segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Cobertura de Show: Green Day – 12/09/2025 – Ligga Arena/CWB

O show da banda californiana foi inacreditável e ficou para a história da capital paranaense.

Green Day finalmente chega à capital paranaense para o show da Saviors Tour 25, focada em seu novo álbum Saviors, lançado em 2024. Os fãs já estavam ansiosos, visto que a banda estadunidense não pisava em solo curitibano desde 2017, onde se apresentaram na Pedreira Paulo Leminski, com a Revolution Radio Tour. 

O Green Day desembarcou em Curitiba, após passarem alguns dias em São Paulo, eles tocaram no festival The Town, no dia 7 de setembro, então a banda teve um tempinho para esticar as pernas, passear e confraternizar em solo brazuca. Lembrando que foi uma pausa compulsória, já que a apresentação do grupo precisou ser cancelada no Rio de Janeiro, por conflitos de agenda com os jogos futebolísticos que estavam marcados no mesmo local.

Bom, mas chega de falatório, afinal como foi a passagem bombástica do Green Day por aqui? São tantos anos de estrada, desde sua formação em 1987 até hoje. São vários álbuns perfeitos ao longo dos anos, e também controversos, recheados de críticas sociais, que acompanharam todo o cenário mundial, principalmente dos Estados Unidos nestas últimas décadas. A tarefa é árdua, mas prazerosa, vamos lá! 

Primeiramente, faz se necessário mencionar a incrível banda até então pouco conhecida Bad Nerves, como convidados de abertura. Estou até este momento me perguntando como não conhecia esses garotos? 

Bad Nerves merece destaque para o talento, energia e simpatia, sem falar nas músicas bem estilo início dos anos 2000 com uma rebeldia Punk Rock estilo Sex Pistols, mas com uma pegada mais moderna, e é claro, um tanto politizada devido ao cenário global dos últimos anos. Além disso, também conseguem entregar aquele feeling romântico de riffs de guitarra chorosos e letras diretas, que por serem mais novos, conseguem transmitir com mais intensidade suas mensagens ao público. 

O Bad Nerves subiu ao palco na Ligga Arena por volta das 19:30 horas, pontualidade digna de uma banda inglesa. O sangue novo do rock inglês é formado por Bobby Nerves no vocal, Will Phillipson e George Berry nas guitarras, no baixo, Jonathan Poulton e finalmente nas baquetas, Samuel “Sam” Morley Tompson.

Apesar da enorme estrutura montada no Estádio da Arena, a banda conseguiu se posicionar muito bem, e inclusive, soube utilizar o artifício da passarela elevada, que saia do palco, fazendo uma divisão na pista geral. E é claro, quem foi esperto o suficiente, tratou de ficar por ali até o início dos shows.

O início foi enérgico e emotivo, o vocalista Bobby Nerves interagia bastante com o público, e também utilizava muito bem a passarela a seu favor, conversando com os fãs, com um português surpreendente, inclusive, ele disse que sua esposa era brasileira, portanto tudo explicado.

Cabe mencionar também, a interação e os pulos simultâneos dos músicos, que formavam uma coreografia digna de estalar os olhos dos mais desanimados de plantão. Apesar do local estar cheio, com cerca de 33 mil pessoas, segundo a produtora do evento, os telões eram grandes e bem posicionados, não deixando ninguém de fora do espetáculo. Os destaque ficam para as músicas mais conhecidas do grupo, como Plastic Rebel, Radio Punk, Can´t Be Mine, You've Got the Nerve e Dreaming. O espírito rebelde do punk está mais vivo do que nunca!

Green Day promove encontro de gerações em Curitiba

Finalmente, a ansiedade do público indo às alturas, por volta das às 21 horas, Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt, Trè Cool e companhia adentram ao palco. Mas não sem antes cumprirem alguns ritos costumeiros no início de cada apresentação. Inclusive, uma destas introduções, cito como um dos momentos mais emocionantes da noite, todos os presentes cantando Bohemian Rhapsody do Queen em uníssono. Após as lágrimas, veio o famoso coelho dançando Blitzkrieg Bop para quebrar a melancolia e dar início ao show propriamente dito.

O início não poderia ser outro, junto com os primeiros acordes de American Idiot, clássico que dá o nome e faz parte de um dos álbuns mais famosos musicalmente e com as letras mais impactantes do grupo. O chão já começa a tremer, era uma sinergia de pulos e pulsos em riste. Foi o começo de um espetáculo histórico, que, claramente, uniu pelo menos três gerações de público, inclusive, havia famílias inteiras assistindo ao show. Fato este, que só bandas do calibre de Green Day conseguem proporcionar. 

Acorde por acorde, clássicos em sequência, uma emoção diferente emergia a cada momento, a revolta quanto às injustiças sociais, o ato de chorar por um amor perdido, outra para celebrar a união e as loucuras de adolescentes. Além do foco nos álbuns principais, a banda abriu espaço para as ótimas Dilemma, hit instantâneo e a fofa, mas nem tanto, Bobby Sox presentes no álbum Savior. 

Entretanto, nem de rosas vive o mundo, e fez se necessário a execução da nova e crítica One Eyed Bastard, um recado de que o rock está vendo tudo e vai continuar reagindo.  Outro momento com uma pausa séria, o discurso de Billie Joe, que disse tudo e mais um pouco sobre as questões atuais, e também pediu ao público que deixassem os celulares de lado por alguns momentos, para olhar uns aos outros, para sermos mais humanos e menos máquinas, para viver os momentos felizes. E é claro não deixou esquecermos que temos armas de destruição em massa sob nossas cabeças. Recado dado, “toca o barco”, Church on Sunday, a profunda Minority, outro acerto, Brain Stew. Também desfilou pela Arena, a quase balada 21 Guns.

Impossível não apreciar o setlist que o grupo trouxe à Curitiba, foi bem completo, não faltaram as músicas novas e muito menos os clássicos. Em Jesus Of Suburbia muitos já não escondiam os arrepios e ver e ouvir este clássico ao vivo, abraçavam amigos, filhos, esposas, namoradas, isso tudo que o ser humano satisfeito faz. Tiveram Basket Case, She, When I Come Around, St. Jimmy, Holiday e inúmeras mais.

Quando você já viu muitos shows na vida, e acha que é tudo do mesmo jeito, ela ainda dá um jeito de te tirar da sua zona de conforto, ou furar a “bolha” do curitibano (já informo: sou curitibana orgulhosa nascida e criada na terra das Araucárias). E por aí foram, as baladas regadas à lágrimas, uma belíssima Wake Me Up When September Ends em sintonia com o calendário. Mas lindo mesmo, foram os papéis picados jogados aos montes em cima do público, ainda por cima com pequenos desenhos de zumbis e a chamada da turnê. Além, lógico de um balão inflável “Bad Year”, durante a execução da música When I Come Around, imperdível! 

Ressalto também o cuidado e profissionalismo com a pirotecnia utilizada no palco, muito bem controlada, elegante e um espetáculo à parte, adicionado às cores e luzes piscantes, harmonizando com os semblantes dos músicos emocionados escancarados nos telões. E foram canções que deram a trilha sonora da vida, com momentos que passaram diante dos olhos de muitos quarentões, que certamente vislumbraram seus velhos skates com silvertape e pistas improvisadas nas ruas da vizinhança.

Por fim, o famoso “sextoouu” do dia 12 de setembro de 2025, proporcionou novas amizades, histórias infames, pessoas desconhecidas relembrando a vida e tomando novas decisões com relação ao futuro. Também fui presenteada com palavras amigas e sábias em um momento em que precisava. 

Inclusive deixo aqui registrado, meu episódio de lágrimas insistentes escorrendo pelo meu rosto, durante a execução da faixa Good Riddance. Esta música me acompanhou em viagens de aventura, e até hoje aperta meu peito de tempos em tempos. Por outro lado, esta composição encontrou um espaço especial no coração do meu filho mais velho, de nove anos, que elegeu esta canção como “Nossa música de ninar”, pela beleza que acalma e ao mesmo tempo lhe traz “A tal da nostalgia”, em suas jovens palavras.

Importa falar aqui, que durante o show houveram infinitos momentos a serem descritos nesta resenha, como a mulher de laranja que subiu ao palco, Billie Joe enrolado na bandeira do Brasil, e assim por diante. Mas faço das palavras da banda, as minhas, o importante mesmo é conseguir passar aos leitores a sensação de ter estado lá, as mil emoções que somos capazes de sentir quando trata-se do amor à música. Peço desculpas, se me excedi, mas acredito que precisamos de mais palavras com significado, sem fórmulas prontas, facilmente acessíveis por inteligência artificial, precisamos ser mais humanos.

Considerações acerca do evento e organização

A Ligga Arena é um local ótimo para shows, por ter sido reformada, possui muitos banheiros, várias áreas com acessibilidade, saídas de emergência de fácil acesso, equipe treinada em grande número e agilidade, em casos de emergência. Fiação e cabos em locais seguros, pessoas treinadas com todas as informações para sanar dúvidas. 

Local central da cidade de Curitiba, arborizado, com opções externas de comidas simples a lanches gourmet. Ponto negativo para a locomoção de que precisou de Táxi ou Uber, os valores estavam exorbitantes. O transporte público encontrava-se muito cheio, mas nada que um pouco de paciência não resolva.

Em sua estrutura arquitetônica, a Arena do Athlético Paranaense possui um teto com arestas retráteis, que desta vez encontravam-se fechadas. Uma particularidade minha e acredito que de muitas pessoas é a importância de se ter o céu como testemunha, em concertos musicais. Mas devido ao mau tempo, e a quantidade de equipamentos, a ação foi necessária.

Faz-se necessário aqui um adendo para a área da inovação em serviços ao consumidor em eventos musicais. As parcerias entre organizadoras e produtoras começaram a olhar para os nichos e focar no conforto e praticidade daquele determinado público, principalmente os fãs de Rock, sempre rotulados como fáceis de agradar. Finalmente perceberam que os jovens, viraram adultos consumidores. A seguir alguns exemplos, do que falei, presentes na The Savior Tour 25 - Green Day

Primeiramente, com relação ao frio que fazia naquela noite, e convenhamos, a cerveja gelada não era muito convidativa (Agora pasmem, no valor de 22 reais/ 350ml). Mas nem tudo são dissabores, e finalmente haviam opções variadas à famosa cerveja no copo, como por exemplo, incríveis opções de vinhos e espumantes para esquentar o corpo com estilo, além claro de comidinhas muito saborosas em embalagens primorosas, além de um serviço de garçom “leva e traz” para quem estava guardando um lugar mais a frente. 

Atualmente, no ponto em que estão as coisas, (no caso a escassez do poder aquisitivo brasileiro e o novo foco em experiências) não vale mais a pena arcar com os valores supervalorizados que se cobram por cervejas comuns e refrigerantes em shows de grande porte. Além disso, é preferível ter mais opções com valores diferenciados (para quem pode, claro), e para os viciados em shows, um copo de água com gás é mais do que suficiente. E, sim, muitos curitibanos bebem vinho e apreciam uma boa degustação. Espero que a moda pegue! Lembrando claro, da colisão divertida de idades naquela noite, comento isto para justificar o fato da presença do vinho. No último ponto, ressalto que a água estava sendo distribuída gratuitamente e à vontade, na forma de copos plásticos.

Finalmente, fiz uma comparação mental, no caso foi real mesmo, de estar sentada na grade de um show em 1996, passando sede e insolação, sendo ignorada pelos ambulantes, sem dinheiro para um pacote de Doritos. Decorridos alguns anos, agora em 2025, estou sentada na grade também de um show de rock, mas com garçons me atendendo e pessoas limpando o chão. Fiquem com suas conclusões, meus colegas headbangers dos anos 90!

Prometo que não vou comentar as taxas abusivas de conveniência na venda de ingressos. Muito Obrigada por lerem esta resenha até o final! Viva ao Rock N’Roll!



Fotos: Alan Ferreira 

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Move Concerts

Press: Midiorama


Green Day – setlist:

American Idiot

Holiday

Know Your Enemy

Boulevard of Broken Dreams

One Eyed Bastard

Revolution Radio

Church on Sunday

Longview

Welcome to Paradise

Hitchin' a Ride

Brain Stew

St. Jimmy

Dilemma

21 Guns

Minority

Basket Case

When I Come Around

Letterbomb

Wake Me Up When September Ends

Jesus of Suburbia

Bobby Sox

Good Riddance (Time of Your Life)

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