Ex-Nightwish, Anette Olzon, entrega show solo emocionante e empolgante em São Paulo celebrando sua fase na banda finlandesa
Em 27 de setembro de 2025, após 17 anos da controversa tour com o Nightwish pelo Brasil, Anette Olzon subiu ao palco do VIP Station, em São Paulo, pela primeira vez em carreira solo. A apresentação foi marcada por nostalgia, reconhecimento e musicalidade — e, para muitos fãs, serviu para reposicionar seu papel dentro (e fora) da história da banda finlandesa.
A última passagem da vocalista pelo Brasil havia sido em novembro de 2008, quando realizou 10 shows com sua antiga banda. Aquela turnê dividiu o público entre os fãs da ex-vocalista Tarja Turunen e os que aceitavam a recém-chegada Anette. Foi uma época marcada por polêmicas, incluindo o famoso episódio em que Anette deixou o palco após vaias e desaprovação do público.
Quase duas décadas depois, a turnê solo de Anette foi anunciada com certa reverência: ela traria ao palco os clássicos da era em que integrou o Nightwish — os álbuns Dark Passion Play (2007) e Imaginaerum (2011). Pela primeira vez, em carreira solo, ela revisitaria esse repertório de maneira dedicada.
A noite começou com a excelente banda curitibana Magistry, formada por Lya Seffrin (vocal), Leonardo Arentz (guitarra), João Borth (guitarra), Thiago Parpinelli (teclado), Leonardo Rivabem (baixo) e Johan Wodzynski (bateria). A apresentação aconteceu poucos dias após o lançamento do EP Venus Mellifera, sucessor de The New Aeon.
A banda cumpriu muito bem o papel de “opening act”, com uma sonoridade densa que transitava entre o sinfônico, o gótico e o metal pesado — um clima que casou perfeitamente com a proposta da noite. Lya Seffrin chamou atenção pela entrega dramática em suas interpretações, enquanto a banda demonstrava profissionalismo tanto na execução quanto na estética de palco. Destaque para uniformidade da banda no palco no quesito “dress code” mostrando o profissionalismo que a banda veio para mostrar. Músicas como “Swing to the Circles of Time”, “Alchemy of the Inner World” e “Divine”, mostraram toda a força e dramaticidade interpretadas por Lya e Leonardo.
A recepção calorosa do público ao Magistry foi um ótimo prenúncio para o que estava por vir.
Com uma banda de apoio formada inteiramente por músicos brasileiros — Filipe Duarte (baixo e vocais), Sanzio Rocha (guitarras), Kiko Lopes (bateria) e Vithor Moraes (teclados) — os primeiros acordes de “7 Days to the Wolves” ecoaram, anunciando a entrada triunfal de Anette. Sorridente, ela saudou o público de São Paulo e, já no meio da primeira música, tirou os sapatos para se sentir mais "em casa". Dançando, batendo cabeça e sorrindo, deu início a uma performance vibrante.
O set list seguiu com “Storytime”, “Ghost River” e “Bye Bye Beautiful” — esta última, conhecida por ser uma provocação direta à ex-vocalista Tarja, foi cantada com empolgação pelos fãs do chamado “Team Anette”.
Surpresas como “Turn Loose the Mermaids”, “Meadows of Heaven”, “Rest Calm” e “Ghost River” emocionaram o público por serem faixas raramente ou nunca executadas ao vivo pelo do Nightwish. Durante todo o show, era comum ouvir o coro: “ANETTE, EU TE AMO!”
Em “Last of the Wilds”, Anette deixou a banda brilhar. Em diversos momentos, fez questão de elogiar e apresentar os músicos, com destaque para o baixista e vocalista Filipe Duarte, que assumiu os desafiadores vocais de Marko Hietala. Anette revelou que o grupo teve apenas um ensaio antes da turnê — o que só reforça a competência dos músicos.
“Eva” foi um dos pontos altos da noite. Em um momento quase acústico e intimista, com os músicos sentados em banquinhos, Anette entregou uma interpretação sensível e comovente. Em “Sahara”, Lya Seffrin retornou ao palco para um dueto surpreendente, que foi muito bem recebido. Mas foi em “The Poet and the Pendulum” que o ápice emocional do show aconteceu. Uma música que não se ouve apenas: sente-se. A interpretação de Anette foi arrebatadora, mostrando toda a sua versatilidade vocal e emocional. Foi um daqueles momentos que nos fazem pensar: “Já pagou meu ingresso”.
Ao anunciar “Meadows of Heaven”, o público brincou gritando “PASTORA! PASTORA!” — uma alusão ao caráter espiritual da canção. Anette explicou que a faixa é especial, especialmente para quem acredita em Deus e na imensidão dos céus.
Antes da última música, Anette convidou ao palco seu filho, Seth, criando um momento de intimidade e carinho. Ele entrou com uma bandeira do Brasil, arrancando aplausos e risos. Logo após, “Last Ride of the Day” encerrou o show com energia e emoção.
A voz de Anette permaneceu firme e expressiva durante toda a apresentação. O repertório equilibrou momentos épicos e baladas tocantes, agradando tanto os fãs do metal sinfônico quanto os que buscam performances mais emocionais. A conexão com o público foi constante e genuína.
O show de Anette Olzon em São Paulo foi, acima de tudo, uma noite de redenção — para ela e para os fãs. Mostrou que ela tem seu lugar nos palcos do mundo e que não deve nada à sua antecessora. O valor simbólico de ouvir ao vivo músicas que muitos julgavam esquecidas emocionou e reacendeu memórias.
Apesar das limitações naturais de uma produção dessa escala, a performance teve alma, entrega e propósito. Para os fãs de Dark Passion Play e Imaginaerum, foi uma verdadeira celebração. E para Anette, possivelmente, um novo começo.
Finalizo com um agradecimento ao produtor Eliel Vieira, da Estética Torta, pela ousadia de realizar um show tão necessário, celebrando dois discos incríveis e oferecendo ao público brasileiro a chance de vivenciar esse momento com uma artista que — agora é oficial — fez as pazes com seus fãs. Que venham mais turnês. E que não demore tanto para voltar, Pastora.
Texto: Anderson Bellini
Fotos: Pri Secco
Edição/Revisão: Gabriel Arruda
Realização: Estética Torta
Press: Acesso Music
Anette Olzon – setlist:
7 Days to the Wolves
Storytime
Ghost River
Bye Bye Beautiful
Amaranth
Rest Calm
Last of the Wilds
Eva
Turn Loose the Mermaids
Sahara (com Lya Seffrin)
The Poet and the Pendulum
Meadows of Heaven
Last Ride of the Day
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