Muitos filhos já devem ter recebido a orientação do pai e
da mãe o seguinte ditado: “não mexa com o que está quieto.” Essa lição não foi assimilada por muitas das grandes bandas de Heavy Metal e Hard Rock, entre elas, podemos citar o Manowar,
Twisted Sister, Exodus, Testament, Anthrax, Scorpions, Alice Cooper, Aerosmith
e, o mais recente, Uli Jon Roth, que foram mexer onde não deviam. Bandas essas que
tiveram a desnecessária ideia de mexer em clássicos "imexíveis". E quem entrou
nessa jogatina é o Whitesnake, com o recém-lançado “The Purple Album”, contendo
releituras da fase MK III e MK IV do Deep Purple.
A ideia de homenagear aquela clássica formação não é
recente. Há cerca de 3 anos atrás, David Coverdale queria reunir todos que
fizeram parte daquele momento para celebrar o que seriam os 40 anos da
respectiva fase, convidando o guitarrista Ritchie Blackmore, o baterista Ian
Paice e o saudoso senhor dos teclados, Jon Lord. Mas devido à morte de Lord,
que sofria de câncer no pâncreas, e pelo desinteresse de Blackmore, que não chegou a dar satisfação nenhuma, o
que já é normal vindo dele, a única saída para Coverdale era fazer isso
com os seus companheiros de banda, apresentando o projeto para cada um, recebendo aprovação imediata. Afinal, quem é que não quer se divertir tocando essas
grandes obras? E recapitulando o que foi o começo disso tudo, porque o
Coverdale não convidou o Glenn Hughes?
No que se refere a produção sonora e instrumental, comandado
pelos excelentes músicos Reb Beach e o novato Joel Hoekstra (guitarras), que
vem substituindo Doug Aldrich, o qual deixou a banda no ano passado; Michel Devin
(baixo) e a volta do baterista Tommy Aldridge em estúdio, o disco segue o mesmo
distrito dos dois últimos lançamentos inéditos da serpente: riffs de guitarra
pulsantes, baixo fazendo muito bem a cozinha com a bateria, soando redondamente
altos, mas o pensamento que fica é o seguinte: “David Coverdale, na casa dos
seus 63 anos, ainda é capaz de cantar todos esses clássicos (ao vivo) em alto
nível?” Quem nunca escutou o “Burn”, “Stormbringer”, ambos lançados em 1974,
“Come Taste The Band” (1975) e pegar o “The Purple Album” pra ouvir, é claro
que a pessoa irá adorar em questão de instantes, mas pra quem já tem afinidade
com as versões originais, a diferença "salta aos ouvidos", pois naqueles tempos o
Coverdale tinha cerca de 20 poucos anos.
O disco inicia já com a tradicional carne de vaca, “Burn”.
Até ai sem muitos comentários, já que ela é constantemente tocada nos show do
Whitesnake; em “You Fool No One” as mudanças começam a aparecer. Ao invés de
começar com batidas de latas, é iniciado exorbitantemente a sons de gaita,
ganhando destaque o trabalho de guitarras do Reb Beach e Joel Hoekstra
(Night Ranger, Rock Of Ages, Trans-Siberian Orchestra), com riffs encorpados e
solos mais obscuros, não deixando fugir do virtuosismo dos dois, mas só que
tudo dentro do padrão Whitesnake; “Love Child”, no meu ponto de vista, é a que
se saiu melhor. Os vocais estão mais aprimorados do que se encontra na versão
original, trocando o solo de sintetizador por um solo matador
de guitarra; “Sail Way” mantém a mesma proporção vocal suave e
aprazível, excluindo toda a parte elétrica para recriá-la uma curta
versão acústica.
“The Gypsy”, outra que me agradou bastante, enfatiza
riffs mais pesados, dando mais vida, sendo que ficou um pouco escondida na
versão original, e no baixo Michael Devin colocou mais grooves e
contornos, e também foi incluído um solo mais estendido; “Lady Double Dealer” inicia com uma
destruidora virada de bateria do Tommy Aldrige, com Coverdale optando em cantar
com mais drives e vibrato, mas que, devido a sua condição vocal, ele conta com
o auxilio dos seus companheiros fazendo os backings vocals no refrão;
“Mistread” não há muitas diferenças, apenas ganha riffs e vocais
intransigentes, e mais uma vez o que se sobressai são as ótimas linhas de baixo.
“Holy Man” talvez seja a mais mediana, sem muito que ser
apontado. A única surpresa é que há contrapontos, havendo uma melodia acústica
para casar-se com os riffs ganchudos da dupla Reb Beach e Joel Hoekstra. E
sobre a atuação do Mr. Coverdale (música originalmente cantada por Glenn Hughes),
não há muito que destacar; “Might Just Take Your Life” percebe-se que Coverdale
se sente mais a vontade, principalmente naquelas faixas originalmente com os seus vocais principais (na época os vocais eram divididos com Hughes). O
começo Blues-Rock, executado por um dobro, foi um sacada inteligente da banda,
mas fez falta o som de hammond no final da música; “You Keep On Moving” dá
pra notar que foi reinventada com certa pressa. Em que questão de segundos já
iniciam os primeiros versos do dueto, passando o que tem que passar de maneira
reduzida, com as guitarras ecoando fortes.
“Soldier Of Fortune” novamente reprisa a tendência de
reeditar baladas para versões acústicas, dando descanso à bateria e às partes
elétricas; “Lay Down Stay Down” inicia com complexos dedilhados, e a incerteza
que muitos têm sobre o Coverdale está aqui: vocal muito forçado e não
alcançando as notas que outrora conseguia chegar. Os solos são bem trabalhados, havendo
comunicação com a voz; e o disco se encerra com “Stormbringer”, outra que não
há o que declarar, nem preciso citar motivos.
Toda obra prima deve ser louvada com extrema pureza e
prazer, mas mexer no que já é sagrado é uma coisa que deve-se pensar duas vezes
antes de fazer.
Vamos ver como isso vai ser ao vivo.
Texto:
Gabriel
Arruda
Edição/revisão:
Carlos
Garcia
Fotos:
Divulgação
Ficha
Técnica
Banda:
Whitesnake
Álbum:
The
Purple Album
Ano:
2015
Estilo:
Hard
Rock
País:
Inglaterra
Selo:
Frontiers
Records
Formação
David Coverdale (vocal)
Reb Beach (guitarra)
Joel Hoekstra (guitarra)
Michael Devin (baixo)
Tommy Aldridge (bateria)
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