O Black Metal nacional sempre foi
rico e ao mesmo tempo diversificado, se temos bandas que soam tão ríspidas e
angustiante quanto o estilo pede, também temos as que se baseiam em nossas
culturas e trazem ao estilo mais obscuro da vertente todos esses elementos que
só engrandecem a nossa musicalidade extrema.
O Miasthenia de Brasília traz em “Antípodas”
(17) a sonoridade obscura do Black Metal aliado a temas sul-americanos, como o próprio
nome do álbum mostra, já que antípodas é uma palavra que se refere as regiões
do outro lado do mundo, mostrando como os cristãos da Europa enxergavam os
povos da América do Sul.
A musicalidade em si vai além do
Black Metal, pois a veia Pagã é muito forte, o que deixa sua música
diversificada e ao mesmo tempo agressiva, onde os climas de teclados criados
pela vocalista Hécate são formidáveis, assim como suas linhas vocais que narram
cada acontecimento com a emoção necessária de cada faixa. Os riffs e solos são
muito bem explorados e dão a sinergia ideal com as linhas de bateria.
O 5° disco de estúdio dos
brasilienses solidifica ainda mais o nome do Miasthenia no topo do Metal
Extremo nacional, com uma sonoridade bem peculiar e abordando temas da nossa
terra com muita inteligência e perspicácia.
Os russos do Arkona são classificados como Pagan/Folk Metal, e hoje são, sem dúvidas, umas das grandes referências do estilo, e podemos dizer também, o grande nome do Metal russo, e apesar de se expressar em sua língua natal, não lhe impediu de alcançar outros mercados, inclusive o brasileiro, por onde a banda se apresentará em outubro (assista AQUI recado da vocalista Masha aos fãs brasileiros), e a versão nacional de seu mais recente trabalho ("Yav" - Napalm Records) chega na hora, via Shinigami records.
Liderada pela carismática vocalista Masha, diferente de muitas bandas do estilo (Pagan/Folk), que possuem aquela sonoridade que remete a climas "festivos", bebedeira, histórias de batalhas e danças em volta da fogueira, o Arkona vai por um caminho mais "sóbrio", encarando com muita seriedade suas raízes e crenças pagãs e cultura eslava.
Em uma sonoridade e temáticas, densas e belas, mas também pesadas, agressivas e atmosféricas, os russos cativam o ouvinte, inclusive pela atmosfera que passam os instrumentos étnicos utilizados nas músicas e a sonoridade peculiar da sua língua pátria. Destaque também para a belíssima capa, onde, uma princesa pagã, eu diria, ajoelhada em frente a um lago tem sua imagem refletida, mas de forma diferente, provavelmente significando Yav (que na mitologia eslava significa o mundo material, onde estão as criaturas vivas) e Nav (o mundo imaterial).
"Zarozhdenie", com seus mais de 9 minutos abre o álbum, apresentando a belíssima e pesada música do grupo, arranjos de teclados e instrumentos tradicionais dão os tons e climas, envolvendo o ouvinte em sua atmosfera, enquanto que Masha alterna vocais limpos e "screams" com maestria e feeling, em interpretações envolventes e sendo agressiva quando necessário. Uma daquelas bandas que você sente que acreditam no que fazem, tocam com paixão e fazem com que você sinta a música, apesar das diferenças ou estranheza que a língua possa causar para alguns, mas acredite, é um dos elementos que deixam a atmosfera mais bela, e o encarte ajuda, pois traz as versões em inglês.
A criativa "tempestade" sonora pode ser sentida em "Na Strazhe Novikh", que passa por caminhos mais extremos, ritmos típicos como a balalaika e experimentações mais modernas; "Ved'ma" traz trechos da dança típica horovod e "Chado Indigo" belo arranjo de piano, grandes riffs, e também um coro de crianças, tudo regado a mais sons típicos, mas nada se compara a épica faixa título, "Yav", com cerca de treze minutos de duração, uma jornada musical que leva o ouvinte a uma viagem por entre climas sombrios, folk, com peso e melodia.
Um álbum perfeito, uma verdadeira celebração, indicado não só a fãs de Folk/Pagan ou Metal Extremo em geral, mas para ouvintes exigentes, sendo um trabalho para ser degustado em várias audições para uma compreensão e proveito mais completo.
Rate: 9,5/10