Left to Die Mantém legado de Chuck Schuldiner vivo em início de ano
destruidor na Fabrique Club
Quarteto formado por ex-membros do Death e dois integrantes
influenciados pela banda encerrou sua passagem pelo Brasil em um verdadeiro um
tributo à banda e ao guitarrista fundador, falecido em 2001
A Fabrique Club iniciou o ano de 2025 com uma apresentação que já pode entrar no rol das melhores tanto em seu simbolismo, objetivo e sonoridade, quanto pelo impacto causado ao público presente. Trata-se do Left to Die, quarteto que faz um tributo à banda estadunidense de Death Metal Death e que visa manter o legado de Chuck Schuldiner (1967-2001) vivo.
A apresentação, realizada no último dia 12 de janeiro e organizada pela Open the Road, encerrou a passagem de estreia do grupo no Brasil, em meio à turnê “Scream Bloody Leprosy Over Latin America”, que antes passou por cidades brasileiras como Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG) e Limeira, e continuando por outras cidades da América Latina, como Montevidéu (Uruguai), Comodoro Rivadavia e Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile), Lima (Peru), Medellín e Bogotá (Colômbia), San José (Costa Rica), Cidade do Panamá (Panamá), San Pedro (Honduras), San Salvador (El Salvador) e pelas cidades mexicanas de Monterrey e Cidade do México.
Com os ex-Death Terry Butler (baixo)
e Rick Rozz (guitarra), somados aos membros do Gruesome Gus Ríos (bateria) e
Matt Harvey (guitarra e vocal), que têm o Death como inspiração musical, o
quarteto deu foco em um setlist de 15 faixas com foco total nos dois primeiros
álbuns do Death: “Scream Bloody Gore” (1987) e “Leprosy” (1988). E com uma
Fabrique praticamente cheia, a certeza de uma pista caótica, com coros e moshes por parte de um público fanático
pelo repertório da lendária banda do saudoso Chuck Schuldiner, foi certeira do
início ao fim, a ponto de a décima quinta faixa ser um pedido uníssono do
público. A banda por um todo, claro, entregou toda a técnica, sonoridade pesada
e intensidade que as músicas pediam, dando a verdadeira premissa de que, de
alguma forma, Chuck também estava ali para celebrar e apreciar o que ocorreu.
Pré-show confraternal
Chegar na Fabrique em dias (ou
noites) de shows grandes é ter a certeza de que haverá um bom movimento de
pessoas nos bares do início da Rua Barra Funda, em frente à casa de shows.
Desta vez, este movimento foi maior em todos os estabelecimentos, com muitos
grupos se encontrando, bebendo ou trocando ideias antes do início da
apresentação do Left to Die. Já dentro do local, havia uma quantidade menor que
a do lado de fora, sendo três fileiras concentradas na frente do palco e o
restante nas laterais da Fabrique, seja na espera, seja para consumir algo no
bar da casa de eventos.
Scream Bloody Leprosy!
Tudo já parecia pronto para
começar, o que causava a tranquilidade geral. Os 30 minutos antes do horário
previsto para o show foram os principais na lotação, com a entrada de quem
estava nos bares do lado de fora e de quem optou por chegar perto do horário. E
dentro deste tempo, os 15 minutos finais foram para uma última passagem de som
por parte dos membros da banda, que apareceram aos poucos e conferiram a
sonoridade em seus equipamentos; e para os testes de fumaça de gelo seco,
soltas duas vezes em grande quantidade.
Com isso, na pontualidade das 19h30, o instrumental de “E5150”, do Black Sabbath,
serviu de introdução para o show. Gus Rios (bateria), Rick Rozz (guitarra),
Terry Butler (baixo) e Matt Harvey (vocal e guitarra) entraram definitivamente
no palco da Fabrique Club para iniciar uma verdadeira experiência de repertório
do Death, representado pelo quarteto do Left to Die.
“Leprosy”, faixa que abre e leva o nome do segundo álbum do Death, de 1988, foi escolhida para iniciar o show após a introdução. Não demorou muito para que a roda fosse aberta no meio da pista e, da mesma forma, viesse em uma grande intensidade com um público que ora batia cabeça, ora cantava as letras entoadas por Matt Harvey. Este, inclusive, mostrou a “carta de boas vindas” de sua entrega no palco, com ótimas linhas de guitarra, vocal impecável e ótimas impressões com o público paulistano. Da mesma forma, Rick Rozz também mostrou o que seria sua postura ao longo da maioria do show: concentrado, com foco na técnica das faixas e, em alguns momentos, até de olhos fechados - ou pouco abertos.
Em “Born Dead”, não somente o ritmo no palco se tornou mais rápido com as linhas intensas e de pedal duplo de Gus Rios, como o caos da pista se tornou mais expansivo, numa roda maior e mais agitada - até mesmo eu, que estava na parte da frente, mas colado no mosh, sofri ao tentar gravar algo via celular -. Alguém tentou subir sozinho no palco para um dive stage, porém só com a ajuda de outras pessoas ele conseguiu - e foi o único do show todo a fazer isso -, derrubando até mesmo o tripé de Matt, que reagiu com uma risada e um balanço de cabeça que indicava não acreditar no que acontecia ali. Mas ele não ficou bravo, claro, pois o próprio fã arrumou antes de pular de volta para a galera. Após muitas ovações do público, somadas a gritos em nome da banda, a sina do álbum “Leprosy” seguiu com a terceira faixa do álbum, “Forgotten Past”. Tanto Harvey quanto Rozz fizeram ótimas linhas em geral com suas guitarras, destacando seus solos técnicos e com distorções absurdas.
O ânimo do público era imparável até mesmo após o final das faixas. Os gritos incessantes de “Left to Die” levaram até mesmo Gus Rios a “orquestrá-los” com sua bateria, de modo que tivesse um final para Matt discursar. E assim aconteceu, com o frontman do projeto a dar algumas palavras de boas-vindas e destacando o que foi aquele show: “Hoje é uma festa como nos anos 80”, disse Matt Harvey.
A pancadaria sonora logo voltou com “Infernal Death”, primeira faixa da noite a representar o disco “Scream Bloody Gore” e que também é a primeira música do álbum de 1987. Os primeiros acordes foram suficientes para aumentar e avolumar ainda mais a grande roda do meio da pista da Fabrique Club, que antes de “explodir”, acompanhou os gritos de “Die”, cantados pelo vocalista e guitarrista da banda. Na transição para a parte agitada, não havia alguém inerte, pois ou cantava, ou bangueava, ou batia cabeça no mosh aberto.
Para o início de “Sacrificial”, o público fez questão de unir o coro no ritmo das guitarras para os primeiros segundos de faixa. Os ritmos mais lentos foram alvo dos gritos de hey, tal qual as partes mais aceleradas foram o alvo do retorno do mosh. Já em “Open Casket”, que retomou o repertório de “Leprosy” e foi anunciada pelos gritos coordenados de Matt, a mesma roda se misturou entre correr em círculos e bate-cabeças no começo, assim como a técnica dos guitarristas do Left to Die voltaram à tona.
Uma pequena pausa foi usada para a apresentação dos membros do grupo. Todos foram muito ovacionados e voltaram a tocar com “Primitive Ways”, faixa com ótima condução da banda por um todo, a destacar a continuidade do potencial vocal de Matt e seus solos de guitarra alternados com Rick Rozz. As sinceras ovações do público, ao final da faixa, ainda tiveram o acompanhamento rítmico de Gus Ríos e um agradecimento recíproco de Matt: “Fuck Yeah, Alright!” - “É isso aí, muito bem!”, em tradução livre.
“Choke on It” fechou outra trinca de “Leprosy” da melhor forma: com mais insanidade do público. O início mais lento da faixa foi o momento para a roda se organizar e, após a transição para a continuação rápida da faixa e do poderoso grito de Matt, a insanidade de faixas anteriores retornou com tudo. Era possível ver ainda mais a técnica dos músicos durante toda a faixa, a destacar novamente os solos de guitarra da dupla Matt e Rick. Na finalização deste som, o frontman do Left to Die fez questão de tocar com a guitarra no alto, apontando para o público.
O retorno às faixas de “Scream Bloody Gore” veio com a poderosa “Torn to Pieces”, seguida da potente “Regurgitated Guts”, momento em que Matt Harvey chamou o público para outro circle pit na pista. Não deu muito tempo para que o andar em círculos da galera mais animada virasse outro bate-cabeça fervoroso, inspirado no peso da faixa e no potencial vocal do frontman do Left to Die.
A dinâmica de heys feita pela banda ocorreu logo após a faixa anterior e foi prenúncio para “Left to Die”, faixa do disco “Leprosy” que leva o nome da banda tributo e que foi amplamente comemorada a partir do riff mais agudo de Rick Rozz, seguida de um coro do público que dividiu os volumes com Matt. O mosh, claro, voltou a ficar insano na Fabrique, como se os fãs fossem imunes ao cansaço. Matt, claro, agradeceu e muito a galera, que gritou o nome da banda, após a faixa em questão. Além do semblante feliz, o vocalista e guitarrista bateu no peito e aplaudiu por um tempo considerável.
“Zombie Ritual” foi outra das faixas clássicas do Death em que não se via quase ninguém sem cantar, seja o coro lírico que acompanhou o riff inicial dos guitarristas e baixista, seja pela letra poderosa, que acompanhou um instrumental rápido e potente durante todo o restante da música em questão. Foi nessa música, inclusive, que Matt sofreu com um problema na bandoleira de sua guitarra: alguma parte se rompeu e o fez tocar o instrumento na mesma pose que um violão, apoiando nos joelhos e adaptando o microfone e recusando a ajuda de Rick Rozz para ajustar. Nada que ofuscasse a magia da faixa por um todo e que, claro, a manteve contínua, sem interrupções.
Toda a catarse ocorrida principalmente no início e final do primeiro bloco não foi o suficiente para o público da Fabrique Club. Isso porque, após a saída momentânea do quarteto, o público gritou, incessante e novamente, pelo nome da banda, somado a pedidos de faixas que não foram tocadas até aquele momento. No retorno, Gus Ríos fez questão de fazer um pequeno teste solo do seu kit e, logo depois, os demais membros do Left to Die voltaram ao palco.
Chegou, então, o momento mais técnico - por parte da banda - e mais bizarro - em termos ambientais - da noite: o Left to Die tocou a clássica “Scream Bloody Gore”, que fecha o álbum de mesmo nome, em meio a muita fumaça de gelo seco e… um balão de camisinha enchido por alguém da plateia e que foi o terror do público mais à frente do palco - incluindo Matt Harvey, que chegou a dar um chute no tal balão para que ele não chegasse no palco. A técnica da banda, com muitos dos elementos citados anteriormente, veio numa carga maior nesta faixa.
Matt fez questão de saudar o público e perguntar quem eram os “fãs old school de death metal e do Death”. A resposta altamente positiva veio com outra pergunta impactante: “Vocês sentem que Chuck Schuldiner está vivo aqui?”. Foi o suficiente para mais um coro altíssimo, desta vez em nome do saudoso guitarrista e que se converteu numa apreciação direta à técnica dos presentes no palco. Assim, “Pull the Plug” veio como a “última” faixa, num tom mais lento ao show. “Última”, entre aspas, porque os fãs de Death não deixaram a banda sair sem antes tocar uma das principais faixas do “Scream Bloody Gore”...
… e tratava-se, claro, de “Evil
Dead”, cantada e apreciada por todos ali presentes e que deu o melhor gran finale possível para a noite, com
toda a velocidade, técnica e habilidade dos quatro membros que, com maestria,
seguem mantendo o legado de Chuck Schuldiner mais vivo do que nunca e de uma forma
extremamente respeitosa. Era realmente como se, em algum lugar da Fabrique
Club, ele estivesse, seja para coordenar a banda, seja para coordenar um
público que, de algum modo, preencheu o vazio de nunca ter visto um show do
Death em solo brasileiro.
Texto: Tiago Pereira
Fotos: Carlos Pupo (Headbangers News)
Edição/Revisão: Gabriel Arruda
Realização: Estética Torta / Open The Road
Mídia Press: Lex Metalis Assessoria
Left To Die – setlist:
E5150/Leprosy
Born Dead
Forgotten Past
Infernal Death
Sacrificial
Open Casket
Primitive Ways
Choke on It
Torn to Pieces
Regurgitated Guts
Left to Die
Zombie Ritual
Encore
Scream Bloody Gore
Pull the Plug
Evil Dead (faixa pedida pelo público após a faixa anterior)
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