No underground brasileiro
sempre há dificuldades para conseguir espaço e reconhecimento dentro da mídia,
ainda mais se tratando de bandas que não recebem apoio de gravadoras ou de
alguma ajuda de distribuição vinda por fora etc. Mas apesar de todos os percalços
que há por esse caminho, as bandas nunca perdem o prazer de fazer o que gosta.
E após os 12 anos, com 5 discos lançados, o Carro Bomba irá gravar o seu
primeiro DVD neste sábado, às 21hrs, no Sesc Belenzinho.
Para falar sobre esse dia
especial, o baterista Heitor Shewchenko teve um tempinho para conversar com o
Road to Metal e convidar todo mundo para estar na gravação do DVD.
Road
to Metal: Antes de tudo, quero agradecer por essa oportunidade de estar falando
com você. Logo de cara, gostaria de saber como surgiu à oportunidade de estar
gravando o primeiro DVD da carreira do Carro Bomba após 12 anos em atividade?
Heitor:
Bom,
primeiro quero agradecer a galera do Road to Metal e a você, Gabriel. Então, a
ideia de fazer o DVD agora é porque a gente sempre quis fazer um DVD tocando ao
vivo, mas nós somos uma banda independente e sempre fomos praticamente. Teve
uma época que tivemos um acordo de distribuição, mas era só isso e fizemos tudo
com o nosso próprio bolso. E a gente sempre quis fazer uma coisa decente, bem feita
e bem estruturada, então por isso que demorou, porque a gente foi buscando a
melhor oportunidade. E realmente ela surgiu agora, com uma estrutura
totalmente diferente, com estúdio novo do Marcello e do Soneca. E apareceu o
show do Sesc, que tem uma estrutura excelente e o cachê alto, então a gente só
conseguiu fazer agora por falta de grana mesmo.
RtM:
O local escolhido pra gravar o DVD foi o Sesc Belenzinho, que é bastante
acessível, perto de um metrô e que da pra todo mundo ir, independente da faixa
etária. Por qual motivos vocês escolheram o Sesc para fazer a gravação desse
DVD?
Heitor:
Primeiro,
pela estrutura, e o Sesc é um lugar que facilita muito para as pessoas e para a
acústica do DVD. E o Sesc é o melhor lugar que tem hoje em dia pra tocar no
Brasil, então eles tratam a gente como músicos de verdade, eles pagam
honestamente, eles tratam a gente com tudo o que precisamos pra fazer o show em
questão de estrutura, equipamento... Eles têm equipe, cada pessoa faz uma coisa
lá, não é o mesmo cara que tem que produzir tudo. Então eles têm uma estrutura,
eles têm dinheiro e eles conseguem bancar o espetáculo mesmo. Não tem lugar
melhor, tanto é que conseguimos uma estrutura excelente pra fazer o DVD. E é um
lugar familiar também, onde as pessoas podem levar os filhos e as crianças pra
irem assistir o show, que é uma coisa que, normalmente, não pode acontecer,
porque os shows sempre acontecem tarde. E o Sesc é bem mais cedo, então a
criançada, filhos (as) dos metaleiros vão poder acompanhar os pais.
RtM:
E sobre a respeito de como vai ser esse show, vai ter alguma novidade em
especifico, no setlist ou algo parecido?
Heitor:
O
setlist vai ser um resumo dos 5 discos, meio que estivesse finalizando a turnê
do “Pragas Urbanas”, pontuando a turnê com esse DVD, aumentando o repertório
pra fazer esse show. E de novidade, vamos ter os convidados, que é o Clemente
Nascimento (Os Inocentes/Plebe Rude), Edu Ardanuy (Dr. Sin) e o Ton Cremon
(King Bird). Como a gente vai lançar um CD totalmente de inéditas, talvez
bastante próximo ao DVD, resolvemos não colocar nenhuma música inédita no DVD,
porque estamos trabalhando ainda nas músicas, mas já estamos com umas 6
composições prontas. E como serão muito próximos os lançamentos, deixamos as
inéditas só para o CD.
RtM:
Falando sobre as participações, o que cada um deles vai fazer no decorrer da
apresentação?
Heitor:
O
Edu vai tocar guitarra, que é a melhor coisa que ele faz, um dos melhores
guitarristas do Brasil. É uma influência pra mim, pessoalmente. O Dr. Sin é uma
das influências que eu tenho desde pequeno, então está sendo um sonho realizado
em gravar alguma coisa com o Edu. Conhecemo-nos de estrada há muito tempo, mas
é a primeira vez que a gente vai conseguir tocar junto, e o estilo dele tem
tudo a ver com o nosso. O Clemente vai tocar guitarra e vai cantar. E ele tem
tudo a ver com o Carro Bomba, em questão do Os Inocentes, com o conteúdo das
letras: abordamos muitas coisas parecidas, temos as mesmas ideias, raivas e os
discursos são bem parecidos. E o Ton Cremon, que é um excelente vocalista! Ele
é novo na cena, acabou de entrar, recentemente, no King Bird. E o King Bird
também é uma banda que está na estrada com a gente há muito tempo e que batalha
pelo som próprio, então faz todo sentindo colocar o Ton Cremon, e a voz dele se
encaixa muito bem no Carro Bomba.
RtM:
Sei que ainda é cedo, mas o DVD já vai estar disponível mais ou menos quando?
Heitor:
A
ideia é lançar o DVD ainda esse ano, vemos isso bem possível. Lançar talvez em
agosto ou por ai, pra gente já poder entrar em estúdio em dezembro pra gravar o
novo disco, então todo o processo está na nossa mão, de mixagem e masterização.
E vamos ter a equipe que vai estar junto com a gente, mas nós que vamos fazer
tudo. Esperamos que seja o mais rápido possível pra não apagar muito o fogo da
gravação, então agosto é uma previsão bastante otimista e espero que role.
RtM:
O nome que vai batizar o DVD não seria mais justo, “A Máquina
Não Para”, faixa que dá abertura ao mais recente disco do Carro Bomba, “Pragas
Urbanas” (2014). A banda está nesse ritmo de não parar?
Heitor:
Sim.
A banda tem 12 anos, mas não tem a menor intenção de parar. Fazemos isso porque
gostamos muito e o nosso público dá muito apoio pra gente. Ninguém depende da
banda pra sobreviver, porque, até mesmo, seria muito difícil, pois a situação
está bem ruim no cenário underground no Rock do Brasil e do Metal. Então a
gente faz por simples prazer, e estamos se divertindo muito, sempre damos
risadas, sempre adoramos viajar e os shows são sempre muito prazerosos. E a
banda está realmente nessa, de ser uma máquina que não para, não parou até
agora e não vai ser agora que a gente vai parar. Esse DVD vai ser um divisor de
águas, pra dar um novo gás na banda e pra ter muito mais anos de vida.
RtM:
Falando sobre o “Pragas Urbanas”, como está sendo a repercussão do disco, que
desde o álbum “Nervoso” (2008), vocês colocaram mais energia e peso no som da
banda dali até o mais recente disco, tanto é que vocês acabaram ganhando o
jargão de Thrash N’ Roll pelos chinelos. Esse título incentiva a banda no
momento das composições?
Heitor:
Estilos
a gente vem adotando, e com certeza o “Pragas Urbanas” é o disco mais pesado
que lançamos. É uma tendência que a gente vem adotando mesmo por gosto e por
influências que a gente tem. Ouvíamos muitas bandas parecidas, mas cada um tem
uma influência diferente, especifica, que trouxe pra banda. O Rogério,
quando entrou na banda, trouxe uma coisa diferente e eu, quando entrei, trouxe
uma coisa diferente. Temos ficado cada vez mais pesados. E esse jargão, título
que deram pra gente, nunca tinha pensado, mas que depois a gente adotou. E
realmente tem sentido o Thrash N’ Roll pra gente, porque temos esse pé no
Thrash Metal, mas é uma banda de Rock pesado. E a
gente achou super engraçado e super incomum esse título de Thrash N’ Roll, não
sendo uma coisa que dita o som, mas tem tudo a ver com a gente.
RtM: O novo disco, que ainda está em fase de pré-produção, como ele vai soar? Você falou que há músicas prontas, e o Pompeu e Heros, do Korzus, vão ficar à
frente da produção novamente?
Heitor:
Temos
já músicas prontas, ele está nessa onda pesada, com algumas coisas mais rápidas
e algumas coisas mais pra trás. Vai ter uma variação grande, que não vai ser a
mesma coisa que o “Pragas Urbanas”. Vai ser um disco do Carro Bomba,
mas vai ser um Carro Bomba novo, nada muito extremo. Não sabemos quem vai
produzir o disco, porque a gravação vai rolar agora no nosso novo
QG, que é o estúdio do Marcello e do Soneca, que estão com um dos melhores
estúdios do Brasil. Vamos fazer tudo por conta própria e tudo na nossa nova
casa, mas não sabemos quem a gente vai trazer. A possibilidade de trazermos uma
pessoa de fora é muito interessante pra ter um olhar diferente, porque por
dentro da banda, ficamos com alguma venda em alguns pontos. A possibilidade do
Heros e do Pompeu produzirem o disco é grande, porque eles são grandes
parceiros nossos e tem dado muito certo essa parceria.
RtM:
E desde 2008, após o lançamento do “Nervoso”, você vem assumindo as baquetas da
banda. Como você observa, até então, em 8 anos, a sua atuação dentro do Carro
Bomba?
Heitor:
Eu
entrei no Carro Bomba pra fazer o lançamento do disco “Nervoso”. O Fernando, o
outro batera, ele gravou o disco, mas não chegou a lançar. O "Nervoso" eu meio
que considero um disco meu, porque eu que criei esse disco, e pai é quem cria.
Eu senti que trouxe uma pegada diferente pro Carro Bomba, na questão da
bateria, que casou muito com o estilo que o Marcello gosta de fazer riffs e
essas coisas. Eu sou um cara muito viciado em pedal duplo e dois bumbos, sempre
gostei muito de ouvir e tocar com essa ferramenta. Eu tento fugir um pouco do óbvio do pedal duplo, e o estilo do Marcello também tenta fugir um pouco do óbvio da guitarra e do Metal rítmico, que a gente acabou encaixando muito bem.
Além de eu ser um batera que toca muito forte e muito pesado, tem tudo a ver
com o Carro Bomba.
E os ensaios nossos são sempre muito altos e o shows também, o que faz o som ficar mais pesado ainda. Eu acho que trouxe um gás novo porque, apesar de tudo, sou muito mais novo que os caras. Temos as mesmas influências, mas eu também trago algumas coisas que eles não conheciam e outras coisas mais modernas por conta da minha idade, então eu trouxe um gás novo pra banda e um estilo que casou muito bem. E eu acho que, em questão de convivência, o encaixe foi perfeito! A gente se dá muito bem, e a unidade do Carro Bomba, a partir do momento que eu entrei, começou a se tornar, aos poucos, eu, o Marcello e o Rogério, a compor muita coisa juntos. O encaixe foi perfeito e não poderia estar mais feliz estando na banda, e eu acho que sou o melhor batera que existe dentro do Carro Bomba.
E os ensaios nossos são sempre muito altos e o shows também, o que faz o som ficar mais pesado ainda. Eu acho que trouxe um gás novo porque, apesar de tudo, sou muito mais novo que os caras. Temos as mesmas influências, mas eu também trago algumas coisas que eles não conheciam e outras coisas mais modernas por conta da minha idade, então eu trouxe um gás novo pra banda e um estilo que casou muito bem. E eu acho que, em questão de convivência, o encaixe foi perfeito! A gente se dá muito bem, e a unidade do Carro Bomba, a partir do momento que eu entrei, começou a se tornar, aos poucos, eu, o Marcello e o Rogério, a compor muita coisa juntos. O encaixe foi perfeito e não poderia estar mais feliz estando na banda, e eu acho que sou o melhor batera que existe dentro do Carro Bomba.
RtM:
O Carro Bomba é nacionalmente conhecido por cantar músicas em português. E essa
atitude vem se tornando relevante novamente graças a vocês, havendo grandes
bandas surgindo querendo cantar Heavy Metal com a nossa língua. De certa forma,
vocês usam a banda como um incentivo para as bandas mais novas apostarem nas
composições em português?
Heitor:
Com
certeza! Não é que a gente criou uma cena nova e nenhum estilo novo, mas acho
que demos coragem da galera falar que o Metal em português rola sim. Mas uma
coisa que a gente sempre prezou, e sempre falamos em entrevistas, é que fazemos
muita questão de que seja muito bem feita a letra, que fuja dos clichês, porque em português é muito difícil deixar tosco, porque está todo mundo entendendo o
que você está falando. Começou a surgir uma galera que veio falar com a gente,
que teve coragem de fazer um som em português e, inclusive, encontramos com
algumas dessas bandas na estrada. E as influências são dessas bandas antigas do
Brasil mesmo, porque o português é uma língua muito rítmica, o povo brasileiro
gosta muito de cantar. E não é todo mundo que manja o inglês, então fazer o som
em português é uma coisa que ajuda todo mundo. E eu acho que a gente tem que
ter a nossa língua forte no meio musical, então essa onda do Metal em português
tem sido muito relevante pra gente. É muito gratificante, porque tem bandas que
falam que ajudamos a mudar de língua e voltar para o português.
RtM:
Sobre o momento atual da música, como vocês enxergam o cenário underground de
hoje, no meio de tantas bandas covers e não tendo espaço pra banda própria
tocar? E também sobre o download ilegal e das plataformas digitais, que atinge
de forma negativa, por um lado, a venda do CD?
Heitor:
Pra
começar, pelas plataformas digitais, é uma coisa que só tem a ajudar as bandas
independentes, porque antigamente você tinha um grande problema de espaço em
prateleiras de discos, porque se você tinha um acordo de distribuição, às
vezes, você tinha que ser engolido por alguma gravadora grande. Mas, hoje em
dia, é muito difícil qualquer artista ganhar dinheiro realmente com as vendas
de discos. O pessoal tem ganhado dinheiro com a venda digital, mas a principal
fonte de renda de qualquer artista é o show. A distribuição digital, gratuita
ou não, tem ajudado as bandas a alcançarem lugares que nunca foram possíveis,
por exemplo, somos uma banda de São Paulo, já tocamos em Tocantins, Roraima...
E são lugares que, sem a internet, não teríamos chegado.
A questão de atrapalhar, atrapalha a gravadora muquirana que explora o artista, porque o artista, em si, tem sua fonte de renda com os shows. E é a única coisa que interessa pra gente. O CD a gente vende, sempre tentamos fazer por um preço mais barato possível, porque sabemos que o povo gosta de ter o CD físico e eles sabem que ajudam a gente. E também porque a galera gosta de colecionar, porque o nosso público veio da época do CD. A distribuição da internet é muito boa e ajuda a gente a fazer mais shows. E eu acho que todas as bandas, hoje em dia, ajudam as bandas a fazerem mais shows, tendo a possibilidade de fazer videoclipes e distribuir de graça. E isso é uma coisa que ajuda qualquer cena, eu acho.
A questão de atrapalhar, atrapalha a gravadora muquirana que explora o artista, porque o artista, em si, tem sua fonte de renda com os shows. E é a única coisa que interessa pra gente. O CD a gente vende, sempre tentamos fazer por um preço mais barato possível, porque sabemos que o povo gosta de ter o CD físico e eles sabem que ajudam a gente. E também porque a galera gosta de colecionar, porque o nosso público veio da época do CD. A distribuição da internet é muito boa e ajuda a gente a fazer mais shows. E eu acho que todas as bandas, hoje em dia, ajudam as bandas a fazerem mais shows, tendo a possibilidade de fazer videoclipes e distribuir de graça. E isso é uma coisa que ajuda qualquer cena, eu acho.
RtM:
E os shows?
Heitor:
O
lance da falta de espaço é realmente o que está acontecendo, você tem um
desequilíbrio muito grande hoje em dia, porque você tem bandas excelentes que
não tem espaço pra tocar. Aqui em São Paulo, por exemplo, perdemos grandes
lugares icônicos, tipo o Blackmore Rock Bar, que fechou. Então estamos perdendo
mais espaços, apesar do Blackmore e o Manifesto serem os grandes pontos de
terem muita banda cover, são lugares que abrem espaço pras bandas autorais.
RtM:
Também tem o Gillan’ Inn...
Heitor:
Tem
o Gillan’s Inn também, que é bem novo. Mas o Gillan’s Inn eu não sei dizer se é
boato, mas eu ouvir dizer que também está passando por dificuldade. Eu acho que
é um pouco de culpa do público e um pouco de culpa dessa vangloriação do cover,
das pessoas que querem ser o próprio artista. Isso ai é uma coisa que rouba um
pouco o espaço. E a música no Brasil nunca foi uma arte muito respeitada, tanto
é que você tem nos bares, hoje em dia, 90% dos músicos que tocam em bares não
são músicos de verdade, eles simplesmente pegam o instrumento no final de semana
e fazem o show, o que tira o espaço dos músicos profissionais e daqueles caras
que se dedicam, gastam dinheiro com aula, gasta dinheiro com instrumento caro e
que tenta viver disso. Mas também é um pouco de culpa do público, porque rola
uma "rumadolescência", pois parece que o pessoal quer saber o que vai ouvir,
então eles vão atrás das bandas covers, o que prejudica a cena em geral.
RtM:
Heitor, quero agradecer novamente a oportunidade de ter batido esse papo rápido
com você. Deixo o espaço para uma mensagem final e também para fazer o convite
para todos estarem hoje, no Sesc Belenzinho, prestigiando esse dia tão especial
para o Carro Bomba.
Heitor:
É
isso ai Gabriel! Obrigado pelo espaço e pela entrevista! Obrigado à galera do
Road to Metal, valeu ai pela audiência! O convite está mais do que dado! Neste sábado vamos fazer um marco na história
do Rock brasileiro e do Metal em português, que com certeza vai abrir portas
pra uma galera nova que está a fim de fazer Heavy Metal em português. E com
certeza vai levar a banda em outro patamar, então quem quer fazer parte da
nossa história e da história do Rock, que é de todos nós, é só chegar lá no
Sesc Belenzinho para fazer parte da gravação do nosso DVD. A gente dá muito
valor a todo mundo e a quem estiver lá, os nossos fãs e nossos amigos
de estrada. Então é isso, colem lá no Sesc Belenzinho, ajudem a gente a marcar
esse dia extremamente especial para o Rock brasileiro, que vai ser muito, muito
foda!
Entrevista:
Gabriel
Arruda
Edição/Revisão:
Renato
Gimli Sanson
Contatos:
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