Em 1948, Claude Elwood Shannon e Warren Weaver, matemáticos, norte
americanos desenvolviam estudos científicos em torno das teorias comunicativas.
Buscavam diminuir os ruídos entre comunicações, pois causavam entendimento
dúbio (e por isso adotou-se o termo “ruído” para cada desinformação que cause
falta de entendimento ou mau entendimento). Nesta busca, desenvolveram muitas
teorias e baseados em cálculos matemáticos chegaram a (dentre muitas outras)
uma conclusão: “Por mais que se evite todo sistema tende ao caos!”. Inclusive a
máquina mais perfeita da natureza está, diariamente, exposta e sujeita ao caos.
E neste clima apocalíptico, a Alkanza chega com o “Destroyed The
System”. Até o momento foi liberado apenas o EP (Faça o download aqui) com
quatro músicas enquanto os trabalhos seguem. São praticamente quatro canhões
conscientes apontados para a sociedade, quatro armas carregadas de pedido de
socorro, indignação e alertas sociais anunciando o colapso para o qual estamos
nos conduzindo. Na era da informação, onde tudo e todos estão, doentiamente,
dependentes do sistema para tudo, não há prenuncio do caos maior do que a
destruição do sistema. Talvez a chance para um novo começo, ou início do fim.
Violência limitada é grosseria!
A primeira música do EP começa verbalizando o descaso nacional: -
“Brasil, Pátria amada, de cabeças pouco pensantes, de bocas muito
falantes, de grana lavada com sangue do povo...”.
Explana sobre os direitos que
os cidadãos (não) têm, um pequeno tapa na cara dos líderes políticos.
Musicalmente falando, as guitarras vêm rimando com riffs gordos e
cadenciados ao melhor estilo “Old School”, uma pegada muito inspirada no bom e
velho blues. Notadamente se percebem as influências de bandas que montaram os
padrões no passado como ACCEPT, AC/DC, IRON MAIDEN, MOTÖRHEAD, etc.
Aos dois minutos e cinqüenta e sete segundos acontece à virada e o que
era blues se transforma para mostrar a verdadeira cara da Alkanza. Com uma
batida mais acelerada vem o vocativo “... Let’s start fighting before is too
late...”. E nesse ritmo se encerra a apresentação do disco. Aqui nessa
apresentação talvez o inglês com o sotaque ainda pesado, vá bater no ouvido
antes de entrar, mas vá com calma, esse fator está longe de sobrepor à
qualidade musical.
Muito destrói quem nada faz
A seqüência destrutiva segue cadenciada e dinâmica. Falando em
dinamismo, esta é uma característica evidente em todas as músicas do trabalho,
e nem tudo é o que parece. Mas o que parece ser agressividade, sim é agressivo
mesmo. “Destroyer” vem agigantando a musicalidade, e aqui o inglês, já com bem
menos sotaque, deixa mais macia à degustação musical. Em curto espaço fica
evidente a evolução musical do grupo. Thiago abusa do vocal “rasgado” gutural,
essa característica traz, ainda mais, a presença das trevas para as
composições. Chamados de destruição, vocal rasgado e guitarras evaporando peso,
tornam “Destroyed The System” sinistramente perfeito.
A música “Destroyed” me fez pensar que, só existe um ser mais mortal que
um vírus contagiante: Os Políticos!
Ação e reação
Letras muito bem arquitetadas e composições ricas em revolta social.
Revolta com quem está sangrando nosso mundo ao poucos. Lideres que tem o poder
de mudar e não mudam, e o “gado no pasto” que está vendo tudo acontecer, mas
enquanto o pasto estiver verde, vai aceitar a destruição de bom grado. A
terceira música da compilação (Demolition) vem recheada de inspirações e se
Alkanza é uma banda Thrash Metal (e isto é uma afirmação) vem mostrar o quanto
o estilo é rico e permissivo às diversidades.
Renato quase faz o baixo ser enxergado, tamanha a presença e a boa
sensação causada nessa música.
Em outras músicas a influência do blues já foi notada, aqui Renato fez
presente à influência do velho Steve Harris e seu baixo “galopado”. Em
3min04seg a música vira novamente, e o que até aqui era um classic heavy se
transmuta em um Crossover esmagador por 41 segundos. Quando chega o refrão:
“DEMOLITION, this fixation, BORN TO KILL, every nation...” é, praticamente,
impossível não lembrar a capa de “Full Metal Jack” com o capacete militar e
suas inscrições. Alias, esse é um filme do Stanley Kubrick que trata de
“desumanização”. Será que pode ser mais uma influência notada?
O quarto poder
Para introduzir a música que encerra o EP, cito Oscar Wilde: “viver é a
coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. E se vivo fosse
atualmente, concordaria com a Alkanza e completaria a segunda oração com: “...
para assistir TV”. Como já havia comentado antes, mais uma vez a banda capricha
na dinâmica da música brincando entre troca de ritmo, quebradas musicais e
excelentes riffs.
De um modo geral as músicas ficaram muito bem equalizadas, em nenhum
momento um instrumento ou voz se sobrepõe aos demais.
Mesmo antes de ouvir as músicas, ao olhar a capa do disco já se sabe o
que está por vir. Uma espécie de corredor de hospital, duas enfermeiras
(profissionais que deveriam cuidar de enfermos) com marcas de sangue nas
roupas, uma delas traz a inscrição “SUS” no jaleco, berços incendiando com
crianças dentro e ao fundo muitas pessoas enclausuradas pelo fogo.
A multidão ao fundo, tem o rosto deformado e isto deixa uma dúvida no
ar: Seriam elas vítimas mesmo? Ou a complacência delas as torna tão nocivas
quanto os criminosos? Alkanza nos deu uma ótima amostra de que, vem muita coisa
boa pela frente.
Pois baixe, escute, abuse e “pense por você”.
Texto: Uillian Vargas
Edição/revisão: Renato Sanson
Fotos: Divulgação
Tracklist:
01 This is
violence
02 Destroyer
03 Demolition
04 Psycho Terror
Banda: ALKANZA
País: Brasil
Estilo: Thrash Metal
Ano: 2014
Assessoria: Heavy And Hell Press
Formação:
Thiago (Vocal/Guitarra)
André (Guitarra/Backing Vocal)
Renato (Baixo)
Leonardo (Bateria)
Conheça mais a banda:
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