Cheguei (Lukka) ofegante, ainda me equilibrando na lama, quando o Forbidden iniciou seu ataque no Louder. Foi poderoso demais. Com Russ Anderson à frente, um verdadeiro mestre de palco, a banda fez questão de provar por que é uma das lendas do thrash da Bay Area. Sua voz rasgava o ar pesado, ora gutural, ora melódica, enquanto interagia com a plateia com aquela presença de quem carrega décadas de experiência. “Chalice of Blood”, “Step by Step” e “Twisted into Form” levantaram a galera sem dó, e mesmo atolados, todos respondiam com energia. Foi como estar numa aula de thrash, só que dentro da lama.
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Nayara Sabino |
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Peyton Parrish – Harder
No Harder, vivi um dos momentos mais marcantes da tarde. Como fã, estava ansioso por esse show, e Peyton Parrish entregou muito além da expectativa. O público inteiro parecia transportado para os mundos de suas canções, que ecoaram como hinos vikings em meio à lama. Quando “Valhalla Calling Me”, eternizada em Assassin’s Creed Valhalla, começou, senti um arrepio daqueles que não vêm da chuva fria, mas da emoção coletiva. Vieram também músicas como “Ragnarök”, “Master of War” e outras peças com clima épico, conhecidas de séries e jogos, que transformaram o Holy Ground num ritual. Ali, a lama deixou de ser incômodo e virou cenário de batalha.
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*Wacken Press |
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*Wacken Press |
Angel Witch – W.E.T.
Logo depois, segui para o W.E.T. Stage, e lá estava o Angel Witch. Como fã, assistir a esses pioneiros da NWOBHM foi como viajar no tempo. Cada riff carregava a aura mágica e sombria do heavy metal britânico. O público, mesmo menor por causa do lamaçal, estava em transe. Clássicos como “Angel of Death”, “Atlantis” e o hino “Angel Witch” foram cantados em coro, atravessando o frio e o peso da lama. Foi hipnótico, quase ritualístico.
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Krokus – Faster
Corri para o Faster, e ainda bem que consegui chegar a tempo. O Krokus, lenda suíça do hard rock, mostrou como atravessar gerações com riffs certeiros. Vieram clássicos como “Long Stick Goes Boom”, “Winning Man”, “Heatstrokes” e o emocionante “Screaming in the Night”, que fez a plateia cantar junto apesar da lama. Foi uma aula de rock direto e sem firulas, daqueles que aquecem o coração mesmo debaixo de chuva.
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Dirkschneider – Harder
No Harder, foi hora de reverenciar uma lenda viva: Udo Dirkschneider. Como fã, ver esse gigante revisitar a era Accept foi emocionante de verdade. Ele trouxe hinos como “Fast as a Shark”, “Princess of the Dawn”, “Metal Heart” e “Balls to the Wall” com uma energia absurda. A voz continua implacável, e sua presença de palco é quase marcial. O público, de todas as idades, cantava em coro, como se fosse uma missa metálica. Estar ali, atolado na lama, mas gritando juntos a cada refrão… foi um daqueles momentos que se carregam para sempre.
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Fear Factory – Louder
No Louder, o clima virou distópico com o Fear Factory. O peso industrial soava perfeito na noite fria e lamacenta. A cada batida de “Shock”, “Replica”, “Demanufacture” e “Zero Signal”, parecia que o chão do Holy Ground vibrava como uma máquina enferrujada tentando resistir à tempestade. Foi brutal e intenso, daqueles shows que grudam na memória.
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Papa Roach – Faster
Já mais à noite, no Faster, o Papa Roach explodiu energia. O público, que vinha enfrentando lama e frio o dia todo, se soltou de vez. Vieram músicas como “Getting Away with Murder”, “Scars” e o hino absoluto “Last Resort”, que virou um grito coletivo. A chuva deu uma trégua nesse momento, e parecia que o Holy Ground inteiro pulava junto, transformando a lama em um detalhe irrelevante.
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*Wacken Press |
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*Wacken Press |
The Boomtown Rats – Louder
Enquanto a banda Papa Roach se apresentava no Faster, no palco Louder, a banda irlandesa The Boomtown Rats performava com o irreverente e extremamente carismático, Bob Geldof. Comemorando os 50 anos da banda, o show foi uma grande surpresa! Que experiência maravilhosa! Abrindo o show com a clássica e energética “Rat Trap”, a banda rapidamente conquistou a plateia, que respondeu com entusiasmo cantando e dançando ao som da banda.
A setlist passou entre clássicos como “Like Clockwork”, “Someone’s Looking at You” e “She’s So Modern”, intercalados com momentos de maior intensidade, como “Neon Heart” e “Against the World”. Logo após a animadíssima Someone's Looking At You, era possível ouvir ao Papa Roach tocando e Geldof logo disse: “can you tell them to shut the f*ck up?” arrancando risos e gritos animados da plateia continuando com “on a night like this, I deserve to get pissed once or twice” com o piano dando introdução à clássica “I Don’t Like Mondays” onde a apresentação atingiu seu ápice. A plateia cantava a plenos pulmões a cada verso e no meio da música, enquanto era audível ao Papa Roach performando a um cover de “Changes” do Black Sabbath, Bob deu um discurso super necessário arrancando aplausos da platéia onde ele fez menção aos horrores das guerras atuais que estão ocorrendo na Palestina e Ucrânia. Geldof é conhecido por seu ativismo humanitário e foi um dos fundadores do grande festival Live Aid que ocorreu em 1985 com o intuito de arrecadar fundos para combater a fome na Etiópia e em outras regiões da África. Consolidando o poder da música como ferramenta de mobilização social.
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Nayara Sabino |
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Nayara Sabino |
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Nayara Sabino |
The Hellacopters – Louder
Esse foi o ponto alto para mim. No Louder, o The Hellacopters, banda que eu mais aguardava, fez jus a toda expectativa. Desde os anos 90, esses suecos trazem aquele garage rock cheio de pegada, e no Wacken entregaram um setlist que foi pura dinamite: “Toys and Flavors”, “Carry Me Home”, “Hopeless Case of a Kid in Denial” e o épico “By the Grace of God” incendiaram a noite. Como fã, foi uma catarse completa — cantei, gritei e pulei sem pensar em lama, frio ou dor nas pernas. Foi o show da noite para mim, sem sombra de dúvida.
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*Lukka Leite |
Dimmu Borgir – Louder
No palco Harder, o Dimmu Borgir entregou uma performance monumental que reafirmou seu posto como um dos maiores nomes do black metal sinfônico. O setlist foi pensado para atravessar toda a trajetória da banda, misturando clássicos, raridades e a força das composições mais recentes.
A abertura com “Moonchild Domain” e “Puritania” foi devastadora, mergulhando o público imediatamente na intensidade sombria e teatral do grupo. A sequência trouxe a grandiosidade épica de “Interdimensional Summit” e “Gateways”, que mostraram o lado mais moderno e sinfônico da banda, enquanto “The Serpentine Offering” manteve a atmosfera ritualística e carregada de dramaticidade.
Para os fãs de longa data, a noite foi especial: “In Death’s Embrace” e “Grotesquery Conceiled (Within Measureless Magic)” resgataram o peso das primeiras fases da banda, com destaque também para “Stormblåst”, que arrancou gritos nostálgicos da plateia. O momento mais surpreendente veio com “Cataclysm Children”, executada pela primeira vez desde 2014, recebida com entusiasmo e emoção pelos presentes.
Na reta final, “The Insight and the Catharsis” abriu caminho para o grandioso clímax: “Progenies of the Great Apocalypse”, que transformou o Harder Stage em um espetáculo sinfônico de pura imponência, seguido por “Mourning Palace”, encerrando a apresentação em tom de catarse coletiva.
Entre cenários sombrios, vocais imponentes de Shagrath e a precisão cirúrgica da banda, o show do Dimmu Borgir foi um dos momentos mais memoráveis do terceiro dia do festival — uma celebração de peso, atmosfera e teatralidade que só eles sabem oferecer.
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Nayara Sabino |
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Nayara Sabino |
Bad Loverz – Faster
Encerrando a madrugada no Faster, os Bad Loverz fizeram uma festa que ninguém queria que acabasse. Com chuva voltando a cair, eles retribuíram com uma sequência de covers cheia de energia: “Livin’ On a Prayer”, tema de Pokémon em alemão, “Paranoid”, “Song 2”, “Hypa Hypa”, o maior rickroll da história com “Never Gonna Give You Up”, e “Smells Like Teen Spirit”. Foi diversão pura, uma explosão que fez todo mundo esquecer o peso do dia e sair sorrindo.
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Nayara Sabino |
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Nayara Sabino |
Conclusão
O Holy Ground testou a resistência, mas também entregou recompensas únicas. A lama virou parte do espetáculo, o público não recuou, e cada show teve sua identidade. Para mim, os momentos mais intensos foram os das bandas que acompanho como fã — Peyton Parrish, Angel Witch, Dirkschneider e The Hellacopters — que tocaram fundo na alma. O terceiro dia foi duro, épico e inesquecível.
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