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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Cobertura de Show – Edu Falaschi & AttrachtA: Uma Noite Nostálgica! (23/07/2017 – Carioca Club – SP)

 

Quando o vocalista Andre Matos anunciou a sua saída do Angra, no começo de 2000, somada também pelo desligamento do baixista Luis Mariutti e do baterista Ricardo Confessori, gerou fortes incertezas para uma das maiores potencias do Heavy Metal nacional, provido de um ponto de interrogação que causou receios tanto nos fãs quanto ao destino da banda, que naquela altura colecionava os melhores hits nos álbuns “Angels Cry” (1993) e “Holy Land” (1996). A restruturação não divergiu no seu ponto criativo, que de 2001 a 2004, com os álbuns “Rebirth” e “Temple Of Shadows”, contagiou gerações com um repertório amplo, estabelecido pela ideia do vocalista Edu Falaschi. 

Após 5 anos desde de seu egresso, finalizando a jornada que perdurou 12 anos, Edu deslindou relembrar aquele passado glorioso, revertida da mega turnê “Rebirth Of Shadows”, exterminando a saudade dos fãs provectos e concebendo, aos mais novos, a oportunidade de conferir o vocalista interpretando (ao vivo) os seus clássicos no Angra, contando, ao seu lado, dois membros que viveram aquela fase: Aquiles Priester (bateria) e Fabio Laguna (tecladista), e completando o line-up desta tour, Diogo Mafra (guitarra), Raphael Dafras (baixista), ambos do Almah, e do novato guitarrista Roberto Barros, que  enfrentou um Carioca Club abarrotado de gente. 

AttracthA Aquecendo as Turbinas


A fila era larga ao chegar a casa por volta das 17h, ainda havia muita procura de ingressos, o que quase resultou num incrível "sold-out", ocorrido apenas no show do Rio de Janeiro, que antecedeu ao de São Paulo. E as 18h em ponto as portas do Carioca foram abertas, recrutando quietamente a entrada dos fãs, podendo curtir as músicas do último disco do Almah, “E.V.O” (2016), enquanto a banda de abertura não aparecia em cena. Sem muitas delongas, o AttracthA aparece no palco, às 19h15, para incendiar a noite e o público, que já era grande.

Formado por Cleber Krichinak (Vocal), Ricardo Oliveira (Guitarra), Guilherme Momesso (Baixo) e Humberto Zambrin (bateria), o quarteto vem promovendo a divulgação do ‘debut’ disco, “No Fear To Face What’s Buried Inside You” (2016), que teve produção do próprio Edu Falaschi. Exibindo um pouco do melhor deste trabalho, “Bleeding In Silence” abre o show com toda disposição, alcançado por aplausos depois do remate, mesclado por toques de Thrash e Prog Metal.


As viradas de bateria de Humberto foram preparadas pra iniciar “231”, que é marcada pela técnica (Guilherme e Humberto expondo domínio) e do refrão confrontante que funcionaram bem ao vivo. “Move On” e “Victorius” esbanjam dinamismo, controlando a qualidade sonora (volvida de peso) e vocal cantado de forma autêntica (Cleber administrando muito bem suas atitudes, tendo uma postura remetida ao Eric Adams, do Manowar).

Regressando no fim, Cleber aproveitou para agradecer o apoio de todos pela casa cheia, com Humberto esquentando a bateria para próxima música, que possui clip dirigido pelo tecladista Junior Carelli, da Noturnall, o qual estava presente na festa. E foi com a explosiva “Pay Back Time” que deu continuidade a apresentação, possuindo um andamento rápido pra bater cabeça e o refrão swingado. 


Os agradecimentos finais foram novamente direcionados ao público, com Cleber enfatizando a todos que fazer Heavy Metal no Brasil é um trabalho duro, não esquecendo, claro, de credenciar o Edu Falaschi (responsável por convida-los a abrir a noite) e a produção do evento, vindo das batidas de bumbo, atraindo os presentes, para terminar o rápido set com a pesada “Unmasked Files”. 





Depois da agonia e demora, a Rebirth Of Shadows Tour foi instaurada numa noite histórica!


Os minutos que antecederam o começo do show causaram aflição e impaciência aos que aguardavam inquietamente. Passaram-se 10, 20 e 30 minutos de espera, e nada de sinal da banda dar as caras no palco, resultando em mais inquietude, e ainda vaias e urros vindos de vários setores da casa. Pra dissolver todo o nervosismo, eis que, às 20h40, a intro “Deus Le Volt!, do “Temple Of Shadows”, retumba nos PAs, estourando tudo com a eletrizante “Spread Your Fire”, propiciando regalias com “Acid Rain”, do “Rebirth”, que colheu pulos e cantiga de todos. E o Edu vem mostrando que está em plena forma, trovando cada verso da música igual a original gravada em estúdio, encerrando a primeira trinca com a aclamada “Running Alone”. 

Recuperando rapidamente o fôlego, Edu comentou que estava sendo muito bom em poder fazer o show completamente lotado, significando que ali era um ciclo muito importante, que apesar de todas as brincadeiras, declarou amor aos seus fãs. Voltando mais uma vez no tempo, a banda fez mais uma do álbum “Temple Of Shadows”, entoada então, a atraente “Wishing Well”. 


A primeira surpresa da noite vem de forma redentora, pegando muitos de surpresa com a inclusão de “Caça e Caçador”, do EP “Hunters And Prey”, que foi poucas vezes executada ao vivo nos tempos de Angra, recepcionada  calorosamente, provavelmente até por quem torcia o nariz, ou afirmava de que ela nunca mais seria tocada por algum membro daquela fase. “Angels And Demons” adicionou mais lenha na fogueira, elevando o clima em total calor e adura. 

Perguntando se todos estavam cansados, no contravir de um "NÃO", Edu franqueou (apesar de ser domingo) que tinha planos de um show longo, pois o mesmo esperou muito tempo pra poder fazer a respectiva apresentação, e que já passou o jogo do Corinthians e o que o time já é campeão. E para efetuar mais uma do “Rebirth”,  “Heroes Of Sand”, onde o vocalista pediu a ajuda dos fãs, sendo correspondido à altura com todos cantando referto de força e vontade, completando a metade do set com a única do “Aurora Consurgens” (2006): a harmoniosa “Breaking Ties”. 


Antes prosseguir com o restante das obras, Edu aproveitou para anunciar o ganhador de uma guitarra numa promoção feita pela rádio Kiss Fm, onde o felizardo, chamado Vanderson Martins da Silva, subiu ao palco para receber o instrumento das mãos do vocalista e da banda. 

Tendo o palco só pra si, a próxima faixa, vindo de coros de ‘Saint Seya’ e ‘Pegasus’, simboliza um ícone dentro da carreira do vocalista, não tendo a mínima noção que fosse convertida num sucesso e rodado mundo a fora, como foi observado na sua última passagem pela Itália. E essa música, no fim das contas, mudou a vida de muita gente, alegando que muitos passaram a curtir Rock e conhecer os seus trabalhos através dela, alegrando todos, em formato acústico, com a clássica trilha sonora de abertura do Os Cavaleiros dos Zodíaco, “Pegasus Fantasy”. O engraçado, antes de canta-la, é que após o Rock In Rio com o Almah, em 2015, Edu recordou que recebeu o convite pra cantar no desenho do Bob Esponja, rejeitado imediatamente por não ter ligação ou algo a ver com o Heavy Metal. 


Na mesma linha, “Trem das Onze”, originalmente gravada por Adoniran Barbosa, teve boa receptividade, notabilizado por uma etapa ilustre da noite. Voltado ao formato convencional, era chegada a hora da total ajuda dos fãs, que ficou explicito pela enigmática “Late Redemption”, onde ao vivo fica ainda mais requintada, minuciada pelo baixo volume do violão de Roberto. E o Edu não deixou de registrar o momento épico em vídeo no seu celular.

A pausa para o rápido descanso foi culminada pelo tradicional solo de bateria do Aquiles, que até hoje encanta os olhos dos admiradores pelo instrumento. 


“The Temple Of Hate” ganhou uma entrada calorosa, vendo muitos cantando cada verso e o refrão a exaustão, com a banda agitando junto com o público. “Bleeding Heart” mexeu com os corações apaixonados, lembrando-se da romântica apresentação que o Edu realizou, em comemoração ao Dia dos Namorados (10/06), no Manifesto Bar (SP). O ar melodioso só durou até os primeiros versos de “Millennium Sun”, mas que voltou com toda carga nos traços mais frenéticos. 

Vale ressaltar que os músicos que acompanham o Edu nessa turnê se sentem bem familiarizados com as músicas, principalmente o Aquiles, que depois de quase 10 anos sem tocar Angra, ainda consegue imprimir as suas linhas de bateria compostos nos álbuns que participou da melhor maneira possível, além, claro, do guitarrista Roberto Barros, que soube executar muito bem os solos e riffs feitos pelo Kiko Loureiro.


Emoção Pelos Rencontros, e a Satisfação de Mais um Acerto

Regressando nas partes finais, Edu agradeceu a presença de todos e alguns músicos importantes na cena que estavam ali para conferir o show, entre eles o Alirio Netto, Bruno Sutter, Marcello Pompeu, Tiago Mineiro (pianista do álbum “Moonlight”) e o já citado Junior Carelli. E durante essa pausa, foram apresentados cada membro da banda, e repentinamente, o Aquiles tomou a frente do palco, confessando que estava com muita saudade dos fãs do Angra, e o que estava acontecendo nessa turnê é algo muito especial, não tendo a menor ideia que iria ocorrer novamente nessa vida, agradecendo ao Fabio Laguna pela reconciliação dele com o Edu, apresentando, grandemente, o causador de tudo de maneira eufórica, com os dois dando um forte abraço. Enquanto emitia seu discurso, a filhinha do Edu, Mikaela, roubava a cena no palco para dar um abraço no pai. 


O Bis foi procedido com a empolgante “Waiting Silence” e “Live And Learn”, mais uma libertada faixa e que cortejou todos os saudosistas. Não parando por aí, a noite nostálgica foi concluída com as indispensáveis “Rebirth” e “Nova Era”, que encerraram a longa exibição da banda e já deixando uma forte saudade, mas que irá ficar marcado na história do Metal nacional pelo simples fato da música reaproximar não só as pessoas, e sim os músicos que ajudaram a construir trabalhos tão importantes dentro do Heavy Metal. 

Mais um gol de placa do senhor Edu Falaschi. 

Texto: Gabriel Arruda
Fotos: Dener Ariani
Edição e Revisão: Carlos Garcia

AttracthA
1. Bleeding In Silence
2. 231
3. Move On
4. Victorious
5. Payback Time
6. Unmasked Files

Edu Falaschi
1.    Spread Your Fire
2.    AcidRain
3.    Runnig Alone
4.    Wishing Well
5.    Caça e Caçador
6.    Angels And Demons
7.    Heroes Of Sand
8.    Breaking Ties
9.    Pegasus Fantasy (Solo Acoustic)
10.  Trem das Onze (Solos Acoustic)
11.  Late Redemption
Drum Solo
12.  The Temple Of Hate
13.  Bleeding Heart
14.  Millennium Sun
15.  Waiting Silence
16.  Live And Learn
Bis
17.  Rebirth
18.  Nova Era

sábado, 20 de maio de 2017

Entrevista - Edu Falaschi: Sem Medo dos Desafios



Após a sua saída do Angra, em 2012, a carreira do vocalista Edu Falaschi vem sendo imposta por desafios e coisas novas, e além de estar a frente do Almah já há 10 anos, e seguindo a divulgação do mais recente trabalho, “E.V.O”, lançado no ano passado, segue seu trabalho como produtor, e também busca ideias inovadoras no mercado da música, como um ‘Crowdfunding’ para realização de shows da banda sem depender de contratantes. Para falar sobre esses e outros assuntos ele nos atendeu, revelando, em meio a entrevista, que está preparando uma carreira solo cantando os clássicos da sua fase no Angra.  Confira a seguir:                    
RtM: Em 10 anos de existência, o Almah criou sua identidade própria dentro do Heavy Metal, colocando uma linguagem moderna e misturando diversos estilos dentro da sonoridade da banda, ganhando até o rotulo de Groove Metal pelos europeus. Pela maneira diferente de trabalhar, você acha que o Almah hoje é um dos nomes mais significativos do Metal nacional?
EF: Eu acredito que o Almah tem o seu lugar. Nós trabalhamos para fazer música, apenas isso. O que conquistamos até agora é fruto de um trabalho de 10 anos! A marca da banda cresceu muito nos últimos anos, mas ainda temos muito por fazer! A banda é relativamente nova! Os trabalhos não param! 

RtM: A cada disco, a banda varia sua sonoridade, a qual já atravessou caminhos mais sujos, como no álbum “Motion” (2011), mas nunca deixando de priorizar harmonia e melodia, colocando até mesmo influências de música Pop e elementos mais contemporâneos. Nesse 5º disco, E.V.O, você meio que voltou às origens, lembrando muito o que você fazia no Angra. foi uma forma de mostrar que o que você aprendeu no Angra ainda continua vivo? 
EF: Na verdade foi natural! Eu gosto de fazer discos diferentes, sempre apresentando algo novo. No Almah eu ainda não tinha feito algo com uma tessitura vocal nos moldes do que eu fazia no Angra, dessa vez resolvi voltar a uma sonoridade do disco “Rebirth” (2001), por exemplo, sem perder a essência do Almah, claro. O resultado foi muito bacana e os fãs dos meus tempos de Angra ficaram muito felizes.

RtM: O contexto do disco é baseado sobre a ‘Era de Aquário’, ficando explicito na canção que abre o trabalho, “Age Of Aquarius”. Por trás dos álbuns do Almah, há sempre um conceito sendo abordado, exceto o “Motion”, que fala sobre coisas do cotidiano. Trazer coisas sobre a mitologia grega é uma maneira de buscar conscientizar que estamos entrando em tempos de ascensão, de mudanças? 
EF: O conceito do E.V.O  é de um teor positivo, fala de uma mudança de consciência mundial que está por vir com a chegada da ‘Era de Aquário’ após a ‘Era de Peixes’ da qual estamos no momento. A mudança não será agora, mas está a caminho.

O mundo está mudando, vemos muitas coisas ruins aparecendo, vemos muita discussão de ideais, conflitos, muita coisa vindo a tona, as cortinas da mentira implantadas pelos poderes mundiais estão caindo, para acontecer uma mudança para melhor em todos os sentidos é inevitável que tenhamos que mexer no vespeiro. Isso trará consequências, e muita coisa ruim aparecerá, dando esse clima de desesperança, mas é necessário passar por esse momento turbulento que vivemos para alcançar uma consciência mais evoluída e positiva no futuro em longo prazo. A base do conceito é essa, mas eu abordo de uma forma poética passeando por temas como mitologia, história, ciência, astrologia, etc.

 "Para acontecer uma mudança para melhor em todos os sentidos é inevitável que tenhamos que mexer no vespeiro." (sobre o conceito em "E.V.O)
RtM: Conforme comentamos antes, no E.V.O percebemos que suas linhas passeiam por regiões mais altas, adicionando extensões agudas aqui e ali. Depois de anos de tratamentos e cuidados por causa do seu problema com refluxo, podemos dizer que você pode arriscar mais hoje em dia, mas sabendo usar de forma correta?  
EF: Sim, certamente, esse é um problema que terei que cuidar pra sempre.  Mas hoje sei mais sobre os métodos de tratamento e tenho mais domínio das minhas condições de saúde. Vivi anos com um fantasma do qual eu não sabia nada! Era um pesadelo! Lutar contra algo que você não sabe o que é ou de onde vem. Mas hoje estou bem de novo e o resultado é o lindo disco E.V.O! 

RtM: Temos o guitarrista Diogo Mafra e o baterista Pedro Tinello estreando no Almah com o disco E.V.O, não deixando a desejar em questão de técnica e criatividade. Eles contribuíram com alguma ideia ou eles se basearam no que já estava pronto? 
EF: Eles criaram muitos dos arranjos de guitarra e bateria! Não participaram das composições, mas foram essenciais para o disco ter uma enorme qualidade! O talento deles é absurdo!

RtM: Durante as composições do disco, vocês tiveram a surpresa com a entrada do guitarrista Marcelo Barbosa ao Angra, substituindo o Kiko Loureiro, que agora está 100% dedicado ao Megadeth. Desde sua entrada a banda, os trabalhos dele têm sido bastante corridos, tanto que o novo álbum do Angra vai ter as linhas de guitarra gravadas por ele. Como está sendo conciliar a agenda das bandas? 
EF: É tranquilo! O Marcelo é muito bom em administrar seus trabalhos. Certamente não teremos conflitos. O Angra é uma grande vitrine e ele está certo em abraçar essa oportunidade. Mas ele, assim como eu, tem um enorme apego ao Almah. Estamos muito conectados! 

RtM: Ano passado, você comemorou 25 anos de carreira lançado um disco solo, “Moonlight”, Nele você apanhou os seus principais sucessos no Angra e Almah em versões acústicas, trazendo um clima bem intimista através de arranjos de piano e cordas. Como foi rearranjar essas músicas colocando elas num outro ambiente?
EF: Foi muito legal! E um grande desafio! Musicas como “Angels and Demons” não são fáceis de tornar uma balada. Mas com a ajuda do genial pianista TIAGO MINEIRO, conseguimos um resultado lindo. Sem ele eu não teria conseguido.

 "Não gosto de me acomodar por medo de errar ou sofrer críticas, eu procuro sempre olhar pro futuro e seguir em frente."
RtM: Em paralelo a isso, você foi homenageado com um tributo em comemoração aos seus 25 anos de carreira, idealizado pela gravadora Ms Metal Records, que entre os destaques está a versão de “Heroes Of Sand”, cantada pelo vocalista Nando Fernandes e entre outros tantos talentos. É raro ver isso no Heavy Metal aqui no Brasil, artistas homenageando outros artistas. E olha que ainda será lançado o Vol.2. Você trata esse gesto como um dos mais gratificantes da sua carreira? 
EF: Com certeza! Eu jamais imaginei algo do tipo! Quando eu ouvi esse CD fique impressionado e muito emocionado em ver tantos talentos juntos me homenageando! Cada versão, cada interpretação naquele álbum me dá mais ainda a certeza que temos muitos gênios no Heavy Metal nacional! Amei tudo e todos! Serei eternamente grato a esses artistas e principalmente ao Eduardo Macedo, presidente da MS METAL RECORDS, por orquestrar essa homenagem. Inesquecível! 

RtM: Final do ano passado, você montou um projeto onde o fã poderia idealizar um show do Almah na cidade onde o mesmo reside por meio de ‘crowdfunding’. A iniciativa é totalmente inovadora e muito bacana, pois assim não seria necessário depender de contratantes para que os shows da banda fossem realizados. Mas, infelizmente, não acabou dando o resultado esperado. O que acabou faltando pra que fosse como você imaginava?
EF: Por ser algo pioneiro já era um desafio! O Crowdfunding geralmente é sobre um produto específico: CD, DVD, LIVRO, etc! No nosso caso era uma turnê, eram 10 projetos em 1, e tínhamos algumas limitações. Não sabendo previamente a data e local do show, isso gerou certa dúvida pra galera. E outra coisa ruim foi à divulgação, que dependeu do Facebook basicamente.
Enfim, esse projeto específico não deu certo, numa carreira de mais de 25 anos tive muitos acertos e alguns erros. Esse foi um deles, infelizmente. Bola pra frente! Os trabalhos continuam e sempre buscarei inovar e trazer ideias novas, mesmo que elas apresentem algum risco. Não gosto de me acomodar por medo de errar ou sofrer críticas, eu procuro sempre olhar pro futuro e seguir em frente.

"Cada versão, cada interpretação naquele álbum me dá mais ainda a certeza que temos muitos gênios no Heavy Metal nacional! Amei tudo." (Sobre o tributo)
RtM: Recentemente, você lançou uma coletânea digital solo em plataformas como Spotify, Deezer, Itunes, etc, chamada "Edu Falaschi Ballads", destacando as principais baladas compostas na sua carreira, principalmente da época do Angra. E ainda você fará um show inusitado para o DIA DOS NAMORADOS, dia 10 de Junho, em São Paulo no Manifesto, tocando essas baladas. Isso seria o indício do início de uma carreira SOLO focada nos seus tempos de Angra? 
EF: Como eu disse anteriormente, gosto de buscar novos projetos, e pra você ver, diferente do Crowdfunding daqueles 10 shows, esse lançamento da coletânea "EDU FALASCHI BALLADS" já é um sucesso de streaming e downloads com mais de 1 milhão de acessos,que já está gerando demanda por shows. A vida é assim, erros e acertos! Precisamos criar e empreender, sem medo! 

Voltando a sua pergunta, só de anunciar esses trabalhos SOLO, como a coletânea e o show de São Paulo, com os grandes Ricardo Confessori (bateria), Luis Mariutti (baixo), DemianTiguez (guitarra) e Junior Carelli (baixo), voltando a executar os clássicos dos meus tempos de Angra e entre outras coisas. Já apareceram muitas negociações! As obras que construímos junto no Angra, principalmente os discos “Rebirth” (2001) e “Temple of Shadows” (2004), tem uma força enorme mundialmente falando. E eu, desde que deixei a banda em 2012, recebo pedidos para cantar Angra, então acho que é um bom momento para isso! Enfim, posso dizer que sim, estou iniciando uma carreira SOLO, onde estarei cantando prioritariamente os clássicos dos meus tempos do Angra. Farei também algumas coisas do Almah e,possivelmente, Symbols. Mas quero deixar claro que o Almah continua normalmente com seu foco no futuro e produzindo coisas novas, firme e forte! Uma coisa não exclui a outra! 

RtM: Fora os seus compromissos no Almah e agora SOLO, você atua também como produtor musical, sendo o “João de Deus”, do vocalista Alirio Netto, um dos mais recentes com produção assinada por você. E pra esse ano, você está montando um pacote não só incluindo a produção, mas também gravadora, estúdio, arte gráfica e distribuição digital. Como é trabalhar diante de novas bandas, agora com a adição de novos recursos pra elas, dentro de um mercado tão concorrido e disputado?
EF: Eu adoro! É uma das minhas paixões! Ver bandas novas surgindo com trabalhos bem feitos e promissores e eu podendo ajuda-los a traçar o melhor caminho é muito gratificante! Esse ano criei essa campanha com alguns aliados para facilitar as coisas para os novos artistas. Faço o que posso! Tento fazer a minha parte! Estou aqui pra somar! Quero ver essas bandas crescerem e ter um lugar ao sol.

"A vida é assim, erros e acertos! Precisamos criar e empreender, sem medo!" 
RtM: Sobre Angra, O Rafael Bittencourt declarou várias vezes que pretende reunir todos vocalista para um show histórico, incluindo você, Fabio Lione e o Andre Matos, que não tem vontade de se reunir com a banda, gerando o entrave pra que isso não ocorra. Assim como os fãs, você espera que isso um dia aconteça, visando que Guns N’ Roses e Helloween conseguiram reunir integrantes clássicos.
EF: Claro, devemos tudo aos fãs e eles merecem esse presente! Tomara que um dia role! Seria uma grande celebração! 

RtM: Muito obrigado pela disposição, Edu. Fique a vontade sempre para contar as novidades aqui pra gente, fica o espaço para uma mensagem final. 
EF: Obrigado a vocês pela entrevista! Agradeço a todos os fãs que estão comigo até hoje! E "vamo que vamo" a música não pode parar! 

Entrevista: Gabriel Arruda
Edição Revisão: Carlos Garcia




Interview - Edu Falaschi: Without Fear of Challenges


After his departure from Angra in 2012, the career of vocalist EDU FALASCHI has been imposed by challenges and new things, and besides being the front of ALMAH for more then 10 years, and following the release of the most recent work, "EVO" , released last year, Edu continues his work as a producer, and also seeks innovative ideas in the music market, as a Crowdfunding to perform shows of the band without relying on contractors. In order to talk about these and other subjects he answered us, revealing, in the middle of the interview, that he is preparing a solo career singing the classics of his phase in Angra. Check it out:

RtM: In 10 years of existence, Almah has created its own identity on Metal, putting a modern language and mixing diverse styles on the sound of the band, gaining the label of Groove Metal by the Europeans. By the different way of working, do you think Almah is one of the most significant names in brazilian Metal today?
EF: I believe Almah has his place. We work to make music, that's all. What we have achieved so far is the result of 10 years of work! The brand of the band has grown a lot in recent years, but we still have a lot to do! The band is relatively new! The work do not stop!

RtM: With each album, Almah varies the sonority, with more straight sound, as in the album "Motion" (2011), but never failing to prioritize harmony and melody, putting even influences of Pop music and more contemporary elements . On this 5th album, E.V.O, you kind of went back to the origins, remembering very much what you did in Angra. Was it a way of showing that what you learned in the Angra is still alive?
EF: Actually it was natural! I like to make different albums, always presenting something new. In Almah I had not yet done something with a vocal tune in the way I did in Angra, this time I decided to return to a sound of the album "Rebirth" (2001), for example, without losing the essence of Almah, of course. The result was very cool and the fans of my Angra times were very happy.

"The concept of the E.V.O is about a positive content, it is about of a change of world consciousness."

RtM: The context of the album "E.V.O." is based on the 'Age of Aquarius', being explicit in the song that opens it, "Age Of Aquarius". Behind the Almah albums, there is always a concept being addressed, except on "Motion", which talks about routine and everyday things. To bring things about Greek mythology is a way to raise awareness that we are entering times of ascension and great changes?
EF: The concept of the E.V.O is about a positive content, it is about of a change of world consciousness that is to come with the arrival of the 'Age of Aquarius' after the 'Age of Pisces' of which we are at the moment. The change will not be now, but it's on the way.
The world is changing, we see many bad things appearing, we see a lot of discussion of ideals, conflicts, a lot of things coming out, the curtains of lies implanted by the world powers are falling, to make a change for better things in every way is inevitable that we have to face the enemies. This will bring consequences, and a lot of bad things will appear, giving this climate of hopelessness, but it is necessary to go through that turbulent moment that we live to achieve a more evolved and positive future in the long term. The basis of the concept is this, but I approach in a poetic way on themes such as mythology, history, science, astrology, etc.

RtM: As we said before, in E.V.O we noticed that its lines roam through higher regions, adding sharp extensions here and there. After years of treatment and care because of your reflux problem, we can say that you can risk more nowadays, but knowing how to use it correctly?
EF: Yes, certainly, this is a problem that I will have to take care forever. But today I know more about the methods of treatment and I have more mastery of my health conditions. I lived years with a ghost I knew nothing about! It was a nightmare! Fight against something you do not know what it is or where it comes from. But today I'm good again and the result is the beautiful album E.V.O!

RtM: We have the guitarist Diogo Mafra and the drummer Pedro Tinello debuting in the Almah with the album E.V.O. Did they come up with any ideas or did they build on what was already ready?
EF: They have created many of the guitar and drum arrangements! They did not participate in the compositions, but it was essential for the album to have an enormous quality! Their talent is absurd!

RtM: During the compositions of the album, you had the surprise with the entry of guitar player Marcelo Barbosa to Angra, replacing Kiko Loureiro, who is now 100% dedicated to Megadeth. Since his entrance on the band, his works have been quite run, so much so that Angra's new album will have the guitar lines recorded by him. How is reconciling the bands' agenda?
EF: It's cool! Marcelo is very good at managing his work. Certainly we will have no conflicts. Angra is a great showcase and he is right to embrace this opportunity. But he, like me, has a great attachment to Almah. We are very connected!

RtM: Last year, you celebrated 25 years of solo career release, "Moonlight", in which you picked up your main successes in Angra and Almah in acoustic versions, bringing a very intimate atmosphere through piano arrangements and strings. How did you rearrange these songs by putting them in another environment?
EF: It was really cool! And a great challenge! Songs like "Angels and Demons" are not easy to make a ballad. But with the help of the great pianist Tiago Mineiro, we got a beautiful result. Without him I would not have been able to.

 " I do not like to settle for fear of making mistakes or criticism, I always try to look ahead and move forward."
RtM: In parallel to this, you were honored with a tribute to celebrate its 25 years of career, idealized by the record label Ms Metal Records, which among the highlights is the version of "Heroes Of Sand" sung by singer Nando Fernandes and among Other talents. It's rare to see this in Heavy Metal here in Brazil, artists paying homage to other artists. And look that Vol.2 will still be released. Do you treat this gesture as one of the most rewarding of your career?
EF: Absolutely! I never imagined anything like that! When I heard this CD, I was impressed and very thrilled to see so many talents together paying homage! Each version, each interpretation on that album gives me even more certain that we have many geniuses in the national Heavy Metal! I loved everything and everyone! I will be eternally grateful to these artists and especially to Eduardo Macedo, president of MS METAL RECORDS, for orchestrating this tribute. Unforgettable!

RtM: Late last year, you set up a project where the fan could idealize a Almah show in the city where it resides through crowdfunding. The initiative is totally innovative and very cool, because that way it would not be necessary to depend on contractors for the shows of the band to be realized. But, unfortunately, did not end up giving the expected result. What did you end up to be like you imagined?
EF: Being a pioneer was already a challenge! Crowdfunding is usually about a specific product: CD, DVD, BOOK, etc! In our case it was a tour, there were 10 projects out of 1, and we had some limitations. Not knowing beforehand the date and place of the show, this generated some doubt for the crowd. And another bad thing was the disclosure, which relied on Facebook basically.

Anyway, this specific project did not work out, in a career of more than 25 years I had many hits and some mistakes. That was one of them, unfortunately. Let's go on! The work continues and I will always try to innovate and bring new ideas, even if they present some risk. I do not like to settle for fear of making mistakes or criticism, I always try to look ahead and move forward.


RtM: Recently, you have released a solo digital compilation on platforms like Spotify, Deezer, Itunes, etc, called "Edu Falaschi Ballads", highlighting the main composing ballads in your career, mainly from the Angra era. And yet you will make an unusual show for Valentine's Day (here in Brazil at June 10), in São Paulo in the Manifesto Bar, playing these ballads. Would this be the hint of the beginning of a SOLO career focused on your Angra times?
EF: As I said earlier, I like to look for new projects, and for you to see, different from Crowdfunding of those 10 shows, this release of "EDU FALASCHI BALLADS" is already a success of streaming and downloads with more than 1 million hits, Which is already generating demand for shows. Life is like this, mistakes and successes! We must create and undertake without fear!

Returning to your question, just announce these SOLO works, such as the compilation and the São Paulo show, with the greats Ricardo Confessori (drums), LuisMariutti (bass), DemianTiguez (guitar) and Junior Carelli (bass), we will play the classics of my time in Angra and among other things. Already many negotiations have appeared! The works we built together at Angra, especially the albums "Rebirth" (2001) and "Temple of Shadows" (2004), have a huge force worldwide. And I, since I left the band in 2012, I get requests to sing Angra, so I think it's a good time for that! Anyway, I can say that yes, I am starting a solo career, where I will be singing primarily the classics of my Angra times. I will also do some things from Almah and possibly Symbols. But I want to make it clear that the Almah continues normally with its focus on the future and producing new things, firm and strong! One thing does not exclude the other!

"Life is like this, mistakes and successes! We must create and undertake without fear!"
RtM: Apart from your commitments in Almah and now SOLO, you also act as a music producer, and the album "João de Deus", soloof the singer Alirio Netto, one of the most recent productions signed by you. And for this year, you are putting together a package not only including production, but also recording, studio, graphic art and digital distribution. What is it like to work in front of new bands, now with the addition of new resources to them, in such a crowded and contested market?
EF: I love it! It's one of my passions! Seeing new bands coming up with well done and promising jobs and I being able to help them chart the best way is very rewarding! This year I created this campaign with some allies to make things easier for new artists. I do what I can! I try to do my part! I'm here to add! I want to see these bands grow and have a place in the sun.

RtM: About Angra, Rafael Bittencourt has stated several times that he intends to reunite all vocalists for a historical show, including you, Fabio Lione and Andre Matos, who does not feel like reuniting with the band, generating the obstacle so that it does not happen . As well as the fans, you hope that one day will happen, aiming that Guns N 'Roses and Helloween have managed to reunite classics.
EF: Of course, we owe everything to the fans and they deserve this gift! Hopefully one day I'll roll! It would be a great celebration!

RtM: Thank you very much for the layout, Edu. Feel free to tell the news here for us, there is room for a final message.
EF: Thank you guys for the interview! Thanks to all the fans who are with me to this day! And "let's go" music can not stop!


Interview: Gabriel Arruda
Editing Review: Carlos Garcia





quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Almah: Evolução Natural e Constante



Quando admiramos algum artista que marcou uma época e gerações de fãs, a primeira coisa que a pessoa gosta de recordar é da fase mais significativa desse artista. E ver a trajetória do vocalista desta banda é algo um tanto interessante, pois o mesmo, de primeiro momento, viu a luz do sucesso diante do renascimento do Angra, tendo a árdua missão de substituir o Andre Matos e, logo de cara, já gravou um dos clássicos absolutos da carreira e da própria banda, “Rebirth” (2001). Mas o tempo foi passando: pressões, dúvidas e transtornos, fizeram com que ele mudasse totalmente a sua direção vocal, optando, em 2012, por sair do grupo que o levou ao reconhecimento no Heavy Metal nacional e mundial, preferindo remodelar a sua carreira por completo e seguir fazendo música com sua própria banda. A escolha foi sutil e certeira, e Edu Falaschi, que já está à frente do Almah há 10 anos, traz a atmosfera inicial da sua carreira no 5º disco da banda, “E.V.O”.

Com o lançamento mundial marcado para o dia 23 de setembro, nós, do Road To Metal, graças a Test Your Metal e a Ms Metal Records, tivemos o privilégio de receber, em primeira mão, todas as músicas que fazem parte deste trabalho. E logo na primeira audição, já temos a certeza que o disco vai contagiar os fãs de EDu e da sua fase no Angra, conforme afirmei na última frase do parágrafo acima, pois as voz do Edu, diria está revigorada, seguindo o estilo e aquele alcance vocal dos tempos do “Rebirth” e até mesmo no Symbols, explorando regiões mais altas e limpas, mantendo sempre a tradição de imprimir harmonia e melodia através de um instrumental rico, diversificando momentos que ora são mais melódicos, ora melancólicos e pesados, o que acaba fazendo o ouvinte prender a atenção a  cada faixa do disco.  


A produção, de costume, vem do próprio Edu, onde algumas partes foram gravadas no IMF Studio, de propriedade do irmão Tito Falaschi, sendo que a mixagem e a masterização ficou a cargo do americano Damien Rainaud (Fear Factory, Dragonforce, Baby Metal entre outros), que já trabalhou anteriormente com a banda no “Unfold” (2013). E não há nada escondido ou irrelevante na sonoridade, pois aqui fica claro e evidente que a proposta musical do Almah não tem fronteiras, tornando o disco perfeito para ouvir alto e em bom som.  A capa, pelo artista Carlos Fides, aborda o conceito da ‘Era de Aquarius’ dentro da mitologia grega, que é retratada nas letras de cada faixa.

Recapitulando o que foi dito anteriormente, o Almah vem comemorando os seus 10 anos de existência, mas ainda não teve muitas oportunidades de tocar em lugares maiores, exceto o show do Rock In Rio, em 2013, tocando para mais de 80 mil pessoas. E acredito eu, que com o E.V.O., a banda vai alçar uma mudança de patamar e se firmar de vez como um dos principais nomes do Metal nacional e mundial. O novo álbum traz mais uma vez  novidades no seu line-up, que são Diogo Mafra (guitarra) e o Pedro Tinello (bateria).

De inicio, méritos totais para a faixa de abertura, que mostra muito bem o que nos espera em termos de qualidade, “Age Of Aquarius”, tem um inicio bem suave e sereno com belas melodias, mas depois explode com riffs rápidos e certeiros, destacando, claro, as linhas vocais do Edu, que atinge notas mais altas e precisas praticamente em boa parte da música; “Speranza” traz uma atmosfera contemporânea, flertando com o Pop, algo que o Edu e a banda costumam colocar nas suas músicas, ficando nítida a influência de Coldplay e de outros nomes atuais, ganhando um toque especial com os corais de crianças.


De costume, sempre há uma balada em todos os trabalhos do Edu, e sempre são bem feitas. E “The Brotherhood” é mais uma pra entrar na coleção de clássicos do artista, prometendo, pra quem tem um lado mais sensível, mexer com o coração, e remete um pouco a emoção que o Avantasia expressa nas suas músicas. E pelo nome, já da pra sacar que a música é dedicada ao seu irmão, Tito Falaschi; “Innocence” é caracterizado pelo peso e cadencia vindo das cordas do Marcelo Barbosa e do Diogo Mafra, ganhando ainda mais força com os timbres ferozes de baixo do Raphael Dafras, sem contar o refrão contagiante.

“Higher” transborda um clima mais Melodic Rock/AOR, cortesia do ótimo trabalho de teclados e backing-vocals, imprimindo vocais mais limpos, melódicos e algumas pitadas de música brasileira; o clima Pop volta a aparecer em “Infatuated”, que flerta com um ambiente alto astral e pra cima, possuindo um solo marcante do Diogo. E ela ficaria bem sendo trilha sonora de algum filme romântico com um final feliz; “Pleased To Meet You” engloba aspectos progressivos, mas o que avulta é a densidade das guitarras, que são o carro chefe nesta música. O refrão épico e os teclados dão ainda mais requintes e beleza pra ela, assim como a “Final Warning”, que segue o mesmo terreno da anterior.



“Indigo” traça novamente as nuances mais modernas da banda, sabendo acoplar perfeitamente a linguagem Pop dentro do Heavy Metal, com linhas vocais marcantes e refrões aveludados; pra quem adora o “Motion” (2011), “Corporate War” remete a consistência sonora daquele disco, com ares mais sombrios e azedos, refletindo muito que o Alice In Chains fazia nos anos 90; “Capital Punishment” encerra o disco até de forma rudimentar, mas poderia ser facilmente a faixa de abertura do disco. E com certeza é uma das faixas que vai explodir e cair bem ao vivo, com os tradicionais coros e o andamento simples e direto, mas que empolga com a adrenalina que transmite.

“E.V.O.” mostra que a genialidade do Almah não tem limites e barreiras, e é garantido que o disco vai figurar tranquilamente entre os melhores de 2016, tornando-se também mais um trabalho essencial da carreira do Edu Falashi. Então, para os mais curiosos, sintma-se preparados e bem vindos para ‘A era de Aquarius’.

Texto: Gabriel Arruda
Edição/Revisão: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação

Ficha Técnica
Banda: Almah
Álbum: E.V.O.
Ano: 2016
Estilo: Modern Heavy Metal
Gravadora: Ms Metal Records/Test Your Metal
Assessoria de Imprensa: Ms Metal Agency
Edu Falaschi (Vocal)
Marcelo Barbosa (Guitarra)
Diogo Mafra (Guitarra)
Raphael Dafras (Baixo)
Pedro Tinello (Bateria)

Track-List
01. Age of Aquarius
02. Speranza
03. The Brotherhood
04. Innocence
05. Higher
06. Infatuated
07. PleasedtoMeetYou
08. Final Warning
09.
Indigo
10. Corporate War
11. Capital Punishment​​

Contatos


segunda-feira, 30 de junho de 2014

Matéria Especial: Um "Até Logo", Uma Homenagem à Vida e Música do Eterno Paulo Schroeber

Paulo, entre a mãe, Carmen, e a irmã Patrícia
"Eu gosto de descer o sarrafo na guitarra", com essa simples frase que o guitarrista Paulo Schroeber se apresentou ao Brasil, recém efetivado o guitarrista do Almah. As palavras de Edu Falaschi, seu companheiro de banda, também o descrevem bem: "Um dia, tive o prazer de conhecer um cara simples e completamente maluco! e visual agressivo, mas de uma tranquilidade digna dos grandes!". A sua técnica e versatilidade chamaram muita atenção dos amantes da guitarra, o que acabou lhe rendendo vários elogios e ótimas colocações nas principais revistas e sites de Rocke Metal, sendo considerado por muitos, um dos melhores guitarrista do país.
Todo esse reconhecimento acabou resultando em vários convites, dentre os quais, de integrar outras bandas, como o Astafix e o Hammer 67.

Em 2011, Paulo descobriu que tinha uma doença genética em seu coração, tendo de tomar a dura decisão de sair do Almah e de suas outras bandas, mas o mais difícil foi não poder mais fazer o que amava, que era tocar sua guitarra. E, infelizmente, em março desse ano, ele acabou não resistindo a doença e faleceu, deixando fãs, amigos e comunidade musical comovida e sentindo muito a sua ausência (lembrando que neste ano também perdemos Hélcio Aguirra, outro grande guitarrista da cena brasileira).

Para fazermos essa homenagem, nós do Road To Metal convidados a Patricia Schroeber, irmã do Paulo, pra falar um pouco mais sobre a trajetória do irmão, seja na vida musical e pessoal, até o seu último desejo, que seria o de manter sua música viva...e a arte é eterna, e Paulo estará sempre entre nós através de sua arte.


RtM: Muito obrigado por nos atender, Patricia! Pra começar toda essa retrospectiva da vida do Paulo, você lembra como foram os primeiros passos dele dentro da música? Especialmente como começou a ouvir Rock e o Heavy Metal?
Patricia: Na verdade, o Paulo sempre teve uma veia musical muito forte. Desde que ele era bem pequeno, com uns 5 ou 6 anos (até menos), nos brincávamos nessa mesma casa onde estou morando agora, que inclusive ele voltou a morar aqui antes dele falecer. Quando era pequeno, ele já montava as guitarras dele, pegava umas madeiras, botava preguinhos nas pontas com fios de náilon, e já ficava tocando guitarra, fazendo de conta que era um violão e esses tipos de coisa. A partir dai ele começou a gostar de música, ele sempre montava as baterias dele com latinhas de tinta. 

Dai ele foi crescendo, sempre ouvindo música e gostando de batucar. Ele batucava e quebrava a janela de casa da minha mãe. Era um stress total, mas era sempre isso que ele fazia. E antes dos 15 anos, ele ganhou, de um amigo, o primeiro disco de vinil, que se eu não me engano era do AC/DC. E foi ai que ele começou a gostar de Rock e de Heavy Metal. Ai ele começou a querer fazer aula de música, não muito incentivado pelo meu pai, porque sabe como é: 'Ah, música não dá futuro! Mas já que é adolescente, deixa seguir em frente'. A partir dai que ele ganhou o primeiro violão dele, com mais ou menos 15 ou 16 anos, e foi ai que foi dado o inicio dele fazer aulas. 

A guitarra ele só ganhou depois, ele primeiro fez aulas de música clássica pra depois começar fazer aulas de guitarra. E desde então ele não parou mais e, como sempre digo, o Paulo sempre teve uma veia artística muito forte. Era uma coisa muito louca o quanto ele gostava de música, desde pequeno.

Paulo com o Hammer 67
RtM: O gosto pela música começa muitas vezes dentro de casa, mas dificilmente o Rock e o Metal se enquadram neste inicio, começando geralmente com algum amigo, salvo, claro, quando os pais também curtem. A paixão dele pelo Rock e Metal veio de alguém próximo ou fora da família?
Patricia: Foi de fora da família que ele ganhou o primeiro disco de vinil, através de um amigo.

RtM: Quando uma pessoa começar a gostar e apreciar ainda mais o Rock e o Metal, já começa a procurar a buscar informações e material sobre as bandas, o que acaba transformando a pessoa em um colecionador. Ele tinha esse costume, esse lado fã e de colecionador além de tocar guitarra?
Patricia: Ele sempre teve muitas camisetas de banda. Todas as bandas que ele curtia na época, ele tinha a camiseta. E hoje, dentro na sala de música dele, tem uma infinidade de CDs das bandas que ele curte. E naquela época ele tinha, sim, os di scos de vinil dele. Ele não foi um colecionador, mas ele sempre teve, de alguma forma, alguma coisa das bandas que ele curtia. 

RtM: Em cima dessas duas perguntas que eu fiz, o fã de Rock sempre possui vários interesses, além de colecionar, geralmente também deseja aprender a tocar um tipo de instrumento. Como começou esse interesse do Paulo em querer tocar guitarra e quem o incentivou? Desde cedo o sonho dele era ser um músico?
Patricia: O Paulo nunca pensou em outra coisa da vida senão ser músico. Ele sempre quis ser músico! Foi meio que paralelo quando ele ganhou o violão e o interesse pela guitarra. Ele ficou muito pouco tempo tocando violão e, logo em seguida, foi pra guitarra. Ele nunca pensou em ser médico, dentista... Ele sempre dizia que queria ser músico e ele foi atrás desse sonho.


RtM: A pessoa quando vai atrás dessa meta de aprender a tocar, a primeira coisa é conseguir o desejado primeiro instrumento. Você lembra como ele adquiriu a primeira guitarra?
Patricia: Foi o meu pai que deu a primeira guitarra pra ele, mas eu não me lembro com qual idade. A minha mãe deve saber um pouco melhor e eu até posso te dar essa informação depois, porque ela não está em casa agora, mas acredito que foi um pouco depois do violão, que foi entre 16 ou 17 anos, e  até hoje ela está aqui em casa, a Ibanez.

RtM: Vontade e determinação pra mim são os dois principais fatores de querer seguir a vida tocando guitarra. Quando ele percebia que estava evoluindo, ele tinha costume de tocar pra família e para os amigos? Você também observava que, com os empenhos que ele tinha, poderia ir muito longe?
Patricia: O Paulo era uma pessoa extremamente dedicada! Era uma dedicação tão louca que, se um dia tem 24 horas e nós deixássemos, ele estudava 24 horas por dia. Era uma dedicação muito em cima da música, e inclusive a gente brigava muito, porque ele estudava de manhã e eu fazia faculdade. E, como todo bom músico, ele sempre estudava durante a noite e de madrugada, porque ele dizia que não tinha o barulho da rua e de nenhum som que interferisse na guitarra. E na época nós morávamos em um apartamento e ele ficava no corredor com aquela guitarra tocando a noite inteira. E eu tinha que acordar no dia seguinte cedo e era uma confusão sempre, porque eu mandava ele abaixar o som da guitarra e ele continuava andando pra cima e pra baixo no corredor ensaiando. 


E o Paulo era muito exigente com a técnica dele. E quanto mais ele estudava, mais ele queria ir a fundo. E ele nunca estava satisfeito com aquilo que ele fazia, ele era perfeccionista ao extremo, que chegava ser uma coisa que passava do normal. E ele nunca foi de tocar pra família, ele nunca gostou muito disso e tocava pra gente porque a gente ouvia ele tocando no quarto e nos primeiros shows que nos fomos ver ele tocando, mas em casa era muito difícil dele vir mostrar algua coisa pra gente.

RtM: Com os anos se passando, a pessoas já começam a ganhar experiência. Isso acabou resultando dele dar aulas para iniciantes na guitarra. Você acompanhava como era o Paulo “professor” e incentivador dos seus alunos? De motivá-los a se dedicar, não desistir?
Patricia: No inicio eu acompanhei, quando ainda morávamos juntos. E logo que ele começou a dar aula tinha muitos alunos, e ele sempre incentivou todos eles. Ele nunca disse: 'Ah não vai...não faz!". E a música é isso, mesmo. Por mais dificuldade que a música tem, e a gente sabe que todo músico passa por dificuldades, porque a música não é reconhecida aqui no Brasil, ainda mais nessa área do Heavy Metal, por exemplo. E de alguma forma, ele sempre incentivava todos.

Paulo ensinando os primeiros acordes ao sobrinho
RtM: Entrando na parte de visibilidade quanto músico, a primeira banda em que o público brasileiro teve a oportunidade de conhecer o trabalho do Paulo foi Almah. Como foi a reação dele quando ele foi chamado para tocar na banda? E como ele deu a notícia para vocês? Acredito que deve ter sido uma verdadeira festa, pois era mais um belo passo nessa carreira que ele escolheu.
Patricia: Foi uma coisa muito louca quando ele entrou no Almah, porque foi através do baterista Marcelo Moreira. Ele foi amigo de adolescência do Paulo, porque o Moreira é daqui de Caxias do Sul, também. Eles se conheciam e parece que, na época, eles precisavam de um guitarrista, o Moreira já tinha o contato com o Paulo e ele foi pra São Paulo. 

E ele foi pra São Paulo muito cabreiro, muito sem saber o que poderia acontecer e do que ia rolar. E quando ele entrou no Almah, ele ficou muito feliz, nos contando que ele era o cara e que ia entrar na banda. E nós ficamos muito mais felizes, também. E logo veio o convite do Astafix, do Wally, onde ele começou conciliar as duas bandas. E quando tocava nas duas bandas, a gente não via mais ele em casa, porque ele ficava muito pouco tempo aqui em Caxias.

RtM: Posso até estar equivocado, mas talvez se não fosse o Almah, muitos não saberiam quem é Paulo Schroeber. E ainda bem que ele teve essa oportunidade de mostrar seu trabalho a um público maior. O Almah deu uma visibilidade em nível nacional e até internacional para o Paulo, também deve ter aberto várias portas para o trabalho dele. Ele sempre teve como objetivo viver da música? Como vocês se sentiram, vendo que ele estava conquistando esses sonhos?
Patricia: Sabe que o Paulo nunca foi uma pessoa ambiciosa, quem conhecia ele sabe o jeito que ele era, assim como todos os fãs conheceram também. Ele nunca demonstrou isso e pra nós, e foi uma surpresa muito grande quando, após ele falecer, de sabermos realmente o quanto ele era querido pelo Brasil. Não tínhamos essa noção, porque ele não falava pra gente também. O Paulo nunca foi ambicioso de dizer que queria ser reconhecido pelo Brasil, ele foi fazendo o trabalho dele de maneira tranquila, foi mostrando o que sabia... Só que ele sabia tanto que ele cativou as pessoas pela sua técnica. 

E muito do que ele aprendeu, foi sozinho, ele era autodidata, porque as coisas que ele fazia nenhum professor ensinou pra ele. E, claro, ele gostava de ser reconhecido, e quando aconteceu dele ficar doente e teve que se afastar da música, doía muito nele, ver as pessoas pedindo pra ele voltar e ele não podia. Ele conversou comigo muitas vezes no ano passado, não faz muito tempo, quando somente eu e ele saímos algumas vezes, ele falava que era muito difícil ouvir as pessoas falarem: "Paulo, volta",  e ele não poder voltar. E houve essa possibilidade no inicio deste ano, quando ele estava super feliz em janeiro, fazendo planos de voltar pro Almah e não conseguiu. E ele não tinha essa ambição de ser reconhecido, ele foi reconhecido pelo profissionalismo dele e pela técnica que ele tinha, aconteceu naturalmente.

Paulo com o Almah
RtM: O tempo do seu irmão dentro do Almah foi em torno de 4 anos. O motivo da saída dele da
banda foi devido à saúde? Até porque viagens, shows, pouco descanso, alimentação nem sempre adequada fazem parte do dia a dia de uma banda na estrada. Você lembra o momento em que ele tomou a decisão de sair da banda? 
Patricia: Lembro que doeu muito nele quando teve que tomar a decisão de sair da banda, porque foi realmente no período que ele começou a ficar doente mesmo. O coração dele já não aguentava mais quando eles gravaram, na época, o último clip do Almah aqui em Caxias. Foi a última vez que ele ainda conseguia tocar. 

E naquele dia ele estava muito ruim, ele não estava nem um pouco bem. Ele estava tonto e muito mal, por causa da doença, ele não podia fazer nenhum esforço físico. E muitos pensam que pra tocar não se faz tanto esforço físico, muito pelo contrário. Pra ele foi uma decisão muito difícil e tivemos que dar muito apoio, porque a gente viu o quanto decepcionado ele ficou. E ele sofreu muito na decisão de ter que deixar as bandas em que tocava.


RtM: E você falou em uma das perguntas que ele tinha planos de voltar pro Almah. Ele estava empolgado com possibilidade dele voltar pro Almah? E eu lembro que o vocalista, Edu Falaschi, afirmou que estava quase garantido que ele ia voltar, mas que depois de um tempo o seu irmão mencionou pro Edu que ainda não era o momento certo.
Patricia: Ele teve esse plano porque ele começou a se sentir bem, e no final do ano passado, ele teve uma melhora bem significativa. Ele estava se sentindo bem, ele colocou o aparelho, vinha se recuperando de uma fase bem difícil da cirurgia em que colocou o aparelho, teve um monte de reações... Ai ele conversou com um dos médicos e o médico disse que ele poderia voltar a tocar, desde que estivesse bem. É claro que tinha que ter muitos cuidados, porque ele tinha um marca passo e um desfibrilador junto, que é um aparelho chamado CDI. 

Mas ele estava super tranquilo e super empolgado. Eu me lembro que, quando ele me ligou, fomos passar uma semana na praia em janeiro, ele me disse:"Bah, eu vou passar um semana na praia contigo, que depois eu vou voltar e me organizar, e eu já falei com Edu, porque acho que eu vou voltar pro Almah, voltar a tocar e dar aula de novo". Ele estava com uma empolgação naquele dia em que ele me ligou que até eu fiquei empolgada. Quando voltamos da praia, ele fez uma consulta com uma outra médica daqui de Porto Alegre, a esma a qual fez colocação do CDI, e essa médica falou que ele não tinha condição de tocar de jeito nenhum. E foi ai que o mundo dele foi por água baixo de novo, ele não acreditou que não ia mais voltar a tocar. E ai foi desencadeando uma série de coisas até acontecer o que aconteceu.

Astafix
RtM: Não sei se você tem costume de ouvir os trabalhos do seu irmão. Mas qual disco ou músicas que ele gravou você mais gostar de ouvir?
Patricia: Eu amo a música que ele fez pra minha mãe. Eu me desmonto com aquela música (risos). Eu gosto mais da música da mãe, do CD solo dele. E a música do pai, que eu acho lindo o clip que ele fez pra ela, e que eu gosto bastante.


RtM: Pra cada profissão, sempre tem aquele merecido descanso, mesmo se tratando de um músico, que passa boa parte do tempo viajando e compondo. Quais eram os hobbies do seu irmão quando ele estava fora da música e dando um descanso para a guitarra?
Patricia: Ele nunca dava descanso pra guitarra (risos). Era muito difícil ver ele sem a guitarra, até mesmo nas férias. Quando ele estava em casa e chegava de algum show, porque ele ficava bastante tempo fora, geralmente ele ficava só em casa. E quando ele ficava em casa, o que fazíamos era sempre se reunir, porque somos uma família muito unida. Fazíamos muito churrasco e fazíamos muita festa. E sempre fomos de ficar muito em casa, porque atrás da casa minha mãe tem um quiosque onde nos reuníamos e fazíamos um churrasco. Sempre ficávamos esperando ele chegar. Eu vinha para a casa da mãe, e sempre fazíamos uma janta ou algum almoço pra que, na hora que ele chegasse, estivéssemos com tudo pronto, sempre esperando por ele.

RtM: Algo que vêm em minha mente (N. do R.: Gabriel Arruda), é o quanto ele era simples, e eu acho que eu fui uma das primeira pessoas a conhecer o trabalho do Paulo, logo que ele entrou no Almah, isso bem na época do Orkut. E quando eu mandava mensagens pra ele, sempre tive retorno por parte dele, o que me fez enxergar que ele era uma pessoa extremamente gentil. E quando chegou aquele dia 24 de março, eu fiquei muito surpreso e em choque ao mesmo tempo com a morte dele, porque eu nunca tive oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, e também tinha planos de entrevistá-lo caso ele voltasse pro Almah. Como foi aquele dia 24 de março pra você?
Patricia: Olha, foi um dos piores dias da minha vida! Talvez eu me emocione pra falar isso, mas vou falar. Ele já vinha de 15 dias no hospital, eu e a minha mãe nós íamos diariamente, porque só tinha três horários de visita e ele estava na UTI. A minha mãe ia em todos os horários e eu deixava um horário pra algum amigo dele querer visitá-lo. E nesse período ele tinha uma namorada, que não era uma namorada na verdade, eles ficaram juntos só dois meses. E naquele dia 24, em que ele começou a ficar ruim, antes disso, havia a previsão de alta dele pro dia 25. Na terça feira, ele ia sair do hospital. E no domingo, dia 23, ele deu uma piorada, e ele acordou extremamente ansioso! Queria arrancar tudo, porque ele estava sendo monitorado e com uma máscara de oxigênio muito grande. 




Ele queria arrancar, ficou extremamente ansioso e tiveram que sedá-lo, pra ter uma a ideia da agitação dele! E no domingo deram morfina pra ele, coisa que nunca tinham dado durante todo esse tempo em que ele baixou hospital várias vezes. E no domingo ele ficou muito sedado. No mesmo dia eu fui vê-lo, achei ele muito grogue, mas mesmo assim eu falei com ele, ele só balançou a cabeça e eu falando algumas coisas pra ele perguntando se estava tudo bem e ele dizendo que não, porque ele já estava de saco cheio e querendo sair do hospital logo,  mas eu pedi pra ele ter calma, que ele fizesse a sua parte e que a gente faria a nossa no lado de fora, porque a gente estava indo pra fila do transplante. Ele balançou a cabeça me dizendo sim, dei um beijo nele e eu fui embora. E na segunda feira voltamos e ele já estava bem ruim de manhã,  eram umas 11:00 horas, a primeira visita. 

E ainda existia uma possibilidade, e foi ai que o médico dele chegou, porque ele estava viajando naquele final de semana. Existia uma possibilidade, uma esperança, digamos, lá no fim do túnel, que era uma droga, que seria injetada no coração dele. E se dessem essa dose o coração dele ia dar uma reagida, porque o coração dele estava com o batimento muito fraco. Essa dose daria, digamos assim, uma sacudida no coração dele, fazendo com que, talvez, reagisse. Digamos que isso foi a nossa última cartada. Eu subi pro hospital, umas 14:00 horas, e digo subir porque o hospital ficava numa parte alta da cidade, pra agilizar a liberação desse remédio. 

Eu consegui agilizar a liberação, mas só que, quando eu cheguei na porta da UTI, perguntando pra enfermeira como o Paulo estava, a enfermeira me disse que ele estava entubado. E quando ela disse isso, eu pensei que o pior ia acontecer. Mas eu perguntei por que ele estava entubado, e ela respondeu que o entubou pra ele não sofrer. Mas eu perguntei por que ele estava sofrendo,  e ela disse que ele estava sentindo um pouco de dificuldade...e aquele tipo de coisa de enfermeira... que vão te dando curva literalmente. 

Eu voltei pra lá perguntando se já haviam dado remédio pra ele, e afirmaram que sim. Ai ela voltou correndo pra sala e, logo em seguida, ela me chamou de novo me falando que o Paulo teve uma parada cardíaca, mas que conseguiram reanimar ele. E quando ela me disse isso, eu senti as pernas amolecerem. Ai eu liguei pra minha mãe pedindo para ela vir para o hospital, porque o Paulo não estava muito bem. Ai começaram a colocar nós dentro da sala da UTI, na sala de família e já começaram a trazer chazinho de camomila, docinho, dai não sei o que, dai o outro médico venho conversar com a gente e, depois disso, o Paulo teve outra parada cardíaca, mas que conseguiram reanimá-lo novamente.

E eu comecei a sentir as pernas amolecerem de novo, perguntando como é que estavam os rins dele, e ela me disse que os rins dele estavam parando. E na hora eu pensei que, quando os rins estão parando, é porque está parando tudo. Depois disso eu só sentei e o mundo começou a girar ao meu redor, e que não parecia verdade que aquilo estava acontecendo. O médico dele, que tratou a doença toda, que se chama Miocardiopatia Dilatada, entrou na sala correndo. E quando eu vi o médico entrar correndo, eu falei pra minha mãe que o Fábio (nome do médico) tinha chegado.
Manifestação de Edu
E quando o Fábio entrou na sala, o Paulo teve a terceira parada cardíaca e não resistiu... e quando o médico veio falar pra gente, ele não precisou falar nada...dava perceber pela cara dele. E no momento que o Paulo faleceu, tinha um monte de amigos dele no hospital, porque os amigos dele tem contato comigo. E um desses amigos que me ligaram foi o Paganella, vocalista do Hammer 67, falei pra ele que o Paulo não estava legal. O Paganella acabou ficando no hospital e, em seguida, começou a subir um monte de gente. E aquilo foi um caos! E quando ele faleceu, parecia que o mundo tinha caído nas minhas costas e nas costas da minha mãe. 

E eu acho que eu nunca passei por uma dor tão grande. Foi mais difícil do que ter perdido o meu pai, porque a ordem natural da vida, seria os filhos enterrarem os pais e não os pais enterrarem os filhos. E por mais que estivéssemos preparados de alguma forma, o médico já tinha esclarecido tudo sobre a doença pra nós, porque é uma doença genética que nós temos na família e este é o terceiro caso. Eu tinha perdido dois primos meus, um de 23 e outro de 26, por mais que a agente sabia que poderia acontecer, nunca imaginamos que ia acontecer realmente, porque ele foi o que mais durou esse tempo todo, apenas até os 40 anos. 


E posso te dizer que o dia 24 de março foi um dos piores dias da minha vida, tanto que o médico dele sentiu muito e não conseguiu se despedir de nós. Ele tinha saído da sala numa disparada que eu e meu marido tentamos parar ele no corredor do hospital e ele não parava um segundo, desesperado. E no dia seguinte, ele ligou pro meu marido pedindo desculpas, porque ele não tinha condições de falar com a gente de tanto que ele gostava do Paulo, por esse tempo de convivência que os dois tiveram, que foram de 2 ou mais anos de convivência, todos os meses. E dia 24 de março foi bem difícil, mesmo.
Um vencedor! Erguendo sua guitarra como um troféu.
RtM: E eu te digo, sinceramente, que seu irmão foi um guerreiro, mesmo! Você acabou de falar que dois primos faleceram muito novos, e o Paulo aguentou até os 40 anos. E mesmo doente, enfrentando dificuldades e problemas, ele continuava celebrando a vida normalmente. E isso deve servir de exemplo para muitos.
Patricia: E mesmo no hospital nós brincávamos e eu atualizava ele de tudo o que estava acontecendo, porque o pessoal começou a ver no facebook dele que eu sou a irmã dele. Então o pessoal começou a perguntar pra mim tudo o que estava acontecendo e ele adorava.

Ele tinha certeza que ia sair do hospital. E, com certeza, ele aproveitou a vida dele. Ele aproveitou porque ele foi muito certeiro e muito engraçado, quem conviveu com ele sabe o quanto ele era engraçado, porque ele sempre falava bobagens e ficava ligando pros amigos dele no meio da madrugada pra tirar sarro da cara dos guris. O Paulo fazia cada coisa! Ele era engraçado demais, mesmo.

Com o Astafix, no programa "Combo+Joga" da Play TV
RtM: Descreva um pouco pra gente, para os fãs, o Paulo o irmão, o amigo, um pouco mais da pessoa além do músico.
Patricia: Eu não tenho como descrever isso, porque eu e ele sempre fomos muitos ligados. Ligado no sentido de irmão parceiro. É claro que a gente se distanciou, porque eu fui morar fora daqui e ficamos bastante tempo longe. E não tinha irmão melhor que ele, porque nunca discutimos no sentido de ficar meses sem se falar, brigávamos porque ele ficava tocando guitarra sem parar, mas continuávamos nos falando normalmente. 

Ele era uma pessoa fantástica e, por mais mau humorado ele estivesse, eu acabava tirando o sarro do mau humor dele. E o mau humor dele é engraçado, também. E não tinha como não gostar dele,  ele era muito parceirão  porque eu só tenho ele de irmão. E eu sinto muita falta dele. Eu não tenho nem o que dizer dele como irmão, porque ele era uma pessoa nota 1000.

Paulo vem recebendo várias homenagens, e várias outras sendo programadas, como o o álbum acima, além de shows, como durante o do Almah, em Porto Alegre.

RtM: Antes dele morrer ele expressou algum desejo especial?
Patricia: O único desejo dele antes de morrer, e ele pediu isso, é que a gente não deixasse a música dele ser esquecida, que mantivéssemos o legado dele e que também não tirasse o site dele do ar. E não vamos deixar que isso aconteça, jamais! O CD solo dele continua sendo vendido e ele tinha muito trabalho gravado. Então o ano que vem, inclusive estou dando essa notícia em primeira mão, vamos lançar um CD com músicas inéditas dele, de tanto trabalho que ele tinha. Está foi a única coisa que ele pediu antes dele falecer.

RtM: E a maior conquista dele como músico?
Patricia: Acho que o reconhecimento foi a maior conquista dele, porque ele era uma pessoa muito simples e não almejava grandes coisas. O Paulo sempre foi muito na nele. Se ele tinha ou não tinha determinadas coisas, por exemplo materiais, pra ele não fazia muita diferença. E também aonde ele chegou, porque não é à toa que ele foi considerado um dos melhores guitarristas do país. Mas ele era de uma simplicidade tão grande, que ele falava pra nós que foi eleito um dos melhores guitarristas do país em tal publicação...e pronto.

E ele falava isso pra nós como se fosse dizer quase nada, e foi uma surpresa muito grande quando vimos todo esse reconhecimento por parte dos fãs dele aqui no Brasil, que inclusive recebemos mensagens até de fora do país. E quando ele faleceu houve uma repercussão da mídia, de ter saído matérias em sites como o Terra, Uol, G1, nas TVs e nos tele jornais de circulação; também saiu na Folha de São Paulo, nos jornais daqui do Rio Grande do Sul e também de lugares que eu nem sei e que me disseram depois. E nem nós tínhamos essa noção de como ele é reconhecido pelo Brasil todo.


RtM: Fica o espaço para sua mensagem aos amigos e fãs do Paulo, e também, aproveitando, li em algum lugar que você está com um projeto/campanha quanto a doação de órgão, gostaria que você falasse sobre essa iniciativa.
Patricia: Primeiramente eu, e em nome da minha mãe, é agradecer todo esse espaço que a gente está tendo pra falar dele. Agradecemos de coração tudo isso que estão fazendo por ele. Estamos sim fazendo essa campanha de doação de órgãos, sangue, medula e tecidos em função de que: o Paulo estava na fila do transplante, e a gente sabe que, aqui no Brasil, o transplante não é uma coisa tão fácil quanto falam e quanto presam que, por exemplo, nessa novela das nove, eles fizeram um transplante como se fosse uma coisa simples, o cara ficou doente e do dia pro outro conseguiu o transplante. A gente sabe que não é assim, o meu primo de 26 anos estava na fila do transplante há muito tempo e não conseguiu um coração.


O Paulo estava na fila do transplante e não conseguiu o coração. E nós doamos as córneas dele, não conseguimos doar mais nada dele porque foi muita medicação e não teve mais nenhum órgão que fosse aproveitado, porque se não teríamos doado algum outro órgão. E a importância é que queremos esclarecer a questão da doação de órgãos, porque tem muita gente que não é esclarecida e tem muita desinformação na questão do transplante, da doação de córneas e de medula, e principalmente na medula que pode ser feito em vida. E as pessoas não sabem por desinformação, porque tem muita barreira que a gente enfrenta nessa área, que são questões até religiosas, em que a própria religião da família não permita que faça a doação de órgãos. O objetivo é com que esclarecemos isso e que tenha a imagem dele como pano de fundo dessa campanha pra que, realmente, as pessoas se sensibilizem e doem os órgãos das pessoas que falecem ou, então, a doação de sangue e a de medula. 

É uma conscientização e uma mobilização pra que a doação de órgãos aconteça de uma forma mais efetiva, e não de maneira mentirosa como Ministério da Saúde pública que cada vez aumenta. Se for pensar quantas pessoas são transplantadas que você conhece? É nenhuma ou pouquíssimas! Eu, particularmente, não conheço nenhum transplantado. Estamos com um apoio bem significativo dentro do Heavy Metal, que não sei se você chegou a ver, de vários lideres de bandas que estão gravando vídeos, compartilhamos o primeiro da banda Angel Holocaust, apoiando a campanha e a importância da doação de órgãos. Já temos vários vídeos gravados e vamos compartilhar um por semana pra que as pessoas se mobilizem, fora que tem vários shows acontecendo, onde tem um grupo de meninas em que acabamos nos conhecendo em função da perda dele. É uma de cada lugar: uma de São Paulo, Juiz de Fora, Feira de Santana... E cada uma faz alguma coisa em algum lugar. Então estamos bem engajados na divulgação dessa campanha.  


Muito obrigado pela sua atenção! Eu, e a equipe do Road To Metal, estamos muito orgulhosos em poder fazer essa homenagem ao Paulo junto com você, contando tudo sobre a trajetória dele. Eu nunca cheguei a conhecê-lo pessoalmente, mas pelas mensagens que eu trocava com ele algumas vezes, ele se mostrava uma pessoa simples e gentil. E ele ainda tinha muito gás e muita lenha pra queimar na carreira dele.
Patricia: Pena que a vida é assim, o mundo acaba levando as pessoas que a gente não gostaria. E como eu digo, e já conversamos muito sobre isso, mas o jeito que ele estava seria muito injusto deixar ele aqui, porque ele já não tocava a guitarra fazia 2 meses. E você acha justo a pessoa ter a vida dentro da música e de não conseguir mais tocar guitarra e de, também ,não ter mais resistência, porque, às vezes, era falta de ar e doía o peito? Isso não é a vida! Eu te agradeço muito, de coração, pela homenagem que vocês estão fazendo a ele. E ficamos a inteira disposição de vocês.

Agradecemos também a sua mãe, a dona Carmen.
Patricia: Que é uma guerreira! Não está fácil pra ela, porque ela ainda não consegue falar muito sobre as coisas dele, mas que está ai firme e forte tentando segurar as pontas, porque eles ainda moravam juntos. Ela que cuidou dele, sempre. Ela cuidou de alimentação e de tudo, mas que vamos em frente tentando ajudar.


Entrevista: Gabriel Arruda/ Colaborou: Carlos Garcia
Revisão/edição: Carlos Garcia
Fotos: divulgação e arquivo da família

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PARTICIPE DO TRIBUTO AO GUITARRISTA PAULO SCHROEBER QUE IRÁ OCORRER DIA 17/08/2014 NO TEATRO PEDRO PARENTI EM CAXIAS DO SUL. 
GRAVE E ENVIE UM VIDEO DE ATÉ CINCO SEGUNDOS QUE FALE SOBRE O PAULO E ENCAMINHE PARA O E-MAIL: hammer67metal@gmail.com

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"Eu gostaria muito de agradecer a família Schroeber por ter cuidado com todo o amor do nosso parceiro até seu ultimo suspiro! Esse cara lutou muito, até o fim, tocando sua guitarra, que era um dos grandes motivadores de sua batalha! Parceiro Paulão, "Paulo Véio" como nós o chamávamos, descanse em paz onde vc estiver! Sentiremos muitas saudades de vc!"  (Edu Falaschi)