terça-feira, 5 de junho de 2018

Ghost: Teatralidade e Ousadia Rumo ao Mainstream





Muitos ainda não aceitam muito bem a bem-sucedida carreira do Ghost, pessoalmente acho que é mais por picuinhas conhecidas e retrógradas do cenário Metal, que não lidam muito bem quando uma banda alcança um certo patamar ou o mainstream. Para esses eu pergunto: “Você quer que sua banda preferida não saia do underground? ”. Para os que simplesmente não se agradam da sonoridade ou temática, ok, normal.

Fato é que, você gostando ou não gostando da banda, seja qual sua razão, o que não pode ser negado é a impressionante ascensão do grupo, alcançando admiradores inclusive de outras bandas, que fazem questão de exibir camisetas da banda e até de participar como convidados, e, reza a lenda, muitos membros de bandas famosas já subiram ao palco ou tocaram em álbuns do Ghost.

Essa aura misteriosa que cerca o grupo, a temática satanista, as máscaras e o “segredo” das identidades dos integrantes, embora não seja mais tão segredo assim, são elementos que, somados a sonoridade inspirada nos anos 70 e 80, e uma capacidade louvável de criar músicas com melodias que prendem, mesmo que por vezes soem até clichês. E nesse visual e temática é que reside outra vitória, pois é interessante ver uma banda com essa conotação alcançar um patamar mais elevado.

Cardinal Copia, o "novo" frontman do Ghost
Em “Prequelle” (expressão usada para definir obra literária, dramática ou cinematográfica que relata acontecimentos anteriores de uma determinado obra, muitas vezes revelando os mesmos personagens quando eram mais novos. "dramático" e "cinematográfico", palavras que caem bem neste álbum), o novo e quarto álbum, como era esperado, o Ghost novamente “troca” seu frontman, e o Papa Emeritus III deu lugar ao Cardinal Copia, que em seu reinado também traz mudanças na sonoridade, algo que o grupo sueco também vem apresentando a cada álbum, não tendo medo buscar o novo.

“Prequelle” trata de temas em torno da morte e desgraça, com a temática em tempos medievais, porém com uma ligação à temas bem atuais. A sonoridade apresenta um Ghost mais sinfônico, num estilo por vezes meio Rock Opera, com uso maior de teclados e sintetizadores, muitos corais e com refrãos e melodias mais “grudentas” e cativantes. Podemos sentir uma linha mais anos 80 desta vez, com nuances do Melodic Rock e Rock de Arena, mas com a aura sinistra e teatral peculiar ao Ghost. E se nos hinos do Rock de Arena dos 80 as letras falavam de histórias de amor, musas e festas, Forge fala da peste bubônica, do encontro inevitável com a morte e as superstições humanas quanto ao bem e o mal.

Nos EPs “If you Have Ghost” e “Popestar”, onde a banda apresentou covers de Eurythmics, Echo & the Bunnymen e Roky Erickson, por exemplo, já corroboravam a paixão pela sonoridade 80’s e Pop.

Vamos às faixas desta macabra Opera Rock que viajou no tempo. A intro “Ashes”, com as meninas cantarolando “Ring a Ring 0’ Roses”, canção folk que, segundo a lenda, descreveria a grande praga de Londres a “Black Death”, serve como uma sinistra preparação para “Rats”, com seus riffs Heavy tradicional e coros no melhor estilo musical/opera Rock, é uma canção cheia de ganchos! O vídeo para a música também é muito bom, tipo uma paródia macabra de “Singing in the Rain”; “Faith” tem peso e pegada, lembrando o material mais antigo e mais Metal da banda.


“See the Light” é uma balada com melodias grandiosas, destacando o piano e o refrão cativante, porém com mantendo essa certa aura sinistra; “Miasma” é a seguinte, e é uma instrumental criativa. Sintetizadores remetem ao Progressivo dos anos 70 e 80, como Asia, YES e ELP, por exemplo, possuindo melodias de guitarras dobradas e os riffs de guitarras ao final são substituídos pelo saxofone, com um finalzinho com ares “noir”.

“Dance Macabre” é anos 80 total! Eu cheguei a procurar mais a fundo para ver se não era alguma cover de alguma banda dos 80 (caberia bem numa trilha de algum filme do Stallone nos anos 80). Seria heresia dizer que é uma faixa dançante? Melodic Rock extremamente cativante, refrão pegajoso, tecladinho. Tem até uma daquelas paradinhas que fica aquele gancho pra banda pedir pro público cantar junto, inclusive com alguns jogos de palavras legais: “I just wanna be, wanna bewitch you in the moonlight”.(numa canção "normal" de Melodic Rock certamente as palavras seriam "be with you", mas no estilo Ghost só poderia ser "bewitch you" )

“Pro Memoria” começa com ares bem trilha sonora com as orquestrações, para em seguida o vocal entrar acompanhado por profundas, belas e sinistras linhas de teclado. Bela e macabra balada. “Don’t you forget about dying, don’t you forget about your friend death, don’t you forger you will die”. Tem muito de Queen também neste álbum, nessas canções construídas sobre piano e voz, com essa tendência operística e sinfônica.


“Witch Image” tem um belo trabalho nas melodias cativantes das guitarras, em um andamento “soft” e que gruda na mente; “Helvetesfonster” é mais uma instrumental, onde novamente flertam com o progressivo, a qual, assim como “Miasma”, mantém o ouvinte preso, tendo várias mudanças de ritmo, muitos teclados (tem uma melodia que me lembrou a trilha da série “Stranger Things”, passando por trechos mais suaves, alguns até valseados e sinfônicos.  “Life Eternal”, a peça que encerra “Prequelle”, é também um dos pontos altos, traduzindo bem esse estilo puxado para Rock Opera do álbum, com seus arranjos sinfônicos e grandes corais.

Em algumas versões podemos encontrar faixas bônus, e uma é “It’s a Sin”, cover dos Pet Shop Boys, e não poderia ser mais apropriada para essa inclinação anos 80 do Ghost atual. E eles conseguiram deixa-la no estilo Ghost. “Avalanche”, de Leonard Cohen, original de 71, é outra, que além de ter sido nominada pela revista Rolling Stone como uma das 25 músicas mais aterrorizantes de todos os tempos, ganhou doses extras de dramaticidade.

“Prequelle” veio para levar o Ghost a um patamar ainda mais elevado, ganhar grandes arenas, mostrar que Forge e seus asseclas não vão ter medo de ousar e buscar espalhar sua macabra, teatral, criativa e cativante música a todos os inocentes e desavisados lares deste planeta. Só sei que não consigo parar de ouvir!

Texto: Carlos Garcia

Ficha Técnica:
Banda: Ghost
Álbum: "Prequelle" 2018
País: Suécia
Estilo: Occult Rock, Classic Rock, Progressive
Selo: Spinefarm Records


Tracklist:
1. Ashes
2. Rats
3. Faith
4. See The Light
5. Miasma
6. Dance Macabre
7. Pro Memoria
8. Witch Image
9. Helvetesfönster
10. Life Eternal

     


     

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