quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Cobertura de Show: Exodus – 09/10/2025 – Carioca Club/SP

Algumas pessoas, inclusive amigos próximos, sempre fazem aquela pergunta: "Ué, você já viu essa banda antes, por que vai de novo?". Sinceramente, acho esse questionamento totalmente fútil e sem noção. Em tempos de tantas perdas e com bandas que marcaram nossa vida deixando de fazer turnês e shows ao vivo, temos mais é que aproveitar todas as oportunidades de vê-las enquanto ainda podemos. E foi exatamente isso que eu fiz: lá fui eu, mais uma vez, ver o Exodus ao vivo. Um ano após sua participação no festival Summer Breeze, agora sob o selo do Bangers Open Air, a banda retornou a São Paulo para mais uma apresentação, daquelas impossíveis de descrever em palavras.

Assim como nas outras vezes em que fizeram shows solo no Brasil, o local escolhido para receber os thrashers da Bay Area foi o Carioca Club. Próxima a uma estação de metrô, a casa é palco dos principais shows de heavy metal e rock em São Paulo nos últimos 10 ou 15 anos. O público compareceu em peso, mesmo sendo uma quinta-feira, o que já era esperado desde o anúncio em julho. Se não esgotou, faltou pouco, pois mal dava para se mover no recinto de tanta gente que tinha. Nos dias que antecederam o show, a organização já vinha alertando que restavam apenas poucos ingressos, refletindo exatamente no que foi ditou a pouco. 

Vale sempre destacar a importância da logística de horários, especialmente nos dias de hoje, em que está cada vez mais raro ver produtoras e casas de shows respeitarem os horários anunciados. Atrasos grotescos têm se tornado comuns e afetam diretamente o público, que muitas vezes depende do transporte público para voltar para casa com segurança. Nesse sentido, a LivinStage, em parceria com a Honorsounds, merece elogios. Tudo foi respeitado, desde a abertura das portas até o início, demonstrando total profissionalismo e comprometimento.

Como é comum em shows de bandas consagradas, a noite contou com uma banda de abertura local, e a escolhida para essa missão foi o Throw Me To The Wolves. Sim, o nome é um pouco complicado, mas ao menos foge do padrão genérico de muitos nomes atuais. Na ativa desde 2023, o grupo apresenta uma sonoridade bem diferente da atração principal, com um death metal moderno, técnico e com melodia. Em cerca de meia hora de apresentação, tocaram faixas do recém-lançado (e primeiro) álbum Days of Retribution. O som, no geral, estava satisfatório, apesar de alguns problemas técnicos, principalmente no bumbo da bateria, que ficou inaudível em certos momentos.

Nada disso, porém, comprometeu o brilho do show e o desempenho dos integrantes, com destaque para o vocalista Diogo Nunes, que entregou vocais raivosos e intensos, e o guitarrista Guilherme Calegari, que comandou os riffs pesados com segurança. A casa já estava consideravelmente cheia para recebê-los. Parte do público já conhecia o trabalho da banda e até os havia visto em outras ocasiões; outros ainda não tinham tanto contato com o som do grupo, o que resultou em uma recepção um pouco tímida. Ainda assim, foi uma ótima oportunidade para conhece-los, pois trata-se de uma banda promissora, que ainda vai dar muito o que falar.

O único ponto negativo ficou por conta da iluminação, muitas vezes escura demais, o que dificultou o trabalho dos fotógrafos. Tirando isso, uma excelente apresentação, à altura do papel de banda de abertura.

Devidamente aquecidos, restava apenas aguardar as grandes estrelas da noite. Muitos dos presentes já sabiam o que esperar do setlist, anunciado de forma clara pelo backdrop com a arte do Bonded by Blood. Lançado em abril de 1985, o disco ajudou a definir o caráter do thrash metal e, mesmo após 40 anos, continua soando atemporal e influenciando novas gerações. Tudo isso fez ainda mais sentido quando, pontualmente às 21h, a banda entrou, em alto e bom som (como deve ser um show do Exodus), com a clássica faixa-título e a explosiva “Exodus”, que rapidamente empolgaram a multidão espremida na pista, onde mal se conseguia dar um passo ou fazer qualquer movimento. Melhor início como esse impossível. 

Quem já teve a chance de ver o Exodus ao vivo sabe exatamente como é a experiência. Sabe aquele famoso ditado “onde o filho chora e a mãe não vê?” Pois é, é bem isso. A cada música anunciada, o público reagia com fervor, celebrando e exaltando cada faixa como um hino. A sequência com “And Then There Were None” (com o tradicional “ô, ô, ô” entoado pela plateia), “A Lesson in Violence” e “Metal Command” traduziu perfeitamente essa energia. 

Apesar de essas músicas já serem matadoras por si só, o impacto não seria o mesmo sem a competência de Gary Holt (o melhor guitarrista de thrash metal da história, sem exagero), Lee Altus (guitarra), Tom Hunting (bateria), Steve Brogden (baixo, substituindo temporariamente Jack Gibson por conta de um problema familiar) e Rob Dukes (vocal). Aliás, falando no Rob, que mais uma vez vem substituindo Steve “Zetro” Souza com excelência, foi o que mais interagiu com o público e incendiando ainda mais a atmosfera do show.

Mas, claro, o show não ficou restrito somente no celebrado álbum. A partir da metade do set, a banda resgatou faixas de discos posteriores, além de algumas surpresas que nem chegaram a ser tocadas no show da Argentina. A primeira delas foi a excelente “Iconoclasm”, única representante da fase com Rob Dukes, retirada do álbum The Atrocity Exhibition: Exhibit A (2007), e com o brasileiro Gerson Polo assumindo o baixo. Ele permaneceu no palco também em “Blacklist”, que já vinha sendo executada na turnê, e em “Fabulous Disaster”, outra surpresa inesperada no set.

Essas duas renderam os momentos mais marcantes da noite, engrossando ainda mais o caldo e elevando o vapor que vinha da roda no centro da pista. Em “Blacklist”, aconteceu a cena mais divertida do show: Rob e Steve seguraram e tocaram a guitarra de Gary Holt enquanto ele tomava uma cerveja – sem álcool, claro, já que ele está sóbrio há bastante tempo. Já “Fabulous Disaster” foi recebida com todos os tipos de palavrões imagináveis pela plateia. E, pessoalmente, esse foi o momento mais afetivo para mim também, já que essa música faz parte do primeiro disco, de mesmo nome, que ouvi do Exodus.

Com uma breve melodia de Gary Holt e Tom Hunting brincando com a plateia, como se estivessem regendo uma orquestra, “No Love” regressou ao Bonded by Blood com estilo e com a mesma performance impecável que marcou o início do show, ou seja, impecável. “Deliver Us to Evil”, dedicada ao lendário Paul Baloff, foi antecedida por uma breve apresentação da banda e emendada com a clássica “Piranha”, que já foi regravada por diversas bandas, entre elas o Sepultura. A execução contou novamente com a participação de Fábio Seterval, vocalista do Funeral Blood (tributo ao Exodus). Para quem assistiu ao show anterior da banda no Summer Breeze, a lembrança veio de imediato. Um detalhe curioso em Piranha foi a iluminação. Em boa parte, o palco ficou bem escuro. Não se sabe se foi de propósito ou por erro técnico, mas tudo voltou ao normal no final da canção.

Antes de encerrar o show – e, consequentemente, o álbum – a banda preparou uma trinca destruidora com “Brain Dead”, “Impaler” e “The Toxic Waltz”. Um fato interessante sobre “Impaler”, que muita gente ainda desconhece, é que ela foi composta por Kirk Hammett (hoje no Metallica) durante seu tempo no Exodus. O riff principal, inclusive, foi reaproveitado em “Trapped Under Ice”, faixa do Metallica no álbum Ride the Lightning (1984). Em “The Toxic Waltz”, rolou a “pegadinha do malandro”: a cada vez que a banda anunciava a música, eles fingiam que iam sair do palco ou tocavam os riffs de “Raining Blood” (Slayer) e “Motorbreath” (Metallica), arrancando risadas da plateia com a brincadeira.

E, como não poderia faltar, o encerramento bombástico veio com “Strike of the Beast”, acompanhada do clássico “Olê, olê, olê, Exodus!” entoado pela plateia e replicado pela guitarra de Gary Holt. Um final à altura de uma noite inesquecível.

Nem todas as bandas gostam de fazer turnês comemorativas centradas em um álbum específico. Afinal, esse tipo de show costuma deixar de lado outras músicas importantes da carreira. Mas, no caso de Bonded by Blood, a proposta foi mais do que justa, sendo uma oportunidade única de ouvir o disco sendo executado ao vivo ao invés da versão regravada (Let There Be Blood), que considero o maior erro da história da banda.

E falando da banda, trata-se de um ponto fora da curva. Sempre defendo que eles mereciam muito mais reconhecimento do que algumas bandas que compõem o chamado “Big 4” do thrash metal americano. Infelizmente, alguns atrasos e circunstâncias acabaram impedindo o grupo de alcançar esse mesmo patamar de sucesso.

No fim das contas, assistir a um show do Exodus só aumenta a vontade de vê-los novamente. É uma daquelas bandas pelas quais eu pagaria ingresso quantas vezes fosse necessário. Agora, resta aguardar o novo álbum, previsto para o ano que vem.

Texto: Gabriel Arruda

Fotos: Roberto Sant'Anna


Realização: LivinStage / Honorsounds

Press: Hoffman & O' Brian


Exodus – setlist:

Bonded by Blood

Exodus

And Then There Were None

A Lesson in Violence

Metal Command

Iconoclasm

Blacklist

Fabulous Disaster

No Love

Deliver Us to Evil

Piranha

Brain Dead

Impaler

The Toxic Waltz

Strike of the Beast

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