que é feita aqui, ou não a escutam com os mesmos ouvidos com que buscam o que vem de fora. Não sei explicar isso, não sei explicar porque bandas ruinzinhas da Europa fazem turnês aqui nas melhores casas de shows, com ingressos na faixa dos cem reais, enquanto as melhores bandas brasileiras sequer conseguem espaço para se apresentar, não recebem cachê decente e tem que se sujeitar a casas de shows ruins, equipamento precário, ingressos a preços ridículos de tão baixos e desrespeito.


RtM:“I Only Smile Behind the Mask”, ao contrário do seu antecessor, não saiu em formato físicoAdemais, em uma atitude muito louvável, vocês colocaram o álbum para download. O que levou a banda a tomar tal atitude? E em tempos de SOPA, na opinião de vocês, quais são os prós e  Contras dos download livres na Net?

Dimitri - Essa foi uma decisão difícil e desagradável, pois queríamos muito lançar o CD em formato físico. Como vimos que não seria possível, pois nenhuma gravadora havia se interessado, resolvemos fazer o lançamento digital. O primeiro álbum nós lançamos independente, mas isso hoje não é tão fácil, pois as vendas caíram a níveis ridículos. E prensar um álbum continua caro, burocrático e demorado, do mesmo jeito que era antes. Ou seja, prensar um disco hoje não compensa. 

Eu sou favorável ao download de música, pois facilita a divulgação e a conhecer bandas novas, mas desde que a pessoa que está baixando tenha consciência de que o artista vive de música então precisa receber alguma coisa. Prefiro que todo mundo escute minha obra e vá aos shows da banda. O modelo de venda de música associado às grandes gravadoras nunca foi favorável aos artistas independentes, então acho que temos pouco a perder com a sua falência. Mas tenho esperança que os ouvintes criem mais consciência de que precisam apoiar seus artistas preferidos de alguma forma, indo a shows, comprando material e até pagando pelo download se acharem justo.

RtM:O ano de 2011 foi marcado por varias declarações polêmicas em torno da cena Metal brasileira. Sendo uma banda com muito tempo de estrada, como vocês avaliam a cena no nosso país hoje?

Dimitri - Não sou pessimista, tenho a esperança de que vai melhorar. Até porque com essa entressafra de bandas nacionais, a tendência é que somente aqueles realmente apaixonados pelo metal sobrevivam e persistam. Esse é o nosso caso, temos mais de dez anos de banda e nunca pensamos em desistir. Fazemos metal porque isso é nossa vida, independente de precisarmos de outros empregos para pagar as nossas contas.

 A cena brasileira sempre foi muito competitiva, e muitos dos que hoje estão xingando a torto e a direito foram beneficiados por essa situação. Alguns são culpados diretos pelo fracasso da nossa cena. Pois nunca se investiu no surgimento e fortalecimento de uma verdadeira cena metal no Brasil, com festivais, turnês em conjunto, bandas trabalhando juntas. Parece que a mentalidade dominante aqui é a competição predatória, em que para um subir tem que pisar na cabeça dos outros e fazê-los descer. Isso é muito triste e eu penso exatamente o contrário. Tenho certeza que o sucesso de uma banda puxa todas as demais pra cima, desperta o interesse do público pela cena, facilita a assimilação do metal brasileiro, até no exterior. Por isso sou otimista, pois vejo que essa mentalidade de estrela está ficando para trás, até porque quem pensava assim fracassou.

RtM: Outra questão bastante discutível é a abertura de shows internacionais, onde muitas vezes as bandas “opening act” acabam sendo sabotadas pela atração principal e acabam ainda não recebendo a atenção do publico. Vocês já passaram por alguma situação desse tipo? E qual a sua opinião a cerca das bandas que pagam para fazer aberturas de bandas internacionais?

Dimitri - Isso é ridículo, deveria ser proibido. A banda que se sujeita a isso presta um desserviço para todos. Os organizadores que se utilizam desse expediente também, querem dividir seu risco com a banda de abertura. O músico tem é que receber, não pagar. Até porque pagar para tocar só piora para todo mundo. A banda está lá porque pagou, não porque merece. O público não está lá para assistir a seu show, mas ao da banda principal. Ninguém ganha nada com isso, o público é desrespeitado porque assiste a um show de alguém que não merece, e nem a própria banda consegue a divulgação que acha que vai ter.


O organizador deveria convidar, para a abertura, uma banda que admire, que vá despertar atenção dos fãs da banda principal, que mereça estar ali e possa mostrar o melhor show possível. Fazer “leilão” de quem paga mais é um jeito perverso de diminuir os custos do evento dele, lucrando indevidamente em cima do músico.


RtM: A parte lírica sempre foi um dos grandes destaques do Psychotic Eyes. "I Only Smile Behind the Mask” comprova esse fato, pois a mesma possui uma historia brilhante e intrigante. Poderia nos explicar um pouco mais desse enredo e qual alegoria podemos fazer com nossa sociedade? Afinal de contas, todos usam máscaras na sociedade moderna!

Dimitri - Excelente observação, todos nós interpretamos papéis. Você tem razão, eu sempre tive um cuidado especial com as letras. Desde antes de gravarmos o primeiro CD já nos preocupávamos com a qualidade das histórias, da poesia das palavras, queríamos que as letras contassem episódios marcantes. Mesmo sabendo que a maioria dos fãs de metal não dá muita importância, prefere simplesmente ouvir a voz como um outro instrumento. 

Eu tive a ideia da letra de “I Only Smile Behind the Mask” quando vi a notícia de uma adolescente que tinha tido o rosto deformado por uma doença, e só podia levar uma vida social normal no halloween, quando podia sair mascarada na rua. Mudei a história para um acidente de carro, em que o protagonista fura o sinal vermelho e é atingido por um caminhão. O acidente deforma sua aparência e ele passa a se sentir um monstro, isolado da sociedade. Deixa de experimentar qualquer alegria ou convívio social, por isso “só sorri atrás da máscara”. Acho que é uma boa alegoria, que explora o dilema das decisões que tomamos, às vezes uma escolha tomada em segundos vai mudar sua vida para sempre, de maneira irreversível, gerando consequências que você jamais poderia ter previsto ou evitado. Enfim, um drama bem humano.


RtM: Já que falamos em letras e conceitos, como surgiram os contato com o Poeta Adriano Villa (escritor das letras do projeto Hamlet)? Essa parceria poderá dar mais frutos no futuro?

Dimitri - O Adriano Villa comprou nosso primeiro CD e gostou muito. Ele é fanático por Megadeth e reconheceu minhas influências, hehe. Um dia ele me disse que tinha escrito uma letra pensando no Psychotic Eyes, o que me surpreendeu muito. Disse a ele que estava extremamente honrado, aí ele me mandou a letra de “Throwing into Chaos”, um poema sobre a destruição do mundo e o que podemos fazer para evita-la e tentar consertar as coisas. É uma letra bem esperançosa, nada materialista, o que é inédito e curioso para o Psychotic Eyes. Isso porque o Adriano é um cara com uma visão de mundo bem oposta à nossa. Todos na banda somos céticos, ateus ou agnósticos, então acho que não teríamos competência para escrever uma letra com essa profundidade espiritual.

RtM: O trabalho fecha com "The Girl", que surpreendentemente é uma desconstrução da música “Geni e o Zepelim", de Chico Buarque. Como surgiu essa idéia? Vocês não ficaram preocupados com a reação do público mais “true”?

Dimitri - Ficamos bastante preocupados, mas deu tudo certo, pois no final a faixa ficou extremamente Metal, não se parece com MPB nem com Chico Buarque. Eu sempre gostei dessa canção, que narra a história de uma prostituta que evita um genocídio. Alguma coisa me sugeria que a estrutura da música queria passar o mesmo tipo de emoção que as baladas do metal atingem, com a estrofe melódica e o refrão pesado. No caso do Chico Buarque, ele não usava instrumentos elétricos, então tentava soar pesado com percussão e com a letra mais agressiva. 

Um dia, comecei a pensar numa letra em inglês que contasse a mesma história, e curiosamente em poucos minutos eu tinha a letra praticamente pronta, ela meio que “se escreveu sozinha”. Fiz um arranjo de guitarras novo, baseado na letra nova que eu havia escrito e mandei pro pessoal da banda. Com o tempo o Alexandre foi trabalhando um arranjo de bateria fantástico, que ia, paralelamente, contando a história junto com a letra. Ele também colocou elementos de percussão brasileira nas frases da bateria, entremeadas de pedal duplo, blasting beats e viradas agressivas. Por isso chamamos essa música de “desconstrução”, não é um cover. Fizemos uma música totalmente nova que conta a mesma história.


RtM: Pesquisando um pouco a história do Psychotic Eyes, descobri que vocês já participaram de várias coletâneas, inclusive ao lado de bandas internacionais. Como surgiram essas oportunidades e qual a importância dessas iniciativas quando ocorrem no nosso Underground? 

Dimitri - Essas coletâneas são ótimas! É muito gratificante ter uma faixa da banda ao lado de músicas de outras bandas. Elas ajudam muito em divulgação, pois você acaba, ao divulgar seu trabalho, mostrando outras bandas boas junto. Eu conheci muita banda através de coletânea, algumas delas são minhas favoritas até hoje. Tenho saudades daqueles CDs que vinham junto com a revista “Planet Metal”, conheci algumas das minhas bandas preferidas ali, e fiz bons amigos também. 

Lembro de ter gostado muito de uma música do Drowned que veio em uma delas, então entrei em contato com a banda e acabamos formando um laço de amizade entre as duas bandas que perdura até hoje. Tanto que o Fernando Lima (vocal) ajudou a fazer a capa de “I Only Smile Behind the Mask” e o baixo foi gravado no estúdio do Marcos Amorim (guitarrista),  pelo Rodrigo Nunes (ex-baixista). Imagine, tudo isso só porque ouvi uma música da banda em uma coletânea nos idos dos anos 2000...

RtM: Recentemente ocorreram mudança na formação da banda. Conte-nos como foi essa transição e a chegada de Douglas Gatuso( baixo)? Vocês pretendem continuar como trio ou existe a possibilidade voltar a ser um quarteto como foi no inicio da carreira?

Dimitri - Estamos hoje com a melhor formação do Psychotic Eyes em todos os tempos, nem pense em propor alterações (risos). O Douglas é um excelente baixista, que captou exatamente o tipo de linha de baixo que nosso som precisa, além de ter uma presença de palco espetacular. Infelizmente ele não chegou a tempo de gravar o CD, mas entendeu o espírito das linhas criadas pelo Rodrigo e as executa com muita personalidade.


Acho que não voltaríamos a tocar como quarteto, o formato trio funciona muito bem ao vivo e em estúdio. É um desafio, pois não tenho o apoio de uma segunda guitarra quando estou solando e cantando, então fica tudo mais difícil pra mim. Mas o som fica ao vivo fica mais polido, mais claro e menos embolado. E eu, particularmente, acho um power trio muito mais pesado do que uma banda com um monte de gente. Nada é mais pesado que o Motorhead e banda nenhuma é mais técnica do que o Rush.


RtM: Quais são os projetos para 2012? Teremos a chance de ver a poesia extrema do Psychotic Eyes em palcos do Sul do país? A propósito, gostariam de deixar algum recado para os leitores do Road To Metal?

Dimitri - Adoraríamos sair em turnê! Essa é nossa prioridade, tocar em todos os estados do Brasil, se for possível, e quem sabe, no exterior. A cena aí do sul é fantástica, eu adoraria tocar no Zombie Ritual, conhecer a cena de Porto Alegre, do interior do Estado, que conheço só de nome. Também sou um admirador da cena de Curitiba, já vi shows por lá, em bares no calçadão do centro, e em todos esses eventos a qualidade das bandas e da organização era fantástica. Infelizmente nunca fomos convidados para nos apresentar na região sul, espero que isso mude em breve!

Aos leitores do Road to Metal: agradeçam por ler esse veículo de tanta qualidade, que está fazendo uma puta diferença na divulgação do metal no nosso país. Parabéns a toda equipe, muito obrigado a quem ler essa entrevista e baixar nosso disco. Aguardamos comentários de todos, espero que gostem da nossa música e do nosso metal extremo progressivo!!


Entrevista: Luiz Harley
Introdução: Carlos Garcia
Edição/ Revisão: Carlos Garcia e Valdemar "Butcher"
Fotos: Divulgação/Eliton Tomasi

Agradecimentos:Psychotic Eyes Crew,  Eliton Tomasi e Som do Darma