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sábado, 1 de novembro de 2014

Entrevista: Noturnall (Parte I) - "...Um Tipo de Liberdade Que Nunca Tivemos...É a Experiência Máxima de Liberdade no Som..."



“Chega, Gabriel! Preciso ir dormir, porque amanhã o dia vai ser complexo”, foi desse jeito que entrevista com o Thiago Bianchi, vocalista do Noturnall, tinha acabado na madrugada do dia 17 de outubro.

Exausto, depois de uma longa viagem pra BH em busca de um Motor Home, que vai transportar a banda durante a turnê brasileira que vai ser realizada em novembro, o próprio fez questão de atender a equipe do ROAD TO METAL para um longo e agradável bate-papo, também com muito bom humor, discutindo, principalmente, sobre a recepção do primeiro disco, o recém-lançado DVD e a satisfação com o atual momento, e ainda as declarações a respeito da cena brasileira que causaram polêmica algum tempo atrás, e outros assuntos ligados à música.

A conversa rendeu tanto que tivemos que dividir a entrevista em duas partes! Confira a primeira parte a seguir:


RtM: Antes de falar do Noturnall é bom lembrar que você, o Fernando Quesada, Léo Mancini e também Ricardo Confessori, em cerca de 7 anos de parceria, lançaram 3 álbuns e um DVD, e agora vocês três, tendo Aquiles na bateria, lançaram o primeiro álbum do Noturnall. Com a experiência adquirida através destes anos na música, que elementos você acredita que são essenciais para uma banda se diferenciar no cenário, consolidar-se e ter uma longevidade?
TB: Na verdade isso nem vem tanto do Shaman, mas sim de uma vida inteira ligada a música. Eu sou filho de cantora e de baterista, e estou no mundo da música desde que eu me lembro. E música pra gente é nada mais e nada menos do que você realmente é, de não tentar ser alguém diferente, ou não tentar fazer pra agradar ciclano ou fulano, ou pra tentar se vender por dinheiro... Eu entendo que minha carreira tem sido extremamente satisfatória pra mim, porque o que mais importa na vida é você ser feliz, e justamente porque eu nunca tentei me vender e agradar os outros mais do que eu. 

"Realmente, gosto de fazer música, e isso, em primeiro lugar, é o que importa, seja fazendo música pelo que vem dentro de você, e não pelo que você gostaria que as pessoas te enxergassem de certa forma."


RtM: Falando agora no Noturnall, o som da banda apresenta muita agressividade e peso em todos os aspectos, seguindo uma linha diferente do Shaman, que apesar também de soar pesada, incorpora e investe mais nas partes melódicas. Sair um pouco fora de um ambiente musical, de um círculo digamos, mais voltado ao Power Metal, e apostar em coisas diferentes lhe dão uma sensação de liberdade?
TB: Todas as bandas que eu fiz na minha vida, e digo mais uma vez: “Eu nunca fiz Música para os Outros”. Sempre fiz música pra mim, mas não de forma egoísta, mas sim simplesmente colocando a minha pessoa em primeiro lugar, sob o ponto de vista de se eu estaria feliz fazendo aquilo. O Karma foi a minha primeira banda profissional, por assim dizer, e foi a banda que, na verdade, me ensinou que a música é isso. 

E o Shaman foi uma consequência, porque eu tive que me adequar numa outra realidade, que era a realidade de uma banda que já existia e que já tinha obtido sucesso. E eu, simplesmente, segui os passos de uma pessoa que já havia obtido esse sucesso dentro desse caminho: o cara trilhou um caminho, achou um caminho, e eu vim num primeiro momento seguindo esse caminho e depois descobrindo meus próprios caminhos, como as coisas tem que ser no mundo natural, que é dar os seus primeiros passos! Bate as asas e voa.

RtM: O Shaman foi uma parte importante, então, porque já tinha um nome e um conceito praticamente consolidados, e isso lhes colocou uma responsabilidade grande...
TB: No nosso caso a gente sentiu que o Shaman nos fez ter uma identidade quanto banda, sob o ponto de vista de quatro indivíduos que se conheceram numa realidade diferente, que era fazer um determinado tipo de música pra alguém que já esperávamos, sendo o Fernando Quesada, Léo Mancini, Fabrizio Di Sarno e eu, e o Juninho Carelli um pouco mais tarde. E a Noturnall foi, finalmente, uma espécie de “nirvana”, que não é a banda, mas sim quando você atinge o seu ápice dentro do budismo.  E a gente entende que a Noturnall entrou no seu ápice musical de liberdade, porque não devíamos nada pra ninguém, não queríamos agradar ninguém e não queríamos ter nenhum tipo de amarra, queríamos simplesmente fazer música pra quem tivesse a fim de ouvir música do jeito que a gente gosta de fazer.

RtM: Entendemos que o Noturnall seria o próximo passo, ao caminho estava aberto para criar...
TB: E eu acho que a Noturnall é a nossa experimentação máxima de liberdade musical justamente por isso, que é por não ter amarras com ninguém, com nenhum outro estilo e com nenhum tipo de fã. E simplesmente encontramos os fãs que sempre quisermos ter, que são aqueles que amam música e não amam um determinado estilo, ou amam um determinado estilo de vida ou um grupo de pessoas, e isso eu posso falar com muita propriedade, porque eu vivo com esses caras dia a dia.

E eu sei que a liberdade que a gente experimentou no Noturnall é um tipo de liberdade que a gente nunca teve na carreira, e que não pretendemos voltar pra nada que seja menos do que a gente está tendo agora. E a gente conseguiu ser feliz sem nenhum tipo de parede nos impedindo de fazer o que a gente quisesse fazer, e a Noturnall é a experiência máxima de liberdade no som, e por isso tem dado certo, porque as pessoas entendem que é algo honesto e feito do coração, e não pra agradar alguém ou vender pra quem seja.


RtM: Desde 2010, o Shaman não lançava um material novo. No ano passado, através de vários meios de comunicações, vocês chegaram a divulgar que preparavam um disco novo, que seria o 5º disco da banda. Mas com o passar do tempo, bem na metade do ano passado, foi feito o anúncio de que vocês trabalhavam um novo projeto, o Noturnall. Agora, com toda a repercussão podemos dizer que o Noturnall não foi idealizado como apenas um projeto? Seria a prioridade? E quanto ao Shaman?
TB: A Noturnall nunca foi um projeto, sempre foi divulgado como banda. Nunca foi algo que a gente disse pra mídia que era uma coisa pra gente testar em fazer enquanto o Shaman não voltasse, ou outro lance do tipo. O que acontece é simples: nós nos sentíamos amarrados a um tipo de som e a uma agenda que não nos pertencia, na qual não nos deixava ser donos dos nossos próprios narizes. E finalmente resolvemos assinar a nossa própria carta de alforria, porque não aguentávamos mais esperar outras pessoas resolverem o que queriam da vida. E resolvemos fazer o que a gente tinha em mente, que foi fazer esse disco, até na própria época do Shaman. Podiamos ter feito muitas coisas naquela época, mas a agenda de outras pessoas, que não é só o Ricardo e não botando culpa nele diretamente, mas sim de gravadoras e de gringos que esperavam algo da gente, botando amarras ou nos colocavam em caminhos que a gente não tinha exatamente em mente seguir.

E por isso, às vezes, eu soava tão falso, não pela questão musical, mas sim pela questão de pensar, do tipo: “Será que era aquilo mesmo que essa banda deveria estar fazendo?” E você pode ter certeza, que se você ouvir os CDs e assistir os DVDs que a gente fez com o Shaman, você vai ver que sempre fomos honestos e sempre colocamos o coração na ponta do microfone ou na ponta da palheta, que é uma coisa até mais fácil de entender do que 2+2 são 4. Então isso não posso dizer, que teve algum tipo de amarra, mas a questão de agenda sempre foi sufocante pra gente.
"E quando a gente viu a situação de que a própria música já não falava mais a nossa língua, ficamos em sinal de alerta e falamos: ‘Isso aqui não é exatamente o que o Shaman deveria ser."

RtM: Entendo. Vocês já não estavam felizes com o que estavam fazendo, e ainda estavam se sentindo “amarrados”...
TB: E tem o respeito ao público, que espera um determinado tipo de música que a gente ajuda construir, e também o que as pessoas esperam que a gente seja enquanto músicos, do nosso estilo de ser e de viver. E não sentíamos que isso fazia parte do Shaman, o que ajudou a tomarmos a decisão de que, além de tudo aquilo que estava acontecendo musicalmente, a nossa situação “agendística” já não batia com o que a gente esperava que a banda fosse, porque tinha se tornado uma banda amarrada e dependendo da agenda de outra banda.

E isso é, no mínimo, ridículo pra qualquer tipo de pessoa ou qualquer tipo de profissional que queira botar a sua carreira em dia e que queira ser feliz com o que você faz, porque o mais importante do que dinheiro é ser feliz. E não tínhamos mais felicidade, porque a gente não conseguia fazer nada sem saber se a agenda de outra banda ou de um determinado agente ou empresário tinha os mesmos interesses que a gente. Então o inútil acabou se alinhando ao desagradável nesse momento, porque simplesmente estávamos na lama, tanto em termos de agenda e de música, porque tínhamos músicas honestas, felizes, bem montadas, mas que não conseguíamos levar pra frente por conta das agendas de outras pessoas e dos interesses de profissionais que não nos cabiam e de não deixar de viver como gostaríamos.


RtM: Aí chegou a hora de dar um basta?
TB: E simplesmente mandamos todo mundo tomar no cú e resolvemos fazer nossas coisas do nosso jeito, porque tudo que foi feito no Shaman, desde quando entramos na banda até agora, foi sempre feito por nossas mãos, porque nunca dependemos de ninguém, nem de dinheiro e nem da vontade de ninguém, além de nós mesmos. E o Noturnall nada mais é do que uma continuação do que a gente fazia, com uma peça a menos que estava mais concentrada na sua outra banda, que é o caso do Ricardo com o Angra do que no Shaman. O ponto de vista e as motivações dele eu já não posso te dizer, pois não sou alguém que pode te responder pelo Ricardo, mas eram motivações que não nos cabiam. E tudo que a gente havia conseguido, todas as músicas prontas, todas as linhas feitas, todas as linhas gravadas, Russell Allen sendo convidado e aceitando, amizade com bandas mundo afora, gente nos convidando pra tocar, fazer turnê...

Tudo isso estava acontecendo, só não conseguíamos fazer a banda acontecer. E a música já não cabia mais dentro do próprio nome, então foi uma questão mais do que natural das coisas degringolarem do que jeito que degringolaram. E não podíamos estar mais felizes, pois acho que o rio sempre corre pro mar. E a partir do momento que as coisas mostravam pra gente que deveria ser dessa forma, e que aceitamos ouvir o nosso coração, a voz do coração sempre é a mais certa de todas, e isso foi comprovado mais uma vez nessa questão do Noturnall. 

RtM: E quanto a escolha do nome "Noturnall"? Pra mim soa como uma coisa nova e diferente, inclusive a faixa “Not Turn at All” parece um jogo de palavras, cuja pronúncia soa similar ao nome da banda. Qual o significado por trás do nome, e como surgiu a ideia de batizar o grupo com esse nome?
TB: A gente falou um pouco disso no documentário, que veio antes da banda. E foi exatamente isso, pois tínhamos a música “Noturnall Human Side”. E claro que, em algum momento, nós falamos: “Cara, essa é a música mais importante da nossa carreira”, porque ela demorou tanto pra sair, pois ela teve 2 clips gravados com pessoas diferentes, e fomos para Nova York 2 vezes pra fazer takes semelhantes. Então, em cima de uma música, simplesmente achávamos que não deveríamos descuidar dela, porque a música é simplesmente animal. Às vezes você acha que é uma coisa ‘overcrow’, como os gringos chamam o que é feito duas vezes, ou às vezes é feita vezes demais e que você acaba perdendo a magia dela.

E “Noturnall Human Side” é uma música que a gente não conseguia deixar a magia dela sumir, por mais que a gente fizesse cagada em cima dela ou que a gente gravasse de um jeito. A gente simplesmente entendia que a música sobrevivia a tudo, porque ela é uma espécie de poder nuclear. Então, por muitas vezes, pensamos em chamar a banda de Noturnall e que, para qualquer metaleiro que tenha alguns dias de vida no mundo do Metal, sabe que existe uma banda famosa chamada Noturnall. 

E a gente não tinha como passar por isso, porque não queríamos ter mais problemas com nome, que foi algo que a gente viveu há tanto tempo no Shaman. Muita gente acha que o nome foi roubado e que teve um começo esquisito, porque os caras saíram e o baterista da banda ficou com o nome.


RtM: Verdade, até você poderia nos contar sobre isso.
TB: E é uma coisa que até gosto de relembrar, porque o que as pessoas não sabem é que a banda era sim do Ricardo. E eu não ouvi falar sobre isso, pois eu estava no momento em que a banda foi criada. E pra quem não sabe, eu produzi a demo e as percussões do álbum “Ritual”, e eu mal sabia que me tornaria vocal da banda depois de 5 ou 6 anos. Eu falo isso como muita naturalidade e com muito conforto, por mais que o Shaman tenha tido os seus problemas pessoais e tal. E essa história de nome me incomodava muito, porque era muita gente falando besteira e no “diz que me diz”, que infelizmente, isso é uma coisa que acontece muito aqui no Brasil, que é a fofoca. E no Metal poderíamos ser menos fofoqueiros.

E isso é uma coisa que eu estou feliz, porque atraímos pessoas com nosso nome, e não o público fofoqueiro e mala. Eu acho que esse tipo de pessoal ficou pra trás e ficou com os artistas que merecem esse tipo de público, pelo menos até aqui, mas que vou lutar pra que isso não aconteça na nossa geração. E voltando ao fato do nome, Noturnall era o nome que perseguia a gente e que até o Ricardo ajudou a dá-lo, porque era justamente na época que estávamos com os planos de fazer uma banda nova e fazendo alguns shows, e a amizade que a gente tinha com ele nunca nos impediu de falar as coisas abertamente.

RtM: Acabou então que o nome “Noturnall” praticamente veio até vocês.
TB: Noturnall é um nome que sempre permeava a gente, até que a gente começou falar muito sobre a questão de voltar atrás. E é melhor uma mudança tardia do que nenhuma mudança, então isso em inglês acaba soando assim: “A late turns is better than no turn at all”, que na verdade é o significado do nome, que é melhor você mudar do que você nunca mudar, e viver achando que você poderia ter mudado e não mudou. 

Então “No Turn At All” é uma coisa que ficou dentro do que a gente queria, casou perfeitamente, com o nome que estava permeando os nossos corações e ainda explicar o que estávamos passando naquele momento. E é um nome que chamou por nós, porque não foi à gente que escolheu o nome, foi o nome que escolheu a gente. E um nome legal de banda acontece desse jeito, tanto que, se você olhar o nome da banda no CD, DVD e em todo lugar que aparece, você vai perceber que tem uns pontinhos em “Noturnall”, que é um diminutivo de “No Turn At All”, pra explicar que na verdade o significado completo é “No Turn At All”.


RtM: Eu vi que a faixa "No Turn It All" está sendo trilha sonora do XFX da RedeTV! correto? Como surgiu essa oportunidade?
TB: Sério? Eu sei que tem algumas pessoas que trabalham em redes de televisão que colocam certas músicas nossas, e que chega pedido direto pra gente. A “No Turn It All” realmente foi usada em UFC e em alguns momentos de trilhas de internet, mas não tinha notícia de que tinha sido de televisão. Mas eu vou me informar, porque é uma coisa animal. Gravamos o clip nos estúdios nogueira, que inclusive gostaria de mandar um abraço para os irmãos nogueira, o Minotauro e Minotouro, que nos batizaram naquele momento e deram a oportunidade de poder usar e abusar dos octógonos deles.

E que prazer saber disso, ainda mais no meio jornalístico. Gostamos muito de UFC não pela violência, mas sim pela técnica, porque técnica nos atrai em tudo, seja na medicina ou na porrada comendo no octógono. E técnica é tudo na vida! Você não precisa de força, mas sim de jeito pra fazer as coisas. E isso não só na música, mas sim no UFC, na medicina e em tudo no mundo. Uma estrela não precisa de força pra nascer, ela só precisa de jeito. Muito obrigado por essa notícia!

RtM: Voltando a sonoridade do Noturnall, percebe-se que a banda busca inovar e diversificar em cada faixa, apostando em levadas que lembram muito as bandas de Thrash Metal, principalmente naquela levada Pantera. Esse aspecto é uma tentativa de atingir um novo público, apostando naqueles que curtem coisas mais pesadas, algo mais atual ou moderno? Já que o Shaman tem características de Power Metal? E aproveitando a brecha, você que acha que o estilo (Power Metal) hoje está em decadência?
TB: Eu noto que você está realmente querendo que eu chute ou respire, mas eu não vou fazer isso (risos). Não cabe a mim dizer como o mercado tem se mostrado financeiramente. Eu acho que é obvio pra todo mundo que as coisas não são como foram outrora. Não tem como dizer isso pra você, que as coisas estão ótimas como já foram nos anos 80, 90 e 2000. As coisas com certeza não são as mesmas, mas que não são as mesmas pra tudo no mundo. As coisas não são as mesmas do ponto de vista financeiro, do ponto de vista social e até se, você quiser, esportista...

Nem o futebol brasileiro é o que foi em outrora, então eu não posso virar pra você e dizer que a culpa é desse cara ou daquele, eu só posso te disser que as coisas simplesmente mudaram. Alguns anos atrás, eu fui uma das pessoas que mais criticaram o estilo, de ser fã dos brasileiros e até dos gringos, mas só que muito mais voltado aos brasileiros por conta de conversas e pela minha própria amizade com os meus colegas de banda, até do próprio Fernando, que me ensinou muita coisa.

RtM: Pois é, são ciclos, alguns estilos se destacam, depois ficam em segundo plano, uns voltam a ficar mais em voga...alguns outros se transformam...
TB: E as pessoas, na verdade, mesmo que inconscientemente, esperavam mudanças dos músicos pra agradá-las musicalmente. E não adianta dizer que não, porque você vê, de década em década, que as músicas e os estilos vão mudando conforme  o que o público gosta. Não dá pra você virar e fingir que a galera não está comparecendo em show, e que são tudo uns bandos de filho da puta e chupa pau de gringo, que por sinal, eu mesmo disse essa frase bem antes do Edu Falaschi.


E quer saber, eu estava parcialmente errado! Nós brasileiros fazemos o papel de uma população colonial e vimos os gringos chegarem aqui desde o começo pagando de gatinho, botando a gente pra trabalhar e achando isso muito bonito. Vide à corrupção que a gente vive até hoje, vindoura lá de Portugal. Na questão musical isso acontece também. Os gringos ainda são melhores do que nós aos olhos dos próprios brasileiros, mas isso não quer dizer que a gente não tenha que nos fortificar e nos obrigarmos a buscar novos caminhos e novos jeitos de fazer música, e acabamos chegando à essa conclusão, e fizemos isso com a Noturnall.


RtM: Um novo caminho, novas possibilidades...
TB: E quer saber, isso deu certo e a pessoas abraçaram a ideia, porque tudo o que elas queriam era uma coisa moderna. Acho que moderna é uma palavra meio babaca, porque tudo que é moderno passa. E era uma coisa que agradasse que ainda não tinha agradado e acontecido, que é uma espécie de atualização do estilo.  Eu acho que a Noturnall veio pra atualizar um estilo que estava defasado, mas isso não quer dizer que os dinossauros do meio estão enganados, como o próprio Angra e o Dr. Sin, ou até os mais pesados, como Sepultura, Krisiun e o Korzus. Essas são bandas que vão sempre abrir caminhos e mostrar que o Brasil não é feito só de pagode, samba e futebol, mas sim de Heavy Metal de qualidade.

RtM: Resistência a coisas novas acaba sendo algo normal no ser humano, e às vezes, nem todos aceitam certas mudanças.
TB: Mas é importante que as pessoas entendam que existem coisas novas de muita qualidade vindas por ai junto com que já existe de bom no mercado, que é isso que eu tenho orgulho de fazer hoje em dia. Eu já fiz parte de alguém que trouxe mudança no passado, que foi o Karma, quando eu já trazia algumas partes de Rap com Thrash. Depois eu fiz parte de um movimento de caminhar com uma bandeira de uma banda que já era grande, mas que tivemos que atualizar o som dela e fazer coisas que a gente não tinha conseguido fazer, que foi o caso do Shaman, de ter feito, por exemplo, um DVD feito com orquestra em Praga, coisa que nenhuma banda fez até hoje, que é gravar um DVD num festival gringo e com uma orquestra gringa.

E disso eu tenho muito orgulho, que inclusive eu vou falar por um bom tempo. E mesmo que alguém faça, eu vou dizer que fomos os primeiros. E foi com qualidade, com o coração e não por grana.
E mais uma vez, como terceiro passo, de você atualizar um som que estava querendo atualização, então você acaba se encontrando numa situação de ser o portador dessa bandeira, dessa tocha e de fazer com que essa coisa aconteça de uma forma diferente. E quer saber, as pessoas foram atrás!

RtM: Não estava acontecendo antes, e com o Noturnall, seguindo “a voz do coração”, como você disse, as coisas começaram a acontecer?
TB: A Noturnall é a banda que mais vendeu disco este ano e a banda que mais fez shows este ano. Fizemos um CD e DVD, cinco vídeo clips, uma turnê privilegiada e vamos terminar o ano com uma turnê Europeia. Isso com uma banda de apenas um ano de idade. Isso pra mim é muito mais que uma vitória, isso é uma satisfação e um prazer que não tem tamanho. E, claro, as pessoas querem que eu diga: “Ah, é um cala boca pra quem te criticou no passado?”

Entenda como você quiser, porque isso não é o que me move, o que me move é ser feliz. E se a felicidade incomoda os outros já não faz parte da minha pessoa ficar dizendo se isso é certo ou errado, eu só sei que estou feliz, meus companheiros estão felizes.

E é uma banda que eu consigo dividir felicidade, fazer dinheiro disso e uma vida pra minha família. Estou totalmente completo musicalmente nesse momento.


Continua na Parte II, que será publicada nos próximos dias, onde você poderá ler o restante desse longo papo com Thiago, onde ele comenta sobre diversos detalhes deste álbum de estreia do Noturnall, a parceria com Russel Allen, um pouco ais a respeito de cada um dos integrantes e também como surgiu o convite para Aquiles assumir as baquetas, as gravações dos vídeos oficiais, a produção do DVD e muito mais!

Olha aí o que vem pela frente:

A entrada de Aquiles Priester:
"O Aquiles foi o casamento perfeito de uma turma que já tinha uma boa singularidade mesclada, que se juntou a um cara que, a meu ver, sempre foi um grande gênio da bateria do Heavy Metal mundial."
  
A rápida ascenção do Noturnall e grande aceitação do público:
"É aquela história do ovo e a galinha, de saber quem vem primeiro. Não da pra saber que a gente quis mais isso do que os nossos fãs queriam que isso existisse. Só sei que o rio encontrou o mar e o fluxo aconteceu."

"O disco da Noturnall foi o disco que mais vendeu na loja (Die Hard) em um dia, de todos os títulos, e houve uma fila pra pegar o disco, que é uma coisa parecida com o “Black Album”, visto no documentário “A Year and a Half in the Life of Metallica”, cenas que só aconteciam nos anos 90 e nos primórdios."

 A Parceria Com Russel Allen:
"E ele realmente foi um cara do bem e estendeu a mão pra gente, pois ele é um cara maior, não só de estatura, mas sim de um dos nomes mais importantes do Heavy Metal do mundo. Ele estendeu a mão pra gente e falou: "Vocês merecem toda a força do mundo e eu vou ajudar para o que precisar"

É isso pessoal, um gostinho do que ainda ficou para a sequência desta entrevista mais que especial, com um cara que sempre buscou dar passos à frente, inovar, e, apesar de causar algumas polêmicas, não agrandando todo mundo (lógico, ninguém é capaz de agradar a todo mundo),  um ser humano com seus erros e seus acertos, mas nunca deixando de ser uma cara que tenta e que faz acontecer.


Entrevista: Gabriel Arruda e Carlos Garcia
Transcrição: Gabriel Arruda
Edição/Revisão: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação/Arquivo da Banda








quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Entrevista: Shaman e Thiago Bianchi - Sinceridade Acima de Tudo

cast MOA




Shaman encontra-se entre as grandes bandas do Metal brasileiro mundo afora


O papel do vocalista e produtor Thiago Bianchi dentro da cena Heavy Metal brasileira é alvo, de um lado, de muita admiração e, de outro, muita crítica e polêmica. Afinal, a denúncia de uma cena enfraquecida em termos de valorização por parte dos fãs, com shows Brasil afora muitas vezes vazios, também foram motivos para manifestações outras de artistas brasileiros de renome mundial e gera discussão diariamente entre músicos e fãs.

Polêmicas a parte, a verdade é que Thiago Bianchi é um músico completo. Quer você goste quer não, o cara é vocalista da banda Shaman, conhecida e respeitada mundialmente e, ao lado de seus companheiros Ricardo Confessori (bateria, também do Angra), Léo Mancini (guitarra) e Fernando Quesada (baixo e violão), conseguiu, no mais recente disco “Origins” (2010), “reviver” a atmosfera característica da banda que mescla o Power Metal rápido com passagens mais cadenciadas, gerando canções ou trechos de uma beleza única no cenário brasileiro.


Em dez anos, foram dois discos de estúdio, mudança drástica na formação, mais dois bons discos com a formação atual estabilizada, além de dois DVDs ao vivo, incluindo aquele gravado com a Bouslav Prague Orchestra na República Tcheca, numa experiência de dar inveja.

Mas Bianchi também atua nos bastidores, como produtor de algumas jovens bandas e sempre está disponível nas redes sociais da internet para um papo com os fãs.
           
Conversamos com o vocalista, cujo foco da entrevista foi divido entre o Shaman, onde conta como foi a experiência do DVD citado, o último disco e como chegou até a banda, exaltando bastante a importância dos fãs da banda, além do Karma (banda anterior ao Shaman) e o novo projeto Arena. Na segunda parte, conversamos um pouco sobre a cena brasileira, num papo mais direto e não livre de certa polêmica. Confira.


Road to Metal: Você entrou no Shaman substituindo André Matos, ao lado de praticamente toda a banda (o único integrante original é o baterista Ricardo Confessori). Mesmo você tendo feito grandes discos com o Karma, qual a sua sensação agora passados mais de cinco anos como frontman do Shaman, tendo gravado dois discos de estúdio, além de dois DVDs ao vivo com a banda?

Thiago Bianchi: É a melhor possível. Tenho muito orgulho e muito entusiasmo quando se trata de falar de SHAMAN. Levamos a banda pra frente e pra cima, bem como seu nome merece, assim como seus fãs. São cinco anos de muita luta, muitos shows, DVDs com Orquestra na Europa, discos feitos com muito carinho e profundidade energética e musical.

RtM: Como o Shaman chegou até a escolha sua como vocalista e como foi o primeiro dia após se efetivado o novo vocalista da banda?

TB: Ricardo e eu somos amigos há quase quinze anos, com uma história de muitos trabalhos juntos, como em demos do Angra, do SHAMAN, produções secundárias nos próprios discos do SHAMAN, além de produções de bandas de Metal mundo afora. Quando a banda se desfez, ele me ligou pedindo ajuda para a escolha de novos membros e eu prontamente o ajudei. Depois de todos escolhidos, estávamos com dificuldade para achar o novo vocal, por tanto comecei a assumir as vozes nos ensaios enquanto o “tal” não era escolhido. A partir daí foi questão de uma ou duas sessões até que todos olhassem pra minha cara e dissessem: “Hey, vamos começar a compor? Porque a banda já está fechada, né?” (risos). E o resto é história...

Confessori, único membro da formação original
RtM: Falando em “Origins” (2010), é bem significativa a volta da banda ao som de origem, com aquele clima natural e com elementos da cultura indígena. Mas, além disso, pudemos notar que, diferentemente do disco “Immortal” (2007), em que a expectativa estava de que a banda soltasse um novo “Ritual” (2002), com o novo trabalho puderam agradar os fãs da formação clássica, além de levar o nome da banda para novos públicos. O que você poderia dizer que mudou de um disco para o outro desde que chegou à banda?

TB: Bom, uma coisa é clara pra nós, não fazemos discos por obrigação, nem para agradar fulano ou beltrano. Somos uma banda de HEAVY METAL BRASILEIRA e é nosso legado, nosso comprometimento é com a “honestidade” e “profundidade” musical. A partir daí, o público que percebe isso, passa a nos apoiar. Sinto que ganhamos muitos novos fãs, quando deixamos claro que a música é a estrela de nossa banda, fãs de qualidade, que amam boa música, feita com carinho, rica em detalhes e estórias e claro, com muitos riffs e pegada de HEAVY METAL de verdade! E justamente por conta de tudo isso também pôde excluir aquela parte dos fãs antigos que não OUVEM música, mas sim, USAM música como uma espécie de preenchimento para suas almas vazias e sem sentido. 


Bianchi, Quesada e Confessori na gravação do DVD na República Tcheca

Hoje posso dizer que somos uma banda de fãs de muita qualidade e por isso tenho muito orgulho. Nosso público hoje é pensante, inteligente e claro, tem música em seus corações, não em seus rabos! (risos)



4º disco de estúdio da banda, lançado em 2010
RtM: Você já falou bastante sobre o conceito por trás do novo disco da banda. Mas, em linhas gerais, qual a mensagem que a estória tenta deixar para quem ouvir o trabalho?

TB: A mensagem é simples: Iluminação. Somos uma banda que claramente tem como principal objetivo, servir como uma espécie de “bússola musical” para quem busca clareza e entendimento do cosmos ao seu redor. Você pode ter isso através da música e é isso que buscamos. Como disse acima, estamos aqui para servir também de “rumo” para toda e qualquer alma que busque “Luz”. Música é uma espécie de meditação e o SHAMAN é seu guia, se você o deixar entrar em seu coração.


Após sair do Angra, Confessori montou o Shaman e lidera o grupo até hoje, mesmo tendo voltado ao Angra em 2009



RtM: Um ponto marcante da carreira da banda, com certeza, deve ter sido a gravação do DVD com a Buslav Orchestra (República Tcheca) no festival “Masters of Rock”. Como foi a escolha do setlist e como se dá um trabalho de orquestração de músicas que foram compostas, originalmente, sem esses elementos tão evidenciados?

TB: Bom, foi um sonho com certeza. Não sei explicar e com certeza se tentasse, iria precisar de alguns gigas de espaço em seu site para conseguir passar um pouco do que sentimos ao fazer aquele DVD. (risos)

O que vale ser dito é que sentimos que representamos nosso país, com honra e dedicação extrema, como nossos fãs merecem, tanto que depois de nosso show, fomos “tietados” por não só membros da platéia, mas também de outras bandas que participaram do evento, como o pessoal do RAGE, NIGHTWISH e algumas outras...
Capa do DVD recente

A escolha do setlist foi bem tranqüila, testamos as que se encaixaria melhor na situação “com orquestra” e o resto vocês podem conferir no DVD, principalmente na parte de “Making of”, que já seguindo nossa tradição, é diversão garantida para o público que o assistir.

RtM: É de praxe que bandas brasileiras levem mais público aos shows no exterior, especialmente Ásia e Europa, do que no seu próprio país. Isso já acontece há décadas. Pensando nisso, como vocês percebem a aceitação internacional da banda e nos conte um pouco dos países que você esteve com a banda e que marcaram a sua carreira, seja pela estrutura, seja pelo público.

TB: Nosso público, como disse acima, é muito similar em todos os lugares que passamos. São todos muito esclarecidos e inteligentes, além de terem contato muito diferenciado com os detalhes da existência do que o resto das pessoas. Acho que isso que verdadeiramente os diferenciam do resto da massa. Portanto, aqui ou em qualquer lugar do mundo, você poderá perceber que fã de SHAMAN é fã da vida!

RtM: Temos uma cena nacional com inúmeras bandas de Power Metal ou Prog/Power Metal. Você, sendo também um produtor, tem contato com várias bandas que estão começando. Com essa sua experiência, qual recado pode deixar para a rapaziada que sonha em tocar o som que bandas como Angra, Hangar e o próprio Shaman foram grandes responsáveis pelo gênero no Brasil?

Leo Mancini e a orquestra que acompanhou o Shaman no show

TB: Façam música pelo coração e não por qualquer outro motivo. Com certeza assim, as coisas serão verdadeiras e muito mais próximas de algo realmente concreto e verdadeiro, coisa que não tem acontecido em várias áreas do mundo ultimamente. Sendo assim, automaticamente, você se destacará.

RtM: Como anda a agenda do Shaman? Quais os planos para 2012 será que vai rolar um novo trabalho, novo disco ao vivo...

TB: Muitos shows e atividades em geral. Já um disco, ainda é cedo pra dizer, mas assim que souber, prometo que conto. (risos)

RtM: Recentemente você divulgou que está retomando um antigo projeto, o Arena. Conte-nos mais sobre essa idéia e o que podemos esperar?


TB: UM PUTA DISCO. Sem mais. (risos). Em alguns dias, vocês poderão ouvir e chegar a suas próprias conclusões, por enquanto, essa é a minha. (risos) [Nota do editor: entrevista realizada antes da divulgação da música “Trust”, que você pode ouvir no nosso player)


RtM: Já que estamos falando de seu trabalho fora do Shaman, qual a situação do Karma? Vocês possuem um grande trabalho, mas o grupo não lançou mais nada desde a sua chegada ao Shaman.

TB: É cedo pra dizer, mas com certeza voltaremos a trabalhar juntos, só não é a hora ainda...





Sobre o dia do Metal nacional

RtM: No ano de 2011 você se envolveu em diversos projetos para reerguer a cena metal nacional, inclusive com declarações um tanto polêmicas. Como surgiu está idéia de levantar a bandeira do metal nacional?


TB: Pela própria situação que se encontra o Metal Nacional. Vamos ver o que mais poderemos fazer nesse ano de 2012.

RtM: Essas manifestações acabaram gerando inúmeras polêmicas tanto na mídia, como com músicos e fãs. Quais foram os pontos negativos e positivos que você conseguiu identificar?

TB: Muita crítica e pouca atitude por parte do público. Parece às vezes, que o povo se deixa levar, pela falta de noção de alguns. Tenho certeza que isso muda um dia, mas com certeza não estamos vivendo esse dia, por enquanto.

RtM: Após esse primeiro passo que você deu em nome da cena, muitos músicos se manifestaram também, o que você pensa sobre estas manifestações?

TB: Ótimas, todos foram muito solícitos e manifestaram suas idéias diretamente a mim, coisa que me agradou muito, pois mostrou postura de muito caráter dessa galera, além de mesmo os contra, também terem mostrado imediata abertura para ajudar no que fosse preciso para a melhora da cena... Assim nasceu o Dia do Metal, com a união dessa galera.

RtM: Recentemente em São Paulo você organizou um grande evento somente com bandas nacionais, mas o que marcou o evento foi o baixo público. Thiago, você pretende dar continuidade a este projeto? Pois esse foi o festival Power Metal como informado, teria planos para dar continuidade com bandas de outros estilos?

TB: Não, o que marcou o evento, foi o evento em si. O “tal baixo público” ficou por conta das declarações do Edu Falaschi sobre isso no dia do evento. Não foi realmente o público esperado, mas deu lá suas 600 pessoas, o que é quase normal para um evento num domingo chuvoso. Agora, digo quase, pois aí sim, consegui provar o que disse nas tais cartas criticando a postura dos metaleiros. Aí está a prova. Quem dizia que não estávamos num “abismo” do estilo, pode conferir como as coisas estão de verdade.

Com certeza farei mais eventos, enquanto sentir que o estilo precisa de minha ajuda ajudarei. Acho que todos deveriam ter esse tipo de atitude com as coisas que amam como a cena do Metal Nacional. Mas hey, quem sou eu pra querer algo de diferente nesse país, conformista e hipócrita? Né? (risos)

RtM: Em nome de toda a equipe Road to Metal, agradecemos sua disponibilidade de tempo. Thiago deixe uma última mensagem aí para os leitores do blog. Obrigado!

TB: Obrigado pelo espaço. Beijo no coração de todos, principalmente nos que precisam de mais amor!

Entrevista: Renato Sanson/Eduardo Cadore
Revisão: Renato Sanson/Eduardo Cadore
Introdução: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação, Diana Vigasova

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