Estranho começar uma cobertura de
show com este título, não? Pois bem, infelizmente é verdade, e quase que o Road
to Metal fica sem essa cobertura, e vou explicar a vocês nas linhas a seguir.
Antes de mais nada e que me
interpretem errado, em termos de produção de show a Abstratti Produtora foi impecável,
o que pesou e nos levou a temer se teríamos ou não a cobertura (isso já dentro
da casa), foi a questão de acessibilidade do local.
Para quem não sabe eu (Renato
Sanson) responsável por 90% das coberturas de shows do site sou cadeirante, porém
em muitos casos nunca utilizei os locais devidamente marcados para pessoas com deficiência,
e sempre fiquei na grade ou próxima a ela, porém nas vezes que quis utilizar os
locais “apropriados” sempre tive um grande stress, e no show do Megadeth não
foi diferente. O Pepsi On Stage em si é um ótimo local para se ver shows, tem
banheiros adaptados, local para percorrer sem elevações, tudo que uma pessoa
com deficiência precisa, porém desta vez não entendi a lógica do local marcado
para pessoas com deficiência.
Sempre tive ótimos momentos no
Pepsi, mas fiquei sem entender o porquê de tamanho descaso desta vez. O local apropriado
colocado por eles (ou pela produtora, não sei quem teve tal ideia) era em uma
das laterais da casa, que de fato não era longe do palco e seria bem agradável de
ver o espetáculo dali se não fossem dois detalhes cruciais: 1°: o local era na
frente da fila do bar, onde se concentra o maior número de pessoas possíveis na
volta, não me entendam mal, mas aí vem o segundo detalhe, o local destinado não
tinha altura suficiente para um cadeirante por exemplo ver o show dali.
Conforme a fila do bar aumentava, as pessoas ficavam na frente e conforme o
local enchia menos se via o palco, chegando ao ponto de a casa estar lotada e
não conseguir se ver nada do espaço destinado, já que a altura que a casa ou
produtora estabeleceu, não supria o que uma pessoa com deficiência necessitava
para se ver o show.
Sendo assim, fui em busca de uma
solução, pois estava ali a trabalho e não poderia deixar de ver o show, pois o
que eu teria para escrever se não visse nada? Lembro de uma situação parecidíssima
que ocorreu comigo quando fui fazer a cobertura do show do Kiss no Gigantinho
em 2012, o local não supria as necessidades e tanto a produtora e a casa não
achavam uma solução cabível, eis então que entrou em ação o corpo de bombeiros,
que estavam no local e acharam um lugar para que eu pudesse ver o show e
concluir o meu trabalho. E não é que no Megadeth aconteceu a mesma coisa? Pois
é, depois de muita conversa, explicações nada se resolvia, e lá estava a
brigada de incêndio, que incomodados com a situação resolveram ou melhor,
tentaram achar uma solução cabível para mim poder ver o show e poder concluir
meu trabalho novamente.
Eis então que eu estava ao lado
direito do palco em cima das escadas próximo ao banheiro, em uma altura que sim,
me proporcionava ver o palco, mas confesso que fiquei decepcionado com o local
proposto originalmente, onde não se tinha uma segunda opção, é aquele e pronto.
Mas e aí? O local não é apropriado, não tem como se ver nada dali, então o
profissional ou cliente sai lesado e pronto? Lamentável. Lembrando que esses
espaços em locais de entretenimento são obrigatórios e deveriam ser regidos
corretamente, mas não tem o que se esperar de uma cidade em que 99% das casas de
shows não se preocupam com isso, não é?
Voltando agora ao evento em si,
pontualmente às 20h a banda gaúcha It’s All Red sobe ao palco para fazer as
honras da noite, e confesso não sou um fã da banda e muito menos do estilo
sonoro que fazem, mas é inegável que apresentaram um ótimo show dentro de sua
proposta. A banda demonstra muita vitalidade e profissionalismo, tendo uma
ótima oportunidade de mostrar seu som a várias pessoas que certamente não os
conheciam. Destaco a performance precisa do baterista Renato Siqueira e a ótima
versão de “Only” do Anthrax que agitou os presentes.
Após uma rápida mudança de palco
era hora de receber o Megadeth, que desembarcava na capital gaúcha pela
terceira vez. Porém desta vez tínhamos um atrativo a mais, além do novo álbum “Dystopia”
tinha o renomado guitarrista brasileiro Kiko Loureiro (Angra). Onde muitos se
perguntavam: “mas e ao vivo como o
Megadeth vai soar com o Kiko?”
Mesmo achando exagerado todo o
falso patriotismo em volta da entrada do Kiko no Megadeth (pois temos diversos músicos
brasileiros em grandes bandas mundo a fora, mas infelizmente ninguém dá o
devido valor) eu tinha lá minhas dúvidas, não pela questão técnica, mas sim ao
vivo, pois como já vi o Angra diversas vezes tinha aquela visão menos enérgica do
mesmo.
Então era hora de ver o que teríamos
com o brasileiro como novo guitarrista do Megadeth. Vale ressaltar o belo palco
montado para essa tour, com diversos telões que mudavam a cada música, e já na
abertura com “Hangar 18” temos uma explosão da massa com Dave Mustaine
comandando e Kiko sendo muito ovacionado durante os solos.
Se faltava energia nos shows do
Angra, no Megadeth Kiko quebrou a regra e agitou o tempo todo, tendo uma
performance acima do esperado, e estando muito carismático. Já Dave Mustaine
tem a sua clássica soberba e muitas vezes passa a impressão de não estar com
vontade de tocar, sendo sempre marrento, mas um verdadeiro showman. Já Ellefson
infelizmente estava com uma fratura na perna e não pode se movimentar tanto
como estamos acostumados, mas mesmo assim não se poupou. E fechando o Megadeth
o estreante Dirk Verbeuren (Soilwork), que não fez nada além do esperado,
entregando o que as músicas precisavam em uma performance bem contida.
Seguindo o baile (que estava com
som e luzes impecáveis) “Threat Is Real” do novo álbum é apresentada e mostra-se
bem aceita com destaque ao trabalho preciso e coeso de Ellefson, mesmo que
muitas vezes esquecido é com certeza um dos melhores baixistas do estilo.
Eis que ao final da música todos
se retiram do palco e volta apenas Mustaine, onde foi bastante ovacionado e
anuncia um de seus maiores clássicos “Tornado Of Souls” (“Rust In Peace” – 90),
e aí amigo, a casa foi abaixo, e mostrou que Kiko já está imprimindo sua característica
nos solos, onde tomou a frente do palco e fritou sua Ibanez sem dó.
Após mais uma do novo álbum “Poisonous
Shadows”, era hora de arrancar lágrimas da velha guarda, e “Wake Up Dead” e “In
My Darkest Hour” chegam uma emendada na outra e esquentando a casa ainda mais.
Dando ênfase ao seu novo disco
(uma pena terem deixado de fora músicas dos álbuns dos anos 2000, pois ótimas
composições foram criadas que cairiam muito bem ao vivo) tivemos o duo “Conquer
or Die!” e “Fatal Ilusion” que mesmo sendo boas composições, esfriaram a
galera, que só voltaram a se animar com o anuncio da ótima “She-Wolf” (“Cryptic
Writings” – 97), onde as guitarras saltam aos ouvidos, e com Kiko esbanjando
carisma junto a postura mais agressiva de Dave.
Eis então que Mustaine & cia preparavam
o terreno para uma trinca arrasadora, a começar por “Dawn Patrol” onde Ellefson
tomou o palco e imprimiu seu peso, abrindo as portas para a arrasadora “Poison
Was The Cure” para em seguida a clássica “Sweating Bullets” entrar em cena e
tomar o ar dos pulmões da plateia.
O ato a seguir do show seria um
pouco mais ameno, muitos não gostam, mas são composições que caem muito bem ao
vivo, e “A Tout Le Monde” e “Trust” fizeram os presentes cantarem juntos até o último
verso, sendo um dos momentos mais marcantes do show.
Seguindo as divulgações do novo
álbum “Post American World” e “Dystopia”, que novamente, mesmo sendo boas músicas
não mexeram com o público, mas parece que o Megadeth tinha tudo calculado, e mesmo
depois de ter dado uma amornada, o maior clássico da banda chega “Symphony of
Destruction” e o coro “Megadeth, Megadeth
i wanna Megadeth” se virilizou no Pepsi On Stage, levando a galera a histeria!
Mais uma saída de palco e
Ellefson retorna sozinho e puxa a intro de “Peace Sells”, que ao seu final
trouxe a palco o mascote Vic Rattlehead, pegando todos de surpresa, mas algo
muito legal que deixou o show ainda mais especial.
O espetáculo se aproximava do
final e não sabíamos se teríamos mais uma música ou se seria a “saidera” com “Holy
Wars”. Porém Dave surpreende e retorna ao palco sozinho para ser ovacionado mais
uma vez e anunciar o improvável, “The Mechanix” do Debut “Killing is My
Business... And Business is Good!” (85), que foi tocada com uma ferocidade
latente, estando ainda mais rápida que a versão original, onde fez muito
marmanjo old school ir as lagrimas. Para quem não sabe “The Mechanix” é a
primeira versão de “The Four Horsemen” do Metallica, faixa está escrita por
Dave na época em que integrava o grupo.
E fechando o show de forma
magistral a clássica e nunca cansativa “Holy Wars”, que veio para fechar com
chave de ouro uma apresentação tecnicamente impecável dos americanos. Que
tiveram uma performance um tanto “ensaiada” tudo funcionava como se fosse um
reloginho, o que não é ruim, mas que fica meio engessado. Mas no mais, foi mais
um grande show de Heavy Metal na capital gaúcha.
Cobertura por: Renato Sanson
Fotos: Diogo Nunes
Setlist - Megadeth:
01 Prince of Darkness (intro)
02 Hangar 18
03 The Threat is Real
04 Tornado of Souls
05 Poisonous Shadows
06 Wake Up Dead
07 In My Darkest Hour
08 Conquer or Die!
09 Fatal Ilusion
10 She-Wolf
11 Dawn Patrol
12 Poison Was The Cure
13 Sweating Bullets
14 A Tout Le Mond
15 Trust
16 Post American World
17 Dystopia
18 Symphony of Destruction
19 Peace Sells
20 The Mechanix
21 Holy Wars... The Punishment Due
21 Holy Wars... The Punishment Due
Um comentário:
Ótima resenha, apenas uma correção: O coro é ''Megadeth, Megadeth... Aguante Megadeth!''
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