terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Entrevista: Warrel Dane - Passado, Presente e Futuro


Warrel Dane provavelmente é um dos mais cultuados vocalistas do Metal moderno, sendo membro fundador do Serpent's Knight, Sanctuary e do Nevermore, bandas que foram evoluindo e criando um número fiel de admiradores e seguidores, sendo também influência para muitas bandas mais jovens, que se inspiraram principalmente no Progressive Thrash ou Modern Thrash feito pelo Nevermore, mas também muitos esperavam um possível novo trabalho com o Sanctuary, que acabou tendo um fim prematuro, no começo dos anos 90, devido a pressões de gravadora na época em que o Grunge aparecia como a nova aposta comercial, principalmente na cidade natal da banda, Seattle. 

O Sanctuary deixou dois álbuns que se tornaram cult, e após o seu fim, Warrel e Jim Sheppard fundaram o Nevermore, e após 8 álbuns e construir uma história marcante, a banda também acaba se separando em 2011, após a saída de Jeff Loomis e Van Williams, e a partir daí, ficou mais forte a possibilidade de um novo Sanctuary, o que ocorreu em 2014. Conversamos com Warrel Dane, que esteve no Brasil ano passado em shows solo e retorna agora ao final de janeiro para mais apresentações, para saber um pouco mais dessas histórias com o Sanctuary e Nevermore, inclusive curiosidades sobre as gravações, como os álbuns que sofreram influências de fantasmas e de tequila durante suas composições, a vez que foi confundido com Doro Pesch, e também fala sobre seu próximo solo e possibilidade de um novo álbum do Nevermore! Curioso? Confira agora mesmo.



RtM: Bom, pra começar, como foi a transição, deixando o Nevermore e retornando com o Sanctuary após tantos anos, foi uma transição fácil?
Warrel Dane: Foi realmente fácil, depois de toda a merda que rolou com o Nevermore. Foi realmente fácil, o que mais posso dizer?

RtM: E como se deu esse retorno propriamente dito, como foi sendo planejado?
WD: Bom, nos simplesmente decidimos fazer música junta novamente, não havia nenhum plano maligno por trás (risos), simplesmente nos reunimos, então nós começamos a compor, e as coisas foram acontecendo.



RtM: E como o sentimento de reunirem-se novamente, depois de tantos anos.
WD: (Risos)...Foi como reatar com uma ex-namorada, sabe como é o sentimento. Foi bem legal, começamos a sair juntos, ir a festas, conversar...foi bem fácil. Nos conhecemos há muito tempo, mas não vínhamos nos falando muito, claro.

  
RtM: Os fãs “Die Hard” esperavam talvez algo perto dos primeiros álbuns, mas o álbum "The Year the Sun Died" mostra um Sanctuary atual, com ideias novas. Vocês pensaram ou tiveram algum planejamento prévio de como deveriam soar?
WD: Bom , alguns anos se passaram, então não você não poderia esperar outro “Refuge Denied” ou “Into Mirror Black”,  cada álbum nosso é completamente diferente, não queremos nos repetir, cada um é um passo à frente. Alguns poderiam esperar eu berrando como um porco sendo tosquiado, que nem no “Refuge Denied”, claro, isso não iria acontecer (risos), não estamos mais em 1987, pareceria meio tolo agora.

RtM: A respeito das composições em "The Year the Sun Died", você acredita que seriam as melhores que você escreveu até agora?
WD: É difícil dizer, cada álbum tem sua época, e cada um você espera que seja melhor que o anterior. É preciso coloca-los em linha, e com certeza este álbum é mais maduro, assim como “Into the Mirror Black” foi um passo além de “Refuge Denied”. Cada um é um passo a mais na direção correta.


RtM: Sobre seus vocais, são bem diferentes nos álbuns do Sanctuary (especialmente os 2 primeiros) e do Nevermore. No novo álbum acredito que suas linhas vocais estejam mais próximas do que você fez no Nevermore, assim como as guitarras também tem algo de sua banda anterior. Sua voz, naturalmente pela evolução e maturidade, mas também para estar, digamos, em uma região mais confortável para sua voz?  O que você acha?
WD: (ri um pouco), pessoalmente acho que “The Year the Sun Died” não tem nada a ver com Nevermore, acho que as guitarras, a música é completamente “fuckin’” diferente, e acho que a maioria associa minha voz ao som do Nevermore, então acho que por isso as pessoas poderiam dizem “Oh meu Deus, soa como Nevermore!”. Por isso fico bravo com algumas entrevistas.
Na Europa por exemplo disseram “Isto não é um álbum do Sanctuary, é um álbum do Nevermore!” Oh shit! É um álbum do Sanctuary! É quase toda a banda original! Não soa como Nevermore. Então não tem nada a ver, você associou por causa da minha voz.


RtM: E a Tour com Warlock e Megadeth. E como foi a história que acabaram confundindo você com a Doro? É verdade?
WD: (rindo muito)...É verdade, fui confundido com ela umas duas vezes, acho que porque temos os cabelos bem parecidos (risos). Aconteceu algumas vezes, o Sanctuary era a primeira banda a tocar, então eu subi ao palco e as pessoas gritaram: “Doro! Doro!”...e aí quando percebiam “O quê? É um cara!” (risos). Mas, a tour foi louca! Uma das primeiras que fizemos, foi uma tour longa, muita coisa louca aconteceu, então não poderia nem falar aqui, muita coisa devassa (risos). Mas foi muito legal viajar com Doro, pois ela é uma pessoa adorável, a “Rockstar” mais legal do mundo, muito legal e respeitosa com todos. A parte legal da tour é que todo mundo estava meio que apaixonado por ela, especialmente...bom...bom alguns caras de cada banda estavam caidinhos por ela (risos), e ela sabia, naturalmente. Mas fato é que ela não saiu com ninguém na tour.

Sanctuary

RtM: São apenas 3 álbuns na discografia, mas para quem vai conhecer o Sanctuary, qual álbum você recomendaria para começar?
WD: Acho que “Into the Mirror”, seria um bom começo. Ali nós começamos a focar em escrever canções memoráveis e não só mostrar habilidades técnicas, como fizemos em “Refuge Denied” tudo se encaixa melhor. É, eu começaria com ele.


RtM: E nos anos 90, com o crescimento do Grunge, principalmente em sua cidade, Seattle, que foi tipo uma meca do movimento,inclusive com a banda encerrando as atividades. Como foi para vocês essa época?
WD: Foi frustrante, porque naquele ponto, se você estava em Seattle o Heavy Metal era uma palavra suja, ninguém queria saber. A cena estava lá ainda, foi duro para as bandas, o Metal sempre esteve lá, mas não havia mais respeito.  As pessoas te colocavam pra baixo, e tocar Metal era, tipo, como uma coisa ruim. Bandas como Alice in Chains, acho que eles são uma banda de Metal, eles estavam no meio daquilo, mas eles eram Metal, mas de repente “Ah, esses caras são grunge!” .


RtM: Você é amigo deles, certo?
WD: Sim, os conheço,  Eu lembro, antes de gravarem o primeiro álbum,  tinha esse lugar em Seattle, o Music Bank, as bandas costumavam ensaiar, eu e Jimmy costumávamos a sair por aí, com o Lenny e também o Lane (Staley, vocalista fundador do Alice In Chains, falecido em 2002), tocávamos covers, lembro de tocarmos "Battle of Angels" (do primeiro álbum do Sanctuary), e Lane a cantava, é algo que nunca esquecerei. Muito estranho... (faz uma pausa)...e ..yeah..


RtM: Ok, vamos lá...Ano passado vc esteve no Brasil, fazendo shows e celebrando 15 anos do álbum “Dead Heart...”,  fale pra gente como foram as gravações desse disco, quando vocês trabalharam pela primeira vez com Andy Sneap?
WD: Gravamos em El Paso (Texas), muito perto da fronteira do México. Lembro que dirigíamos cerca de 5 minutos e estávamos lá.  Algo que aprendemos rápido na fronteira, foi que um litro de tequila era muito barato, foi algo realmente perigoso (risos). Não saberia dizer quantas garrafas de tequila vazias haviam no estúdio. As gravações foram movidas a tequila! Andy Sneap também estava envolvido no consumo (risos). Um período louco pro Nevermore. Muita bebida, fora de controle às vezes (risos). Foi a primeira vez que trabalhamos com ele. O que posso de dizer de Andy é que ele nos exigia muito, muito mesmo, para que tivéssemos a melhor performance possível, que algumas vezes a gente ficava meio que possesso: “Como assim fazer melhor??” aí ele rebatia:  “Vocês podem fazer melhor!”... e nós: “O quê!!??”. (risos) Normalmente ele estava certo.  Um grande produtor, então acabamos fazendo o próximo com ele, e o próximo... Um grande cara.



RtM: "Dreaming Neon Black" foi um álbum mais dark e pesado, você acha que foram na direção correta naquele momento?
WD: Bom sabíamos que estávamos fazendo algo certo, foi definitivamente um progresso a partir de “Politics of Ecstasy”. Bom, era obviamente um álbum conceitual. Levou um bom tempo para produzi-lo, porque estávamos meio assustados, estávamos meio que neuróticos na questão de estarmos aptos de superar “Politics”, que chamou muito a atenção. Estávamos preocupados em fazer outro bom álbum, então tiramos um bom tempo para compô-lo. E Nosso tempo foi bem aplicado, acredito, pois todos disseram que foi um álbum melhor. Acho que foi mais ou menos como quando iniciamos “Dead Heart in a Dead World”, pensamos “Como faremos isso de novo!”, mas foi um álbum que veio fácil, “Dead Heart” foi mais fácil, por alguma razão. “Dreaming Neon” foi muito difícil, “Dead Heart” foi  “pretty fuckin’ easy”!.


RtM: Bom, e quanto a “Enemies of Reality” teve alguma controvérsia com a produção de Kelly Gray, e vocês não ficaram muito satisfeitos, então Andy Sneap foi chamado para remasterizar o álbum. O que exatamente houve?
WD: Bom, foi interessante trabalhar com Kelly, um cara legal, mas nenhum de nós ficou satisfeito. Foi um álbum que teve recursos limitados, a gravadora, Century Media, nos pressionava bastante por um novo contrato, e nós não queríamos, porque vimos as vendas crescerem a cada álbum, queríamos mais liberdade, e “Enemies” foi o último do contrato. 

Queríamos ver o que acontecia, como um próximo se sairia, para aí então negociar outro contrato. Eles queriam que assinássemos de qualquer maneira a renovação, mas nós relutamos, então eles ficaram “putos”, então acabaram cortando muitas coisas. Após lançado, o álbum foi muito bem, decidimos renovar o contrato, e então eles concordaram que o álbum não soava bem: “Ok, sabemos que ‘Enemies’ soa uma merda!” (Risos), e aí chamaram Andy para remixá-lo. E nós (Usando tom irônico): “Obrigado!! Muito Obrigado” (Risos)


RtM: E os álbuns "This Godless Endeavor" e “ The Obsidian Conspiracy”, qual sua opinião a respeito deles, e qual seu favorito?
WD: Não estou bem certo, entende como é, cada álbum é como um filho seu, é difícil escolher um favorito entre eles. Exceto “Dreaming Neon Black”, ele é meu favorito do Nevermore.  Bom, “Godless” foi um passo adiante, e com Andy, uma grande experiência, gastamos 2 meses nessa fazenda na Inglaterra, era muita antiga, acho que foi construída no século XVI ou XVII.. o lugar era mal-assombrado, definitivamente havia fantasmas lá. Estavam por lá durante as gravações. Eram fantasmas de mulheres, de alguma maneira eu sentia isso. E a mãe de Andy Sneap me contou sobre as histórias das mulheres que viveram lá, quantas gerações foram donas da fazenda, havia essa presença forte feminina. E isso tipo que influenciou as letras, inspiradas por alguns meses vivendo em uma fazenda mal assombrada.

RtM: Você estava escrevendo material para um novo Nevermore? Pode haver um retorno da banda em algum momento?
WD: Sim, eu escrevi algumas coisas, e pretendo usar. Claro que quero fazer outro álbum do Nevermore com Jeff. Não sei se ele estaria interessado, então... ele está no Arch Enemy, então deve estar ganhando mais dinheiro hoje do que ganhamos com o Nevermore, bom pra ele, daí não sei se ele teria uma motivação. Bom, eu faria, yeah, mas não sei se os demais estariam dispostos, então...


RtM: Em 2008 você lançou seu solo, "Praises to the War Machine", e a respeito de um novo, você tem planos para isso? Os músicos brasileiros que lhe acompanharam na tour solo ano passado estarão nessa?
WD: Estamos trabalhando nisso, vai ser brutalmente pesado, algumas novas covers, e espere algo mais louco que “Praises to the War Machine”, algumas coisas Goth, e coisas realmente obscuras, coisas que você não esperaria em um álbum de Metal, e sim, vai ser feito com esses caras.

RtM: Gostaria que você falasse sobre a recepção aqui no Brasil, quando você veio para os shows solo, para tocar com músicos daqui e tudo,  e também sobre a tour na Europa com músicos brasileiros.
WD: A primeira vez que fui pro Brasil estava incrivelmente nervoso. Vim sozinho, jamais tinha encontrado antes nenhumas das pessoas envolvidas, nunca tinha trabalhado com o promotor. Realmente nervoso. Mas um par de dias após, estava completamente confortável, e tive a certeza que havia tomado a decisão certa de vir, trabalhar com músicos brasileiros. Funcionou tão bem que pensei, porque não fazer alguns shows na Europa. 12 shows na Grécia, foi realmente algo fora do comum, normalmente as bandas tocam dois ou três. Até fiquei apreensivo de início, mas tudo correu muito bem, e queremos eventualmente fazer novamente, na Grécia, espero. Estamos nos preparando para uma nova tour na Europa, em abril e maio, acho que vai ser interessante.

RtM: Sobre os conceitos que você utiliza nas letras, abordando política, sociologia, filosofia, etc, o que você faz para manter suas ideias, digamos frescas ou atualizadas?
WD: Como vou responder essa...bom, não sei se mantenho minhas ideias “frescas” neste ponto agora (risos), continuo me repetindo....não sei...é uma pergunta difícil.


RtM: E sobre suas influências, falando sobre seu início, quando usava notas mais altas, e agora com o passar do tempo, mudando seu estilo. Como foi moldando seu modo de cantar através dos anos?

WD: Bom, he he, todo vocalista, bem, sua voz muda através dos anos, sempre está mudando, e você tem que ir se adaptando. Quando você é jovem, claro, canta completamente diferente de quando você passa dos 30. Muda, certamente muda. Poucos cantores mantém a voz que tinham na sua juventude, eu acho (risos). Somente acontece, estou confortável com a voz que tenho agora,  só espero que não fique muito mais grave! hahaha (completa, “engrossando” mais a voz)


RtM: Obrigado Dane, fica o espaço para sua mensagem aos fãs, que aguardam seus shows no Brasil a partir do final deste mês.
WD: Estou indo, me aguardem! Para encerrar eu gostaria de dizer, por favor, criem sua própria religião, pois as que temos agora não funcionam mais! (risos)
 

Entrevista: Gabriel Arruda
Tradução: Carlos Garcia
Introdução e Edição: Carlos Garcia


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