sábado, 9 de maio de 2015

Entrevista: Stream of Passion - Vencendo Batalhas



Contando com o talento da cantora mexicana Marcela Bovio, que foi revelada ao grande público pelo gênio holandês Arjen Lucassen, mais precisamente no álbum "The Human Equation", do seu mais conhecido projeto, o Ayreon, o Stream of Passion, que inicialmente contou com o próprio Arjen na formação, é uma banda com uma musicalidade acima da média, e que vem crescendo álbum pós álbum, não tendo medo de experimentar, o que lhe confere uma personalidade, sendo praticamente impossível rotular o grupo, que agrada públicos diversos dentro da cena Metal, mesclando vários elementos, como o progressivo, sinfônico, música clássica e jazz.    (English Version HERE)

Conversamos com a sempre simpática Marcela Bovio durante uma parada na tour conjunta com o The Gentle Storm, nova banda de Arjen ao lado de Anneke, para saber um pouco mais do seu mais recente álbum, que foi lançado através de crowdfunding, a tour e a participação no line-up de palco do The Gentle Storm, um pouco de história e muito mais! Confira.


RtM: O seu álbum mais recente (e excelente), "A War of Our Own", foi lançado pelo sistema de crowdfunding, e muitas bandas estão usando este sistema. Você acha que isso pode ser uma tendência que indica um novo caminho para as bandas? Qual era a sua expectativa ao lançar esta campanha e qual foi sua reação sobre os resultados obtidos?
Marcela Bovio: Eu acho que é definitivamente um sistema que vai se tornar cada vez mais importante para as bandas no futuro. Não é para todos,  isso exige que você tenha uma base de fãs estabelecida para apoiá-lo. Para nós acabou por ser a melhor ideia que já tivemos! Naturalmente estávamos esperando que nossos fãs contribuíssem bastante para fazer o álbum  acontecer, mas nenhum de nós esperava que tudo correria tão bem e tão rápido! Toda a experiência nos deu um enorme impulso emocional, e uma grande quantidade de energia para terminar o álbum.


RtM: E para um próximo lançamento? Vocês pensam em usar o mesmo sistema? Ou tudo depende, se for feita uma proposta interessante de algum selo, por exemplo?
Marcela: Ambos os métodos têm vantagens e desvantagens. Crowdfunding não envolve apenas o dinheiro, mas também diz respeito a criação de um senso de comunidade entre os nossos fãs; e eu acho que nós definitivamente conseguimos. 
Quanto a um selo, a vantagem é que cuidam de um monte de coisas da parte administrativa, e menos da parte musical do trabalho; em seguida, novamente, sendo "indie" significa que temos de tomar todas as decisões quanto a promoção e comercialização do álbum ... Vamos ver.


RtM: E sobre  "A War of Our Own", você poderia nos falar sobre o conceito por trás do título?
Marcela: Todas as músicas do álbum são inspiradas em diferentes tipos de batalhas: a nossa luta como  banda, para torná-la independente, a luta do México como país, devido aos problemas sociais e guerras contra as drogas, a luta de amigos e familiares contra doenças como o câncer ou depressão ... Nós pensamos: "A guerra de nós próprios" é um título que envolve todas essas situações muito bem.


RtM: Um ano após o lançamento do álbum,  você já pode medir a aceitação dos fãs e quais as músicas que mais caíram no gosto do público?
Marcela: É muito variada a preferência pelas músicas, de verdade! Mas eu acho que uma das favoritas é "Don't Let it Go"; que também é uma das minhas favoritas!! 


RtM: E qual é o seu sentimento a respeito do álbum? Você acredita que é o álbum melhor e mais maduro da banda?
Marcela: Oh, definitivamente. Nós nos atrevemos a fazer muito mais neste álbum; ampliamos nossos horizontes e tentamos incorporar ainda mais influências progressivas para ele, algo que me deixa muito feliz.


RtM: Por sua nacionalidade mexicana, eu vejo que você tem muito contato e carinho dos fãs mexicanos, bem como em países da América Latina, inclusive grupos de fãs no Facebook aqui no Brasil. Você acha que os fãs latinos têm uma maior paixão pela música? há uma diferença entre o público da América e da Europa? E você sabe onde se concentram o maior número de fãs do SOP?
Marcela: Eu acho que nós, povos de sangue latino, tendemos mais a sermos movidos pela paixão, sim. Isso não significa que as audiências europeias são menos emocionais! Mas eles expressam isso de forma diferente. Nós gostamos de botar pra fora, demonstrar isso! E eu acho que é por isso que nós respondemos a música assim dessa maneira.


RtM: Você escreve várias letras de músicas em espanhol, o que é muito bom, eu acredito ser mais fácil para você se expressar usando a sua língua materna. E os fãs mexicanos e latinos adoram!
Marcela: Sim! Eu adoro escrever em espanhol, o que me permite dizer coisas que eu não conseguiria expressar em qualquer outra língua.


RtM: Lembre pra gente como foram os primeiros contatos com Arjen Lucassen, que mais tarde culminou com o nascimento do Stream of Passion.
Marcela: Em 2003 ele estava trabalhando em uma das óperas Rock do Ayreon, "The Human Equation". Ele fez um concurso através do seu site para dar a uma cantora desconhecida a oportunidade de cantar algumas partes. Eu ainda estava morando no México, um bom amigo meu me falou sobre isso e me convenceu a enviar um dos meus CDs. Então eu fiz, e para minha surpresa, ele me escolheu para o papel. Eu acabei vindo para a Holanda para gravar em seu estúdio, foi uma experiência incrível! E alguns anos depois eu acabei voltando e com uma banda completa e tudo. A vida dá voltas estranhas às vezes!


RtM: Deve ter sido muito bom dividir o palco novamente com Arjen, já que ele praticamente não toca ao vivo mais, só muito raramente em alguns eventos promocionais. Conte-nos um pouco para nós sobre este dia muito especial, o "Release Show" do CD do The Gentle Storm, que teve a participação de Arjen.
Marcela: Foi muito emocionante, não só por causa do Arjen estar lá, mas porque era a primeira vez que tocávamos com The Gentle Storm como uma banda. Então, todo mundo estava um pouco nervoso, mas tudo saiu tão bem! A banda é incrível, por isso as canções soaram incríveis. Para mim, estar no palco com Anneke foi um sonho que se tornou realidade, e tocar com Arjen novamente foi um presente. Ele continua dizendo que constantemente tem arrepios durante nossas performances! uau! que elogio!


RtM: Falando de The Gentle Storm, o Stream Of Passion vai tocar ao lado da banda em vários shows, incluindo você e Johan também fazem parte do live line-up. Certamente os shows serão muito especias, e você também vai ter um monte de trabalho! Conte-nos sobre suas expectativas para esta tour, e eu acredito que poderão ter algumas surpresas, como algumas jams?
Marcela: Jams? Ainda não havia pensado sobre isso, boa! Haha! Sim, para Johan e eu vai significar um monte de trabalho duro. Ele não só está tocando com ambas as bandas, mas também tem que tratar da configuração do palco duas vezes, fazendo duas passagens de som e, basicamente, estar ocupado o dia inteiro. Nós adoramos! Eu faria isso por meses, se eu pudesse!


RtM: As bandas com membros do sexo feminino hoje são algo comum e crescendo a cada dia, bastante diferente de anos atrás, quando Rock e Metal era praticamente um ambiente dominado por homens. Como você vê a participação da mulheres de hoje na cena, e se ainda existe algum tipo de discriminação e no que é preciso haver evolução ainda?
Marcela: Acho que as mulheres são muito mais aceitas no mundo do Metal hoje em dia. Você vê um monte de mulheres que fazem música pesada, não é mais uma surpresa, e é ótimo! Mas se tem uma coisa que eu acho que realmente precisa é se livrar do rótulo de "Female Fronted Metal", ele não diz absolutamente nada sobre a música que uma banda faz!


RtM: O que você acha desse rótulo, "Female Fronted Metal"? É algo mais positivo do que negativo?
Marcela: Haha, acho que eu me antecipei a esta questão, e já sabe o que penso!


RtM: E a respeito de suas inspirações e influências como cantora? Quem músicos ou cantores que você citaria?
Marcela: Anneke é definitivamente uma das minhas influências. Eu também fui profundamente influenciada por exemplo, pelo The 3rd and the Mortal e as cantoras Kari Rueslatten e Ann-Mari Edvardsen; Eu amo essa banda! São de formação clássica assim como eu, e também carregam algumas influências de ópera, mesmo que eu não use esse tipo de voz tantas vezes com a banda.


RtM: E como você começou no mundo da música, quem foram os seus principais apoiadores?
Marcela: Minha primeira grande influência foi o meu padrinho. Ele era o diretor do Conservatório em Monterrey, a minha cidade natal; ele recomendou meus pais a colocarem a minha irmã e eu em uma escola de música já muito jovens. Então, a partir dos 5 anos de idade eu já estava aprendendo música e canto. A música tem sido uma parte da minha vida desde então.


RtM: E sua decisão de ir para a Holanda? Quais são as principais razões que você vê por que é mais difícil manter uma banda em países como o Brasil ou o México do que na Europa?
Marcela: Depois de iniciar o Stream of Passion e tomar a decisão de fazer uma banda em tempo integral, fazia mais sentido para mim mudar para a Holanda, e toda a banda era holandesa; Desta forma, poderíamos fazer muito mais coisas do que apenas tours eventuais! Há uma série de fatores que mostram que manter uma banda na Europa é mais fácil do que no México, mas um dos principais é que há , pelo menos na Holanda, muito mais apoio do governo para as artes do que no México, por exemplo. Está tendo cada vez menos, mas ainda há muitos locais e centros de juventude que motivam os jovens a fazer música e tocar; há mais algumas portas em que você pode bater.


RtM: Marcela, muchas gracias por su atención, esperamos ver te pronto aquí en  Brasil y América der Sur !!
Marcela: Obrigada, Carlos! Desejo de todo meu coração que tenhamos a oportunidade de visitá-los em breve! xx



Entrevista: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação e arquivo da banda






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